“Logo eu que nem pensava
Eu não imaginava, te merecer
E agora sou o dono desse amor”

-Olha só como aquele Vinicius é tão mongo, nem sei se dou risada ou se tenho pena.
Tal comentário fora feito por Isabela, uma das amigas de Amanda e foi seguido de vários risos do grupinho formado por Isabela, Amanda, Samoele, Bruna e Carla.
A única que não riu foi Amanda:
-Ai, como tu é má! Ele nem é tão feio assim...
-Sim, mas olha o jeito dele, o guri quase treme quando vai falar com alguém, parece que vai ter um troço! Mais risadas do grupinho o que só faz aumentar a indignação de Amanda, que mesmo assim não perdeu o bom senso de humor:
-Vocês vão para o inferno! Brincou Amanda.
-Talvez, mas não só por isso! Foi a vez de Bruna falar e o resto do grupo rir.
O quinteto, que estava voltando da escola, se separou: Isabela, Samoele e Bruna seguiram para um lado, Carla, que já estava em frente a sua casa, parou, e Amanda continuou por outro caminho.
O que as amigas de Amanda não sabiam é que esta, a mais de uma semana, conversava com Vinicius via Whatsapp. Realmente, quando falando pessoalmente ele era bastante tímido, fora difícil se aproximar e começar a puxar conversa, mas quando se falavam por mensagens, apesar da pequena demora em responder, ele sempre sabia o que dizer.
Com o Sol de meio-dia lhe castigando o rosto, Amanda se lembrou de que fora num dia como aquele que tudo começara: já fazia um tempo que ela havia reparado em Vinicius e mesmo sem nunca ter conversado com ele, exceto algumas poucas palavras trocadas em aula, ela nutria uma afeição por aquele tão meigo NERD. Fora num dia como aquele, em que ela estava voltando para casa, depois de se separar das amigas, que ela resolveu fazer alguma coisa, apressou o passo o suficiente para emparelhar com Vinicius, que só ergueu a cabeça do chão quando a menina lhe dirigiu um “Oi” bastante animado que foi respondido por outro “Oi” bem mais tímido.
Amanda não sabia, mas Vinicius, naquela época, tinha medo de que se tratasse de uma brincadeira combinada entre as amigas, ele sabia dos comentários e brincadeirinhas feitos por elas as suas custas. Demorou um pouco, e foi quase que contra a própria vontade, mas acabou se apaixonando pela moça.
Ele próprio não acreditava que ela falasse com ele, que perdesse o disputado tempo dela com um NERD desengonçado como ele, mas amava cada segundo passado ao lado dela.
Ele nunca fora falar com ela na frente das amigas ciente de que talvez ela não gostasse. Ele sabia que não era o tipo “namorado perfeito” ou “lindo de morrer”, ele não era o que ela merecia, achava ele. Mas mesmo assim ele sempre a esperava na primeira esquina depois que ela se separava das amigas.
Amanda que pensava que era por ele ter vergonha ou até medo das amigas, na sua inocência, não imaginava o que se passava na cabeça do rapaz.
Desde aquele dia, os dois passaram a voltar parte do caminho juntos e conversando sobre milhares de assuntos diferentes até chegarem à casa em que Amanda passara a morar 8 meses antes e que ficava à 5 casas da de Vinicius.
Naquela noite eles conversaram até as 2 da manhã sobre afinidades e gostos em comum que nunca paravam de surgir, numa conversa que nenhum dos dois queria que terminasse.
Na manhã seguinte Amanda acordou cansada e com olheiras, mas não se arrependeu de nenhum segundo da conversa, quando chegou à escola foi direto para a sala e se sentou em sua carteira enquanto esperava a aula começar, com a cabeça entre os braços, quase deitava em cima da mesa, quase pegou no sono antes da professora chegar à sala. Só abriu os olhos quando ouviu a professora de Biologia, Valéria, começar a falar:
-Bom dia turma. Começou ela animada.
-Bom dia. A resposta veio em tom monótono e deixando bem claro que a maioria da turma preferia estar em casa dormindo, o que não afetou o humor da professora que continuo:
-Bem, hoje nós vamos começar com um trabalho que você vão ter que terminar em casa. E não quero ouvir um pio. Eu sei que vocês não querem fazer mais nada, afinal é o final de ano, e acreditem, eu também não quero, mas é meu trabalho passar a vocês todo o conteúdo do ano. Por que não pensem que vocês não vão usar para nada, já está chegando a época de prestar o vestibular e tudo o que eu estou ensinado pode cair. Não comecem a brincar agora, o futuro de vocês depende disso.
“A nossa atual matéria fala de genética, então nós vamos para o laboratório observar algumas células e fazer anotações que vocês usaram depois para incrementar a pesquisa sobre Genética que vocês faram em casa e me trarão em PowerPoint. Se organizem em duplas enquanto eu faço a chamada.”
Dessa vez Amanda resolveu mudar um pouco o roteiro, sempre que havia um trabalho em dupla ela se juntava com Samoele, Carla fazia com Bruna e Isabela, que sobrava, se juntava com outra colega, da qual não era tão amiga mas era a sua única opção. Só que naquele dia Amanda não esperou Samoele vir ao seu encontro, mas simplesmente foi andando com a sua cadeira em direção ao lado oposto da sala, somente parando ao lado de Vinicius, que a olhou com cara de imenso espanto. Amanda lhe dirigiu o mais belo dos seus sorrisos e lhe perguntou:
-Posso fazer dupla contigo?
-C-c-claro que pode... Respondeu Vinicius com um sorriso aparecendo em meio a sua expressão de surpresa.
Um leve ar de espanto se espalhou pela sala, chegando até mesmo a professora, que olhando sobre os óculos para a turma, deixou escapar um sorriso de “quem sabe das coisas”. Mas logo todos voltaram a sua atenção para os seus trabalhos. No laboratório ninguém conversava e todos estavam concentrados, obra daquela professora, que de longe era a melhor e mais querida pela turma. Tal concentração fez com que Amanda escapasse das perguntas entaladas na garganta das colegas, mas no intervalo já não teve tanta sorte:
-Das duas uma: ou tu tá ficando louca ou tu é mais esperta que nós quatro que nunca pensamos nisso antes, e tu tá fazendo com ele pra não precisar fazer nada. Então, qual é? Samoele encarava Amanda com um ar descrente.
-Nenhuma, ele é super querido, vocês é que deviam para de pegar no pé dele, e no meu também!
-Ai, agora tá querendo virar boa moça e tá fazendo caridade? Falou Samoele em tom malicioso.
-Nem parece que é a guria que em oito meses pegou metade da escola... Completou Bruna.
Se vendo sem saída e sem ter como negar, Amanda assumiu o que fez, mas argumentou:
-Sim, peguei mesmo, mas nunca peguei alguém que era só “bonitinho” e que não tinha caráter nenhum. Diferente de umas e outras que saem dando e chupando qualquer um. A ultima frase foi dita enquanto encarava diretamente Bruna, da qual um tempo atrás tinha saído um boato de que ela fizera “certas coisas” em uma determinada festa.
E sem esperar resposta das amigas, que estavam boquiabertas, Amanda foi para o banheiro. Lá ela lavou o rosto procurando se acalmar, sentou-se no vaso (com o tempo abaixado) e quando finalmente colocou os pensamentos nos lugar o sinal já tinha tocado, indicando o término do intervalo e ela subiu para a sala, onde não falou com ninguém durante todo o resto da aula.
Na volta para casa Amanda não esperou as amigas mas apressou o passo e voltou o caminho inteiro com Vinicius, fingindo não ouvir os comentários maldosos feitos pelas amigas que estavam mais para trás.
Vinicius foi o primeiro a falar:
-Tu não precisava ter feito dupla comigo, tu sabe que eu não ia me importar se... Antes de ele terminar a frase, Amanda o respondeu:
-Mas eu quis, prefiro várias vezes a tua companhia do que a delas.
Vinicius não conseguiu esconder o sorriso, que só aumentou quando percebeu que fora retribuído por Amanda.
-Eu também gosto muito da tua companhia. Comentou Vinicius meio sem jeito.
Após um pequeno tempo de silêncio Amanda lembrou de avisar:
-Hoje, lá pelas 3h tu tem que ir lá em casa pra a gente fazer a pesquisa.
-Ok.
Mais tarde, no horário marcado, nem uma minuto a mais nem a menos, Vinicius tocou a campainha da casa de Amanda que prontamente o recebeu.
-Oi. Cumprimentaram-se eles, meio sem jeito, com um beijo na bochecha.
-Oi, trousse as coisas que a gente anotou na aula?
-Sim.
-Vem, o computador fica no meu quarto, é melhor a gente começar logo.
Foram os dois para o quarto de Amanda e esperaram o computador ligar-se em silêncio. Fizeram todo trabalho sem se trocar muitas palavras, e quando o faziam era somente a cerca da pesquisa. Terminaram meia hora depois às 3h30min.
-Acho que ficou bom. Comentou Amanda.
-Também acho.
-A gente trabalha bem juntos. Afirmou Amanda, deixando Vinicius sem jeito.
-É... Bem acho que vou indo então...
-Não... Pediu arrastadamente a garota. Fica, eu vou fazer alguma coisa para a gente comer e depois a gente assiste Supernatural juntos.
-Tá então, mas antes de 18H30Min eu tenho que estar em casa... Avisou o rapaz.
-Tudo bem.
Enquanto Vinicius esperava sentado confortavelmente no sofá da sala Amanda fazia pipoca para eles no cômodo ao lado. Depois de uns 15 minutos ela adentrou a sala abraçando com o braço esquerdo uma bacia enorme de pipoca e na mão direita com o DVD da quinta temporada de Supernatural.
-Eu parei na quinta temporada, então tu vai ter que assistir de novo.
-Tudo bem. Concordou Vinicius, que já tinha assistido até a oitava temporada.
Quando Amanda terminou de colocar o DVD e já tinha botado para tocar no sexto episódio, onde parara, ela se jogou, com a bacia de pipoca, ao lado, praticamente em cima, de Vinicius que não se sentiu muito confortável mas que não fez nada para se afastar ou afastar a moça.
O sexto episódio já tinha terminado e o sétimo estava na metade quando Amanda sentiu que Vinicius a encarava, quando ela se voltou para ele a fim de retribuir o olhar ele desviou os olhos para a TV, Amanda continuou fitando-o, tendo certeza de que ele estava sim percebendo, até que ele voltou a olhar para ela.
Os dois se encararam nos olhos por alguns segundos até que subitamente Amanda se inclinou mais para cima e beijou intensamente o rapaz que a principio ficou sem reação mas que vagarosamente foi começando a retribuir.
As mãos de Vinicius foram para na cintura da moça que sentou no colo deste e colocou as suas mãos sua nunca.
Não era o melhor beijo da vida de Amanda, obviamente o rapaz era inexperiente, mas com toda a certeza, era o que ela mais desejara até então.
Pela primeira vez na vida ela não estava querendo só “pegar”, ela queria estar ao lado dele em todos os sentidos da palavra, queria rodar o mundo só eles dois, ama-lo de mil maneiras inimagináveis, envelhecer ao lado dele.
E Vinicius então, estava tão feliz que achava que ia explodir, ele queria sair correndo e gritar para o mundo tudo que estava sentindo mas queria mais ainda ficar exatamente onde estava e como estava até o fim dos tempos. E isso era amor. Finalmente ele entendia todos aqueles filmes melosos e aquelas expressões que as pessoas costumavam usar: “borboletas no estômago”, “estar nas nuvens”, “um pedacinho do paraíso na terra”.
Vinicius estava se sentindo cada vez mais confiante, ficava mais audacioso, beijava com mais ardor, Amanda percebia, e gostava.
As pipocas estavam no chão, Vinicius estava sobre Amanda, as peças de roupa de ambos estavam no chão e eles se amavam como nunca antes visto. Nenhum deles queria que os minutos passassem. Juntos descobriram sensações novas, Vinicius, totalmente inexperiente, deixou de lado as suas inibições e aproveitou cada toque, cada nova descoberta. Para sempre ele teria o cheiro do cabelo de Amanda gravado em sua mente.
No dia seguinte foram os dois juntos e de mãos-dadas para o colégio, onde, sem dizer uma palavra, assumiram o namoro, que depois da escola, depois de inúmeras viagens juntos, de centenas, senão milhares, de beijos trocados virou casamento.
E que casamento. Nunca se viu um casal tão jovem e feliz. Souberam aproveitar a vida.
E se alguém perguntasse para qualquer um deles se mereciam o outro ambos responderiam que se eram dignos do amor do outro ou não, não ligavam mais, só precisavam viver o resto das suas vidas juntos.