Agridoce escrita por Miranda Marcuzzo


Capítulo 3
Capitulo 3




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“Me diga com quem tu andas e eu direi quem tu és”. Bem, posso afirmar que sou uma depressiva alcoólatra? Se seguir por essa linha de raciocínio, sim.

– Lisa, você só bebe e chora há mais de uma semana. Seus clientes não precisam de você?

Lisa apenas voltou a fechar os olhos e ignorou meu suplicio. Então decidi tomar medidas desesperadas, fui até o bar tão famoso.

– Gostaria de falar com o Murilo – afirmei para o garçom que me atendeu.

Ele me levou então a um quarto que me parecia um escritório, Murilo entrou sorrindo e pareceu muito surpreso ao me ver.

– Bella?

– Não sei realmente o que pensar, seu empregado me deixou entrar com tanta facilidade que pensei que já soubesse que eu viria. Devido a sua expressão, acho que estou errada.

– Uma ou duas mulheres entram aqui por noite para conversamos sobre negócios.

– Hum, também quero tratar de negócios com você.

Ele pareceu curioso.

– Um negocio de um metro e setenta que aparentemente não sairá do sofá da minha casa sem alguma ajuda específica – respirei. Lisa ainda não havia contada a ninguém sobre o término.

– Deixei-me adivinhar. Emma decidiu ir para o feriado em família mesmo Lisa dizendo que isso significaria o fim do relacionamento delas?

– Como soube?

– Acha que paramos de ir lá porque essa semana? Eu conheço minha irmã e conheço Emma, sabia que isso iria acontecer e eu sei como Lisa fica depois de um término. Apenas prefiro me afastar. Alertei os outros sobre isso, desculpe por não te falar. É nova no grupo, próxima vez prometo tentar lembrar-me de você – riu e voltou a olhar o computador

– Isso é um absurdo, vocês preferem deixá-la sofrer!

– Bella, Lisa é psiquiatra, não há nada que diga ou faça que fará ela levantar e sair dessa. Ela sabe muito bem como superar isso, mas ela não quer.

Saí bufando daquele lugar. Como simplesmente deixá-la sofrer no sofá, sobrevivendo apenas de vinho e chocolate? Pensando bem, que bela forma de sobreviver... não! Ela tem que sair disso.

– Lisa – disse, entrando no meu apartamento.

– Oi - respondeu rispidamente, o olhar distante.

– Você tem de sair dessa fossa – respirei fundo – Você sabe que a ama, porque quer sofrer tanto por uma coisa tão pequena?

– Não é isso, não é a ida a NY. É o que significa, toda vez que ela vai e não me leva apenas afirma aos pais dela que ela se esconde, que essa é a vida que ela não quer viver.

– Não deixe a psiquiatra dentro de você estragar tudo Lisa, às vezes não precisamos ver o significado de tudo.

– A verdade escondida nas entrelinhas machuca, Bella. Mas, ainda assim, é a verdade.

Eu fiquei refletindo sobre aquilo, queria muito discordar da Lisa. Entretanto, como discordar de uma reflexão tão trivial? Ela estava certa.

Voltei para a minha sessão de estudos e adormeci, fiquei olhando o teto ao acordar. Depois de levantar, fiquei observando com uma xícara de café Lisa dormindo no meu sofá. Murilo no final estava certo, fazia duas semanas que eu não via ninguém da turma. "Covardes", pensei. Respirei e fui para minha linda e amada classe. A aula, como sempre, passou rápido. Voltei andando pelo caminho que levava ao parque , vendo as folhas caídas, as pessoas andando felizes, e algumas almas solitárias nos bancos.

Peguei minhas encomendas no correio, minha mãe havia enviado algumas coisas para lembrar de casa.

– Oi - disse oferecendo uma colher com brigadeiro.

– O que é isso?

– Chama-se remédio para dor de cotovelo. Também cura dor de morte, de emprego, de humilhação. Uma santa invenção brasileira.

– Thanks! Acha que eu devo ligar para ela?

– Acho que deve reagir de alguma forma, mas também pode sofrer. Você tem o direito de ter a reação que quiser.

– Isso, vindo da pessoa que chorou por dois minutos e sofreu só depois de dois meses, é reconfortante - riu.

– Ninguém escuta os próprios conselhos. Que tal sairmos hoje?

– Não, estou bem aqui. Você pode me fazer companhia, e fazer mais disso - devolveu a colher

– Proposta aceita

– E olha, ao menos superei a fase Pedro.

– Realmente? - questionou.

Apenas me virei.

E mais um dia passou, com Lisa no meu sofá, enquanto escutamos músicas lentas. Comecei a achar que a depressão da Lisa era transmissível, pois eu estava achando que um sofá, vinho e chocolate eram tudo o que eu precisava.

Quando me peguei nesses devaneios, mandei mensagem para os meninos e decidi que já bastava. A fase depressão da Lisa acabaria ali.

– Lisa, levanta. Nós vamos sair essa noite! – afirmei.

– Não, você pode ir eu vou ficar aqui no sofá.

– Ou vai por bem, ou pelo mal – sorri.

Como ela não fez menção de levantar, puxei sua orelha, fazendo-a levantar bruscamente.

– Au! – gritou

– Pode ir tomar banho e se arrumar, também dou a opção por bem ou por mal.

– Chata.

Lisa e eu fomos ao bar, e lá estavam Malu, Otto e Murilo

Todos sentados começaram a puxar assunto, Murilo cochichou no meu ouvido.

– Eu disse que quando ela quisesse, levantaria.

– É, acho que realmente a conhece – ironizei.

Entre as histórias da turma, piadas e implicâncias, fiquei rindo, e no alto do riso, ao olhar para o lado, vi o Pedro com a garçonete que encontrara em cima dele naquela tarde de 23 de abril. Meu olhar, surpreso ao ver a cena, me denunciava, algo dentro de mim implorando para sair correndo dali, fiz de tudo para segurar a lágrima que ameaçava cair. Algumas vezes estamos tentando nos equilibrar, como se estivéssemos a um triz de escorregar em um grande abismo ou de recuar e ter a opção de seguir por outro caminho. Como se os fatos da vida fossem uma gangorra, uma hora por cima, outrora por baixo. Entretanto, tudo isso é o que te faz existir." Sofro, logo existo ". Mas quando se está por baixo, quando não tem mais para onde descer, é exatamente aí que você começa a fazer quem você é. Pare e pense, você vai fazer disso um ponto de partida ou vai apenas ficar no chão? Vai se entregar ou resistir? Vai ficar chorando ou vai tentar ser feliz? Vai deixar essa lagrima cair ou vai reagir? Belas perguntas, mas apenas segundos para encontrar a resposta.


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