Onix canyon - Interativa escrita por Scout caramel


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Unova, Black city. O sol brilhava espremido entre a paisagem de arranha-céus e prédios, e uma garotinha caminhava pela calçada, indiferente aos muitos pedestres em sua volta, cruzando determinada a porta da Chefatura de polícia. Tinha seis anos quando adentrou o escritório do pai, os cabelos pretos balançando e olhos castanhos muito apertados e nervosos. Sentou na cadeira giratória, apoiando os pés no assento, abraçada aos joelhos. Augustus Moritz a encarou com um semblante sério, desatando a própria gravata um pouco:

—Alex, já é a segunda vez que você vem aqui; Sua mãe e eu não gostamos que você ande pela cidade sozinha, mesmo que queira muito me ver. Por que não me ligou de casa como eu falei?

A menina soltou um muxoxo, olhando pra baixo, e então falou em voz alta:

­—Pai, odeio a escola, não quero voltar lá nunca mais! Me deixa ficar aqui com você, aprendo muito mais com o senhor do que com aquela chata da senhorita Jumpluff!

Augustus levantou a filha da cadeira, sentando-se e colocando-a em seu colo:

—Sabe que eu não posso te deixar sem ir à escola, seria preso por isso.

—Mas pai... Ela disse que os pokémons do tipo sombrio são maus e perigosos!

—Podem ser, de certa forma. Qualquer Pokémon pode ser perigoso, se sentir que está ameaçado, assim como as pessoas.

—Eu sei! Eu disse à ela que o senhor usa eles no trabalho e que nunca te deixaram na mão, mas ela continuou dizendo que as pessoas que usam pokémons sombrios os usam por suas habilidades de se esgueirar durante a noite e amedrontar as pessoas! Praticamente chamou o senhor de criminoso! Aí eu disse que ela era um Miltank e ela me colocou de castigo no canto e todo mundo riu!

O detetive riu-se um pouco, e então voltou a falar com serenidade: —Alex, eu entendo o seu aborrecimento com a sua professora, mas já parou pra pensar que talvez ela não saiba muito sobre pokémons noturnos ou nunca tenha visto um de perto?— A menina de cabelos pretos e compridos sacudiu negativamente a cabeça, ainda ouvindo o pai: — Eu realmente uso pokémons noturnos, porque eles me ajudam a me infiltrar em ambientes dos quais você e a senhora Jumpluff nem sequer poderiam imaginar o quanto são hostis. Mas você está certa em ficar brava com a ignorância dela, você só não deveria ter expressado desse jeito.

—Mas é tão difícil! Às vezes eu queria ser uma Cloyster, pra não ver ninguém mais, só quem eu quisesse!

— Sabe, Alex, não posso te tirar da escola, mas há uma coisa que você pode fazer se quiser viver bem com os demais; Pra viver bem com os outros, você precisa primeiro aprender a se colocar no lugar deles. Se vestir a pele de outra pessoa, entenderá como ela pensa, e então vai poder basear suas ações nisso.

—É o que você faz com os criminosos, não é?

—Sim, é sim, mas também servirá pra senhorita Jumpluff, não tenha dúvida.

—Tá bom, mas eu não vou aguentar se mais alguém caçoar de mim de novo!

—Vai sim, Alex. Há maldade neste mundo, e disso não podemos esquecer. Mas o importante é sempre darmos o nosso melhor, sem nos importar se seremos os únicos a fazê-lo. Promete que vai tentar?— Seu pai lhe disse, acariciando seu cabelo. Alex parou reticente, e então concordou em voz baixa:—Tá bem, pai. Vou tentar. —Augustus sorriu e lhe deu um beijo no topo da cabeça, descendo-a da cadeira, arrumando os papéis na pasta para levá-la de volta em casa a fim de almoçarem juntos. Saltitava atrás dele, sorrindo confiante, sua mão pequena totalmente envolvida e segura pela dele. Foi a última coisa em que pensava, quando o balançar do avião lhe acabou por acordar.

Sentindo o solavanco, a jovem de dezesseis anos ergueu a cabeça que pendia do lado do banco, e ouviu a voz do piloto vinda do alto-falante: “Atenção senhores passageiros, uma pequena turbulência pode ocorrer, mas não é motivo para pânico; Pedimos desculpas aos senhores. Mas não se preocupem, não há sinal de tempestades na rota e o meu Absol Johnny pareceu muito tranquilo quando sai de casa.”

Alex bocejou, se espreguiçando discretamente.

Pressentimentos. Dizem que alguns pokémons como Absol podem pressentir catástrofes iminentes. Não acreditava muito em tais coisas, até ter sentido um aperto no peito, exatamente à uma semana, depois que seu pai anunciou a partida à região de Kanto, a fim de trabalhar num caso. Seu pai parecia incrivelmente absorto no mistério, quase não saía do escritório sequer para comer, e até mesmo sua mãe estranhava tal comportamento. Ao ser perguntado sobre o que tornava o caso tão especial, ele respondera:

—Não sei, Alex, mas esse não parece ser um caso típico de desaparecimento. Só posso dizer que é tudo tão nebuloso quanto intrigante, e que estarei mais que feliz se puder ajudar a jogar um pouco de luz sobre ele e quem sabe assim, dar algum conforto à família desse pobre garoto.

—Pai, me diz, do que o senhor suspeita?

Augustus suspirou, dizendo: —Alex, você não é mais uma menina; O que eu quero dizer é que por mais que não seja de conhecimento geral das pessoas e nem gere muita repercussão na mídia, há sim casos em que pokémons feriram ou mesmo mataram seus donos. Isso não é comum, mas ocorre, e quase sempre é abafado. A economia envolvendo pokémons, ligas e venda de itens é o que sustenta uma indústria inteira, que é maior até que a indústria de medicamentos, cosméticos e de construção combinadas. Entende porque não é do interesse do governo que as pessoas saibam disso?

Alex franziu a testa, juntando os fatos: —Eu entendo, mas e os amigos e entes queridos dessas pessoas? Porque ninguém denuncia isso?— Seu pai, sentou na cadeira, os ombros pesando sobre o encosto, demonstrando seu desconforto com o assunto:

—Acontece que pagam enormes quantias pra calar testemunhas e famílias e quando não conseguem, pode ter certeza que essas pessoas nunca tem uma vida fácil, pois o descrédito e desprezo que encontram é enorme. Uma situação muito infeliz mesmo. — Ele fez uma pausa, e Alex assentiu, os olhos escuros semicerrados e um arrepio na espinha:

—E o senhor vai se meter nessa estória toda...

— Eu não posso ignorar o pedido deles, Alex. Não poderia me olhar no espelho se o fizesse. Pokémons são nossos amigos, mas também são animais, criaturas que capturamos e com as quais mantemos uma espécie de pacto: as treinamos e tornamos mais fortes do que seriam na natureza, e eles nos dão prestígio e poder que não teríamos de outra forma. Mas ao mesmo tempo, creio que pervertemos a natureza delicada dessa relação. Eles se tornaram não nossos camaradas de jornada, mas uma ferramenta para chegar ao poder e à riqueza a qualquer custo. Pessoas compram pokémons por impulso, os reproduzem sem controle, vendem, contrabandeiam, abandonam. Seria ingenuidade demais crer que não haveria um contra-ataque.— Alex permaneceu em silêncio; Era muita coisa pra sua cabeça, mas fazia sentido. Foi então que sentiu o aperto. Levou a mão na direção, fechando os olhos e abrindo-os logo em seguida com uma pequena exclamação.

—Tudo bem, filha?

Demorou um pouco em silêncio, mas respondeu:

—Pai, estou com medo. Não quero que você vá. Mande outro em seu lugar, qualquer um, menos você!

—Não posso, Alex! Já me envolvi demais com isso. Partirei amanhã, mas não se preocupe querida, tomarei as precauções devidas. Também manterei vocês duas e toda a Chefatura de polícia informada. Acho que consigo voltar antes do seu aniversário.— Disse, desatando a gravata como costumava fazer sempre que se preparava pra ir pra casa. Queria dizer algo significativo a ele, algo que o fizesse ficar, mas só o que conseguiu dizer foi:

—Eu vou te esperar, pai. — Forçou um pequeno sorriso, apoiada sobre a maçaneta da porta. E desviou o mais que podia seus pensamentos negativos à respeito. “Pensamentos tem força”, era o que ouvia de sua mãe. Tentou afastar a lembrança daquela pontada no peito.

Se ao menos tivesse acreditado em pressentimentos, só aquela vez.

Olhou pela janela, o mar que separava sua casa do destino de seu pai. As águas do grande e insondável lar de Lugia e Kyogre cheias de criaturas misteriosas e desconhecidas parecia ser a metáfora perfeita para o que estava por vir: Um oceano que teria de perscrutar e explorar se quisesse a verdade. Se quisesse Augustus de volta.

Voltou-se para a cadeira ao lado, onde seu Umbreon, repousava, os olhos rubros em alerta. Acariciou-o entre as orelhas. —Tudo bem, Achilles. Já vamos chegar.

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Lucy acordou, esfregando os olhos, o cheiro do mato e do rio que cruzava Cerulean eram agradáveis e refrescantes, mas traziam o pior dos males: mosquitos. Batia a mão pelos braços e rosto fora do saco de dormir, coçando os sinais vermelhos das mordidas com tanta fúria que acertou Pablo na cabeça, que ele cobriu com um jornal para dormir. O rapaz se ergueu, atordoado:

—Polícia?! Eu me rendo, eu me rendo! Ela me convenceu a fazer isso! Eu não tenho culpa! Eu...O que houve?— Parou atônito, quando a menina explicou:

—Não é polícia, são só mosquitos! Mas legal saber que você já tem uma defesa bolada se eles nos abordarem...

—Diferente de você, que nem pode ser presa, eu já fui em cana! Não tem pena de mim, não?

Lucy olhou o jornal que caíra de cima dele, e arregalou os olhos lendo a manchete: —Olha isso, Pablo! “Caso Billy White: Detetive renomado de Unova desaparece em meio às buscas no cânion.”—terminou de ler, encarando-o em busca de uma reação de espanto semelhante a dela, mas só o que conseguiu foi um aceno:

—É mesmo? Azar o dele.

—Azar? Isso é muito estranho, isso sim! Primeiro, o menino sumiu. Até aí, ok, ele estava despreparado, mas um detetive renomado? Ai, me dá arrepios só de pensar!

—Sabe o que mais me dá arrepios? Saber que aquela merreca de dinheiro que o seu amiguinho de olhos puxados deu talvez só dure até o próximo ginásio! Meu estômago tá roncando, vou mandar Buizel pegar uns Magikarps nesse rio!— Lucy revirou um pouco o estômago com tal sugestão. Sabia que pokémons eram às vezes, ingrediente de algumas comidas, mas preferia mil vezes comer legumes e verduras a isso. Metendo a mão nos bolsos, tirou uma parte do dinheiro.

—Vem Pablo, vamos à uma padaria, deve ter alguma aberta. A gente toma o café da manhã e eu ligo a minha panela em alguma tomada, ainda tenho bastante arroz...

—Tá bom, mas qualquer dia você ainda vai provar um Magikarp feito por mim! São tão deliciosos quanto são burros!— Lucy fez que sim, muito pouco convincente enquanto Pablo arrumou as coisas na mochila, tirando as bicicletas dos arbustos: —Precisamos estar bem dispostos, eu quero vencer o Ginásio daqui até o fim do dia.

Lucy pensou em retrucar sobre o quanto seria difícil vencerem Misty até o fim do dia, quando Pablo pôs o boné na própria cabeça, e estendeu o jornal a ela: —Usa isso, finge que tá lendo. Não vai querer que alguém te reconheça agora, né?

Apanhou o jornal pensando até onde seria possível que chegassem usando tais táticas. Contrariando seus receios, fora outro ginásio facílimo, ao menos para si, porque para Pablo tinha se parecido mais com um pesadelo graças aos Staryu e Starmie que deram um banho com seus poderes psíquicos pra cima dos seus pobres Roserade, Riolu e Monferno. Não pode deixar de alfinetá-lo por isso: —Se não fosse pelo Elekid, você estaria frito, Pablo! —Exclamou, rindo.

Pablo a encarou, nada satisfeito: —Ah, a garotinha tá se achando a maioral! Sabe, o seu time precisava de umas melhoras também, você só tem um pokémon bom até agora! Eu não vou ficar atrasando a minha jornada por causa da sua! Tempo é dinheiro e dinheiro é tempo, e... Ah, esquece, você não sabe do que eu tô falando!

—Então me explica!— Ela retrucou, as mãos nos quadris. Pablo suspirou, acenando a cabeça:

—Quero ganhar a Elite dos Quatro. Dizem que eles pagam uma verdadeira fortuna ao campeão. Se ao menos eu chegasse às finais, já poderia dar uma casa decente aos meus pais e irmãos.

—E vocês precisam do dinheiro bem rápido? A situação é grave?

—Não... Quer dizer, eu não sei. Faz uns oito anos que eu não falo com eles...— Ficou em silêncio de repente, as mãos nos bolsos. Lucy também se calou por alguns minutos. Não podia imaginar como seria sua vida sem nunca mais falar com seu pai, sua mãe ou Wendy. Olhou para o alto, apiedada dele, perguntando:

—E se tivesse o dinheiro, vocês voltariam a se falar?

—Digamos que isso tornaria as coisas mais fáceis entre nós.

—Tem certeza?

Pablo não lhe respondeu imediatamente. Ficou calado por mais algum tempo, quando

finalmente disse, rindo:

—Já te disseram que você é uma garotinha muito incômoda?

Lucy sorriu sem saber se aquilo era um elogio ou não. Depois do almoço, tomaram o caminho para o ginásio de sua avó, em Vermilion. Pablo comentou:

—Agora entendi porque você escolheu o Bulbassauro! Ele é o que tem mais vantagem nos primeiros três ginásios! Espero que a sua avó não seja mão-de-vaca feito o Brock!

—Cuidado, se falar assim perto dela se não ela te fulmina com o Tesla!

—Tesla?

—É o Raichu dela. Meu pai fazia torradas enrolando o pão na cauda dele.

Pablo fez uma careta: — Isso é nojento! Mas é criativo.

Ao chegarem no ginásio, Lucy se postou na entrada, e uma velhinha em roupas militares e com o cabelo amarrado num coque se aproximou deles. Se abaixou em reverência, apresentando Pablo a ela, mas a líder de ginásio a dispensou:

— Não há tempo pra formalidades, Lucy. Suas circunstâncias são muito sérias.

—Você já soube então...

—Seu pai me contou. Sua mãe é uma boa advogada, mas não vai parar a influência dos Steels. Se quiser continuar sua jornada, saiba que não será fácil; Mesmo se você chegar a vencer todos os oito ginásios e até a Elite, eles podem sim cassar sua carteira de treinadora, e então todos os títulos que você ganhou serão anulados. Agora, se quiser salvar seu Pokémon, o que posso sugerir é que passe-o para o pc da sua mãe, e depois troque-o comigo. Eles não poderão encontrá-lo dessa forma.

—Hum, não posso parar agora, vó. Não conseguiria voltar pra casa sabendo que foi tudo em vão.

—Você tem o espírito do seu bisavô. Peguem as insígnias e o TM Flash. Pode ser útil.

—Mas e a luta? O biso Surge se reviraria no túnel!

—Esqueça isso! Não há tempo! O caminho mais rápido pra Lavander é pelo Rock Tunnel.—Ela disse, abrindo a porta dos fundos do ginásio.

—Vó, só mais uma coisa, preciso que seja sincera: o Marty ficou muito machucado?

—Hunf, com a fortuna que os pais dele estão gastando em cirurgias, é capaz dele acabar mais bonito do que era antes de você o desfigurar.

Lucy acenou com a cabeça, e então se abraçaram. —Tome cuidado, querida.

Com as insígnias nas mãos, continuaram andando até o bicicletário do ginásio, quando Pablo se deteve, puxando Lucy pra trás de uma árvore. Em silêncio, apontou para a policial Jenny parada ao lado de um mercado. Teriam de esperá-la ir embora pra apanharem as bicicletas. Permaneceram parados, controlando a respiração, quando Lucy percebeu um movimento na copa da árvore, e apertou um pouco os olhos, tentando enxergar, até que viu: Era um Beedrill, zunindo na frente deles, ameaçando-os com os ferrões dianteiros. Pablo fez menção de que continuassem ali, mas era tarde: Lucy correra pra fora do esconderijo, em tal velocidade que seria um milagre ninguém vê-la; A policial ordenou:

—Ei, você! Pare aí!

Pablo saiu de trás da árvore, se lançando sobre a própria bicicleta ao lado de Lucy, que tentava desesperadamente abrir os cadeados.— Se afasta!—Ele disse, puxando a pokébola e lançando-a: —Monferno, Espiral de fogo!— As chamas despistaram a oficial, que teve de se desviar delas. Partes de seu rosto de plástico e metal pareciam querer derreter com a ação do calor. A seguir, ordenou que o Pokémon quebrasse os cadeados com um soco rápido. Uma pancada forte bastou para que elas estivessem livres, e os dois puseram-se a pedalá-las assim que as montaram.

—Uhuuu! Adeus, otárias!— Pablo gritou e Lucy olhou pra trás: Reforços eram chamados, e ao olhar pra trás, viram pelo menos mais duas policiais Jenny avançando em suas motocicletas. Gritou pra ele: —Elas vão nos alcançar!

—Não vão não! Vai Monferno! —O macaco na garupa da bicicleta lançou mais um ataque de fogo, e Lucy precisou se esquivar da direção. Ofegou; Ao menos o golpe retardou o avanço delas, mas não foi o suficiente para pará-lo. —Quase me acertou!

—Desculpe, eu aviso da próxima!— Pablo gritou para ela, abrindo um sorriso de repente: —Ali! Vamos pegar um desvio dessa estrada!— disse, apontando com a cabeça a placa informando o caminho para o Rock Tunnel.

—Vou usar o Monferno de novo!— gritou novamente para ela, e Lucy acenou. Levando a mão até o bolso da calça chamou também Buizel da pokébola, ordenando aos dois: — Monferno lança-chamas! Buizel, use o jato de água!— Um Pokémon lançou mais uma série de chamas e faíscas no chão, enquanto o outro as apagou com o golpe de água, criando uma cortina de fumaça que cobriu o caminho antes do desvio. Elas pararam as motocicletas enquanto os dois entraram no Rock Tunnel.

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Julia tirou a pokébola da mochila, jogando-a para o alto. Chikorita surgiu, girando sua folha de um verde escuro vibrante, e encarou o Zubat oponente, aguardando as ordens de sua treinadora, que vieram logo:

—Use o Chicote de Vinha!— o Pokémon assim o fez, chicoteando-o bem na asa. O Zubat perdeu um pouco a direção do vôo, que se chocaria numa estalactite, se não fosse a pokébola de Julia ter encostado antes nele, um raio luminoso vermelho envolvendo o Pokémon. A cápsula redonda caiu no chão com um baque leve, e a garota a apanhou fazendo um sinal de vitória ao namorado: — Dois a zero pra mim!

—Hunf, também eu treinei tanto meu Totodile que ele evoluiu e não consegue bater nos Zubats sem desmaiá-los todos, ou seja, sou um ótimo treinador, mas um péssimo colecionador...

—Pode ficar com o meu se quiser. Tem cinco segundos pra decidir antes que eu o envie pro meu box!

—Tá bom, eu quero! Toma, fica com meu Metapod, tá perto de evoluir!— Dizia, quando ouviram uma série de pancadas finas ecoando do fundo da caverna. Permaneceram tensos, até verem uma menina emergindo da escuridão na companhia de um Cyndaquil: Usava marias-chiquinhas em seus cabelos compridos e aparentava não ter mais que oito anos. Segurava uma bengala fina de metal e os dois entenderam o porquê ao verem-na mais de perto: seus olhos, apesar de bonitos, eram de um branco leitoso, branco que refletia todas as imagens e cores, mas não era capaz de apreendê-las.

A menina sorriu, quebrando o silêncio entre eles: —Oi, eu ouvi vocês falando em pokémons. Estão treinando? Gostariam de uma batalha?

—Ah, claro, isso seria maravilhoso!— Julia respondeu rápido, com medo que Edu dissesse alguma coisa constrangedora. Apanhou o saco com suas seis pokébolas da mochila:

—Eu tenho uma Chikorita, uma Nidoran, um...— A menina conseguiu levar a mão até o braço dela, pedindo: — Não, não precisa me dizer seus pokémons! Quando jogá-los, minha pokedéx vai dizer quais são pra mim! Olha...— E mostrou-lhe o pingente em forma de Togepi que usava, o qual tinha uma câmera pequena no centro.

Julia acenou com a cabeça, compreendendo: — Ah, certo... Tudo bem, vamos abrir espaço aqui...— Disse, fazendo Edu mudar de lugar, ficando frente a frente com a oponente. Lançou a primeira pokébola, com Chikorita. Antes que dissesse qualquer coisa, a voz eletrônica da pokedéx soou:

“Chikorita, um Pokémon planta. Nível 15. Estado: bem disposto.”

—Nível 15, hein… Hum, vai Lapras!— A menina apontou a pokébola à frente, e um Lapras apareceu, suas barbatanas tocando o chão da caverna, fazendo-o estremecer um pouco com seu peso.

—Cuidado, Julia! O Lapras é um Pokémon do tipo gelo também!— Edu a alertou.

Piscou pra ele: —Pode deixar, eu sei o que estou fazendo! Vai Chikorita, use esporos paralisantes!— O pequeno Pokémon girou sua folha, lançando uma nuvem amarelada na direção do oponente. Fora da água, Lapras não poderia se desviar, pensou Júlia, quando a menina gritou:

—Agora, Lapras, faça um escudo de gelo com o Raio congelante!— O Pokémon obedeceu imediatamente, e Chikorita não teve escolha a não ser se desviar do ataque, que mirando no chão, construiu uma parede de gelo fina, mas que impediu a nuvem de chegar até ele. Julia lançou um olhar perdido a Edu; O menino sugeriu: — Usa o Litwick!—Julia retesou no lugar, indecisa. Sua oponente era mais habilidosa do que pensara, mas não queria usar outro Pokémon no lugar da inicial, faltava tão pouco pra que evoluísse... Girou a pokébola na mão, pensando, então ordenou:

—Ataque investida, Chikorita! Acerte o escudo!—O Pokémon arremessou o próprio corpo com tal força que pedaços de gelo voaram por todos os lados da caverna. Julia se abaixou na hora, mas se levantou rapidamente, preocupada com a treinadora adversária:

—Tudo bem?—Ela acenou que sim, e Julia pode ver que seu Lapras a protegeu de qualquer lasca de gelo que pudesse atingi-la. A oponente bradou então:—Vamos Lapras, raio congelante!

Julia contra-atacou depressa: —Agora, Chikorita, use Chicote de Vinha!— O Pokémon planta foi mais rápido, atingindo Lapras perto do chifre. O Pokémon abaixou a cabeça, emitindo um grito fino. A treinadora apontou a pokébola: — Venha, Lapras! Bom trabalho!— O Pokémon retornou. Julia foi até a menina, cumprimentando-a com um aperto de mão:

—Foi uma ótima batalha, parabéns! Qual o seu nome?

—Hikari Tsubasa! Sou de Johto, e vocês?

—Eu sou Julia Silva e o menino comigo é o Edu. Também somos de lá!

—Julia, a Chikorita!— interrompeu Edu, fazendo-a olhar para o inicial de planta, que estava envolta numa massa de energia branca e incandescente, que aumentou de tamanho até desaparecer, revelando sua evolução. Julia soltou uma exclamação, abraçando o Pokémon que antes mal passava de seu joelho e agora tinha praticamente sua própria altura: —Bayleef!— Seu pescoço comprido pousou sobre o ombro dela, com um ruído de satisfação.

—Seu Pokémon evoluiu não é? Posso tocar nela?— Hikari perguntou, a vozinha fina bem diferente do ímpeto que mostrou batalhando. Julia sorriu:—Mas é claro!— E com um sinal, fez Bayleef abaixar a cabeça, a folha do topo pendendo dela. Hikari tocou-a, passando a mão nela do começo ao fim, então sorriu, dizendo:—Ela é bonita. E a folha é tão grande!

—Então, eu não quero ser chato, mas a Julia te venceu, então...—Ela deu um cutucão com o cotovelo nele, mas a menina já havia ouvido:

—Ah, sim, me desculpem! Tome!—Puxou uma bolsinha da mochila, passando os dedos sobre as notas dobradas e entregando-a a quantia, muito mais do que Edu tinha ganho a manhã toda. Julia exclamou: —Mas isso é muito dinheiro! Vai ficar bem sem isso?

—Sim, não se preocupem, eu estou com Alfonse, meu mordomo! Ele cuida de mim!

—Tá bem, então…— Guardou o dinheiro, voltando-se para ela, quando não a encontrou mais ali. —Ela sumiu!

—Justo agora que eu ia desafiá-la! Ai, eu não tenho sorte mesmo!— Edu resmungou, atraindo a atenção dos Zubats que vieram em revoada pousar nele: —Argh! Zubats! Tira de mim!— Julia os afastou com a ajuda de Bayleef. —Vem, Edu, vamos sair dessa caverna!

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Hikari continuou seu caminho, ouvindo suas sapatilhas raspando o chão arenoso da caverna, as gotas de água dos lençóis freáticos bem acima pingando das estalactites. Balançava a bengala, batendo nas pedras, acertando seu caminho com a ajuda de Cyndaquil: — Ela devia ser bem bonita aquela menina; A voz dela era bonita. Queria que fôssemos amigas. O que você acharia, Quil? — O pequeno Pokémon de fogo chiou com um barulhinho agradável como o carvão na lareira num dia frio. Hikari sorriu: — É bom quando encontramos pessoas legais. Eu espero que o Alfonse não fique bravo por eu ter saído sem avisar... Eu mal consigo explorar com ele me seguindo o tempo todo, com “milady isso, milady aquilo...” Podia relaxar mais. Vou falar pra ele mandar as poesias dele pra um concurso outro dia, adorei aquela do Machoke musculoso. — Falava, sua voz ecoando pelas paredes rochosas até se perder pelo ar. Ouvir a si mesma ajudava a se distrair do medo. Começou a cantarolar então:

“Vem criancinha, vem comigo

Segura e feliz você estará

Pra longe de casa vamos correr

E muita diversão nós vamos ter

Vem criancinha, não chore, me ouça

Hipno não machuca nem uma mosca

Vem criancinha, livre pra correr

Venha pra minha caverna ver”

A canção de ninar era medonha, mas lhe dava a adrenalina que precisava pra continuar. Sentiu os pés passando por uma poça d’água, e se aborreceu com o pensamento de ter sujado as sapatilhas vermelhas que sua mãe havia lhe dado. Alfonse certamente não a deixaria usar se ficassem muito sujas. Continuou, os passos úmidos no chão que parecia seco. Foi andando quando sentiu uma brisa fresca. A saída, pensou. Cyndaquil parecia querer puxá-la também na direção do vento, e ela se deixou levar por ele. Sentia o ronco no estômago. Estava com fome. Depois de pedir desculpas, pediria chá e biscoitos a Alfonse. Andou mais um pouco, e quando sentiu que a bengala não esbarrava em mais nada à sua frente, comemorou, dando uma série de pulinhos.

—Vamos, Quil! Tomara que ele não esteja zangado!— Dizia, correndo com o Pokémon alguns metros à frente, quando parou. Estava frio. E estranho, não era familiar como Lavander Town onde haviam se hospedado.

Era estranho pensar isso quando não se pode enxergar nada, mas sentia algo... Diferente. Uma rajada de vento açoitou suas canelas, e ela não pode deixar de sentir um calafrio percorrendo a espinha. Definitivamente faltava algo. Puxou Quil pela coleira, gaguejando: —A-acho melhor voltarmos...— Uma nova lufada de vento levantou sua saia, empurrando-a para trás, tamanha sua força; Se abaixou assustada. Então o vento parou, tão subitamente quanto apareceu. Se levantou, tremendo.

Então um pensamento surgiu em sua mente: A música! A canção dos fantasmas de Lavander! Ouviram-na desde a chegada e os habitantes diziam que era sempre daquele modo, de dia ou à noite mas agora não a ouvia. Não ouvia nada, a não ser o sibilar cortante dos ventos.

Um ruído a fez pular de susto então, quando reconheceu o som abafado pelas roupas, vindo do seu peito; Puxou a pokedéx colar, de onde ouviu a voz de brinquedo metálica:

“Onix, o Pokémon cobra de pedra. Faz túneis sob a terra. No subterrâneo pode deslizar até quinze milhas por hora. Nível: 89. Estado: bem disposto.”

Suou frio; O barulho e a força do atrito das rochas contra seu corpo foi tudo que sentiu antes de começar a correr.


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Notas finais do capítulo

Obrigada pelos reviews! Me ajudam bastante e me dão ânimo pra continuar a fic.

Aos participantes cujos personagens ainda não apareceram eu peço calma, é que é difícil inserir todos num capítulo só, mas eles aparecerão no próximo com certeza. ^^

E então algum palpite sobre o que está por vir? Comentários, críticas e sugestões são sempre bem-vindos! Me digam o que acham, a fanfic fica melhor e eu fico mais inspirada!