Leitura Indiscreta escrita por Metal_Will


Capítulo 36
Capítulo 36 - Desirée vence


Notas iniciais do capítulo

Não resisti. Tive que escrever o 36 hoje!



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Capítulo 36 - Desirée vence

 No dia seguinte, Desirée chega na escola em cima da hora. Ela vê Charlie de longe, dá um tchauzinho, mas entra no banheiro. Claro que o garoto já estava com a paciência no limite. "Aquela garota...o pior é que não posso fazer nada contra ela! Mas não tem problema...eu já encontrei o endereço do tal de Dionísio e vou atrás dele hoje mesmo. Basta sondar a mente dele e saberei onde está o Livro dos Segredos na hora!"
 Já Desirée estava cada vez mais confiante de seus planos. Ela troca de lugar com Estela novamente e assiste tudo de camarote. Charlie já não conseguia mais suportar aquele incômodo. Desirée longe, sem poder ser sondada e ele ali, tendo que aguentar uma garota brasileira toda empolgadinha. Ela interrompia suas leituras e pensamentos toda hora com perguntinhas ou comentários inúteis.  O garoto bem que gostaria de usar mágica para escapar disso, mas estava de mãos atadas. O rapaz admitia que conviver com não-magos era bem difícil.
  No fim da aula, Charlie sai correndo, deixando Estela para trás. Ele planejava chegar em casa rápido e ir atrás de Dionísio o quanto antes. Antes de sair da sala, ele esbarra com Desirée, que estava guardando o material com toda a calma do mundo.
 - Opa. Que pressa, heim?
 - Tsc...não me force a ser mal educado
 - Tudo bem, pode ir. Mas é claro
 - Hã?
 - Que seja lá o que você for fazer, eu vou saber bem antes do que você imagina - ela responde com um sorriso irônico.
 Charlie não fala nada e sai correndo. Tinha que agir rápido, mas...ele para no meio do caminho e começa a se dar conta da inutilidade da sua estratégia. O nervosismo o havia deixado cego de novo. "Mas o que estou fazendo?", ele pensa, "Mesmo que eu tenha encontrado o endereço dele, no momento que for agir ela vai saber na hora, e vai alertar o cara antes que eu chegue até ele...não, não adianta", pensava o feiticeiro britânico, com o coração pulsando. "Não, não dá...não dá para fazer nada...ela vai saber de tudo! O livro dela é bem mais forte do que o meu...esse Livro da Mente é inútil! Se pelo menos ele funcionasse à distância...e não existe nenhuma magia que escape do poder do Livro dos Segredos".
  Ele continuava andando, totalmente paranoico e suando frio, totalmente mergulhado em seus pensamentos, mal vendo uma bicicleta que quase o atropela. O ciclista xinga alguma coisa, mas Charlie não ouve, ele não ouvia nada a não ser sua mente.  "Como pode? Como uma garota comum conseguiu ficar em tanta vantagem? Eu não posso fazer nada de mais radical contra ela ou serei punido gravemente...além de tudo ela tem a vantagem de não ser feiticeira. Não dá, não dá para enfrentá-la assim!". O coração dele batia tão rápido que mais um pouco sairia pela boca. "Tudo que eu fizer ela vai saber, mas eu não posso prever nada do que ela faça...minha única alternativa é...voltar para a Inglaterra e deixar o Livro da Mente lá de novo. Ela não pode me fazer cair no mesmo truque novamente. Se ela não conseguir tocar no meu livro, eu fico com toda a vantagem. Enquanto o meu livro estiver seguro, será só uma questão de tempo até eu conseguir encontrar o livro dela!". Estava decidido no que fazer. Tinha que voltar para a Inglaterra hoje mesmo e repensar seus planos. Ele chegaria em sua casa, organizaria as informações de passaporte e iria para lá imediatamente.
  Mas os planos dele não seriam tão simples assim. Desirée fala com Estela logo depois da aula. A garota cumprimenta Dê toda sorridente.
 - Oi, Dê! Tudo bem?
 - Tudo. E você, Estela? Como vai com o Charlie?
 - Ah, ele é bem quieto, né? Mas é bem educado e fofo! Vou continuar investindo...preciso ir com cuidado, ele é bem tímido, mas...
 - É o que você pensa
 - Heim?
 - Eu já conversei um pouco com ele depois e... - diz Desirée, com um sorriso irônico e mentiroso que Estela não percebe - ...acho que ele também está a fim de você
 - Sério?
 - Verdade
 - Puxa...e agora o que eu faço?
 - Não quer conversar com mais calma com ele?
 - Como? No que você está pensando?
 - No que eu já pensei
 - Hã? Como assim?
 - Então, Charlie é um pouco tímido, mas...como eu fui uma das primeiras a conversar com ele, acho que ele confia em mim
 - Sério? - indaga Estela, inocentemente.
 - Pois é. Tanto que ele até me pediu para te fazer um convite...
 - Convite?
 - Ele me chamou para almoçar na casa dele hoje e gostaria que eu te chamasse também.
 - Na casa dele?! - grita Estela toda alegre. Mas tapa a boca imediatamente ao ver que todo mundo estava olhando - Mas...assim? Sem mais, nem menos?
 - Eu não te falei que ele é tímido? Ele me disse que estava a fim de você, mas estava com vergonha de falar...daí eu dei a ideia de vocês conversarem em uma hora mais calma, longe do bafáfá da escola, tipo um almoço. Mas como ele tinha vergonha de te convidar, eu resolvi dar uma mãozinha.
 - Ai, Dê! Você é demais!
 - Né? - ela sorri, não se importando nem um pouco de se aproveitar da inocência da colega - Você vai, não vai? É uma oportunidade única!
 - É claro que vou! Não posso fazer essa desfeita! Só vou avisar a minha mãe e já tô indo pra lá! - diz a ingênua mocinha, já pegando o celular e discando - Mas vem cá...é muito longe a casa dele?
 - Não muito, relaxe...
 - Nossa. Vocês ficaram bem amigos, né?
 - Sei lá. Acho que eu entendo ele bem. Hehe
 - Espero conhecer ele melhor também. Ai, Dê! Brigada!
 Estela abraça a colega que corresponde enquanto sorria maliciosamente pelas costas dela. "Ainda bem que é a tonta da Estela, que acredita em tudo, a menina que está a fim do Charlie. Essa é fácil de levar na conversa. Agora que vem a parte divertida do plano. Hehe"
 Pouco tempo depois, Charlie já estava chegando em casa, subindo pelo elevador e quase arrombando a porta. "Maldição", ele pensava, totalmente nervoso e afoito, "Ela deve estar me vendo agora...deve estar rindo da minha cara totalmente. Você vai ver, Desirée! Você vai me pagar por toda essa humilhação!". Mas isso só depois que ele esfriasse a cabeça, agora tudo que importava era sair do Brasil o quanto antes e manter seu livro seguro. Enquanto o livro estivesse por perto, Desirée poderia tentar qualquer coisa! Mas antes, ele precisava comer alguma coisa. Aquela correria o deixara faminto.
  "Vou almoçar, arrumar a papelada e cair fora. Graças aos meus poderes, manipular os dados de passaporte não vai demorar nada. Só vou comer e resolver isso. Ótimo. Meu livro está ali, bem seguro, em cima da mesa. Não tem nada que possa me atrapalhar agora!"
   Nisso, o interfone toca. Quem poderia ser a uma hora tão crítica como aquela? Charlie atende o fone sem a menor vontade, mas ainda assim mantém sua educação.
  - Sim?
  - Err...Sr. Charlie? Tem uma mocinha querendo subir
  - Mocinha? Quem seria?
  - Parece ser Estela o nome dela
  "Estela? Aquela menina que não larga do meu pé? O que ela quer? O que veio fazer aqui? No meu apartamento?", ele pensa, aflito. "Tsc. O que ela pode querer comigo?"
  - Diga a ela que estou muito ocupado no momento
  Mas Desirée já tinha se antecipado quanto a isso
  - Mas ela disse que é um assunto muito, muito importante mesmo!
  Charlie bufa, mas cede.
  - Tudo bem. Manda ela subir
  O porteiro libera a entrada.
  - Vai lá, pode subir
  - Brigada, moço - responde Desirée.
  - Por que você usou o meu nome? - pergunta Estela.
  - Estela é bem mais fácil de falar do que Desirée, não acha?
  - Hahahua, é verdade
  "É claro que ele não pode sequer sonhar que estou aqui", pensa a garota, "Mas tudo bem...eu escrevi à caneta o endereço dele numa folha do meu livro. Estela só consegue ver isso escrito, mas eu posso ver que ele sequer pensa em usar o Livro da Mente para saber o que essa menina quer. Está tão nervoso que só quer acabar com isso o quanto antes, não é? Por que será que está tão inquieto assim, Sr. Charlie?"
  Charlie estava preparando qualquer coisa com o pouco que sabia de culinária, mas só o suficiente para encher o estômago. O que aquela idiota queria agora? Já não bastava o que ela enchia na escola? O pequeno mago pensava nessas coisas enquanto cozinhava, até que a campanhia toca. "Bah! Deixa eu acabar logo com isso?". Ele abre a porta e sequer consegue esconder sua cara de espanto. Desirée? O que ela estava fazendo ali?
  - V-V-Você? Mas...
  - Oi, Charlie! Viemos almoçar como você pediu! E eu trouxe a Estela também
  - A-Almoçar? - ele gaguejava, mal conseguia disfarçar o sotaque inglês nisso.
  - Tadinho. É tão tímido que nem consegue organizar as ideias direito! - diz Desirée ironicamente - Mas relaxa, a gente não morde, não! Né, Estela?
  - C-Claro - ela responde, também tímida. Como Desirée conseguia ser tão confiante naquelas horas? Estela sente uma certa inveja dela.
  - Mas, mas..
  - Tudo bem, a gente entra - diz a jovenzinha, entrando de braços dados com a inocente colega - Seu sofá é bem confortável, né?
  De fato, o apartamento de Charlie não era nada humilde. Graças a fortuna da família era fácil para ele manter um apartamento bem mobiliado, peças raras e tapetes exóticos.
  - Que casa linda! - exclama Estela - Você mora com quem aqui, Charlie?
  - C-Com a família que me hospeda - ele responde. Mentira, obviamente, já que ele conseguia se manter sozinho por ter conseguido manipular todos os dados de identidade com magia - Mas eles estão trabalhando agora. É...é isso..
  Charlie olhava para o sorriso cínico de Desirée. Será que ela previu seu plano de fugir (quer dizer, de retirada estratégica)? Impossível...Charlie não tinha falado ou feito nada. O Livro dos Segredos ainda não podia ler pensamentos. Era azar mesmo. Se tivesse agido um pouco antes...
  "Mas espere", pensa Charlie, "Isso não é tão grave assim. Tudo bem...ela está aqui para tentar pegar meu livro, sem dúvida, mas o que ela pode fazer? Ele está com uma barreira mágica, impossível de penetrar! Um toque e a pessoa leva um choque que...não, não...espere, não me diga que"
   Sim. Desirée sorri  maliciosamente ao perceber o rosto angustiado de Charlie. Agora tudo fazia sentido e todas as peças se encaixavam. "Maldição! Eu perdi...eu perdi totalmente!"
   - Estela... - diz Desirée - Olha aquele livro ali em cima da mesa? Ele tem uma capa bonita, né?
   - É verdade
   "Não, ela não vai"
   - A gente pode ver, não é, Charlie? - pergunta Desirée
   - Não, esperem..vocês...vocês não querem ver outra coisa e...
   - Só quero ver a capa! Ela é bonita, não é? - Dê continuava a incitar - Você tá mais perto, Estela...pega para mim, por favor?
   - Tá
   "Droga!". Charlie não tem outra escolha a não ser tirar a barreira mágica. Acontece que se Estela fosse ferida com a barreira mágica, não só Charlie teria que explicar tudo para ela como também teria que arcar com uma punição gravíssima por ferir um humano comum com uso de magia. Esse era um preço muito mais alto a se pagar do que perder a posse de seu livro mágico - sim, mesmo que isso significasse ser expulso da família inteira ainda era melhor do que ser punido pela justiça mágica! Claro que Desirée sabia de tudo isso com o uso de seu livro. Por isso mesmo ela usou Estela para pegar o livro indiretamente. Para começar, Charlie nunca deixaria Desirée se aproximar de sua casa, mas, junto com uma outra pessoa sem a menor noção da existência de magia, Charlie não tinha outra opção a não ser tirar todas as defesas. Ele perdeu dentro do lugar onde se julgava mais protegido.
    - Nossa...é bonito mesmo...mas está em branco - percebe Estela.
    - Deixa eu ver
    - Não! - grita Charlie
    Mas era tarde demais. Desirée abre o livro e imediatamente se torna dona dele. Charlie sente imediatamente sua ligação com o livro se romper.
    - Aaaahhh!! - grita o garoto.
    - O que foi, Charlie? Você está bem? - se preocupa Estela.
    - Não foi nada, não foi nada - diz ele - É só uma dor de estômago...acho que não estou muito bem
    - Puxa, justo agora que a gente ia almoçar, né? - diz Desirée, irônica.
    - Sério? Que chato...você não tem nenhum remédio? Se quiser eu vou pegar e você descansa no sofá - Estela se oferece, toda prestativa.
    - Acho que tem um vidro vermelho na primeiro armário de cima, perto da janela
    - Tá. Eu já volto.
    No que Estela sai, Desirée olha para Charlie com um olhar triunfante e maquiavélico.
    - Bom...acho que não vai mais precisar disso, não é? - ela diz - Como se sente sendo vencido por uma garota comum? Ah, não precisa falar...eu estou lendo aqui...hmm...você me odeia mesmo, heim? Mas, fazer o que, né? Não leva pro lado pessoal, não. São só negócios - ela sorri, irônica, enquanto coloca o livro na mochila.
    - Achei! Tá aqui
    - O...brigado - responde Charlie, com o pouco de força que lhe resta.
    Estela sorri, enquanto Charlie toma uma colher do remédio para o estômago. Era meio amargo, mas não tão amargo quanto o sabor daquela derrota. "Não é possível...mesmo para uma proprietária do Livro dos Segredos, essa garota não é comum!", ele pensava, enquanto ela retribuia com um olhar amigável e cínico. "Eu falhei! Falhei! A partir desse momento, estou fora do clã dos Mcrice...por perder o livro da família nunca mais poderei encarar minha família de novo, nunca..."
    Ele começa a lacrimejar. Estela fica preocupada.
   - V-Você não quer ir ao médico?
   - Não, não precisa - diz ele sorrindo, querendo se livrar logo daquela situação - Mas acho que não posso oferecer um almoço agradável para vocês. Preciso repousar um pouco - diz ele, ainda mantendo sua educação britânica até o último instante.
   - Mas, Charlie, não quer mesmo ir a um médico e...
   - Vamos embora, Estela - diz Desirée - Acho que ele precisa descansar mesmo
   - Mas e se for grave?
   - Não, não é - diz Charlie - É só uma dor de estômago...é que o remédio é amargo mesmo...eu vou ficar bem
   - Bem, então, obrigada pelo convite, Charlie! - diz Estela sorridente - Espero que você melhore
   Charlie não diz nada. Ele só olha a cena passivamente. De um lado, Estela acenando inocentemente. Do outro, Desirée sorrindo triunfante. Acabou. Tudo acabou. Ele perdeu. Desirée era a dona dos dois livros naquele instante. Seus conhecimentos mágicos e truques não valeram nada. Nada. Por mais magia que ele conhecesse, Desirée sabia usar todas as regras a seu favor. Não se podia mais voltar atrás. Charlie vê todas as folhas do Livro da Mente em seu bolso reduzidas à páginas em branco. Todas inúteis. Sem valor. Acabara. Tudo acabara.
    - Eu sou...um lixo... - balbucia o garoto, antes de cair de joelhos e se entregar às lágrimas.
    Por outro lado, Desirée estava de muito bom humor.  
    - Nossa, o Charlie é tímido mesmo, né? Será que ele passou mal por que eu estava lá e deixei ele nervoso?
    - Imagina, Estela - responde Dê - Tenho certeza de que não é nada disso...nada disso mesmo - diz ela, desviando o olhar e sorrindo triunfantemente. "Tal como planejei", pensava ela, sem o mínimo de remorso.
  


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Notas finais do capítulo

* "Tal como planejei"...desculpa o descaramento, mas pra mim é a melhor frase de Death Note!

* Desirée até pode ser inteligente, mas o fato de Charlie ser um noob total também ajuda bastante

* O próximo capítulo é o último. Como isso vai acabar? Bom, aguarde! Só se prepare para ler MUUUITO (afinal, último capítulo é último capítulo)



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