Leitura Indiscreta escrita por Metal_Will
Desirée olhava a situação da amiga. Realmente era um problemão. Ela observa o panfleto que Priscila entregou atentamente, com um olhar sério. Sem dúvida, a outra chapa descobriu esse incidente e usou isso contra eles. Isso era comum na política. Mas Desirée queria saber exatamente o que aconteceu.
- Vocês não tem nem ideia de quem possa ter feito isso? - pergunta Desirée, olhando bem fundo nos negros olhos de Priscila.
- Aí é que está...ninguém mais tem acesso aquele dinheiro além de nós. Mas é difícil de acreditar que qualquer um ali tenha sido capaz de ter feito isso
- Hmmm...aí complica. Mas espera aí, como essa informação vazou?
- Hã?
- Tá na cara que foi a chapa concorrente de vocês que fez esse panfleto. Mas para isso eles teriam que saber o que aconteceu lá, não teriam?
- É...é verdade. Será que eles estavam ouvindo a reunião?
- Ou então
- Ou então o que?
- Ou então algum deles pode ter entrado na sala do grêmio e roubado o dinheiro só para prejudicar vocês! - diz Dê, com um olhar sério.
- Nossa, Dê, se for verdade...seria um horror! Seria muito mau caráter...até para aqueles Espertos
- Não posso acusar ninguém, mas é uma possibilidade. A gente tem que dar uma sondada por aí, Pri
- E é melhor fazer isso rápido...ninguém vai querer votar na nossa chapa depois de um escândalo desses
- Você não pode desistir ainda! Vamos descobrir a verdade por trás dessa história o quanto antes
- Valeu, Dê! Mas...você não precisa esquentar com isso...quer dizer, isso é um problema do grêmio e...
- Nem precisa terminar. A gente é amiga, não é? Você acha que eu vou ver você com uma barra dessas e não fazer nada? Nem em sonho
- Obrigada. Obrigada mesmo.
- Imagina...ah, aí vem a primeira pessoa que eu quero falar
Era a Bruna, a garota propaganda da tal chapa dos Espertos. Ela parecia estar fazendo o possível para manchar totalmente o filme da chapa atual. Pelo menos era o que se via claramente naquela hora.
- Gente, vocês já viram as últimas notícias? - diz Bruna, se aproximando de uma rodinha de amigos cheia de panfletos contra a Chapa dos Estudantes Unidos nas mãos - Parece que a nossa querida chapa dos Estudantes não é aquela perfeição que todo mundo anda dizendo, né?
- É...eu vi isso aí - diz um dos garotos da rodinha - Estão dizendo que sumiu uma verba enorme que iriam usar para comprar mais material para as salas de estudo, não é?
- Exatamente. Tudinho de acordo com o último relatório mandado para a administração do colégio
- Que vergonha, né? - comenta outra menina
- Não é? É esse tipo de chapa que queremos para o nosso colégio?
Nisso, Desirée cutuca o ombro de Bruna para pedir alguma satisfação.
- Hã? Ah, é você, "Desirô"? Viu as últimas notícias também?
- É Desirée, mas...vi. Vi sim. Só que tem uma coisa que todo mundo engoliu e ninguém questionou
- O que?
- Como vocês conseguiram essa informação? Que eu saiba, o relatório mandado do grêmio para a administração é confidencial, não é?
Bruna fica um pouco constrangida. O grupinho ao lado, parando para pensar, fica curioso. A patricinha parecia não ter muito argumento.
- Err...eu sou concorrente da nova chapa. Estando envolvida na política da escola eu posso ter acesso a essas informações
- Mentira - diz Priscila, entrando na conversa - Só membros da chapa ativa podem ter acesso a essas informações. Coisa que você ainda não é
Nisso, Bruna fica ainda mais encurralada. Mas ela tinha os fatos a seu favor. Infelizmente.
- Tudo bem, tudo bem. Eu acabei ouvindo uma conversa da administração sobre o último relatório. Mas o que importa é o fim e não o meio. Vocês, da Chapa dos Estudantes Unidos, desviaram uma quantia considerável de dinheiro destinado a melhoria da nossa escola! Isso é imperdoável!
- Você não pode acusar eles assim! - retruca Desirée - Ninguém garante que o dinheiro não possa ter sido roubado por alguém de fora
- Como assim? Quem mais tem acesso a esse dinheiro além dos membros da chapa?
- É? Do mesmo jeito que ninguém tem acesso ao relatório além dos membros da chapa!
Bruna fica vermelha e nervosa. Ela não tinha uma resposta pronta para aquilo.
- Ora...tsc...você só defende ela por que é sua amiga. Se é assim, então provem. Provem que vocês não desviaram dinheiro nenhum e desmintam isso. Qualquer aluno aqui tem o direito de pedir o relatório da chapa e ver o que aconteceu.
- Pode deixar. A gente vai descobrir a verdade!
- Então, tá. Boa sorte - diz Bruna, em tom de deboche - Mas todos os acontecimentos estão contra vocês. Espero que vocês saibam disso. Tchauzinho, queridas
A garota sai dali, de nariz empinado e confiante do que estava dizendo. Priscila é olhada de maneira desconfiada pelos outros alunos que também começam a se dispersar, sentindo um clima pesado.
- O pior é que eles estão certos... - lamenta Priscila - Os dados realmente comprovam que sumiu dinheiro do nosso caixa. Mas como a gente vai provar?
Desirée pensa, com um olhar sério. Como ela poderia resolver aquela situação?
- Tudo bem. Quem faz parte do grêmio, além de você?
- Bem, tirando eu, a presidente, temos a vice-presidente, um tesoureiro e um secretário.
- Tesoureiro, é? Então é ele que mexe com o dinheiro
- É. É o Waldir. É um garoto da sétima série.
- Beleza. Vamos falar primeiro com esse Waldir. Ele é quem deve ter as maiores informações sobre esses números, né?
- S-Sim. É verdade
Mais tarde, naquele dia, Priscila e Desirée pedem para conversar com esse tal Waldir em particular. Era um garoto alto, de óculos, fazendo bem o tipo intelectual, ou nerd, mas parecia ser alguém bem envolvido com trabalhos do colégio.
- Pois é. Tenho algumas cópias do relatório aqui - diz ele, já devidamente ciente da situação das meninas - Não tem o que discutir. Boa parte do dinheiro sumiu - ele encerra, colocando os papeis em cima da mesa da sala do grêmio.
- Wow! Foram mais de mil reais! - comenta Desirée, que tinha uma noção de como ler aquele tipo de documento por já ver Priscila trabalhando algumas vezes.
- Ninguém tem acesso a esse dinheiro além do pessoal do grêmio. É triste achar que foi um de nós, mas é o que as evidências indicam.
- E se não foi um de nós que roubou...pode ser alguém que facilitou para a pessoa roubar
- Quando vocês deram falta do dinheiro? - pergunta Desirée
- Isso foi ontem. Dia de reunião e de apresentar o relatório. Eu sempre sou o primeiro a chegar para fazer a contabilidade e aí que percebi a falta do dinheiro. Ele fica nessa gaveta aqui.
- Essa gaveta não tem chave?
- Não. Mas acreditávamos que era bem seguro
- Entendo...então dava para alguém de fora roubar só tendo a chave da sala...
- Sim. Infelizmente a gaveta não tinha chave.
- Hmm...e antes dessa reunião estava tudo certo?
- Estava. Tinhamos nos reunido dois dias antes e estava tudo perfeito
- Sei...quer dizer que o ladrão agiu entre esses dois dias
- É o que parece
- Nesse meio tempo...ninguém tem acesso à sala do grêmio? Ninguém mesmo?
- Só se for o pessoal daqui mesmo - coloca Priscila - Só a gente tem a chave
- E a sala também fica trancada nesse período?
- Fica - responde Waldir - Mesmo que alguém venha aqui fora do período de reunião para pegar qualquer coisa, sempre tranca a porta depois. E eu lembro perfeitamente que a porta estava trancada quando cheguei
- Sei...então, ou foi algum de vocês, ou algum de vocês do grêmio entregou a chave para o próprio ladrão
- Você acha?
- Bom, é um palpite...se a porta estava trancada quando o Waldir chegou e se deu conta do roubo, então o dinheiro só pode ter sido roubado por alguém que tenha a chave daqui - diz Desirée, numa expressão séria e pensativa.
- É. Faz sentido - Priscila comenta - Mas por que você acha que alguém teria entregado a chava para o ladrão? Ele pode ter roubado a chave e tirado uma cópia, não?
- Mas se isso tivesse acontecido a pessoa roubada sentiria a falta da chave, não acham? A menos que ela fosse muito distraída.
- É verdade. Além do que, todos do grêmio levam a chave junto com outras num chaveiro. Sentiriam a falta dela logo. E, realmente, ninguém comentou nada sobre ter sido roubado ou algo assim.
- Outra coisa...nas últimas duas reuniões, todos estavam presentes? - pergunta Desirée
- Sim. Todos nós quatro estávamos presentes. Por que? - pergunta Priscila
- Só estou perguntando...se nenhum de vocês viu nada de anormal no comportamento de nenhum dos membros do grêmio. Nada, nada?
- Então você acha mesmo que foi um de nós? - pergunta Waldir
- Veja bem, eu não estou acusando ninguém! Só estou tentando levantar o máximo de informação que eu conseguir!
- P-por favor, não fui eu, Dê! Você sabe que eu nunca faria uma coisa dessas e...
- Eu sei, Pri. Pelo amor de Deus. Já falei que não estou acusando ninguém! Mas primeiro a gente tem que levantar as informações...mesmo porque não acho que você teria motivos para roubar nada daqui...e também não acho que tenha sido o tesoureiro
- Não, não. Não fui eu. Eu garanto
- Nem precisa garantir. Se tivesse sido você, não teria dado as informações da falta de dinheiro para os outros, não é?
- S-Sim
- Nesse caso...só tem mais duas pessoas. Você acha que pode ter sido uma delas?
- Eu não sei. Quem são os outros dois?
- Oi, gente. E aí? - diz uma voz não conhecida. Era um rapaz de brinco na orelha, pele parda, não muito alto e cabelo bagunçado. Parecia bem largadão. Ao lado dele, vinha uma garota de óculos, pele branca, cabelos negros, lisos e compridos, tendo mais ou menos o tamanho de Desirée. Parecia bem tímida.
- Ah! São os outros membros do grêmio! Nossa vice-presidente Katia e o secretário Dimas.
- Oh, oi
- Você é amiga da Pri? - diz o secretário, já cumprimentando todo mundo, sem nenhuma cerimônia - Sexta série também?
- Sim - diz ela, levando um típico beijinho de cumprimento no rosto sem ao menos ter tempo de reagir - Estou ajudando a Pri nessa história do desvio que todo mundo tá falando
- Putz, nem me fale. Tá uma encrenca isso aí. Mas, olha, te garanto que não foi ninguém daqui. Dá pra ver que todo mundo aqui é honesto, gente boa. Já trampei em grêmio desde a quinta série e nunca vi nada disso acontecer, mas isso aí deve ser coisa de gente errada aí de fora. Aqueles malucos lá dos Espertos, né? A chapa concorrente. Aposto que eles armaram alguma coisa aí. Só playboyzinho lá...não duvido nada, não - diz o tal Dimas. Apesar do jeito malandro ele parecia ser bem responsável. - Fala aí, Ka? Você não acha?
- Não sei - diz ela, meio sem jeito - A gente...a gente não pode acusar sem provas, né?
- É. Sacanearam a gente legal e não deixaram prova nenhuma. Mas aposto que foram eles, aposto - Dimas continua
Desirée observa os dois recém-chegados. Katia parecia ser do tipo tímida, mas Desirée percebe que ela cruzava os braços e balançava os dedos de uma maneira inquieta. Será que? Estranho...mas das quatro pessoas ali, aquela Katia parecia ser a mais suspeita.
- Isso tá dando um problema... - continua Dimas - Os professores já interrogaram nós quatro, mas claro que todo mundo negou. So quero ver como isso vai acabar
Todos ficam em silêncio por alguns minutos, até que Desirée levanta
- Bom, eu preciso ir. Mas eu vou continuar investigando pra ver se descubro a verdade sobre esse lance - ela diz, se levantando. Todos a olham sorrindo, menos Katia, que lançava um olhar meio amedrontado, o que Desirée percebe.
- Pri...você vem comigo rapidinho. Tenho que pegar umas coisas com você ainda
- Hã? Tá
Fora da sala, Desirée dava passos rápidos que Priscila tentava acompanhar
- O que foi? O que você quer pegar comigo?
- Não quero pegar nada. Só queria perguntar pra você pra não ficar chato com todo mundo lá
- Hã? Perguntar o que?
- O Waldir disse que é o primeiro a chegar...mas ele também é o último a sair?
- Acredito que sim. Eu sempre saio antes dele. Se bem que...
- Se bem que?
- Ontem, quando eu saí, a Katia ainda estava lá
Desirée fica em silêncio por alguns instantes.
- Por que? Você não tá achando que...
- Eu disse. Eu não estou acusando ninguém. Mas eu vou descobrir o que aconteceu. Pode contar comigo.
- Hã? Tá...se você diz...mas, obrigada. Obrigada mesmo pela força que você tá dando
- Imagina
"Hmmm...será que pode ser aquela menina?", pensa Desirée depois que Priscila volta para o grêmio,"Não sei...mas tendo uma suspeita, é muito fácil pra mim descobrir se ela é culpada ou não. Heh!"
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