Maternidade escrita por Litsemeriye


Capítulo 1
Capítulo 1




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Ártemis andou em passos leves até sua irmã, cuidadosa, suave como a Lua que era obrigada a levar pelos quatro cantos dia após dia.

Ela não entendia Thalia; não mesmo. Ela acompanhou a vida da garota, sabia dos desejos, estilos musicais, comida favorita... Tudo sobre Thalia estava marcado como se por ferro em brasa em sua mente, e a deusa não entendia o que a garota fazia ali.

– Se quiser desistir, não vou guardar rancor. - falou, sentando ao lado da morena. Havia mudado sua aparência, avançado um pouco a idade; era mais confortável se sentir uma irmã mais velha naquele momento, e até que gostava de seu corpo adolescente. - Eu não te entendo, Thalia.

A semideusa ergueu os olhos azuis. Tinha algo como os muitos fios da franja da deusa impedindo-a de enxergar os olhos da irmã, mas de alguma forma ela sabia que não encontraria nada além de confusão ali. Sorriu.

– Não quero. Jurei à Zöe, também. - acariciou a cabeça do lobo que as rondava, esperando uma resposta que não veio. - Era você, não era? Dizendo o que fazer, como cuidar da minha mãe quando ela bebia demais...

– Ajudando com os deveres de matemática. - completou, fazendo com que as duas rissem fracamente. - Sim, era eu. Beryl não estava tão atenta como deveria, achei que você merecia alguma atenção. Mesmo com tudo o mais. Eu também já fui semideusa, Thalia, sei como é difícil sobreviver assim.

Elas ficaram em silêncio, até que a mais nova deixou escapar um baixo agradecimento. Ela mesma se surpreendeu; não era muito fã de deus algum - muito menos de seu pai ou irmãos -, mas daquela vez, havia sido sincera. O suficiente para o rosto corar e a garota desviar os olhos para a constelação d'A Caçadora, imaginando que Zöe deveria estar muito aborrecida em morar no Elísios, com tantos homens.

– Qual parte você não entende, minha senhora?

– Quando estivermos sozinhas, usai minha graça. Somos irmãs, afinal.

– Usai? - Thalia olhou-a interrogativa. Realmente, não achava que até a deusa usava verbos tão antiquados, tendo tanto contato com o mundo moderno como tinha, mas ali estava a prova de que A Caçada precisava urgentemente de algumas aulas de gramática contemporânea. - Certo, Ártemis. Qual parte não entende?

A ruiva tirou a franja da frente dos olhos incrivelmente prateados, alertas como os de um cervo - ou veado, Thalia não entendia muito de animais. Ela soube ter visto carinho e uma - incômoda - pena, que fizeram-na se lembrar de Afrodite.

Ela nunca contara para ninguém, mas a deusa do amor a havia visitado em um sonho, alguns dias antes. Ela sabia que era Afrodite, mesmo que nunca tivesse conhecido a filha de Urano, porque era uma garota alta, de cabelo louro curtíssimo e sorriso brilhante. Como ela se lembrava. Como ele era sete anos antes.

– Eu te observei, Thalia. Você sempre quis ser mãe; uma melhor que Beryl. Ter filhos e dar a eles a infância coberta de carinho e atenção que você nunca teve. - Ártemis passou a língua nos lábios, mesmo sem necessidade, e algo como lágrimas fizeram seus olhos de prata líquida se tornarem um tanto mais parecidos com as estrelas. - Por que desistiu de tudo isso para se juntar À Caçada?

E a mais nova caçadora sorriu, triste, vazia, distante. E se lembrou de Afrodite pedindo perdão em seu sonho, de Annabeth, Grover, Percy. Se lembrou da luta contra os ciclopes, da sensação agonizante da vida deixando seu corpo, de Thanâtos pousado ao seu lado, prestes a levá-la embora - sua essência, não seu corpo. De um par de olhos azuis que pareciam o céu de verão.

Olhou, pela primeira vez, diretamente nos olhos da deusa, que além de sua própria imagem, viu refletido amor, decepção, saudade. E um tanto de vazio disfarçado de coragem. Pelo Olimpo, o quão forte aquela mortal era, para carregar tanta dor em seu corpo? Ártemis duvidava que algum deus, além de seu tio Hades, conseguisse aguentar carga semelhante de sentimentos sem perder um bocado do juízo.

– Porque, minha irmã, a única pessoa que eu via como pai dessas crianças agora está do outro lado da guerra.


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Notas finais do capítulo

[Thaluke, shipp - do latim, um dos únicos shipps héteros que curto em PJO]SEMPRE tive esse headcannon!, e, na boa, entrei de férias hoje. To comemorando com uma das minhas personagens favoritas :).Comentários são bem-vindos! Eu juro que não mordo (forte)! :D.



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