Um certo tipo de Vampiro escrita por MarcosFLuder


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Primeiro dos três capítulos dessa fanfic. Mais uma das muitas que escrevi muitos anos atrás, ainda no auge da série. Espero que quem ler goste bastante.



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WASHINGTON D.C.

8:15 Pm

A festa corria solta em volta dele, mas Denny Chapman só conseguia pensar em sua longa vida e de como jamais entendera direito o porque dele ser daquele jeito. Não fora nenhuma maldição, tão pouco algum pacto demoníaco que tivesse feito. Na verdade, ele sempre se lembrou de ter sido assim. Das poucas lembranças de infância que sobraram estavam os momentos em que ele sentia-se sugando a vida de quem estava à sua volta. Todos o viam como um garoto afetuoso que gostava de abraços e beijos, achando-o encantador por isso.

O fato era que suas necessidades naquela época eram poucas e ele não fazia mal a ninguém, apenas matava uma fome que sempre sentira e que só acabava quando entrava em contato com alguém. O problema é que essa fome só fez aumentar com o tempo, os abraços afetuosos dos adultos já não eram mais suficientes pois as mudanças típicas da puberdade, além de fazer com que reparasse nas garotas à sua volta, tornaram suas necessidades maiores. Ele também percebeu que não precisava tocar em alguém pra matar sua fome, bastava olhar fixamente e podia sentir a essência da pessoa passando para si. Só que agora elas começavam a ser afetadas, sendo acometidas de tonturas e fraquezas, nada muito grave a princípio, mas algumas pessoas começaram a desconfiar dele e evitá-lo.

Com o tempo isso tornou-se mais freqüente, o que fez de Denny um jovem isolado. Esse isolamento obrigando-o a desenvolver ainda mais suas habilidades, pois a fome que sentia só fazia aumentar a medida que crescia, ganhava corpo, virava homem. Tudo o que ele precisava agora era de uma pequena distância, mas havia surgido uma outra necessidade dentro dele, o desejo pelo sexo oposto. Uma necessidade difícil de satisfazer, uma vez que todos na sua pequena cidade o evitavam. Até seus pais pareciam ter medo dele agora.

Procurar prostitutas parecia a solução, mas ao ter o corpo delas ele também roubava muito de suas essências, deixando-as quase mortas sobre a cama. Com o tempo elas passaram a evitá-lo também. Ele se perguntava sempre o porquê disso tudo. Nunca pediu para ser desse jeito, nascera assim, tudo o que queria era matar essa fome que o consumia, mas as pessoas não entendiam isso. De sua adolescência ele ainda lembrava do cinturão de carteiras escolares vazias à sua volta. Havia também os comentários e risadas, quando achavam que não ouvia, do olhar desconfiado e temeroso de todos, ao mostrar que estavam errados. Lembrava da tristeza que sentia, de como essa tristeza foi virando rancor. Com o tempo, o abandono e a solidão, aos poucos, tornaram esse rancor um terreno fértil para o ódio, um ódio que o tempo transformou em desprezo por todos à sua volta.

— Denny , ei Denny, acorda cara – a voz de Garry tira Denny de seus pensamentos.

— Desculpe! – ele diz.

— Tudo bem, mas vá fazer o seu serviço – disse Garry.

Aquela era uma festa cheia de ricaços e figurões do governo, Denny estava fazendo um bico como garçom por insistência de Garry. Ele preferia estar longe daquelas pessoas. Ele já havia matado sua fome durante o dia, no seu emprego fixo na rodoviária, ou pelo menos era isso que pensava. Dany circulava entre os convidados da festa sentindo-se invisível, eles viam a bandeja onde eram servido as bebidas e não ele. Denny achava melhor assim, o tempo fez com que aceitasse a solidão e o isolamento. Ele já não via as pessoas à sua volta como semelhantes, mas apenas como pasto para suas necessidades. Por força do hábito, entretanto, ele sempre reparava nelas. Naquela festa haviam peruas, playboys, milionários e figurões do governo. Estavam quase todos bêbados, um deles estava com uma câmara e mais incomodava todo mundo do que filmava a festa. Denny tratou de fugir do sujeito.

— Mais um drink senhor? – ele perguntou a um homem que parecia discutir com a mulher ao seu lado – O sujeito pegou o drink sem nem mesmo olhar para Denny.

— Pelo amor de Deus Jim – a mulher disse – o médico proibiu você de beber.

— Não enche Nora.

A discussão entre os dois aumentou e Denny ficou parado junto a eles. Pouco importava-lhe o que diziam, ele não conseguia mesmo era tirar os olhos daquele homem, a fome voltara com toda a força e sem que esperasse. Era algo que já vinha acontecendo a algum tempo com ele sempre que encontrava alguém, homem ou mulher, que por alguma razão desconhecida despertava o seu interesse. O que havia com aquele homem, e nas outras pessoas que vira antes , que provocava isso, era algo que não conseguia entender.

— O que há com você Jim? O que você tem? – Nora gritou ao ver seu marido quase desfalecendo na sua frente.

Garry estava do outro lado da sala quando viu tudo aquilo acontecer. Primeiro foi o copo que caiu no chão, só não sendo seguido pelo corpo daquele homem porque sua esposa o segurava com dificuldade. Mas o que realmente chamou a sua atenção foi a atitude de Denny, que observava tudo friamente, sem jamais tirar os olhos do homem que desfalecia à sua frente. As outras pessoas em volta nem pareciam notar, tão ocupadas que estavam em suas conversas fúteis, algumas já completamente bêbadas, dentre elas uma que filmava a festa incomodando todos em volta.

— Me ajuda por favor – ela falou com Denny e os dois carregaram Jim para um dos quartos

Ao chegar no quarto Denny se ofereceu para ficar com Jim enquanto Nora ia atrás de um médico, ela aceitou e Denny ficou a vontade para matar a sua fome. Nora não demorou mais do que um minuto na sala. Não só não havia nenhum médico como todos pareciam bêbados ali. O único que se prontificou a ajudá-la foi Garry. Eles entraram no quarto e encontraram Jim morto; Denny não estava por perto. Nora abraçou o marido, chocada com o que tinha acontecido.

— Onde está o homem que eu deixei aqui? – ela perguntou entre lágrimas, enquanto segurava corpo do marido.

— A senhora está falando de quem? – Garry sabia, mas não queria seu nome ligado ao de Denny.

— O que ele fez com o meu marido? – ela gritou – o que ele fez?

Nora saiu correndo desesperada, seu marido estava morto e algo dentro dela dizia que o garçom que ajudara a leva-lo para o quarto era responsável por isso. Ela o procurou por toda a festa sem encontra-lo. Resolveu ir até a saída dos empregados onde o encontrou prestes a ir embora; enquanto isso Garry chamava os seguranças da festa, contando o acontecido. Eles começaram a procurar por Nora e a encontraram junto a saída dos empregados, ela estava caída no chão dizendo coisas sem sentido enquanto era socorrida.

— Ele... matou o meu marido... ele... é um... vampiro – disse ela com dificuldade antes de desmaiar.

SEDE DO FBI

WASHINGTON D.C.

DIA SEGUINTE

Os agentes Doggett e Reyes chegaram ao gabinete do Diretor-Delegado Kersh bastante apreensivos. Serem chamados até ali geralmente era sinal de problema. Kersh fazia absoluta questão de ignorá-los, só descendo de seu pedestal para atrapalhar-lhes a vida. Ao sinal da secretária eles entraram. O Diretor-Assistente Skinner já estava lá.

— Sentem-se agentes – Doggett e Monica não deixaram de notar que o tom de voz de Kersh estava mais gentil que o habitual.

— O que deseja de nós Senhor? – Doggett resolveu ser direto, Kersh entregou-lhe o jornal do dia.

— Vocês foram designados para esse caso.

— Eu li sobre isso antes de vir pra cá – Doggett passou o jornal para Monica – porque querem que investiguemos um caso de intoxicação alimentar numa festa de figurões?

— Obviamente não foi um caso de intoxicação alimentar agente Doggett – Monica devolvia o jornal ao Diretor Kersh enquanto falava.

— Várias pessoas importantes estavam presentes naquela festa agentes – Skinner tratou de falar – uma delas teve uma morte inexplicável enquanto outra está muito mal no hospital.

— O general James Foster era uma das figuras mais importantes do departamento de defesa americano – disse Kersh – uma morte inexplicável é algo que não pode ser levada em conta num caso desses.

— Principalmente depois que a esposa dele disse com todas as letras que o marido foi assassinado por um vampiro – Doggett estreitou as sobrancelhas ao ouvir isso, era sua habitual expressão de incredulidade, Monica permaneceu com a expressão inalterada.

— Ela disse isso entre delírios Skinner – interveio Kersh – num dos poucos momentos de lucidez que teve antes de entrar em coma.

— Mesmo assim imagino que ela esteja sob vigilância – disse Doggett.

— É claro que sim , vocês poderão interroga-la no hospital assim que ela acordar de vez.

— Nós vamos ter acesso a tudo Senhor?

— É claro que terão agente Reyes.

— Haviam muitos figurões naquela festa Senhor – disse ela – muitos não vão gostar de serem investigados pelo FBI e podem tentar nos barrar.

— Isso não vai ser possível – disse Skinner – vocês estão no caso devido a um pedido especial do secretário Albert Foster, que além de irmão da vítima é também uma das figuras mais proeminentes do atual governo.

— Estamos tão famosos assim? – Doggett parecia divertir-se.

— Na verdade a fama diz respeito ao ex-agente Fox Mulder – Kersh fez questão de enfatizar o nome completo de Mulder diante de Doggett – Albert nem fez muita questão de disfarçar a decepção quando eu falei que ele não faz mais parte do FBI.

— De qualquer forma agentes, eu assegurei a ele que vocês dois eram plenamente capazes de resolver esse caso – Skinner fez questão também de enfatizar as suas palavras.

— Obrigado pela confiança Senhor – disse Doggett.

— Acho que devíamos começar pelo local onde tudo aconteceu – disse Monica.

— Boa idéia parceira, vamos fazer isso agora mesmo – eles levantaram e já estavam dirigindo-se a porta.

— Agentes – a voz de Kersh chamou-lhes a atenção – não preciso dizer que é de fundamental importância que esse caso seja resolvido o mais rápido possível.

— É claro Senhor – disse Doggett, antes de sair da sala com Monica.

Os dois caminhavam pelos corredores do FBI ignorando o burburinho dos outros agentes pelo caminho. Monica podia sentir a tensão de seu parceiro e teve que suprimir uma grande vontade de pegar em sua mão. Seria uma quebra de protocolo, além do que, chamaria mais ainda a atenção de todos ali. Eles tomaram o elevador, e ao se verem sozinhos viu que era a oportunidade certa.

— Ei parceiro – ela sorriu enquanto tomava a mão dele – não fique guardando isso com você.

— Você viu o jeito como ele falou do Mulder? O desgraçado queria nos humilhar – os olhos dele faiscavam de indignação e embora parecessem aço, Monica sabia o que havia por trás. A indignação não era só por ele mas também por ela, o que só fez com que o amasse ainda mais.

— Mulder e Dana devem ter passado por coisas piores nas mãos dele John, esqueça isso – ela continuava sorrindo e segurando a mão dele, mas só até o elevador abrir num andar. Quando outras pessoas entraram já os encontraram em sua habitual postura profissional.

ACADEMIA DE QUANTICO

VIRGINIA

Dana Scully tinha terminado a sua aula e preparava-se para ir embora. Enquanto respondia a alguns cumprimentos ela pensava nas dificuldades dos primeiros dias nessa função. O que mais vinha à sua mente eram as piadinhas que alguns alunos costumavam fazer a respeito de seu trabalho no Arquivo-X. Felizmente isso era coisa do passado, pois ela havia conseguido impor-se perante aquela turma, conquistando-lhes o respeito; agora até apreciava um trabalho que a princípio parecia-lhe um fardo. Ela deixou esses pensamentos de lado ao ver Walter Skinner passando pela multidão de jovens alunos com sua habitual rigidez sem, aparentemente, importar-se com alguns olhares femininos à sua volta. As donas de alguns desses olhares viram quando ele encontrou Scully, tratando de fingir uma conversa ao vê-los caminhando em sua direção.

— Desculpe atrapalhar os seus planos agente Scully, mas as ordens pra que você examinasse o corpo vieram bem de cima.

— Tudo bem Senhor, afinal isso faz parte do meu trabalho – ela não pôde deixar de notar o efeito que Skinner estava causando nas suas alunas e divertiu-se com isso.

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Doggett e Monica chegaram ao local da festa e já o encontraram cheios de homens engravatados, não era difícil presumir que eram do serviço secreto, um deles fez menção de barra-los.

— Agente John Doggett e agente Monica Reyes – eles mostraram os distintivos – nós fomos designados para o caso.

— Eu não vejo razão para o FBI estar nesse caso – disse o homem.

— Isso você vai ter que resolver com os nossos chefes – Doggett o encarou de frente e os dois ficaram alguns segundos naquela situação. Monica não conseguia deixar de achar graça nessa postura típica de machos em disputa por um território, mesmo assim resolveu intervir.

— Mostre a autorização a ele agente Doggett, não há razão para discutir-mos – Doggett seguiu o conselho de sua parceira. O engravatado examinou o papel, reconhecendo o timbre do departamento de defesa.

— O que vocês vão precisar? – a mudança de tom na voz dele foi facilmente reconhecível, Doggett e Monica não puderam evitar de achar aquilo divertido.

— Podemos começar com as pessoas que estavam na festa – disse ele.

ACADEMIA DE QUANTICO

SALA DE AUTOPSIAS

O exame feito no General Foster deixou Scully confusa. Não havia nenhuma razão que justificasse a morte daquele homem, nada que indicasse porque seu coração parou de bater ou porque suas vias respiratórias estavam entupidas , menos ainda porque seus órgãos internos estavam inteiramente atrofiados. Era como se a vida simplesmente tivesse sido arrancada do corpo dele. Ela ainda estava terminando o exame quando, do lado de fora da sala, Doggett e Monica chegaram. Foi uma surpresa para eles ver Skinner com William nos braços. Ele não os tinha visto e brincava bem a vontade com o bebê, até reparar na presença dos dois e ficar ligeiramente constrangido com a situação. Scully saiu da sala um pouco depois disso.

— Eu tive que ficar com ele enquanto a agente Scully fazia a autopsia – disse Skinner.

— Como foi na autopsia Scully? – Doggett quis saber.

— Estou muito confusa com o que descobri agente Doggett.

— Como assim? – perguntou Monica.

— Bom é que... simplesmente não há razão para aquele homem ter morrido.

— Dá pra explicar melhor agente Scully? – Skinner perguntava enquanto devolvia William pra ela.

— Houve uma falência total nos órgãos internos dele sem que houvesse uma razão concreta que justificasse isso.

— Talvez a fita possa nos ajudar – disse Monica.

— De que fita estão falando? – Skinner perguntou ao mesmo tempo que reparava na fita nas mãos de Doggett.

— Interrogamos algumas pessoas que estavam na festa e descobrimos que uma delas passou boa parte do tempo filmando – disse Doggett – talvez haja algo aqui que possa ser útil.

— Porque não vamos até a minha casa para vê-la então – disse Scully.

— É uma boa idéia – disse Doggett.

— Eu não vou poder acompanhar vocês – disse Skinner – vou ter de encontrar o Kersh e contar em que pé estamos, não esqueçam que ele quer pressa na resolução do caso.

— Taí uma coisa que tenho estranhado muito senhor – disse Monica – porque esse interesse do Diretor Kersh em nos ver nesse caso?

— Política, agente Reyes. Estamos todos sendo pressionados pelos altos escalões para apresentar resultados, e por mais que não goste de admitir, ele sabe que vocês três são os mais qualificados para resolver um caso como esse.

— Quer dizer que ele quer fazer bonito perante os figurões do governo às custas do nosso trabalho. Isso ao mesmo tempo em que não perde uma chance de nos sabotar – o tom amargo na voz de Doggett era evidente.

— Eu entendo a sua indignação agente Doggett, mas esse é o nosso trabalho. Nós temos o dever de descobrir o que matou aquele homem.

— Dana tem razão John – Monica tocou levemente no ombro do parceiro – pouca importa as razões mesquinhas do Kersh diante do que deve ser feito.

John Doggett olhou bem para as duas mulheres diante dele. Elas eram muito diferentes uma da outra e mesmo assim ele já percebia o forte laço de amizade que estava sendo formado entre as duas. E se eram tão diferentes entre si, haviam algumas características que as uniam. Ambas eram fortes, dignas, corajosas e com um forte sentimento de lealdade. Pensou em Mulder, nos anos em que ele passou no Arquivo-X, tendo Scully como seu único ponto de apoio em meio a tanto descrédito. Pensou no sorriso de Monica dentro daquele elevador, no calor do toque de sua mão num momento em que sentia-se diminuído pela comparação que Kersh fez entre ele e Mulder. Elas eram um porto seguro e Doggett sentia-se um homem de muita sorte por tê-las como parceiras.

— Vocês duas tem razão – ele disse – vamos até a sua casa Scully. Nós temos um caso pra resolver.

RESIDÊNCIA DE DANA SCULLY

8:20 Pm

Scully entrou com William em seus braços, Doggett e Monica logo atrás dela.

— O que acham de eu preparar algo para comermos – disse Scully – é só eu...

— O que foi Scully? – Doggett percebeu quando ela parou a caminho do quarto do filho.

— A luz no quarto do William está acesa, eu tenho certeza de que a deixei apagada.

Doggett e Monica sacaram suas armas de imediato e foram em direção ao quarto, Scully estava logo atrás deles. Doggett entrou no quarto de arma em punho, Monica dando-lhe cobertura

— Parado! FBI! – disse , ao mesmo tempo em que tinha uma grande surpresa.

— Eu me lembro de já ter dito essas palavras várias vezes agente Doggett – Mulder estava parado diante do berço e só se moveu ao ver as duas figuras atrás de Doggett e Monica.

— Mulder! – Scully foi até ele com William nos braços.

— Desculpe pelo susto – disse enquanto abraçava os dois.


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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo virá até o final da semana.