O Invento escrita por TamirisJ
Notas iniciais do capítulo
CAPÍTULO FINAL!
Me chacoalham. Abro os olhos, sobressaltada. Busca ar ruidosamente e percebo que estou fora d'água. Era um sonho.
Olho para frente, ainda assustada, e vejo Katniss me olhando.
– Vamos - ela diz. - O sol está surgindo e muito provavelmente os Carreiristas estão à procura de alguém para matar.
Aceno com a cabeça. Com um rosto sério e obediente, levanto o máximo a cabeça, vagarosamente. Meu corpo ainda dói muito, mas não tanto quanto já chegou a doer. Minha cabeça está melhor. Consigo andar rápido se prestar atenção no que faço e minha visão está 100% melhor. Devo tomar cuidado com minhas constantes tosses e rastros de sangue que deixo pelo caminho por conta das mesmas.
Estou tentando pegar um esquilo com a faca quando dou conta de que ainda não sei o que aconteceu no lago.
– Katniss.
– Sim.
– O que aconteceu no lago? - pergunto, olhando para ela.
Katniss para de colher as plantas e olha para mim. Seu rosto adquire um tom sombrio.
– Tudo - responde.
Ela olha para o céu, que está claro, e depois suspira.
– É uma longa história - continua - ,e devemos ter cuidado com os Carreiristas. Mas enfim, resumidamente, você caiu porque três lobos surgiram por trás de nós e dois Carreiristas e o tributo do Distrito 6, eu acho, na nossa frente, e o peso que você estava fazendo no gelo era enorme. Bem, os Carreiristas eram o tributo do Distrito 4 que atirou uma lança no garoto do 6, provavelmente você ouviu o canhão, e... - ela suspira e seus olhos brilham, tristes e raivosos - Peeta.
Levanto as sobrancelhas, impressionada. Era algo inédito, um Carreirista que não fosse dos Distritos 1, 2 ou 4. Deve ser difícil para ela... Ter um colega Carreirista. Ele lutando do lado dos bons, enquanto ela é deixada à deriva por alguém que confessara o amor por ela.
– Sinto muito - as palavras escaparam da minha boca antes de pensar em fazê-lo.
Ela simplesmente acenou com a cabeça.
– Bem... - ela continuou - Eles estavam primeiramente preocupados com os lobos. O tributo do 4 jogou sua lança novamente e acertou um no pescoço. Eu não podia te ajudar. Preparei meu arco, virada de lado e pronta para atirar onde teria mais conveniência. O gelo arrebentou aos pés do Carreirista e ele caiu na água... - ela pausou e eu acenei, me lembrando do cadáver que me levou à vida - Então ele tentou se esgueirar para fora, mas eu acertei uma flecha em sua cabeça.
Ficamos em silêncio uns dois minutos, enquanto Katniss relembrava sua primeira vítima.
Deixo ela à vontade para continuar.
– Bem, um a menos - ela diz, me deixando surpresa. Estava tão sombria e repentinamente comemora a morte de um garoto. Ah, sim, estamos nos Jogos Vorazes, onde matar é o objetivo. - Você estava batendo logo abaixo dos meus pés no gelo, e Peeta avançou para os lobos e lutava com um deles. Quebrou o pescoço de um enquanto o outro uivava, pedindo ajuda. Acertei uma flecha entre os olhos deste último, e foi quando você batia mais do que nunca no gelo. Olhei para Peeta, esperando por luta, mas ele se ajoelhou cuidadosamente e bateu no gelo onde você estava. Conseguiram quebrar o gelo, e os outros lobos chegaram, 10, aproximadamente. Tinha medo de que o gelo rompesse, mas só tinha tempo de preparar o arco e atirar - sua narrativa estava constante, ela sem fôlego, como se estivesse revivendo tudo novamente -, Peeta estava indo em sua direção quando um lobo o atacou e ele teve que lutar. Foi quando saiu do gelo sozinha. Após vencer o lobo, ele te aninhou no colo e eu matei o restante dos lobos. Peguei minhas flechas. Peeta alegou que devia voltar... - sua voz fica inconstante - me beijou e me ajudou a te trazer para essa caverna, a mais próxima do lago.
Olho para baixo, pensando nas mortes dos tributos do 4 e do 6. Uma lança e flecha. E eu quase morri por falta de ar. Penso nos outros tributos restantes. Quais serão as armadilhas preparadas para eles? Crianças tão jovens submetidas a isso!
Sinto uma ira súbita e forte, e desejo de fazer algo. Mas o quê? Qual o poder que eu tenho perante o da Capital? Tudo o que posso fazer é vencer. Ou ajudar Katniss a vencer. Ela merece.
– Katniss, vou te ajudar a vencer - digo, sentindo o peso de minhas palavras.
Ela olha para mim, surpresa.
– Me ajudar? Ajude a si mesma! Esses são os Jogos Vorazes! As regras não permitem ajuda.
– Então mude! - grito, deixando a ira fluir em minha palavras. Não sei o porquê de eu estar a apoiando tanto. Talvez por ser alguém que mereça ganhar se eu morrer - Mude as regras, Katniss! Você é a garota em chamas, não? Pois acenda uma fogueira, cujo churrasquinho é a carne da Capital ao invés da nossa!
Ela arregala os olhos, como quem diz: "você está louca de dizer isso aqui?". Repentinamente, me sinto vazia e me calo. Acabei de proclamar minha morte. Quando penso isso, sinto um tremor nos meus pés.
Mas quer saber? Não tem problema, porque a Capital proclamou a minha assim que meu nome foi sorteado naquela estúpida colheita.
– Se vou morrer, ainda quero ser eu mesmo - balbucia Katniss, como que para si mesma.
– O quê? - pergunto, sem entender nada daquelas palavras.
Ela olha ao redor e balbucia.
– Você está certa.
Não sei o porquê, mas sorrio. Mas meus lábios se distorcem assim que sinto um cheiro estranho. Sinto meu corpo se enrijecer e meus olhos lacrimejarem. Meu nariz está irritadíssimo. Minha pele formiga. Olho para Katniss e percebo que seu rosto não está muito diferente do que o meu. Sinto cheiro de...
De repente, seus olhos se arregalam.
– Fogo - ela diz. - Eles escolheram churrasquinho de nós.
Me sinto enjoada e minha visão está turva, mas vejo o ambiente laranja. O fogo se espalha rapidamente. As chamas são altas, brilhantes e chegam até a ser bonitas se o objetivo delas estarem aqui não fosse me matar.
Então sei o que vai acontecer. Meu organismo não resistirá a mais uma brusca falta de ar. Me sinto explodir por dentro, e vomito. Meu estômago dói.
– Eliza! - grita Katniss - Venha! Corra!
Tento correr e seguir seu som, vomitando e segurando a barriga, aos tropeções, sem enxergar.
Tropeço num ramo de árvore e caio de joelhos. Sinto meu corpo pegar fogo, arder.
É isso. Eu lutei. Sei que Katniss vai vencer.
Respiro fundo e a tosse chega. Sinto um puxão nos meus braços e ouço um "levante!". Parece minha mãe falando, para eu levantar quando há fogo perto de casa por conta de fios queimados. Tenho que salvar as coisas de casa. O dinheiro. O dinheiro para o sustento. Preciso pegá-lo.
– Eliza! - ouço minha mãe gritar.
Ergo minhas pernas e me ponho a correr, mesmo que cega pela fumaça. Sinto-me quente, como que ardendo, devo estar com febre... Mas tenho que pegar o dinheiro... Tudo o que sobrará depois deste estúpido incêndio...
Corro o mais rápido o possível e ultrapasso minha mãe. Não consigo respirar direito, é como se o ar fosse composto por ácido sulfúrico. Vomito mais e aperto meu estômago, como que forçando a comida a ficar. Vou precisar de proteínas para sobreviver nas casas de abrigo.
Caio e então sinto, de repente, um alívio no meu corpo, como se água tivesse sido jogada nele. Respiro fundo, e consigo detectar oxigênio. Ah, que delícia é respirar ar puro!
Não me sinto mais pegando fogo, mas estou fraca... Vomito ainda mais, não consigo segurar a comida. Mas é aqui que está o dinheiro. Tenho que procurá-lo. Tento me levantar, mas me impedem.
– Não! - grito. Estou cega, meus olhos enxergando somente fumaça - Preciso... - tosse -... Dinheiro!
– Já peguei o dinheiro - diz mamãe.
Então começo a chorar, aliviada, sabendo que não morreremos de fome, apesar de termos perdido nossa casa. Talvez meus irmãos e meus pais não morram de fome... Porque me sinto tão fraca... Minha respiração é lenta, meu coração mal sinto... Mamãe saberá pegar o dinheiro nos próximos incêndios...
– Mãe - balbucio. - Mãe, você sabe continuar? - minha voz está tão rouca que mal escuto. Sinto fumaça sair da minha boca. - Sabe... Pegar o dinheiro sem mim?
Sinto lágrimas escorrerem dos meus olhos, e lágrimas caindo sobre mim. Fecho os olhos. Mamãe me pega no colo e aninha minha cabeça, me afaga.
Mal consigo respirar. Luto, mas consigo pegar cada vez menos ar...
– Consigo - diz mamãe. - Claro que sim. Por você. Pela sua luta.
Luta. Meus olhos repentinamente se abrem, e vejo Katniss Everdeen. Será que não era mamãe o tempo todo? Lembro de algo como queimação, mas também lembro da máquina... Não sei, é como se a fumaça estivesse dentro do meu cérebro, dentro de mim...
– Katniss. Vença. - eu digo. - Pela minha família, faça algo por eles. Se não, deixe que eles vão comigo, viverem em paz.
– Vou vencer. Por você. Por Prim. - ela me observa, preta pela fumaça - Mas tente lutar por sua família! Vamos, lute por ela!
Tento respirar, mas o que sinto é uma lágrima descendo de meu rosto.
– Ganhe.
Sinto pegarem na minha mão com força. Estou tremendo descontroladamente, meu corpo em busca de ar.
Então dou um suspiro desesperado, fecho os olhos com força, sinto coisas explodirem... Vejo o sol tão lindo no céu e sinto seu calor, que queima. Observo os campos verdes que sempre vi na televisão e que sempre quis ir. E ali, no fundo, vejo mamãe, meus irmãos, meu pai e Teez.
Então a mão que me segurava afrouxa, como que indo embora, e corro ao encontro deles, mas o cenário vai ficando preto... Eu caio na grama, de repente fraca, sinto uma dor imensa no peito, grito por eles, mas a dor é forte demais... Ouço, no longínquo, minha mãe dizer 'estamos indo!', e tudo fica escuro".
Eliza, Distrito 3.
UMA NOTA A MAIS
"E então o canhão soa, e ela tem um sorriso esboçado no rosto".
Katniss Everdeen, Distrito 12.
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Espero que tenham gostado da narrativa! :D
Bem, para ela se encontrar com Katniss, a Rue não poderia aparecer (pelo menos até Eliza morrer), então é como se tivesse pegado o lugar dela.
Não, não acho que sobreviveria nos Jogos Vorazes. Provavelmente tropeçaria numa pedra e morreria logo no começo, na verdade, a Eliza foi muito além do que realmente acho que conseguiria hahaha
Obrigada por ler e deixe reviews! :)
PS: O "Uma nota a mais" é um recurso de escrita que adotei de Markus Zusak. Acho uma ideia incrível... Com tão pouco, você diz muito!