Winter Song escrita por gryffinanda


Capítulo 1
Único — Is love alive?




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Que se danasse a bendita da razão. Lily Evans estava mesmo brava e iria sim destruir a Sala Comunal da Grifinória se achasse necessário.

James Potter a havia chamado de grudenta e fora embora para casa, depois que Lily avisara a sua família que iria passar o Natal e o Ano Novo com ele. Agora, em plena véspera de Natal, estava sozinha, triste e com raiva, sem ninguém para lhe fazer companhia.

— Meu nome é James Potter e eu fodo garotas a torto e a direito porque sou um arrogante egocêntrico — murmurou, jogando seu livro de Herbologia contra a parede. Não se importava que alguns alunos do primeiro ano a olhassem estranho, como se ela fosse doida ou algo parecido. Naquele momento, estava tendo um típico ataque de uma garota trouxa magoada. Não ligava para nada nem ninguém. Sentia-se sozinha e abandonada, como se fosse capaz de comer um pote de sorvete inteiro.

Talvez devesse procurar Severus, pensou, e logo abandonou a ideia. Ele tomara sua decisão, e ela tomara a dela. Se ele queria juntar-se a Voldemort, ela não tentaria impedi-lo. E, acima de qualquer ressalva que pudesse ter contra ele, nada superava o fato de que Severus a havia chamado de sangue-ruim; Lily não devia nada a ele.

— O que é que esse livro fez contra você, Evans? Chutou seu gato? — Lily virou-se rapidamente, pronta para atacar outro livro em quem quer que havia ousado incomodá-la.

— Não — respondeu quando viu quem era a pobre alma com desejos suicidas. — Se alguém chutasse o Sr. Bigodes, o tratamento seria bem pior do que uma simples livrada na cabeça.

Sirius Black riu suavemente e Lily se sentiu incomodada. Sirius era conhecido por flertar com qualquer coisa que se mexesse e ela sabia muito bem que suas cantadas sempre tinham um quê de expectativa. E ela, por ter o gênio incrivelmente parecido com o do garoto, adorava provocá-lo e deixá-lo confuso.

— Já pedi desculpas milhões de vezes! — o garoto disse indignando, apoiando-se no corrimão que levava ao quarto dos garotos. — O gato maldito que se meteu no meu caminho!

— E sua vassoura de quadribol simplesmente entrou em combustão espontânea — replicou. Lily começou a recolher os livros e os frascos de poções do chão, organizando-os delicadamente dentro de sua bolsa do jeitinho que estavam antes. Precisava se controlar; ficar jogando coisas contra as paredes e berrando a plenos pulmões sobre a babaquice de James não eram atitudes de uma monitora do sétimo ano.

Depois de arrumar suas coisas e alisar seus cabelos com as mãos em uma tentativa falha de organizá-los, Lily respirou fundo e olhou ao seu redor. Sirius havia descido das escadas e agora a observava, sentado no braço de uma poltrona vermelha de aparência gasta.

Por alguma razão, Lily adorava aquela poltrona. Lembrava-se de sentar-se nela quando chegara pela primeira vez em Hogwarts, com seus livros emprestados da biblioteca no colo, e passar horas a fio alheia ao mundo ao seu redor. A aconchegante poltrona, antigamente muito mais bem cuidada, estava agora com uma aparência descolorida e gasta, porém a garota tinha certeza de que continuava tão confortável quanto antes.

— Ei, Evans... Evans! — acordou de seus devaneios com Sirius berrando em seu ouvido. Ao observar seu rosto, Lily pode perceber que não era a primeira vez que ele lhe chamava.

Ambos suspiraram. Lily andava muito distraída ultimamente e conversar com Sirius costumava lhe ajudar.

— Não devia estar na casa de James? — a garota perguntou após algum tempo. Sirius costumava ir para a casa dos Potter desde seu primeiro ano em Hogwarts, e os Potter haviam até mesmo acolhido o menino no ano anterior, em que Sirius fugira de casa.

— Quis ficar na escola este natal — respondeu simplesmente, dando de ombros. — Hogwarts é muito bonita coberta de neve. E você? Pensei que fosse passar o Natal com James, para ele te apresentar a família dele.

A simples menção do nome de James a fez ficar furiosa novamente. Suas bochechas, já vermelhas pela corrente de ar que entrava por uma das janelas, esquentaram e Lily viu-se reclamando automaticamente.

— Fui perguntar a ele que tipo de roupas deveria levar, se iríamos patinar, ou se eles tinham alguma tradição de só usar suéteres na ceia de Natal, ou qualquer outra merda que fosse! — Enquanto falava, Lily mexia os braços ao seu redor e Sirius teve de desviar-se deles diversa vezes. — E daí ele me chamou de grudenta. De grudenta. E controladora, insegura e egoísta. Quer dizer, sei que não sou a melhor pessoa do mundo, mas grudenta?! Dai-me paciência.

O garoto ao seu lado controlava-se fortemente para não cair na risada. Havia observado James e Lily brigando um com o outro desde o primeiro ano e ninguém apoiava o casal como ele, porém eles conseguiam ser tão idiotas algumas vezes. James claramente estava abalado com a doença bruxa que acometera seus pais recentemente. E Lily estava fazendo tempestade em copo d'água, como sempre, achando que James estava tornando-se novamente o garoto infantil e egoísta que costumava ser.

Sirius sorriu e Lily conhecia muito bem aquele sorriso. Não era apenas um puxar de boca; era o sorriso que ele usava quando iria aprontar algo. Era o sorriso dos Marotos. Tinha visto-o no rosto dos garotos, e algumas vezes nos próprios lábios, desde que podia lembrar-se.

— Espere aqui um instante, certo? Volto logo — Sirius disse e desapareceu escada a cima.

Lily esperou, ouvindo enquanto Sirius esbarrava nas coisas no dormitório e resmungava baixo, provavelmente xingando objetos inanimados como sempre fazia. Finalmente, o garoto desceu as escadas mais uma vez, com um engradado de cervejas trouxas em uma mão e uma garrafa de whisky de fogo na outra.

— Sério? — ela perguntou, cruzando os braços sobre o peito. — Essa é sua solução para tudo: encher a cara e fingir que nunca aconteceu?

— Exatamente, minha cara Evans — Sirius abriu uma cerveja e entregou-a para Lily, e depois abriu outra para si mesmo. Decidiu que não iria discutir com ele; Sirius era e sempre seria o mesmo garoto de onze anos que ela conhecera no trem em seu primeiro ano.

— Um brinde a encher a cara.

— E a namorados babacas.

...

Estavam agora em Hogsmeade, em frente ao Três Vassouras; foram até lá para fugir dos alunos do primeiro ano, que podiam contar a Dumbledore sobre a pequena festa não-autorizada deles. Sirius estava sentando, apoiado em uma das paredes do estabelecimento, bebendo sua terceira e última cerveja por direito, e ocasionalmente mordiscando um dos biscoitos de Natal que Madame Rosmerta dera a eles.

Lily, que já bebera as suas cervejas na Sala Comunal, saltitava perto de um dos bancos, cantarolando e, vez e outra, entornando um pouco do whisky de fogo garganta abaixo.

— Black! — chamou, jogando-se no chão, e fazendo um anjo de neve. — Venha ver as estrelas comigo!

Sirius riu, levantou-se e andou até a menina. Jogou sua capa em cima de Lily, para protegê-la do frio, e deitou-se ao seu lado na neve, tomando cuidado para não soltar sua garrafa de cerveja.

— Tuney e eu costumávamos ver as estrelas antes de... você sabe, minha carta chegar e eu vir para Hogwarts. Nós dávamos nomes para elas e tentávamos encontrá-las nas noites seguintes.

Após um bom tempo em silêncio, Sirius disse:

— Está vendo aquela estrela ali? Do lado da lua?

— O que tem ela?

— Eu não faço ideia de como ela se chama.

Lily riu, levando sua mão até a do garoto e entrelaçando seus dedos aos dele. Sirius pode sentir sua mão fria arrepiar-se com o toque da garota.

— Vamos chamá-la de Lilyflower, certo?

— Hm... — Lily gemeu. — Certo. Mas se contar a alguém sobre ela coisas ruins podem acontecer.

— Relaxe, Evans. — Lily apoiou-se no ombro de Sirius. O garoto beijou o topo da cabeça da ruiva. — Seu segredo está seguro comigo.

Ficaram assim, entrelaçados um no outro, somente ouvindo o vento passando pelo topo das árvores e, ocasionalmente, alguns barulhos estranhos vindos da Casa dos Gritos. Se Lupin não tivesse ido para casa, Sirius poderia jurar que o garoto estava se transformando em lobisomem lá dentro.

— Petunia me decepcionou — Lily sussurrou. — Severus me decepcionou. E, agora, James também me decepcionou. Dezembro nunca pareceu tão errado como agora.

As palavras da menina pesaram no ar enquanto Sirius pensava, pela primeira vez, na garota como Lily Evans. Irmã, filha, namorada. Amiga. Não como Evans, a garota ruiva metida e paixão de infância de seu melhor amigo. Pensou em como ela deve ter se sentido quando sua irmã e melhor amiga lhe deu as costas e chamou-lhe de aberração. E quando Severus, não Seboso como ele o chamava, seu companheiro para todas as horas e confidente trocou-lhe pelo lado das trevas e a chamou de sangue-ruim. E em como agora James, o garoto que ela aprendera a amar e não podia viver sem, que a havia perseguido desde o primeiro momento em que pisou em Hogwarts, que a enchia de elogios... simplesmente voltara a ser o babaca que ela conhecia e odiava, a chamara grudenta e a deixara sozinha em plena véspera de Natal.

E foi então que ele percebeu. Não estava sozinho no mundo como costumava pensar. Lily, a última pessoa em que poderia imaginar, entendia de decepções tanto quanto ele. Não eram as mesmas, entretanto pesavam em seu coração tanto quanto as deles. As decepções da garota eram um fardo para ela, tanto quanto as que ele sofrera, mas ela achara outro jeito de lidar com elas. Não virara amarga e implicara com os outros como ele fizera. Todas aquelas lembranças dolorosas, feridas abertas, sentimentos confusos... simplesmente a fizeram gentil. Mais gentil e compreensiva que qualquer outra pessoa no mundo bruxo e, ousava ele imaginar, no mundo dos trouxas também.

Antes que processasse direito todas aquelas informações que lhe acometeram, Lily estava em seus braços, seus lábios apertados fortemente contra os dela como se fossem a última lufada de oxigênio para um homem que estava se afogando. Prendeu seus dedos contra os cabelos ruivos e sedosos dela, percebendo que queria fazer aquilo há muito tempo.

E ela correspondia o beijo, com a mesma intensidade e vontade que ele. Não sabia se era a bebida, o frio ou a conclusão a que chegara, porém percebeu que amava aquela garota. Amava-a com toda a intensidade de seu ser, como não imaginara ser capaz, ou até mesmo digno, de se sentir por um outro alguém.

Separam-se após algum tempo, ambos arfando, surpresos por como se sentiam. Parecera certo. Tão certo quanto qualquer outra coisa na vida deles. Os olhos verdes dela encaravam os castanhos dele, e ele soube naquele momento que ela largaria James por ele, por alguém que a beijasse daquele jeito e desse valor a ela como ele dava.

E foi por causa disso que Sirius levou sua mão livre ao bolso da calça, retirando de lá sua varinha. Sabia que aquilo iria lhe doer no coração pelo tempo que vivesse, mas não podia fazer aquilo com James. Não podia fazer aquilo com Lily.

— Sirius... — Lily sussurrou e o garoto hesitou. Tinha conhecimento de que se ela falasse daquele jeito com ele novamente, tão gentil e tão amável, desistiria e nunca seria capaz de se perdoar. — Eu...

Obliviate — ele sussurrou e, enquanto via os olhos verdes da garota enevoarem-se, seu coração afundou em seu peito. Guardou a varinha, respirou fundo e guardou os sentimentos no fundo de seu ser. Teria tempo para lidar com eles depois. — Uou — disse, segurando o corpo bambo de Lily. — Acho que você bebeu um pouco demais, Evans.

Lily encarou-o, confusa por um momento, antes de levar a mão a cabeça e assentir levemente.

— É. Acho que sim. — Devolveu a capa ao garoto, levantando-se e dirigindo-se ao Três Vassouras.

Sirius virou-se, encarando-a enquanto ela fazia seu caminho até o bar. E, antes de levantar-se, fez uma última conclusão:

Lily Evans, assim como ele, conhecia a decepção como o mar conhece naufrágios. E decidiu que ela merecia mais. Assim que voltasse para Hogwarts escreveria uma carta a James, xingando-o por deixar a garota que perseguira durante anos escapar tão facilmente por um motivo bobo. Depois, daria uma lição em Seboso por tratá-la daquele jeito. Não podia fazer nada quando a Petunia, porém prometeu a si mesmo que faria tudo ao seu alcance para ninguém decepcioná-la novamente.

— Black? — ouviu a voz suave da garota chamando-o. — Vai ficar aí plantado no frio como se fosse um boneco de neve, ou vai entrar e me aguentar xingando James mais um pouco?

Riu e levantou-se, finalmente entendendo o que a garota quisera dizer antes.

Dezembro, a melhor época do ano, nunca parecera tão errado quanto naquele momento.


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