P . O . V May

Assim que acordei abri a porta do quarto para não acordar as meninas e principalmente Anne para que não me atrapalhe a sair.

Todos ainda estão dormindo por isso saio nas pontas do pé pra não ser pega no flagra pelo monitor.

Vou para o corredor do quarto dos meninos e bato na porta 14. Não é a de Eric.

É a do Alex.

Apesar de saber que isso é errado eu preciso saber se ele está bem, se já se recuperou dos machucados e a situação não é tão grave assim.

Pra falar a verdade eu nem dormi, apenas cochilei. Fiquei preocupada com ele pensando se ele precisava de ajuda pra algo o se estava doendo alguma coisa.

Sei que é errado ficar preocupada com ele apesar de tudo que ele fez mas eu não consigo me conter. Não consigo vê-lo machucado por minha causa.

Estou quase desistindo assim que eu percebi que era errado esse tipo de coisa até que a cara sonolenta de Ryle aparece bem na minha frente.

Eu devia ter pensado que eles ainda estariam dormindo e que eu acabaria o acordando. Ele lutava pra abrir os olhos enquanto levava a mão a boca para um bocejo.

Assim que ele conseguiu abrir os olhos e me viu não consegui decifrar sua expressão. Se de surpresa ou malícia.

–Que? - Perguntou.

–Que o oque?

–Você bateu na porta – Respondeu e me olhou como se eu fosse uma retardada.

– Alex esta aqui?

Ele me olhou de novo como se eu fosse uma retardada. É claro que estaria. Ainda é de manhãzinha e aqui é um internato. Vivemos presos aqui. Sem contar que não pode perambular pela escola logo de manhã como eu estou fazendo.

Ele me olha de cima em baixo me fazendo ficar constrangida depois eu olho por cima do seu ombro esperando que Alex apareça e me socorra por que estou odiando aquele papo que me faz parecer retardada.

Ele se retira do batente da porta e faz sinal para que eu entrasse.

Entro e reparo como o quarto é bagunçado. É normal as roupas do guarda-roupa ficarem fora dele?

Alex estava debaixo de um lençol praticamente se escondendo caso fosse um monitor ou estivesse realmente dormindo.

Ryle sai junto com outros dois meninos que foram reclamando por causa do sono só pra nós deixar a sós.

Momento super costrangedor.

Assim que eles saíram sentei na beirada da cama de Alex e deduzi que ele ainda estava dormindo por não ter saído do maldito lençol ainda.

Cutuquei ele de leve que se mexeu de um lado pro outro. Cutuquei de novo e ele resmungou alguma coisa insignificante. Nada acontece. Ele com certeza tem o sono muito pesado.

Sei que parece meio doido mas eu estava completamente aflita e com pressa para acorda-lo antes que o monitor nos pegasse por isso pulei em cima dele. Ele finalmente acordou e me olhou assustado. Não sei se foi por quê eu o acordei ou por quê eu puxei o lençol dele assim que pulei em cima dele e descobri que ele estava apenas de cueca.

Não era nenhuma dessas opções.

Era por que o monitor estava na porta.

Me vendo em cima do Alex que estava apenas de cueca.

Levantei depressa como os olhos arregalados e boquiaberta.

–Bem….eu...é… - Tentei falar.

–Eu vi tudo – O monitor falou nem um pouco contente – E o diretor vai detestar saber o que eu também vi.

Alex levantou e ficou ao meu lado.

– Eu posso explicar – Ele falou.

– Claro que pode, na sala do diretor – Respondeu olhando ele de cima em baixo e ficando assustado por vê-lo apenas de cueca – E se vista jovem, por favor.

Apesar do nervosismo percebi Alex rir por dentro. Mas eu não estava achando graça, serio. Eu nunca fui parar em uma diretoria. Nunca. Oque vou dizer?

Assim que Alex se vestiu o monitor nos levou a sala em que dizia “Diretor Simon Auguste”. E foi ai que meu desespero começou. O monitor contou tudo para o diretor Simon que nos olhou com reprovação.

– Eu posso explicar – Eu e Alex falamos em uníssono assim que o monitor terminou de contar.

–Eu sei oque dois jovens cheios de hormônios poderiam fazer em um quarto – Falou nos encarando nem um pouco feliz – Vocês sabem quais são as punições não sabem?

Eu e Alex assentimos. Eles fazem questões de nos lembrar sempre.

– Como sei que vocês são de escolas do Brasil, vou explicar – Falou não dando ouvindo a nossa confirmação que fizemos agora pouco - Há seis tipos de punição para os alunos baderneiros. Elas vão desde o simples comunicado no caderno, que precisa ser assinado pelos pais, até as detenções, em que o aluno precisa ficar por algumas horas ou mesmo um sábado inteiro na escola, estudando. E há também as suspensões e expulsões, iguais às do Brasil.

Ele fez uma pausa. Uma pausa assustadora.

–Eu poderia comunicar os pais de vocês, mas acho que eles ficariam com vergonha dos filhos indescentes que eles tem. Sem contar que vocês tem um compromisso com uma gravadora, certo? Isso prejudica vocês jovens, gravadora é uma coisa seria e eles sempre avaliam as notas e comportamentos de vocês na escola se não vocês perdem o contrato. Pensem nisso.

Assentimos novamente sabendo que isso é totalmente verdade.

–Vocês irão ficar de detenção no sábado.

–NÃO – Gritei fazendo o diretor e Alex olharem pra mim assustados - Bom é que… vou receber visitas do Brasil no sábado – Falei lembrando de Lucy e Pâmela que confirmaram que viriam – Compromisso com a gravadora não é mesmo Alex? - Menti olhando pra Alex e quase o matando com o olhar para que ele confirmasse.

Ele assentiu. Não podia dizer que receberia duas amigas do Brasil, se não ele não deixaria e a detenção no sábado ficaria de pé. O diretor concordou e falou que no próximo final de semana seria a detenção e pediu pra que isso não mais se repetisse. Ficamos horas com ele falando as regras e dizendo que devíamos manter a nossa reputação. Quando estávamos saindo ele nos fez parar. Ou melhor, congelar.

–Espera… Oque é isso no seu rosto – Perguntou olhando o rosto inchado de Alex e só percebendo agora – Você se meteu em briga?

Engolimos em seco.

–É…. Eu… foi… - Tentei falar mais estava ficando completamente gaga.

–Eu me metendo em briga? - Alex forçou um sorriso – Bom é que eu estou tão concentrado na gravadora que ontem eu estava com meus fones de ouvido concentrado na próxima música que eu cantaria que nem reparei na divisa enorme parecendo um poste na escola e bate o rosto com tudo.

Ele tentou fazer uma cara de dor que eu quase deixar escapar uma risada. Serio, faz a desculpa mas idiota que eu já ouvi. Mas o diretor pareceu cair por que pediu rapidamente que ele fosse na enfermaria da escola e pediu desculpa pela má construção da escola que ainda falta algumas reformas.

Assim que saímos da sala, não contemos o riso. Rimos feito hienas malucas. Até que fomos interrompidos com o olhar raivoso de Eric.

Ele pediu pra que eu acompanhasse pois precisava falar comigo. Alex segurou meu braço e sussurrou:

–May tem certeza que você vai falar com ele depois dele ter te forçado? Se você não quiser ir eu me resolvo com ele.

–Chega de brigas, ele não me forçou a nada, eu estava indo por que livre e expontanea vontade. Não foi ele que me magoou Alex. Foi você. E não significa que eu te perdoei por ter te defendido e me preocupado. Agora tudo voltou ao normal.

**

Sentia a mão fria de Eric em meu braço me puxando para o canto mais próximo.

–Será que você pode me explicar o que está acontecendo? - Perguntou com os dentes cerrados e os olhos ardendo de raiva.

–Desculpa – Murmurei tentando olhar em seus olhos mas ele desviou o olhar.

–Primeiro você me rejeitou ontem e o defendeu assim que o viu todo machucado e agora eu vejo vocês caindo de tanto rir parecendo um lindo casalzinho apaixonado de novela.

–Isso não foi nada, sério. E ontem eu só o defendi por que não gosto de ver ninguém machucado, eu faria isso por qualquer um.

Eu o abracei colocando minha cabeça em seu peito e pedindo mais uma vez desculpas.

–Nunca mais faça isso. Não existem contos de fadas May e nem felizes para sempre. Existe a realidade. E eu faço parte dela.