Manhattan, Nova York.

A porta do quarto de Jason foi aberta sem a menor cerimônia por um chute de Reyna, que entrou rápida com Percy, Nico e Bianca a tiracolo.

O local estava com as cortinas fechadas, provocando uma pequena escuridão. Era possível ver Jason vestido como Percy e a sua irmã aos seus pés.

— Ora, ora, vejo que chegaram finalmente para a nossa reunião, apesar da presença ilustre da delegada Reyna. — Jason sorriu.

— Larga a Thalia e se entrega Jason, sabemos que você é o Primordial. — Percy tentou o primeiro contato.

— Pra que tanta pressa? — Ele segurou a irmã, toda amarrada e amordaçada, dando nela uma chave de braço e apontando uma arma para a face de Thalia. — Temos muito que conversar nesse ano que vai entrar.

Reyna aproveitou e apontou a arma para o nerd, o que deixou Nico apreensivo.

— Para com isso Jason, abaixa essa arma logo, e se entrega! — Nico gritou para o primo. — Ninguém vai te fazer mal.

— Eu sei meu pequeno primo gay, mas ainda vamos começar os trabalhos de destruição de Percy Jackson, e eu gostaria que você fosse um dos apreciadores. — Jason falou apontando a arma para o chão, mostrando para eles o cadáver de Piper. — Senão, eu posso lhes dar um destino mais ao gosto do silêncio.

— Gay? Como assim, gay? — Bianca olhou incrédula para o irmão. — Isso é mentira sua, seu vagabundo, meu irmão pode ter tido os problemas que teve, mas não é gay, coisa alguma. Ele sabe no que acredita, ele sabe que eu não desejaria isso a ele, e ele sabe que não seria feliz sendo desse jeito.

— Claro que ele é Bianca, só você não quer notar isso. — Jason suspirou. — Ele sempre foi apaixonado pelo Percy, e digamos que isso é um dos motivos que sempre me incomodaram em relação ao nosso primo de olhos verdes: todo mundo ama ele, se apaixona, se entrega de uma forma quase devocional. Era sempre o melhor amigo, o sobrinho favorito, não o melhor aluno, porque isso eu sempre fiz questão de conseguir, mas sempre o mais enturmado, o mais amado, o popular. — Ele tremia enquanto apontava a arma para a cabeça da irmã. — E eu, ninguém estava perto de mim, eu tinha sempre que chamar a atenção. Ninguém queria Jason Grace. Nem em Nova Roma acontecia isso.

Percy olhava atônito para o primo, e para a face de Thalia, vermelha, mas sem lágrimas.

— Como assim Jason, eu sempre te dei atenção, eu sempre estava com você, até você ir para aquele internato perto de Nova Roma. — Nico começou a falar, recebendo então a mira do revólver.

— Mentira! — O loiro gritou. — Você ficava comigo quando o Percy viajava, quando ele ficava de castigo, quando ele dizia pra você deixa-lo em paz, e eu sempre aceitava você, eu gostava da sua presença, até o dia em que você pediu aquele maldito beijo, e esse lesado concordou, pra depois apagar completamente da memória. — O filho de Zeus respirava pesadamente entre as palavras que saiam de sua boca. — Desde aquele dia, eu, Jason Grace, prometi que ia te ter em algum momento, e digamos que eu consegui, por uma noite.

A sala inteira gelou. Nico caiu sobre o cadáver de Piper em choque. Bianca voltou a chorar, assim como Percy, porém, o filho de Poseidon estava irado com o primo. A menina de Hades por sua vez caiu e se afastou até a parede mais próxima, encarando o irmão.

— Seu monstro! — Percy gritou. — Como eu pude confiar em você e você querendo me ver morto. Ainda por cima se passou por mim, pra poder causar os piores pesadelos do Nico. Mentiu pro seu pai, pros meus pais, pro Tio Hades, e pra todos os que a gente conhece. Você me consolava e dava forças, porém queria ver meu sangue.

— Ele queria ser você Percy. — Thalia conseguira tirar a mordaça que lhe cobria a boca. — Ele chegou a ter suas roupas. Quando eu cheguei de viagem eu vi o guarda-roupa dele, e roupas que só você usaria. Ele queria ter ficado em Nova York o tempo todo, e não em Nova Roma...

— Cala a boca! — Jason se enfureceu batendo com a pistola na cabeça da irmã, que caiu desmaiada. — Maldita. Eu só queria ser amado pelo meu pai, pelos que diziam ser meus amigos, e por todos aqueles que você conquistou.

— Jason, você era amado. — Percy tentou tranquiliza-lo. — Você tinha uma namorada devotada a você, meus pais me diziam para eu me inspirar em você, a diretora Atena te considerava, e o Leo, ele te via e te viu sempre como o melhor cara desse mundo, o cara que podia resolver qualquer problema, o melhor dos melhores. E o que você fez pra toda essa gente? Matou a Piper, aleijou o Leo por meses, estuprou o Nico, e anos depois, a minha namorada, que é filha da diretora Atena, além do óbvio, afinal você tentou me matar, e fez o mesmo com a sua irmã. Viu quantas vidas que te amavam você destruiu?

— Piper e Leo não ficaram de fora, ao invés de fazerem o que eu pedi. — Jason chorava mais e mais. — Eu avisei aos dois que eles eram alvos, mas eles não me escutaram, eles queriam entrar mais fundo e mais fundo. E eu tive que fazer aquilo com o Leo! E a Pipes, a Pipes, ela descobriu a carta que era pro Nico, e eu disse que o Primordial estava me ameaçando. Ela acreditou, até que, fomos lá pra casa e ela descobriu...

— Ela descobriu quando ouviu pelo rádio que pistas novas foram encontradas numa área, que porventura, faz parte das redondezas onde o Leo mora. — Reyna assumiu as atenções. — E ela te pediu, insistiu para você entregar a carta. Até que você reagiu com um pouco mais de raiva, e ela desconfiou. Piper te atazanou a noite toda, até que você revelou quem era, e matou ela.

— Como delegada? — Jason indagou espantado.

— Meu plano, você só precisa saber que era um plano. — Reyna falou. — Me surpreendi quando vi você aqui, sendo muito sincera. Imaginava que Nico, ou Annabeth podiam ser o criminoso, até que eu notei que você estava com algumas características em comum com o perfil que traçávamos do maldito criminoso, e não tinha nada de suspeito, com exceção do caso Zhang.

— A mãe do Frank. — Percy se lembrou do acontecido que com certeza traumatizara aquela família. — Por que você matou ela?

— Não foi de propósito. — Jason respirou tremendo. Ele ainda apontava a arma para Thalia, caída desacordada no chão. — Eu fiz um teatro, com o meu ajudante, para assustar a Piper e o Leo, e quando eu atirei, esperava atingir o nada, mas aquela idiota levantou a cabeça e causou aquilo tudo, e acabou que o meu ajudante saiu correndo feito um louco, esbarrando no chinês idiota que chorou e chorou por aquela mulher.

— Enfim. — Reyna falou. — Você era suspeito e não tinha nada contra você. Então resolvi pedir um dossiê da sua vida, investigar mais a fundo. Descobri que você contratou uns atiradores de primeira com o dinheiro do seu pai, que óbvio foram colocados dentro de um carro para atirarem no carro em que vocês estavam no dia em que tentaram ir fazer o aborto da Annabeth. Você depois comprou uma arma, se duvidar essa mesma que você está usando agora, utilizando a identidade do seu pai. — Ryena discursava, enquanto o loiro olhava atônito para ela. — Por fim, um veneno mortal, mas incolor, inodoro, insípido, tipo água, bom o suficiente para colocar na comida de Grover Underwood.

— É, verdade, você matou o Grover? — Percy começou a chorar. — Você matou o meu melhor amigo, seu monstro? Leo estava certo esse tempo todo?

— Óbvio que eu dei um jeito naquele seu amigo que mais parecia um bode! — Jason gritou. — Ele se lembraria de que você caiu duro no chão da sala sem o Nico notar, e depois que eu estava subindo as escadas quando ele desceu. Eu assumi o seu lugar pela primeira vez naquela noite, noite em que eu e Nico fomos um.

— Para seu nojento! — Percy gritou e avançou para cima do primo, que atirou.

Percy, por sorte, tropeçou em um dos braços do cadáver de Piper, caindo aos pés de Thalia. A bala passou por sua cabeça de raspão, com Reyna revidando o tiro de Jason, que por sua vez conseguiu desviar, se jogando para trás. A policial então se aproximou de Percy, para ver o estado do adolescente. Nisso Jason levantou, e se recuperou, sem a policial perceber.

— Para! — Jason gritou para a delegada. — Ou então a queridinha atual da América vai dessa pra uma melhor. — O loiro apontava uma arma para a cabeça da irmã. — Me deixa ir embora com ela, senão a sua cabeça vai pelos ares.

Reyna apontou a arma para o filho de Zeus.

— Não antes da sua. — Reyna falou e o silêncio tencionou o ar.

— Tente me matar, e você vai saber o que é ter o Primordial atrás de você, e posso garantir que não será agradável! — Jason sentenciou a delegada, que não deixava de encará-lo.

— Eu também estudei em Nova Roma. — A mulher quebrou o silêncio. — Inicialmente foi horrível, mas eu me adaptei, e acabei por aprender muito do que a vida cobra de nós. Se você sair daqui vivo e solto, a vida vai cobrar muito de você Jason Grace.

Reyna abaixou a arma, e Jason fez o mesmo com a sua. Após um respiro e um pequeno silêncio, Jason abaixou para pegar o corpo da irmã. Percy observava tudo em choque, com a cabeça sangrando. Bianca estava sem reação para as cenas presenciadas, apenas murmurava algumas palavras, enquanto encarava Nico caído em cima do cadáver de Piper McLean.

A delegada então avançou. Tentou golpear o bandido, conseguindo imobilizar um braço do jovem. Depois, Jason acabou por receber uma gravata da Detetive Ramírez-Arellano. Nisso, acertou o braço da oficial com um canivete algumas vezes, o que a obrigou a soltá-lo.

Livre, Jason carregou a irmã até a janela do quarto, onde se encontrava a escada de incêndio e se retirou por ali.

— Que aqueles lerdos tenham chegado, por favor! — A latina quase orou para que as viaturas já tivessem cercado o prédio. — Ele não pode fugir depois disso tudo, não pode mesmo.

Ela então lembrou de Percy e dos outros, e correu para ver o ferimento do perseguido. O tiro de raspão deixara o menino atordoado de dor. Ela então pegou uma roupa qualquer no guarda-roupa do cômodo e rasgou para estancar o ferimento do Perseu, apesar de também estar ferida, por causa das facadas de canivete que recebera.

Observava os irmãos di Angelo. Nico atônito e em choque, após receber a notícia de que Jason era o verdadeiro algoz dele, e jogado em cima de um corpo, que um dia fora a namorada de Jason. Bianca, por sua vez, estava tremendo e murmurando, possivelmente pedindo a Deus para ter misericórdia da sua família. Reyna não duvidava que pela resposta de Bianca ela era uma das pessoas que não sabia da sexualidade do irmão. Ela imaginava os conflitos que Jason plantara naquele dia na vida da família a qual ele fazia parte.