Alguns dias se passaram desde o ataque ao castelo. Decidi que faria tudo, menos ficar parada esperando outro ataque. Amy estava trançando meus cabelos, usei uma roupa neutra. Eu não queria que nada atrapalhasse e que meu rosto estivesse bem claro pra eles. Não usei nenhum jóia especial ou maquiagem pesada. Não seria a Princesa Zara Alexandra falando, e sim a Zara. Pedi para ir até o estúdio de gravações e ordenei que na hora do jornal meu vídeo aparecesse sem cortes. Me sentei no banco que me forneceram. O câmera-man fez um sinal positivo com o polegar. Encarei a câmera séria, nada de sorriso.

– Boa noite, hoje eu venho aqui falar diretamente sobre o acontecimento de dias atrás quando rebeldes invadiram o palácio jogando pedras e pondo a vida de pessoas em risco. Não estou os acusando nem nada, sei que como eu vocês tem seus ideias. Mas saibam que eu não me intimidei nem um pouco, e se fizeram isso apenas para matar a "princesa que não faz nada", saiba que protestando dessa forma vocês não iriam me mudar de forma alguma. Vocês me ameaçaram e acham que estou pisando em território inimigo, mas eu vejo Unya como minha nova casa. Se estão achando que vim atrapalhar a vida de vocês, não é nada disso, agora os tenho como meu povo e a última coisa que quero é o mal de alguém por aqui. - Respirei fundo e manti a mesma postura do início. - Com violência, não conseguiram nada, pelo menos não de mim. E hoje eu venho aqui como eu mesma, para me apresentar oficialmente aos povo de Unya.

E foi assim que dei meu depoimento e saí do estúdio. É óbvio que me intimidei com os ataques, mas eu não admito isso pra eles por nada. Quando passei pela porta vi que o Rei Adam assistiu tudo. Eu quase não o vejo, ele tem uma postura séria e está sempre quieto de alguma forma. Ele me parou e deu dois tapinhas nas minhas costas e assentiu. Recebi isso como uma aprovação. Sorri fraco e Continuei meu percurso.

Entrei no meu quarto e respirei fundo, como se um peso enorme saísse dos meus ombros e era evidente ver meu alívio. Essa atitude os faria me respeitar ou me odiar ainda mais. Sentada na minha cama como se fosse uma boneca de porcelana falsa estava Trudie sorrindo de forma sarcástica.

– Como entrou aqui ? - Perguntei já pronta para expulsá-la.

– Isso não vem ao caso agora. - Ela revirou os olhos. - Bom, eu armei sim para você. Você estava se tornando uma pedra muito grande no meu caminho e no de Erick.

– Era só uma amizade, eu não tenho intenções com ele. - Eu disse, embora eu mesma não soubesse se isso era verdade ou mentira.

– Ele só precisa de mim como amiga. E bom, depois daquela cena sua e dele no jardim eu precisei fazer algo. Não entenda mal, querida. - Ela disse se levantando e indo até a porta.

Ah, eu sei jogar o mesmo joguinho sujo dela. E essa garota vai ver só, chega de bancar a boazinha.

– Claro gata, que isso. Foi só um ciuminho não foi ? - Eu disse sorrindo de lado.

– Exatamente. - Ela me encarou friamente. A empurrei para fora. - Você tá louca ?

– Ah, desculpe, machucou querida ? - Perguntei sínica.

Fechei a porta antes dela responder. Ouvir voz irritante da Trudie não estava nos meus planos. Tomei um banho e vesti o moletom de Erick que havia ficado comigo. Me embrulhei nas cobertas e liguei a TV. Apesar de eu odiar ver televisão, precisei para ver o jornal. Amy apareceu com Marie que estava com um curativo em uma de suas têmporas.

– Deitem aqui. - Pedi dando leves tapinhas do meu lado na cama.

– Por que essa empolgação ? - Perguntou Marie deitando do meu lado esquerdo.

Eu estava quase dormindo quando Joel e Peggy anunciaram meu vídeo. Estava da forma que eu queria, nunca pareci tão séria falando em público. Amy e Marie me olharam com a boca aberta, já eu encarava eu mesma na televisão com admiração. Nem se parecia comigo, me senti satisfeita.

– É, nossa princesa pode ser linda e simpática, mas mostrou que quando quer ser rígida e forte pode ser. - Anunciou Peggy.

– Concordo, Peggy.

Desliguei a televisão e seguida e olhei para minhas respectivas convidadas sorrindo. Elas me olharam e riram.

– Não acredito que fez isso. - Disse Marie cobrindo a boca.

– Você desafiou os rebeldes ! - Amy disse sorrindo satisfeita.

– Exatamente. Já volto, vou ver minha mãe.

Pulei da cama e fui correndo porta a fora. Subi as escadas de dois em dois degraus ansiosa para bater em sua porta. E eu o fiz, mas ela não respondeu ou destrancou a porta. Meus lábios desmancharam o sorriso.

– Mãe, não precisa abrir, eu só vim aqui perguntar sobre o que fiz. Eu estou muito satisfeita.

Ouvi um clique indicando que ela tinha destrancado a porta. Assim que abri a porta desconheci minha mãe, ela estava descabelada, com os olhos inchados e parecia fraca e pequena. Tentei não transparecer minha surpresa. Peguei uma escova na penteadeira e chamei ela. Ela se sentou no banquinho a minha frente. Escovei o cabelo dela delicadamente, era engraçado como ela continuava linda.

– Sabe, eu estou muito orgulhosa filha. Seu pai também estaria. - Pude ver pelo espelho que ela sorriu triste e uma lágrima solitária escorreu de seus olhos verdes. Eu sou estranhamente idêntica a ela.

– Ele está bem mãe, eu sinto. - Eu disse prendendo seu cabelo em uma trança simples que Amy me ensinou a fazer.

– Eu espero isso. Logo agora que ele achou a filha perdida.

– Sabe, quando ele voltar, eu vou pedir desculpas. Mas ainda acho que Amélia deve ser livre. - Peguei algumas flores de um dos vasos e prendi em seu cabelo.

– Nós também, mas nem sempre nossas vontade são as melhores opções. - Ela se virou para mim e se levantou para me abraçar. - Eu te amo tanto. Obrigada.

– Eu também te amo. Bom, agora vou ir dormir. Boa noite.

Ela me parecia melhor agora. Mandei um beijo no ar e ela fingiu pegar. Fechei sua porta atrás de mim. Erick estava andando com o pai, assim que ele olhou pra mim mudou de trajeto e se despediu do rei. Depois eu que sou infantil.

– Você foi ótima. - Disse o Rei Adam. - Sabe, os unyanos gostam de atitude e de um bom líder que sabe o que quer. Estava faltando isso em você, e hoje com esse vídeo, admito que você me surpreendeu. Meus parabéns.

– Muito obrigada, vou me esforçar mais. Boa noite senhor.

Voltei para o meu quarto. Trudie me olhou dos pés a cabeça e murmurou algo inteligível. Estou tão de bom humor que vou fingir que não vi. Marie e Amy estavam dormindo, me surpreende como elas dormem rápido. Fui até a janela e uma estrela cadente passou, eu sei que é superstição, mas não custa nada tentar. Fechei os olhos e pedi.

– Que meu pai volte logo.