De volta para a terra média escrita por MillyyUchiha


Capítulo 6
Noivado surpresa


Notas iniciais do capítulo

Um grande e doloroso mal de livros inunda a alma. Que ignominioso estar atado a essa pesada massa de papel, letras e sentimentos de homens mortos. Não seria melhor, mais nobre e mais heróico deixar esse lixo onde está e sair mundo afora — como um super-homem livre, desimpedido e analfabeto?

Solomon Eagle, A mudança de uma biblioteca



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– Você deve partir sem que ninguém saiba, e logo – disse Gandalf há duas ou três semanas, e nada de Frodo resolver se aprontar para partir.

– Nós deveríamos ir logo! – disse Emma.

– Eu sei disso Emma, mas as coisas não são fáceis. Se eu simplesmente desaparecer como o tio todos no condado vão me chamar de louco ou coisa pior... Além disso, tenho que garantir que pelo menos um de nós sobreviva nessa missão.

– É óbvio que você não simplesmente desaparecer, meu jovem – disse Gandalf – De nada adiantaria! Eu disse logo, não instantaneamente. Se puder pensar num modo de escapar do condado sem que todo mundo fique sabendo, vale a pena esperar um pouco. Mas vocês não devem se demorar.

Frodo relutava em sair, Bolsão havia se tornado uma residência ainda mais adorável e confortável. Deixá-la era muito para ele e por isso desejava aproveitar o máximo possível. Quem sabe no próximo outono, onde completaria seu quinquagésimo aniversário, mas não havia tempo para isso.

– Tenho estado tão ocupado pensando em deixar Bolsão e dizer adeus que nunca nem cogitei qual direção tomar – disse Frodo – Para onde devo ir? E pelo que devo me guiar? Qual será minha busca? Bilbo foi procurar um tesouro, lá e de volta outra vez, mas eu vou perder um tesouro, e não voltarei pelo que estou entendendo.

– Mas você ainda não está conseguindo enxergar muito adiante, meu rapaz.

– Não mesmo! Mas que garantia eu tenho?

– Bem, se quer um conselho dar-te-ei um: vá para Valfenda, lá encontrarás amigos que te ajudarão.

– Valfenda! – disse Frodo – muito bom: vou para o leste, com destino a Valfenda.

– O que é Valfenda? – perguntou Emma

– Valfenda é a morada dos Elfos, lá fica o sábio Elrond e seus conselhos... – disse Gandalf.

Naquele momento uma sensação doce e verde pairou sob o coração dos dois, fazendo com que desejassem visitar a casa do semi-elfo apesar das circunstâncias.

Numa noite de verão, uma notícia espantosa chegou ao ramo de hera e ao dragão verde, não algo de costume como gigantes, dragões ou magos, mas a notícia de que o Sr. Frodo estava vendendo Bolsão, na verdade já havia vendido – para os sacola-bolseiros. Porém, a razão pela qual ele havia feito isso era desconhecida por todos, havia só um boato de que ele estava resolvendo voltar para a terra dos Buques acompanhada de uma mocinha loira.

– Sim, estarei de mudança neste outono – dizia ele – Merry Brandebuque está procurando uma toca confortável, ou talvez uma pequena casa para que meu casamento possa ser realizado.

Na verdade, com ajuda do amigo e de Gandalf, ele havia montado uma história de que pretendia casar-se com Emma Boyd, uma antiga amiga e prima distante e para isso comprara uma casinha em Cricôncavo, no campo além de Buqueburgo. Fingindo para todos, com exceção de Sam e dos outros, que pretendia ficar por lá permanentemente.

Gandalf permaneceu no condado por mais alguns dias apenas para se certificar de que tudo estava dentro do combinado e logo acabou se despedindo dos companheiros para descer as fronteiras do sul ao amanhecer do dia. O outono já avançava Frodo não tinha voltado a se preocupar tanto agora, o condado estava cada vez mais movimentado e alguns amigos vieram para ajudar com a bagagem. Em 20 de Setembro, duas carroças cobertas saíram carregadas em direção à terra dos Buques, levando a mobília e os mantimentos de Frodo. Fazendo-o muito ansioso a espera do mago e de seu aniversário.

No entanto, o amigo não aparecera e Frodo acabou dando uma festa do mesmo jeito, bem modesta, apenas o mínimo de comida, para os hobbits, algum músico e recital de poesia. É claro que, para não gerar dúvidas, pela tradição Hobbitesca os noivos devem sentar-se juntos o que foi feito pelo “casal” Emma-Frodo.

Pesava-lhe o coração deixar o local em que morara por tanto tempo, pesava-lhe usar sua amiga em uma situação embaraçosa, pesava-lhe dizer adeus aos amigos... E por isso buscava um modo de dizer isso.

Entretanto, os quatro hobbits mais jovens estavam alegres como de costume, aproveitando o momento até para fazer piadas com o amigo.

– Puxa, Frodo, nós nunca imaginamos você comprometido – dizia Pippin com um sorriso debochado – Parabéns, amigo! Ótimo trabalho – disse dando uma piscada para Emma que sentiu as bochechas arderem.

– Um brinde para nosso amigo Frodo! – disse Merry levantando uma caneca de Ale escura junto aos outros hobbits.

Com isso Frodo inclinou-se para Emma e disse:

– Por favor, queira desculpar a situação não me sinto bem tendo que envolvê-la. – falou desculpando-se.

– Não – respondeu ela balançando a cabeça – Está tudo bem, desde que nós consigamos cumprir com o combinado e a missão.

– É perfeitamente compreensível – disse ele piscando um dos belos olhos azuis – Daria uma ótima noiva, pequena Emma. – Brincou fazendo a amiga dar uma risada abafada.

– Bem – continuou ele – Não importa o que aconteça com o resto das minhas coisas, Emma, quando os Sacola-Bolseiro colocarem as mãos pegajosas nelas. Pelo menos encontrarei um bom lugar para meu vinho. – disse enquanto tomava a última taça do vinho dos velhos vinhedos – É uma pena que você ainda não tenha idade o suficiente para me acompanhar, cara.

Depois de muitas canções e conversas sobre muitas coisas que havia feito juntos, os garotos fizeram um brinde em memória a Bilbo, então Emma e Frodo saíram para colocar o plano em dia, alegando necessitar de um pouco de ar e privacidade para ver as estrelas, o que fez com que, novamente, seus amigos fizessem novas gozações e comentários sobre o “casal”.

– Espero nunca mais me envolver em aventuras como essas. – pensou o hobbit se distanciando.

– O que meus pais diriam sobre isso? – pensou a loira que segurava a mão do amigo e tentava sorrir e acenar para os sacola-bolseiro que viraram o rosto quando a viram.

– Que horror! – exclamou Frodo – Não é assim que se trata uma senhorita!

– Tudo bem, Frodo! – disse Emma segurando o braço do rapaz – Concentremo-nos na execução do plano.

Essas palavras marcaram a noite de Frodo, porque foi a última coisa de que ele se lembrava. Na manhã seguinte ficaram ocupados carregando o resto da bagagem junto com Merry.

– Nossa última refeição em Bolsão! – exclamou Frodo olhando para Emma, Sam e Pippin.

Deixaram a louça para Lobélia, arrumaram as mochilas de viagem, Pippin saiu, Sam sumiu e os dois saíram para um passeio noturno do qual nunca voltariam. O sol se pôs, Bolsão parecia triste, melancólico e desarrumado, mas não havia tempo para grandes despedidas. O céu estava claro e as estrelas, magníficas.

– É uma noite agradável, Cara – disse voltando-se para Emma – Tenho vontade de caminhar e não aguento mais esperar. Acredito que Gandalf deve nos seguir.

Os dois pariram mais ainda conseguiram ouvir algumas vozes que vinham da Rua do Bolsinho, dentre elas a do feitor que lamentava a ida do filho, Sam, junto com Frodo e a noiva estranha.

“Acho que estou farto de perguntas e curiosidades sobre tudo o que faço”, pensou enquanto ajudava a amiga a passar por entre uma fenda gigante. “Que bando de intrometidos!”

Pippin estava sentado sobre sua mochila na varanda. Sam não estava lá. Frodo entrou numa sala e chamou o amigo.

– Estou indo, senhor – disse Sam terminando de esvaziar uma garrafa de cerveja.

– Todos a bordo, Sam? – disse Frodo.

– Sim, senhor. Agora posso aguentar bastante senhor. – disse ele, porém quando viu Emma acabou engasgando.

– Perdão, senhora... Não sabia que estava aqui, digo, achava que estava em casa junto com Merry, humm...

– Não precisa se desculpar, – disse Emma rindo – E desde quando eu sou senhora Para você, Samwise Gamgi?

Após dar as chaves para Sam a viagem finalmente começou.

No pé da colina, do lado oeste, chegaram até o portão que se abria para uma lamela estreita. Ali pararam e ajustaram as correias de suas mochilas. Imediatamente Sam apareceu, andando rápido e respirando com dificuldade, sua pesada mochila na altura dos ombros, e sobre a cabeça um saco ao qual dava o nome de chapéu. Emma riu por dentro, embora não quisesse magoar o amigo, no escuro e visto de longe ele parecia um anão.

– Bem, não sou muito alta para fazer um comentário como esse – riu enquanto pensou, mas no esforço para continuar a viagem acabou tropeçando com o peso da mochila.

– Você está bem, Emma?

– Acho que sim – disse ofegante

– Consigo carregar bem mais, senhor. Minha mochila está bem leve – disse resoluto e insincero.

– Não, não consegue Sam! – disse Pippin – Permita-me, senhorita – disse pegando metade do peso da mochila da garota.

– Pippin, será que você não quer me ajudar também? – Perguntou Frodo.

– Ah não! Não é hora para gracinhas. Vamos indo!

– Tenha pena de um pobre e velho hobbit – riu Frodo – Estarei fino como uma vara de salgueiro quando chegar até a minha casa e com certeza não terei energia para nada.

– Muito menos para a lua-de-mel, meu caro! – brincou Pippin fazendo com que Emma se apressasse para acompanhar Sam.

“Até quando essa farsa vai continuar entre os meninos?”, pensou a loira.

Por um breve trecho, seguiram a alameda em direção ao oeste. Depois, abandonando-a, viraram à esquerda e entraram nos campos de novo. Foram em fila Indiana ao longo das cercas-vivas e das orlas dos matagais. E a noite escura caiu sobre eles. Em suas capas escuras, ficavam invisíveis como se todos tivessem o anel mágico. Já que eram todos hobbits – ou quase – e estavam tentando ser silenciosos, não fizeram qualquer barulho que mesmo um hobbit pudesse ouvir. Os próprios seres selvagens da floresta mal notaram sua passagem.

Depois de andar cerca de três horas, pararam para descansar. A noite estava clara, fresca e estrelada, mas feixes de névoa semelhantes à fumaça estavam avançando. Fizeram uma ceia bastante frugal (para hobbits). E depois continuaram. Logo, toparam com a estrada principal para a vila do bosque, para tronco e para a balsa de Brandeburgo. No começo conversaram, ou cantarolaram uma melodia suave juntos. Depois continuaram em silêncio, e Pippin começou a ficar para trás. Finalmente quando começaram a subir uma ladeira, ele parou e bocejou:

– Estou com tanto sono – disse o hobbit – que logo vou cair na estrada. Vocês vão dormir em pé? Já é quase meia-noite!

– Pensei que você gostasse de andar no escuro – disse Frodo – Mas não há pressa, Merry é sempre paciente.

Com isso eles sentaram no topo de uma colina e se arrumaram como puderam para passar a noite. A manhã logo chegou e Frodo foi o primeiro a acordar logo seguido de Emma. Os dois olharam-se com a cumplicidade de dois ladrões.

Ele levantou-se, foi para perto dos amigos dorminhocos, espreguiçou-se – Acordem hobbits! – gritou ele – está uma linda manhã!

– O que tem de bonito? – disse Pippin virando-se – Sam, estou com fome! Prepare um desjejum para as nove e meia! Já esquentou a água do banho?

Frodo arrancou os cobertores dele, fazendo-o rolar no chão e cair com a boca num monte de grama.

– Aí seu desjejum, senhor Tûk – brincou Sam.

Depois de um tempo, Sam, Emma e Pippin estavam fazendo uma fogueira.

– água – gritou Pippin – Cadê a água?

– Não se carrega água no bolso, sabia? – disse Frodo.

– Pensamos que tivesse ido buscar – disse Pippin coçando os cabelos loiros – É melhor ir agora.

Já eram mais de dez horas quando terminaram o desjejum e de arrumar as mochilas, e o dia começava a ficar quente e agradável.

– A estrada vai seguindo em frente, mas não consigo sem um descanso, está na hora do almoço. – disse Pippin.

– Mas você acabou de comer! – retrucou Emma.

Pippin deu de ombros.

– Os elfos moram nesses bosques? – perguntou ela.

– Não que eu saiba – disse Pippin.

O sol estava começando a baixar e as colinas pareciam crescer cada vez mais adiante.

– Ouço um pônei ou algum cavalo vindo – disse Sam.

Olharam para trás, mas nada viram.

– Imagino se não é Gandalf – disse Frodo animado, mas tinha o pressentimento de que não era.

– Pode não fazer muita diferença – disse ele - Mas prefiro não ser visto na estrada, por ninguém. Vamos nos esconder!

Por uma curva vinha um cavalo negro, não um pônei de hobbit, mas um cavalo de verdade, e montado nele um cavaleiro grande, envolto numa capa e num capuz negro. Porém, o mais assustador era o rosto, coberto por uma sombra, quase invisível. Quando chegou até a árvore onde Emma e Frodo estavam, o cavalo parou. A figura permaneceu imóvel com a cabeça abaixada, de dentro do capuz um ruído como algo tentando farejar um cheiro.

Um medo repentino tomou conta de Frodo, que pensou no anel. Mal ousava respirar e Emma sentia a mão dele tremendo por cima da dela, ele tentou alcançar o anel quando o cavaleiro sentou-se, sacudiu as rédeas e desapareceu num trote rápido.

Frodo ofegante arrastou-se até a beira da estrada e fico olhando o cavaleiro, até que desapareceu na estrada. Não podia ter certeza, mas teve a impressão de que, de repente, antes que sumisse de vista, o cavalo tinha virado para o lado e entrado no mato a direita.


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