Os Filhos de Umbra escrita por Rarity


Capítulo 11
Capítulo Onze: 1989 – 2138 dias antes


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Nem demorei, né? Só 10 dias. Infelizmente, tenho uma bad new for you, não vai ter maratona, porque eu adoeci galera, dei uma reação alérgica muito grande na perna que virou uma infecção, e os remédios davam sono, então eu não tinha muito tempo, especialmente porque minha mãe adoeceu e eu e ela tínhamos que revezar na casa, o que não me deu muito tempo pra escrever.
O capítulo não é o melhor da fic nem tão bom quanto eu queria, mas tá razoável. Eu diria que já tivemos melhores :v Mas ficou bem interativo entre os sete, e a partir de agora eu vou trabalhar na intimidade entre eles. Próximo capítulo school e eu quero melhorar, mas provavelmente vai sair depois das aulas voltarem. Okay? Bjos galera :*



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Capítulo Onze: 1989 – 2138 dias antes

Através dos passos alternados de perda e ganho

Silêncio e atividade, nascimento e morte

Eu trilho o caminho da imortalidade

Deepak Chopra

12 de Janeiro de 1989

Mamãe acariciava meu cabelo enquanto eu comia um pão com queijo em seu colo e observava Maria terminar de colocar a mesa, no finalzinho da tarde daquela quinta feira, com o sol se pondo às nossas costas. Belle estava entretida com um prato de uvas, Dete penteava os cabelos de uma boneca, Emily comia o bolo de fubá de mamãe, Leo e Pablo brincavam de bolinha de gude e Mel jogava xadrez com seu Otávio, enquanto papai observava a surra que ele levava.

—Fala sério, garota! –Seu Otávio reclamou quando perdeu pela terceira vez, e Scooby latiu em seus pés.

—A menina é melhor que você, Otávio. –papai zombou.

Mel deu um largo sorriso, os cabelos pretos lisos soltos, os olhos pretos, a boca fina, as sobrancelhas longas, nenhuma mancha no rosto. Sua blusa rosa de botões, sua saia cinza. Mel era muito bonita debaixo do véu, especialmente agora que não precisava mais se esconder sob ele, se mostrando uma garota muito divertida.

—Que vergonha, papai. –ralhou Belle, balançando a cabeça em sinal de decepção. O cabelo dela estava curto, cortado num Chanel aberto na altura dos ombros, que Belle tinha a mania de usar escovado para trás com uma tiara. Hoje, pelo menos, ele estava bonito, solto e separado no meio.

—Como foi lá na casa do Henrique? –Maria perguntou, se servindo de um copo de leite e se sentando do lado de Belle.

Todo mundo olhou para mim.

—Ah, a culpa não foi minha! –reclamei, cruzando os braços.

—Pedro, o que você fez dessa vez? –mamãe me olhou desconfiada.

—A culpa foi da Belle! –exclamei, e a morena me olhou pasma.

—Belle? –Otávio arqueou a sobrancelha.

—Nem vem! –a menina abriu os braços. –A Mel tá de prova.

—Eu? Sou prova de que vocês são desastrados. –a menina revira os olhos.

—Do que vocês estão falando? –Dete estranhou, e me lembrei de que ela tinha ficado com Berenice.

—Da Sônia. –a voz de Pablo tremeu. –A avó do Henrique, mãe da Rosa.

—Qual o problema dela? –Maria tombou a cabeça, sem entender.

—Ah, qual o problema dela? –repetiu Emily.

—Deixem-me contar. –reclamei. –Quero me defender.

—Quer me culpar, isso sim. –Belle devolveu.

—Enfim. –revirei os olhos. –A gente estava lá na Berenice com a Analícia....

(***)

Analícia passou a mão para pegar mais um bolinho de chuva que Berenice fez com os ingredientes que mamãe me pediu para entregar. O quintal estava vazio, e era meio estranho ver a casa de Berenice assim, depois que ela decidiu que nem todas as crianças da cidade poderiam ficar ali o tempo inteiro. Só no final de semana.

Berenice foi muito doce, ela nos tratava de maneira especial e nos chamou para ajudar a fazer os doces. Pablo e Leo separaram os ovos, Mel e Belle pegaram o açúcar, Emily e Dete pegaram leite, eu e Analícia pegamos açúcar e canela e Berenice pegou o trigo e o fermento. Todos nós misturamos tudo, até que ficasse nem muito mole nem muito dura.

Berenice colocou óleo numa panela e quando ele esquentou ela colocou colheradas da massa que fizemos. Quando ela tirava os bolinhos, nós precisávamos passa-los no açúcar e na canela. Essa parte de fazer em grupo é que deu um trabalho maior, porque Belle e Analícia brigavam para pegar os bolinhos, aí eu mandava-as calar a boca e Belle falava que eu sempre ficava do lado de Analícia e enquanto isso Emily comia os poucos bolinhos que havíamos feito, que fazia com que Pablo e Mel brigassem com ela e ela metesse a sombrinha em Pablo, para no final Berenice nos mandar parar e terminar o serviço.

No final, pelo menos, pudemos nos sentar na escadinha da varanda com uma vasilha de doces e comer sossegados. Berenice colocou Belle e Analícia longe uma da outra e isso resultou em paz.

(***)

—Qual é o seu problema com a Analícia? –perguntou Otávio para Belle, que estava de braços cruzados me ouvindo contar a história.

—Ela tem um problema comigo. –Belle respondeu.

—Tem certeza? –Maria a olhou. –Não é implicância sua?

—Analícia não é legal com Belle. –Mel a defendeu. –Ela consegue ser bem....Chata.

—Analícia só é complicada. –a defendi. –Tem que ser paciente.

Belle e Pablo me olharam estranhos, e senti de novo aquela sensação de que os dois são parecidos quando fazem as mesmas expressão, que passou quando Belle me olhou irritada, mas ficou calada.

—Está defendendo a Analícia? –Pablo resolveu falar.

—Pedro, continue a história. –mamãe pediu, para evitar uma briga interna.

(***)

—Aquela ali não é a caminhonete do Seu Matheus? –Mel apontou para o carro que vinha levantando poeira na rua.

—Tá parecendo que é. –Pablo concordou, se levantando.

A caminhonete parou na nossa frente, e Henrique saiu, sorrindo e parecendo super animado. Seu Matheus permaneceu no carro, o observando. Henrique estava com uma blusa azul escura sem estampa e uma bermuda jeans, além dos tênis. Ele correu até nós com uma rapidez impressionante e desnecessária.

—Oi, gente! –ele cumprimentou, meio sem fôlego. –Vocês...Não...Vão...Acreditar!

—O que foi? –perguntei, preocupado com ele. –Quem morreu?

—Bate na madeira, menino. –Mel brigou, batendo três vezes na madeira.

—Ninguém morreu. –ele respondeu. –Eu queria chamar vocês para a corrida de carrinhos de rolimã que vai ter lá na minha rua.

—Corrida de carrinhos de rolimã? –Emily repetiu.

—É! –Henrique falou, parecendo realmente animado. –Vocês vão adorar e vão poder torcer por mim!

—Você vai ganhar? –Belle perguntou.

—Claro que vou.

—Então posso pensar em torcer para você. –ela comentou e ganhou uma língua dele.

—Vocês vão ou não? –ele nos olhou cheio de expectativa.

As meninas foram as primeiras a se levantar, com exceção de Analícia, e o abraçar.

—Claro que vamos. –Mel falou.

—E se você perder, vamos te ajudar a se esconder. –Emily brincou.

—A gente vai também. –falei, apontando para mim, Pablo (que me olhou com um cara de “Tá me incluindo por quê?) e Leo.

—Eu vou ficar. –Analícia deu de ombros.

—Vou ficar com a Ana. –Dete também concordou com a loira, que sorriu feliz para a menina.

—Vocês que sabem. –Pablo deu de ombros pela atitude delas. Ficariam bem.

—Quem vai na caçamba? –Henrique perguntou, nos olhando.

—Eu! –Belle falou, e Henrique a ajudou a subir. Mel quis ficar com ela, Emily quis ficar com a prima, e acabou que todos nós fomos lá.

Era muito engraçado as caretas que Emily fazia tentando tirar o cabelo ruivo do rosto, enquanto Mel e Belle abriam os braços e abraçavam o vento, balançando a cabeça para ajudar a bagunçar o cabelo. Leo passou a mão no ar e segurou, me olhando travesso.

—Pepê, eu peguei uma espada. –ele contou, balançando a suposta espada invisível. Decidi entrar na dele e fingi um escudo feito de vento.

—Não tem problema, eu estou protegido. –retruquei.

—Eu tenho um escudo e uma espada! –Pablo provocou, segurando os instrumentos invisíveis.

—Eu vou te derrotar! –berrou Leo.

(***)

A rua de Henrique era de terra e estava até que decorada com bexigas e faixas. Numa linha de largada improvisada, alguns meninos limpavam seus carrinhos. Consegui visualizar Diego na corrida, com um carrinho de rolimã um tanto simples, Luís, Carlos e Marcel. A rua era uma descida gigante, por onde os carrinhos deveriam passar. Vi várias crianças ali, as que costumavam ficar na casa de Berê. Laura estava ali, junto com Natália e Isadora, acompanhadas de Aurora e Davi. Eduardo, Bruno, Uriel, todos ali.

Leo foi o primeiro a pular da caçamba, seguido de Pablo e Emily. Quando eu desci, dei a mão para ajudar Mel e Belle a saírem.

—Meu carrinho tá lá no quintal. –Henrique falou. –Vou buscar e encontro vocês aqui.

Laura foi a primeira a nos chamar, acenando animada. Ela saiu de perto do grupinho, animada como sempre.

—Oi gente! –ela cumprimentou, num vestido vermelho de borboletas com uma camiseta branca de mangas por dentro. –Preparados para a corrida?

—Pra que toda essa animação? –Pablo perguntou, cruzando os braços.

Laura revirou os olhos, sem ligar.

—É o dia da corrida! –ela respondeu. –Vem, eu consigo um lugar bom pra vocês. Estou apostando no Henrique.

—Por que todo mundo tem um carrinho diferente? –Mel questionou.

—Uma das regras da corrida é você fazer seu próprio carrinho. Por isso o Henrique vai ganhar. –ela contou, confiante. –Ele é super bom pra construir coisas.

—E como você sabe disso? –estranhei.

—Moramos na mesma rua. Eu vejo ele fazendo. –ela explicou. O cabelo castanho escuro dela continuava longo, mas agora estava repicado e com uma franja.

Fiquei calado, esperando Henrique voltar da casa dele com um carrinho, que não era só um carrinho. Era uma versão muito mais melhorada de um carrinho de rolimã normal, pintado de preto e parecido com um carro de corrida de verdade, até com volante. Era impressionante.

Ele parou na linha de largada e vi a inveja nos olhos dos outros. Marcel, um moreno de cabelos pretos ralos e forte como só ele. Ele odiava perder, e comecei a ficar com medo por Henrique.

Laura pegou uma bandeirinha do bolso e foi até a linha de largada.

—E...Já! –ela balançou a bandeira. Todos saíram correndo, em seus carrinhos de rolimã. Henrique conseguiu a dianteira.

—Sou míope, não consigo ver nada! –reclamou Belle, dramática como de costume.

—Lógico Belle, eles estão a duas quadras daqui. –Mel riu com o drama dela.

—Eles vão voltar? –Emily perguntou.

—Não. –Laura falou, guardando a bandeira no bolso. –Vem, vamos até a linha da chegada. Eu levo vocês.

—Precisa mesmo? –Belle fez uma careta.

Laura a olhou irônica.

—A menos que você saiba o caminho e queira ir sozinha....

O olhar de Belle faiscou e percebi Emily pronta a defende-la. A única pessoa além de sua própria família que Emily defenderia era Belle. E com Emily metida nisso, eu não queria ver no que iria dar.

—A gente segue você, Laura. –Pablo falou, me poupando do trabalho.

Ela deu um sorriso cínico para Pablo.

—Então vamos. –ela começou.

Enrolei para andar, deixando Leo, Pablo e Emily irem na frente, e fiquei para trás com uma Belle emburrada.

—Ela é chata. –Belle sussurrou, muito brava.

—E você não é? –sussurrei de volta.

Belle me olhou ofendida, abriu a boca, fechou, e se calou, embora sentisse no ar que ela não gostou da fala, mas não discutiu. Talvez não desse pra rebater a verdade.

Laura nos levou três quarteirões a frente e nos fez andar rápido, junto com as meninas e Aurora e Davi nos seguindo. Era algo estranho, pois eles andavam de mãos dadas e ele parecia abraça-la. Será que isso era ser namorado?

Ignorei essa questão quando comecei a ver Henrique chegando, com os meninos um tanto distantes. Laura estava preparada com a bandeira, mãos na cintura.

—Nenhuma emoção. –ela reclamou. –Totalmente esperado.

Concordei com Laura mentalmente, observando as meninas começarem a gritar o nome de Henrique numa torcida. Quando ele passou por nós, Laura balançou a pequena bandeira dela animada.

Corremos até ele, felizes, enquanto Henrique comemorava no meio de todo mundo. Trocamos um soquinho de comemoração, enquanto Belle deu nele um longo abraço. Do nada, vi Henrique ser empurrado e cair no chão. Marcel estava ali, quase bufando.

—Dia de sorte, pixaim. –ele murmurou, saindo dali. Emily ajudou Henrique a se levantar, enquanto Mel e Belle cruzavam os braços.

—Cara idiota. –Belle falou. –Me dá a sombrinha que eu ensino ele a derrubar alguém.

—Deixa que eu ajudo. –Mel completou.

—Quem vai bater em quem? –Leo perguntou, sem entender nada.

—A Emily. –as duas responderam, apontando nosso peso-pesado. Emily parecia concordar, sua postura denunciando sua vontade de dar um socos num certo valentão.

—Deixa. –Henrique tentou dar de ombros, sendo amparado por tantas garotas, incluindo Laura, Mel e Belle, que fez com que eu sentisse ciúme. Elas o ajudaram a se levantar, e vi que no empurrão algumas partes do seu corpo foram arranhados. –Melhor eu ir lá em casa para limpar isso.

—Vem. –Belle falou, segurando Henrique de um lado e Mel do outro.

Acabamos ajudando elas a segurarem ele, só que ele se soltou pouco tempo depois, justificando que eram só alguns arranhões, porém dona Rosa preferia que ele fosse em casa se limpar para que ele não adoecesse. Mesmo assim, todos nós permanecemos perto, mesmo que ele não tenha se machucado muito.

Ele abriu a porta de casa e entramos com ele. A sala de Henrique era dois sofás, livros e várias roupas e brinquedos jogados no chão, inclusive estranhos objetos. Henrique não deu a mínima e se deitou no sofá. Belle olhou a casa com nostalgia.

—Olha, eu podia jurar que essa camiseta estava exatamente aí da última vez que eu vim. –Belle zombou.

Observei um conjunto de pinturas num canto perto da escada, uma série de quadros enfileirados.

—São de Maria. –falou Mel ao meu lado, os olhinhos escuros bastante minuciosos. –Não são?

—São- confirmou Henrique, se aproximando da gente. Belle e Leo foram buscar um pano para limpar os machucados e saíram pra cozinha, enquanto Pablo foi mexer nos livros da mesa da sala. –Olha esse.

O quadro a qual Henrique se referia era a imagem de um navio ancorado numa costa, enquanto negros e índios cortavam as árvores e carregavam para os navios.

—É o meu preferido. –Henrique fala, apontando uma das pessoas, um dos negros que tinha várias marcas de chicote. –Esse é meu ancestral por parte de pai. Ele era nigeriano, veio para o Brasil como escravo, trabalhava cortando as árvores na costa nordestina. A Belle também gosta porque lembra a mãe dela.

—Interessante. –Mel sorriu para ele, que olhou orgulhoso para a pintura. –Maria pintou?

—Faz muitos anos, poucos depois de eu virar amigo da Belle. –ele explicou. –Papai amou e comprou outros trabalhos dela.

Me desfoquei da conversa, sentindo que estava faltando alguém.... Até ouvir Leo gritar.

—PEDRO!

Entrei correndo na cozinha, vendo Leo e Emily brigarem por uma vasilha de biscoito. Belle gritava para os dois pararem, também puxando a vasilha. Do nada, os dois deixaram a vasilha escorregar, e os biscoitos voaram e quebraram pelo chão.

—Tá vendo? –Leo reclamou. –Vamos ter que limpar.

—Vou pegar a vassoura. Vem, Pedro. –Belle chamou, me conduzindo pela casa. Estranhei o conhecimento de Belle da casa. Ela me levou por um corredor até uma abertura no chão. –Quero te mostrar uma coisa primeiro.

Ela abriu a abertura e desceu a escada, e desci com ela. Aquele devia ser o porão. Estava escuro e esbarrei em Belle.

—Desculpe. –pedi ao escuro.

—Pedro, você não esbarrou em mim. Essa é a mesa. –ouvi a voz de Belle, logo senti as mãos dela me guiarem. Do nada, ela acendeu uma luz, um lampião. –Ele sempre guarda no mesmo lugar.

Tentei me localizar, vendo que o lugar era cheio de colunas estranhas, teias de arranhas, espelhos quebrados e pinturas antigas, além de velas apagadas e um baú esquisito. Senti um arrepio olhando o lugar, parecia sinistro, com vários círculos no chão.

—Vem cá. –ela chamou, abrindo o baú. Vários objetos estranhos estavam lá, como bonequinhos mal feitos e cheios de agulha, alguns amuletos e potes de sal grosso. –Legal, né?

—A gente não devia mexer, Belle. De quem é?

—Da avô do Henrique. –seu olhar se desfocou. –Ela é esquisita. Tem hora que ela parece gostar de mim, tem hora que não.

Assenti com a cabeça, vendo Belle mexer naquilo sem se importar muito e pegar um dos amuletos que tinha sal grosso dentro.

—Belle, é melhor guardar. –puxei da mão dela, que segurou.

—Relaxa. –ela falou. –Não é nada demais.

Continuei segurando, tentando tirar da mão dela, quando uma voz nos assustou.

—O que vocês estão fazendo? –Mel perguntou, nos assustou e faz com que eu e Belle largássemos o amuleto e ele caísse no chão, se quebrando.

—Mel! –briguei. –Avisa quando estiver chegando.

—Não seja tão rabugento. –Mel revirou os olhos, enquanto Belle guardava tudo e fechava o baú.

—Não devíamos guardar o amuleto? –perguntei, vendo o sal pelo chão.

—Os ratos vão comer o sal. –ela falou. –O amuleto a gente leva, tá quebrado. Ela nem vai senti falta.

Olhei para o amuleto, que era uma estrela de cinco pontas e inscrições nele, antes cobertas pelo sal.

—Tá bom. –guardei ele no bolso. –Vambora.

Ajudei Belle a se levantar e ela apagou o lampião, nos ajudando a sair do porão. Belle com certeza já fora lá várias vezes, e ela mesmo fechou a portinha que dava pra lá.

—Temos que limpar a bagunça que a Emily e o Leo fizeram. –Mel falou, olhando estranhamente pra ela.

Deixei as duas de lado e voltei para a cozinha, onde encontrei Emily e Leo terminando de limpar a bagunça, enquanto Henrique passava um pano limpo nos arranhões.

—Cadê seus pais? E sua avó? –perguntei.

—Papai foi comprar algumas coisas e mamãe foi levar vovó ao médico. –ele contou. –Belle te levou até o porão, né?

Confirmei com a cabeça, mostrando a ele o amuleto quebrado.

—A Belle é curiosa. Ela acha que tem algum tesouro escondido. –ele riu. –Vovó mataria vocês se soubessem que mexeram no baú dela.

—Quem mexeu no meu baú?!!! –berrou uma voz feminina na porta.

A avó de Henrique tinha cabelos grisalhos crespos, um corpo corcunda coberto por vestidos floridos e xales de crochê, sapatos pretos e um colar de pérolas. Além disso, ela era branca de olhos verdes, e parecia muito brava.

Cadê Belle quando se precisa dela?

—Ninguém, vó. –Henrique disfarçou.

—João Henrique, eu fiz uma pergunta! –ela ralhou. –Pro seu quarto, e leve seus amigos.

—Sim, senhora! –ele me puxou, e Leo e Emily vieram conosco.

No quarto de Henrique eu não conseguia enxergar a cor do chão, mas deduzi que era de madeira. Falando em madeira, várias coisas no quarto eram feitas de madeira, carrinhos, aviãozinho, bonecos e casinhas. Havia uma cama, uma janela grande, uma televisão e um videogame. Por incrível que pareça Belle, Mel e Pablo já estavam lá.

—Ela tá brava? –perguntaram.

—Claro que está. –ele ligou a tv e o videogame. –Quantas vezes já te falei para largar o porão em paz?

—Foi o Pedro que deixou o amuleto cair. –retrucou Belle, sentada na cama.

—Você que pegou o amuleto, pra começar. –sentei do lado de Pablo, esperando Henrique ligar o videogame, louco pra jogar. –O que você tem aí?

—Duvido me vencer no Mario. –ele duvidou.

—Apostado. –sorri.

—Eu venço os dois. –Pablo disse.

—E eu os três. –Emily colocou as mãos na cintura.

Olhamos duvidosos pra ela, que devolveu o olhar.

—Eu aposto na Emily. –Belle sorriu.

—Eu também. –Mel concordo, sorrindo pra prima.

—Pedro vai provar que vocês estão errados. –Leo falou apontando língua pra ela.

Eu amo o meu irmão.

—Valeu, Leo.

Rosa abriu a porta, nos olhando carinhosa com duas vasilhas de pipoca.

—Fiz um lanche. –ela nos entregou, bagunçando os cabelos de Henrique. –Parabéns pela corrida.

—Valeu, mãe. –ele agradeceu, corando por ser perto da gente.

Rosa deu um beijinho no rosto de Henrique e saiu do quarto.

—Ah, e sua vó continua reclamando de crianças malcriadas mexendo nas coisas dela no porão. –Rosa nos olhou. –Por favor, não entrem naquele porão. É perigoso e minha mãe odeia.

Olhei pra Belle, que confirmava com a cabeça, sorriso falso.

—Sim, senhora.

(***)

—E foi isso. Jogamos videogame até seu Matheus nos trazer de volta. –terminei.

—Belle, isso foi muito feio. –Otávio falou pra Belle, que pareceu não entender. –Não pode mexer nas coisas dos outros.

—Mas...

—Nada de “mas”, mocinha. –ele continuou, bem sério. –Está de castigo.

—Pai... –ela deu um olhar pidão, e Otávio desviou o rosto. Belle me deu um olhar de “Valeu, Pedro”.

—Foi mal. –pedi.

—Enfim, foi divertido. –continuou Pablo por mim. –Henrique nos detonou no videogame.

—Humpf. –Emily resmungou. –Sorte.

—Claro que foi. –Leo riu dela.

—Fico feliz que tenham aproveitado a tarde. Logo a escola começa, não é? –Maria nos olhou, sorrindo.

Eu me mexi desconfortável no colo de mamãe, que me olhou estranha.

—É.

—Vai ser... Incrível. –Mel completou, tão falsa quanto eu.

—Demais. –Belle entrou na onda.

—Super legal. –Pablo ajudou, enquanto todos nos olhavam sem entender.

Não é como seu estivesse com medo de ir pra escola, mas seria a primeira vez que eu ficaria a tarde toda lá e teria deveres pra fazer. Emily e Henrique não tinham muito tempo pra brincar e eu ficava ansioso pela possibilidade. Vamos ser sinceros, ninguém quer ir pra escola assim, e muito menos eu. Sobre a escola eu tinha uma certeza: Isso não ia prestar.


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Notas finais do capítulo

Sim, a Isabelle Fuhrman é a Mel, o que eu também acho irônico porque quem é Isabelle é a Belle, mas enfim.... Não tem dream cast pra fic, mas com certeza ela seria a Mel. Vão ver vários gifs dela tirados de "A Órfã". "Mas no capítulo 3 ela era a Belle"... Era mesmo, mas não pode ser ela porque a Isabelle tem cabelo LONGO. Quando ela era bem pequena dá pra usar, mas ela é a Mel. Queria achar uma atriz jovem de cabelos curtos e olhos azuis, mas não achei até agora. Ainda mais pro Violinista, aquele cabelo NÃO TEM RÉPLICA.
Enfim, comentem, acompanhem, recomendem, favoritem, ficarei MUITO FELIZ.