Era um fim de tarde comum de terça feira, eu havia saído do trabalho mais cedo levando muito trabalho para casa, era meu doce mal habito levar trabalho para casa e virar a noite acordado lendo e corrigindo relatórios financeiros da empresa da família, a Uchiha TV.

Como sempre parei na praia para observar o pôr do sol, um breve momento de paz admirando um real espetáculo da natureza. Coloquei-me a imaginar o som do sol tocando á água no horizonte. A leve brisa tocando meu rosto e a maresia me abraçando como um irmão que volta ao lar.

Então ouvi outro som que me tirou de minha contemplação. Uma melodia suave de uma flauta.

Levantei olhando para os lados em busca de quem estava atrapalhando meu silêncio, avistei a flautista caminhando não muito longe de onde estava. Ela tinha dois coques em formato de bola bem presos e franjas caindo sobre a testa, os cabelos eram castanhos escuros. Vestia uma calça vermelha-carmim e uma blusa lavanda de gola alta com botões prateados. Distrai-me a ouvindo que apenas notei sua aproximação quando ela parou em minha frente.

- O senhor está bem? – perguntou estalando os dedos á minha frente

Segurei o pulso dela para que parasse com aquele gesto irritante. Ela desviou a atenção para minha mão a segurando como se fosse algo que nunca tivesse visto. Soltei-a me desculpando.

- Tudo bem – sussurrou ainda analisando o pulso – Apenas tinha me esquecido de como era a sensação.

- Que sensação – me ouvi sussurrando no mesmo tom intrigado que ela

- Ser tocada, sem que ferir.

Confesso que achei aquela resposta estranha. Ela ainda analisava o pulso, então me virei. O sol estava quase desaparecendo no horizonte e eu tinha perdido maior parte do espetáculo. Suspirei aborrecido, se aquela flautista não tivesse me distraído com sua presença, mas não posso culpá-la, fui eu quem se distraiu.

Virei-me para sair da praia e notei que a garota ainda estava ali, agora olhava o ponto no horizonte onde a pouco o sol desaparecera.

- Dança comigo? – perguntou

Olhei para trás, ela falava mesmo comigo. Fitei-a, ela sorriu.

- Não sou maluca – sussurrou – Apenas quero dançar.

- Não sei dançar – respondi constrangido com aquela situação – Desculpe

O sorriso dela se desfez, tinha uma expressão de surpresa, divertimento e incredulidade como se eu tivesse dito que podia voar. Sorriu mais uma vez.

- Eu sei dançar – realmente tinha certeza que ela era maluca – Dance comigo.

- Moça eu...

- Tenten – ela me interrompeu sussurrante – Me chamam de Tenten

Olhou para sua flauta e deu de ombros. Sua expressão se carregou de tristeza. Desculpou-se por ter me perturbado e saiu pela praia. Fiquei a olhando se afastar, queria chama-la para dançar, mas não consegui nem mesmo abrir a boca, muito menos ir atrás dela.

...

Voltei á praia todos os dias, como sempre faço desde meus quinze anos. Nenhum dia a reencontrei. O que era uma pena, queria me redimir por ter sido... por ter sido eu mesmo. Talvez eu afaste as pessoas com essa minha personalidade reservada e taciturna.

- Itachi... aguarde um minuto senhor Lee...

Ergui os olhos para minha secretaria que como sempre tinha a atenção na agenda e no celular que nunca parava de tocar. A morena de pele pálida nunca entrava em minha sala, dizia que as pessoas falavam coisas ruins sobre nós pelos corredores e ela não queria brigar com o noivo por causa de boatos, nossa relação profissional funcionava unicamente pelos telefones e e-mails.

- Bom dia, Hinata – a cumprimentei – O que aconteceu para receber sua visita esta manhã?

- Sasuke exige que você compareça ao luau hoje a noite, ele vai pedir a mão da senhorita Haruno em casamento e quer pelo menos que você apareça, mesmo que seja para chamá-lo de imaturo ou coisa parecida. A senhora Tsunade remarcou a reunião para amanhã, ela precisou fazer uma viagem de emergência. O senhor Inuzuka te mandou outra ameaça de morte.

Ouvi todos os recados de Hinata em silêncio, as vezes não é muito sensato interrompê-la, mesmo com os modos delicados e inocentes ela consegue ser assustadora quando quer. Lembro-me que quando Sasuke a chamou para sair na primeira semana que ela veio trabalhar comigo, foi a primeira vez que vi meu irmãozinho em pânico, Hinata pretendia joga-lo do décimo oitavo andar apenas por um convite inocente para jantar.

- Confirme todos os compromissos – disse quando ela me encarou em silêncio – E pode ligar para a Ino para que ela me acompanhe no noivado do Sasuke?

- Impossível, Ino está saindo com um advogado chamado Sai e eles vão juntos.

- Karin?

- Está em Londres.

- Matsuri?

- Casou faz uma semana.

- Tem alguma mulher descomprometida nessa cidade que seja decente o bastante para me acompanhar na festa de noivado de meu irmão? – perguntei irritado

Hinata balançou a cabeça positivamente.

- Tem varias mulheres decentes que podiam fazer isso e que não são compromissadas – disse séria – Mas eu não as conheço e nem você.

Hinata é uma ótima secretaria e minha amiga á anos. Mas às vezes tenho vontade de joga-la dezoito andares abaixo. Tudo bem, quem liga se vou desacompanhado em um luau bobo produzido por Naruto, apenas para ver meu irmão mais novo e único membro vivo de minha família pedir a namorada em casamento?

...

A praia estava incrivelmente iluminada com luzes naturais, archotes e velas em pontos estratégicos davam ao ambiente um ar aconchegante. Um tapete de flores de cerejeira levavam os convidados até um arco de flores. Haviam mesas forradas com toalhas brancas com frutas e bebidas em volta do perímetro do arco. A lua e as estrelas iluminavam o céu escuro. As ondas calmas do mar iam e vinham beijando a areia em um ritmo hipnotizante. Alguns amigos de meu irmão e de Sakura tocavam instrumentos em volta de uma fogueira dando á tudo um ar muito informal.

Encontrei Naruto e Hinata para parabenizá-los pela organização, estava tudo tão perfeito que eu me senti incrivelmente solitário naquela noite.

- Hinata, onde está nossa amiga reclusa? – perguntou Sakura se aproximando de nós – Olá Itachi, fico feliz em vê-lo.

Ela praticamente mora na minha casa e fala como se me visse uma vez por década. Livrei-me de uma conversa monótona com a futura esposa de meu irmão e fui procurar uma companhia adulta para conversar. Logo encontrei Sasuke, ficamos conversando até uma melodia já conhecida por meu inconsciente se fazer presente. Procurei em volta e lá estava ela sentada em uma rocha.

Os coques estavam soltos em duas Marias-chiquinhas, vestia uma blusa azul de botões dourados e calça preta. Tocou por longos minutos que por mim nunca deveriam terminar. Quando tirou a flauta dos lábios uma ovação ensurdecedora se fez presente substituindo a sua agradável musica. Mais uma vez me deixei distrair pela presença dela e me esqueci de vez onde e com quantas pessoas eu estava.

- Tenten – disse Hinata ao meu lado me assustando

- Que?

- Minha amiga, a flautista. Chama-se Tenten – explicou ela – Achamos que ela não viria, mas é impossível afastá-la do mar.

Perguntei o porquê dela não se afastar do mar, mas quando olhei Hinata já estava ao lado da flautista caminhando até Sakura que parecia surpresa com a presença da garota ali. Dez da noite Sasuke pediu Sakura em casamento e o luau se estendeu até as duas da madruga, embora eu tenha certeza que era o único que estava sóbrio o bastante para me lembrar de tudo.

...

Quanto as lembranças, a melhor lembrança daquela noite para mim não foi o noivado de meu irmão, embora eu jamais vá esquecer. Minha mais adorada recordação daquele luau foi e sempre será a companhia de uma flautista.

- Dança comigo? – pedi á ela.

Dançamos a noite toda. E ainda permanecemos na praia muito depois do luau ter terminado, nos ouvimos em silêncio contemplando as ondas. Após do nascer do sol fomos cada um para seu caminho.

Termino agora mais um expediente, vou para a praia esperar a companhia de certa flautista que espera para dançar comigo.