As Mulheres de James Sirius Potter escrita por Lia Galvão, Miss Stilinski


Capítulo 28
Elisabeth Stella Carter (parte I)


Notas iniciais do capítulo

OMG Hi! ashoashoahs Eu sei, eu sei, a gente deveria ter chegado antes, mas demos uma travadinha em um capítulo especial e eu segurei a Laís que queria ter postado isso mesesatrás. Mas juro q é por um bom motivo! Será que a gente consegue manter os próximos caps de 3 em 3 meses? torçamos por isso!
ENFIM!
Aqui está ela. Amada por muitos, odiada por alguns, esse capítulo irá fazer alguns de vocês muito felizes depois de quase NOVE anos pedindo e perguntando "cadê a Lisa? A Lisa vai ter capítulo? Eu acho que o James deveria ficar com a Lisa" Bom, estamos cada vez mais perto de descobrir com quem o James irá ficar, mas eu gostaria de lembrar a todas vocês que ainda temos mais 4 capítulos programados até finalizar essa história então... tudo ainda pode acontecer. E sim! Serão duas partes, mas a segunda a gente vai segurar um pouquinho. Sem mais delonga, espero que se divirtam, esse capítulo tá recheado de referências e dicas para vocês. / Lia

Oii, gente! É isso mesmo. É isso mesmo que vocês estão pensando. Finalmente um capítulo da Lisa e... será que vai ser ela? Ou será que vai ser outra? Será que James vai se ferrar outra vez? Bem, a fic já está quase na reta final e eu sei que a gente demorou 8 anos para chegar até aqui e ficamos muuuito felizes por vocês não terem nos abandonado esse tempo todo. Espero que gostem! As coisas irão se resolver ;) / Laís



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Elisabeth Stella Carter entrou em minha vida como um furacão. Com seus cabelos revoltos e cacheados, sua língua afiada e seu sorriso fácil. Se me pedissem para definir Lisa antigamente eu a descreveria como uma pedra no meu sapato. Irritante e que eu nunca conseguia tirar. Mesmo ela sendo a melhor parceira de quadribol que eu poderia ter, ela era um incômodo constante, cuja simples existência parecia me tirar do sério. Hoje, porém, essa designação mudava um pouquinho.

      Mas, para contar melhor como ela veio parar aqui, eu preciso voltar para a manhã seguinte ao casamento de Teddy e Victoire.

 

(...)

 

Apesar de a madrugada já estar perto de sua metade quando eu cheguei em casa, eu senti como se aquela noite não acabasse nunca.

Fui direto para meu quarto e me joguei na cama, mas, ao invés de dormir, como era o planejado, continuei rolando de um lado ao outro no colchão, sem descanso. Apesar da tempestade que urrava do lado de fora eu sentia calor e em certo momento toda minha roupa de cama foi parar no chão.

Talvez fosse o excesso da bebida - mesmo que ela tivesse me ajudado a dormir nos últimos anos, tudo tinha sua primeira vez, certo? - que me impedia de me agarrar apropriadamente ao sono. Mas minha cabeça também estava a todo vapor e pensamentos chegavam e partiam com uma velocidade que me impedia de manter a cabeça no travesseiro por mais do que alguns segundos.

Ver Lisa tinha mexido comigo. Não do jeito que vocês estão pensando, não mesmo, mas… bem, eu não sei, ok? Só sei que tinha mexido. Talvez eu tivesse finalmente percebido o tempo que passei fora, as coisas que tinha perdido da vida dos meus amigos. Claro, eu já sabia isso, eu nem sempre tinha pensado, mesmo quando estava distante, sobre tudo que tinha ficado para trás, mas… era diferente. Talvez fosse a realização de que minha ausência não fazia diferença na vida de muitas pessoas, que seguiram despreocupadas e inafetadas, independente de eu estar vivo ou não. E isso afetava profundamente meu ego.

A realidade da minha insignificância foi me atingindo aos poucos. Claro que minha família inteira tinha se preocupado, mas eles também, apesar da dor do meu sumiço, seguiram em frente. Meus primos estavam formados, trabalhando, com grandes planos para o futuro, casados ou casando. Eu sabia que Victoire queria esperar por mim para aquele evento, mas a verdade é que, mesmo que eu não tivesse retornado a tempo, a festa daquela noite teria acontecido da mesma forma. E eu não sabia muito bem como me sentir sobre isso. Não que eu quisesse que eles tivessem parado a vida inteira enquanto eu estava, de uma forma ou de outra, tentando acabar com a minha para superar um trama meu, mas… o que eu queria?

E em meio a tudo aquilo meus pensamentos voltavam para Lisa. E Stephen. Em como tudo parecia tão igual à última vez que eu os vira, mas como, ao mesmo tempo, bastou para me dar um senso de autoconsciência que estava me faltando. Ele tinha conseguido uma vaga nos Chuddley Cannons em nosso último jogo pela grifinória, será que ele ainda estava naquele mesmo caminho? Naquela mesma profissão? E Lisa? Tinha de fato retornado ao mundo trouxa e aperfeiçoado seus estudos para trabalhar longe da vida bruxa, mesmo com o namorado tão aprofundado nessa cultura? E a quantas andava o relacionamento deles? Estavam juntos há anos, estavam casados? Será que já tinham filhos? Não tinha visto uma aliança, mas também não tinha procurado, e por que eu estava perdendo tempo pensando naquilo?

Virei na cama uma vez mais e encarei o Sol que já invadia as frestas da minha janela. Minha cabeça doía ligeiramente e eu estava completamente exausto. Àquela altura eu já tinha percebido que não dormiria mais, mas ainda insisti mais alguns minutos, até perceber que os pensamentos também não cessariam, mesmo que eu estivesse exausto.

Irritado, levantei. Eu não estava de bom humor e faria daquilo um problema de todo mundo. Mas, antes, eu precisava de um banho gelado.

 

Apesar da minha disposição em incomodar absolutamente todo mundo da minha família naquele domingo, eles tinham outros planos. Albus e Lily sequer estavam em casa e meus pais tinham chegado tarde da festa e dormiram por grande parte da manhã, o que não me deu outra opção a não ser juntar meus cadernos de anotações e ingredientes e dedicar algum tempo à minha poção.

Eu provavelmente deveria ter sido um pouco mais inteligente com aquilo e levado em conta que falta de sono e  possível ressaca eram uma combinação desastrosa para o preparo de qualquer receita, e seria ainda mais catastrófica para o desenvolvimento no escuro de uma que nunca tinha sido inventada. Mas eu não estava muito afim de usar a cabeça, o que explicava exatamente como eu tinha acordado Harry e Ginny, poucas horas mais tarde, com o barulho de explosão e o balcão da cozinha reduzido ao estado líquido.

Aos gritos, mamãe me expulsou de casa e me mandou arrumar algo para fazer pelo resto do dia ou ela explodiria a minha cara. E naquele momento eu decidi ser mais inteligente e de fato sai.

Não tinha um destino, nem mesmo para onde ir, então vaguei pelo quintal por alguns minutos antes de aparatar para…

Eu não tinha estado no ministério muitas vezes anteriormente, já tinha ido a algumas festas com meus pais, mas quando eu era bem mais novo. Ainda assim, reconhecer o local foi instantâneo. Mesmo com ele absurdamente deserto, as grandes estátuas e paredes escuras — além do portão enorme com uma placa que indicava onde eu estava — não me permitiam errar.

Era domingo, então a não ser alguns pares de turistas que vinham de todo o lugar do mundo para conhecer o átrio não tinha muita gente por ali. E eu definitivamente não estava bem da cabeça porque nada justificava o fato de eu ter aparatado justamente para aquele lugar. Não tinha o que fazer ali nem quando ele estava cheio!

Mas, bom, meu corpo estava me dando todos os sinais que desaparatar para qualquer outra localização seria uma péssima ideia para meus membros, então eu suspirei derrotado e segui em direção a grande fonte no centro do Átrio, sentando-me na borda dela e apenas me distraindo com os jatos de água e as risadas de crianças e adultos que faziam pedidos secretos antes de jogarem moedas na água.

Quem és tu que, encoberto pela escuridão da noite, tropeça nos meus pensamentos mais secretos? — A voz veio quase como uma lembrança distante, há muito perdida, mas, ainda distraído pelo movimento das águas, vi-me responder, baixo:

Por um nome não sei como dizer-te quem eu seja. Meu nome, cara santa, me é odioso, por ser teu inimigo. — A continuação da fala, aprendida quase dez anos atrás, se perdeu na minha memória, e eu me virei lentamente, a fim de descobrir de onde vinha aquela breve encenação de Romeu e Julieta.

Talvez fosse o cansaço, mas mesmo que a voz que cantara aquele único trecho me fosse, de fato, conhecida, eu achei que algum grupo de teatro pudesse ter decidido que aquele lugar e aquele dia eram tão bons quanto qualquer outro para uma peça de rua. Independente das evidências de que aquele não era o caso, ao virar-me por completo e encarar a mulher à minha frente eu definitivamente fui pego de surpresa e todos os meus movimentos se restringiram à minha respiração ritmada e ao giro de minha orbe que a percorria dos pés à cabeça.

Ela estava mais magra do que da última vez que eu a tinha visto, os cabelos não possuíam o mesmo brilho, assim como a pele pálida tinha perdido o tom de dourado que lhe era tão charmoso. E, junto à palidez, somavam-se manchas de tons diversos, amareladas, das mais antigas, às arroxeadas mais vivas, claramente mais recentes. O sorriso trazia um traço de sangue de um ferimento que claramente tinha sido aberto naquele minuto devido aquele esforço e, mesmo minúsculo e tímido, ainda era belo.

Minhas orelhas ainda não beberam cem palavras sequer de tua boca, mas reconheço o tom. Não és James, um dos Evans?

Eu esperei por meu coração dar um salto, minhas mãos suarem, minha respiração se perder no meio do caminho, mas nada daquilo aconteceu. Junto ao meu choque completo, apenas uma pontada de preocupação e… pena conseguiam se assomar aos sentimentos do momento. Os finos dedos torceram um pedaço do pano de vestido, o toque de antecipação naquele gesto me fizera reagir.

— Giulietta…

— Então é você mesmo? — A frase era, ao mesmo tempo, uma pergunta e uma afirmação. Uma risada fraca, soprada, a deixou, o movimento pareceu evidenciar ainda mais sua magreza. — Eu te vi cruzando o átrio e acreditei estar ficando louca. É impossível que uma pessoa que nunca teve sorte na vida tivesse tanta em apenas um dia, mas não importava quantas vezes eu piscava, você não desapareceu e… É você mesmo.

Eu olhei ao redor. Aquilo era algum tipo de pegadinha? Mas como poderia ser? Eu não tinha planejado ir ou estar ali. Ao mesmo tempo era suspeito, quase como se tivessem me atraído para o ministério de alguma forma, e aquilo justificaria. Mas quem se daria tanto trabalho para uma brincadeira sem graça como aquela?

— O que… você… como… tá tudo bem? — As perguntas eram diversas, mas consegui me concentrar o suficiente para proferir uma delas apropriadamente. Ao olhar de volta para ela, Giulietta limpava com a língua a gota de sangue que escapava do seu machucado na boca. Ela riu novamente.

— Sim. — O riso aumentou, assim como o sorriso enquanto ela balançava a cabeça e olhava para cima. — Sim, verdadeiramente sim, depois de todos esses anos, eu… — Ela respirou fundo, como se estivéssemos em um campo de flores e ela sentisse o ar puro pela primeira vez. — Eu não esperava encontrar você aqui. — Disse e foi a minha vez de rir, meu riso, porém, não era tão empolgado quanto o dela.

— Creio que posso fazer a mesma afirmação.

O olhar dela voltou para mim e o sorriso diminuiu consideravelmente. A expressão dela agora parecia gritar arrependimento, desculpas e tantas outras coisas que eu não consegui captar tudo de uma só vez.

— O que… o que você tá fazendo aqui? Como veio parar aqui? O que aconteceu? — As perguntas enfim tomaram forma e saíram todas de uma só vez.

— Férias em família. — Talvez eu devesse sentir alguma coisa sobre aquela afirmação. Raiva? Rancor? Qualquer coisa, mas eu apenas assenti. — Eles finalmente, finalmente, o pegaram. Claro que ele não ficou feliz quando percebeu que o cerco estava fechando e… bem… — O movimento que indicou os machucados foi singelo, mas eu o percebi e então travei o maxilar. — Me trouxeram aqui para depor, seremos enviados de volta a Itália hoje ainda.

Ela não precisou dizer nomes para que as peças se encaixassem, para que as coisas fizessem sentido. Ao que tudo indicava os Bellucci tinham ido à Inglaterra de férias e prenderam o marido dela no ato. Enquanto finalizava o quebra-cabeças, percebi que ela não usava aliança. Eu não tinha uma reação, sequer sabia como reagiria caso tivesse uma.

— Eu sinto muito, James. — Eu definitivamente não esperava aquilo. E uma piscada, lenta, foi o máximo de resposta que eu pude oferecer. — Eu quis ir… fugir com você. Eu tentei. Mas ele… — Ela balançou a cabeça e engoliu em seco. — Ele tinha percebido como eu fiquei na festa e também ficou sabendo que você estava lá, e quem você era. Aquele segurança dele, o que te atacou? A palavra dele começou a valer mais do que a minha e ele me encontrou de mala em mãos pronta para partir. — Ela agora olhava para baixo, envergonhada. — Ele me prendeu o dia inteiro até que… — Ela coçou a garganta. — Até que eu confessasse quais eram os planos. Ele então me levou para onde você estava esperando, mas cuidou para que você não nos visse, e passou a tarde fazendo ameaças a sua vida se eu não… se eu não me comportasse. — Ela respirou fundo, parecendo lutar com o aperto no próprio peito. — Eu não poderia te colocar em risco, não mais do que já tinha, eu simplesmente não podia e… Eu sei que não importa mais, que já faz muito tempo, mas eu apenas precisava que você soubesse.

— Você poderia ter gritado, Merlin! Dado algum sinal, qualquer sinal. Eu teria duelado com ele, daríamos um jeito, você não precisava passar por isso! — As sugestões não adiantavam de nada, de fato fazia muito tempo, de fato não importava mais, mas não consegui ignorar a indignação que a situação toda me causou.

— Eu sei. Assim como sabia que eu pagaria por cada lágrima que derramei ao te ver partindo naquela noite, James. Mas foi uma escolha minha. Eu já tinha te puxado demais para aquela história e ela nunca foi problema seu, apenas meu. Eu errei no momento em que me permiti mergulhar naquilo cegamente com você, eu não podia, não devia, errar mais uma vez. E talvez tenha sido para o melhor. Você está inteiro, bem, eu nunca vou me arrepender por isso.

— Eu amava você, eu estava disposto…

— Eu sei. — Ela repetiu e o singelo sorriso, agora mais triste, lhe enfeitava o rosto novamente. — Eu amei você também. Mas, talvez, a gente tenha se amado por todos os motivos errados. Eu era uma aventura divertida, uma fuga da sua rotina, um algo que fazia seu sangue ferver. E você era a chave das minhas celas, meu grito de liberdade. E você merecia, merece, tanto mais do que a bagunça irreparável que eu sou, James.

— É injusto que você tenha decidido por nós dois. — Eu sabia que a escolha não tinha sido completamente dela, mas, bem, como eu disse eu não estava num humor muito bom aquela manhã e a surpresa e declarações não estavam ajudando a melhorá-lo muito.

— Você a encontrou? — A mudança de assunto desenhou uma interrogação em minha face. — O amor da sua vida, o alguém que realmente mereça os esforços e sacrifícios que você está disposto a fazer.

Eu balancei a cabeça, rindo sem gosto.

— Eu não acho que ela exista. — Apesar da afirmação, uma imagem cruzou minha mente. E eu cerrei os dentes imediatamente.

— Ah, ela existe. E eu acho que você a tenha encontrado. Mas, se não, não desista de procurar, você mais do que ninguém merece um final feliz.

— Acho que já estou grande o suficiente para não acreditar mais nisso. E amar nunca me levou a lugar nenhum, talvez seja o momento de parar por aqui. — Foi a vez dela de balançar a cabeça em negativa.

Ame, ame loucamente, ame o máximo que puder e, se eles lhe disserem que é pecado, ame seu pecado e você será inocente. Você não pode desistir de tentar e ela irá te encontrar antes que você perceba.

— James? — A voz confusa de Dimitri me sobressaltou e eu quase caí dentro da fonte. — O que… Como…? — Claro que o marido, ex, de Giulietta era o mafioso que Dimitri estava tentando prender há anos. Tudo parecia fazer ainda mais sentido agora. — Eu não… sra. Be… Giulietta, me acompanhe por favor, já preparam a chave de portal para você e um curandeiro chegou para tratar seus ferimentos.

— Eu só precisava dizer aquilo. Foi um prazer, James Evans.

— É Potter. — Disse de uma só vez, Giulietta piscou. — James Sirius Potter. Eu descobri seu segredo, é justo que saiba o meu.

Giulietta sorriu brevemente e maneou com a cabeça. Quando ela se virou na direção indicada por Dimitri, eu senti como se uma porta que tivesse ficado aberta finalmente se fechasse. Como se tivesse concluído uma tarefa que eu não conseguia lembrar-me qual era. E eu estava bem.

O abandono injustificado de Giulietta tinha me deixado mal naquela época e apesar de já ter há muito superado a situação, colocar os pingos nos i's e o ponto final naquela história parecia… certo.

— Você espere aí. Eu tenho perguntas. — Dimitri ordenou e partiu na direção que a mulher também tinha ido.

Giulietta virou o rosto para trás uma última vez e nos lábios machucados dela eu compreendi a única palavra dita sem som algum. “Ame”.

Suspirei, virando-me de volta para a fonte e remexendo os bolsos, encontrando uma moeda solta em um deles. Analisei o galeão em minha palma e fechei os olhos. E, enquanto o metal girou no ar, voando de minha mão para a água, o único desejo que preenchia meu coração era aquele sugerido por Giulietta, o de conseguir encontrar aquilo que eu passara a vida toda buscando.

 

Algumas horas depois, quando Dimitri tinha dado abertura em todos os pedidos de transferências e documentos necessários para concluir o caso, ele tirou o restante do dia de folga. Afinal, era domingo e, mesmo ele tendo conseguido a prisão, a maior parte das questões burocráticas não estavam funcionando apropriadamente para ele terminar o serviço naquele dia.

O que indicava que, assim que estava livre, Dimitri e eu fomos matar o tempo no Caldeirão Furado. Meu humor tinha dado uma melhora considerável e a ressaca tinha passado o suficiente para eu ignorar os efeitos de uma noite não dormida, tudo isso para conseguir ser uma boa companhia para meu amigo que estava em puro êxtase com a conquista daquela manhã.

O local estava com movimento mediano e o cheiro forte dos temperos usados para o almoço já fazia diversos dos clientes erguerem as mãos, chamando por Luna, a atendente daquele dia, para anotar seus pedidos. Eu e Dimitri não ficamos de fora e a loirinha logo estava à nossa frente, uma pena e um bloco em mãos anotando tudo que Dimitri pedia.

— E você disse que terá torta de abóbora para a sobremesa, né? Pode me trazer três pedaços dessas. — Concluiu enfim enquanto Luna virava a terceira página do bloco para finalizar os pedidos. — E você, James, vai querer o quê?

Tanto eu quanto Luna olhamos um tanto quanto perplexos para ele. Quer dizer, eu sabia que o cara era um armário e ele precisava comer muito, mas eu claramente tinha me esquecido de que o grandão podia comer o equivalente a uma refeição para uma família de seis, e Luna, com seus incríveis metro e meio de altura, de certo não conseguia conceber a ideia daquele tanto de comida caber no corpo de uma só pessoa, não importa o quão gigante ela fosse.

— Hum… Um steak, algumas batatas gratinadas e cozido de legumes tá bom pra mim.

— Você realmente precisa comer mais, tá ficando todo magrinho. Agora que tem dinheiro dos seus pais pra te sustentar não era pra ser diferente?

— Senhor, eu como o suficiente.

— Só isso mesmo? Se forem querer mais um prato é melhor pedir de uma vez, a cozinha vai ficar bem agitada e pode demorar para sair.

Foi então que eu percebi o tom ríspido de Luna, e como ela olhava em direção às entradas com frequência, parecendo ansiosa. Eu reprimi um sorriso e uma brincadeira, ciente que aquilo não acabaria bem para mim, mas já sabendo exatamente quem ela estava procurando, considerando a atual formação da mesa em que ocupávamos. 

— Ela não vem, Frank. — Garanti e minha amiga fechou a expressão.

— Não estava procurando ninguém, James. — Rebateu Luna, mas eu percebi que seus ombros relaxaram um pouco antes de ela se afastar para atender outro cliente.

Eu ri, bebendo um gole do meu chá de pêssego, enquanto Dimitri a olhava com a testa franzida.

— Mas é uma baixinha muito ciumenta. — Comentou ele, um pouco divertido. 

— Bom, sou eu, é óbvio que ela é ciumenta. Ela não é assim com meu irmão, o namorado dela, mas todo mundo quer um pedacinho de James Sirius Potter só para si.

— Eu dispenso. 

— Dispensa mesmo? Tenho certeza que seu contrato já foi finalizado e, ainda assim, cá está você.

— Só porque você tá pagando. — Dimitri brincou e eu lhe mostrei a língua. — Mas, como eu estava dizendo, Teresa irá se encontrar comigo na Itália, ela estava no meio de uma investigação na Suíça e precisa ajeitar algumas coisas antes de viajar, vir pra cá seria uma perda de… — eu estava ouvindo Dimitri falar, juro que eu estava. Mas ao ver Lisa entrar no Caldeirão Furado foi a minha vez de ficar tenso encarando a entrada.

Eu a vi antes que ela me visse, enquanto Lisa caminhava distraída, olhando para um pergaminho que levava consigo. Usava um macacão jeans tipico trouxa, um tênis branco e uma blusa curta branca. Os cabelos longos caiam em grandes ondas pelas suas costas. Ela ainda não havia me visto e, sinceramente, eu não sabia se queria que me visse. Dimitri ainda falava, mas eu não conseguia acompanhá-lo. Nas últimas horas, graças ao encontro com Giulietta e a manhã acompanhado de Dimitri, eu tinha conseguido me desvencilhar dos pensamentos que me atormentaram durante a madrugada. Como se eles tivessem me levado de volta para o universo em que eu era apenas James e todo o mundo se importava e se afetava com minha existência. A presença de Lisa puxava todos os pensamentos de volta, junto com a lembrança perturbadora de que eu tinha dado em cima dela. E eu não queria lidar com aquilo, fosse o que fosse.

Lisa levantou a cabeça e sorriu na direção de Luna, que estava na mesa do lado agora e eu resmunguei. Não tinha dormido e apesar da minha singela melhora de humor eu sabia, ao menos queria acreditar, que qualquer interação com Lisa me tiraria do sério. Mas se ela me visse eu não teria escolha então precisei pensar rápido e, quando ela chegou perto, eu girei Dimitri para que ele ficasse na minha frente. Ele tentou protestar, mas eu não o deixei.

O movimento repentino chamou a atenção de Lisa e, por baixo do braço de Dimitri, eu vi que ela agora franzia a testa em direção a ele. Dimitri levantou o copo de seu firewhyski em direção a ela, que inclinou a cabeça e depois estreitou os olhos, como se o conhecesse. E se ela o conhecesse não teria como esquecer, o cara era um armário!

— Ei, você é o Dimitri? — Eu não pude evitar de resmungar quando Lisa se aproximou.

— Sou eu? — ele respondeu, meio incerto. 

A expressão dela se iluminou e foi a minha vez de franzir a testa, de onde ela conhecia o meu melhor amigo? Aquilo parecia algum tipo de violação da minha privacidade.

— Eu sou Lisa, amiga da Teresa! Já ouvi falar tanto de você! — Ah. aquilo fazia sentido. Mesmo que tivessem substituído uma a outra durante o intercâmbio, depois que Teresa veio para a formatura ela e Lisa se tornaram boas amigas e, aparentemente, ainda mantinham contato.

— Ah! — respondeu ele, parecendo se lembrar dela. — Claro, Lisa! A garota que a mãe dela chama de filha, né? — Eu podia sentir o sorriso dele em sua voz. — Já conhece o meu amigo James?

Meu amigo traidor me deixou à vista de Lisa. Seu olhar se dirigiu para mim, erguendo uma das sobrancelhas. E, ok, eu não podia negar que ela estava tão bonita quanto na noite anterior, mesmo sem o vestido chique ou a maquiagem. E eu me condenava por achá-la bonita, o que me fez rosnar, sim, rosnar, quando Dimitri revelou minha presença. Ela era Lisa! Lisa não era bonita, não era sequer atraente, era só… a Lisa. E o fato de que eu estava me segurando para não flertar com ela estava me irritando absurdamente. Além de que eu ficava precisando me lembrar constantemente de que ela namorava.

— Foi meu parceiro no quadribol em Hogwarts — ela me olhava enquanto respondia Dimitri. — O que faz escondido aí, Potter? — perguntou com um sorrisinho malicioso nos lábios, fazendo com que eu ficasse ainda mais irritado.

— Testando o quanto Dimitri é alto e largo. É dever dele me proteger, sabia? Meu pai pagou. — Falei, com o mesmo sorrisinho nos lábios, enquanto Dimitri resmungava ao meu lado. Estreitei os olhos para ele, que me encarou da mesma forma. Vingança por ele ter feito que Lisa me visse. A risadinha de Lisa que nos tirou da nossa conversa silenciosa.

— Parece que tem uma história muito mais complexa por trás deste contrato. — Ela comentou, divertida. — Mas preciso ir. Muito prazer, Dimitri. Boa sorte com esse daí — apontou para mim com o queixo. — A gente se vê de novo, James — sua voz era divertida e suave, como se ela estivesse achando graça de tudo.

— Lisa! — Eu quem tinha a chamado, e eu franzi a testa para mim mesmo quando ela se virou, esperando o que eu tinha para falar. — Eu acho que só falta você, de todas as pessoas da minha vida, para eu colocar o assunto em dia. Que cê acha da gente tomar uma bebida para que eu possa contar as incríveis crônicas da minha vida pelo mundo? — Lisa arqueou as sobrancelhas, parecendo surpresa.

— James Sirius Potter querendo passar tempo comigo?

— Quer saber? Esquece. Todo esse tempo fora me fez esquecer a idiota que você é. — Lisa riu e eu entortei a boca.

— Agora eu não posso, mas abriu um novo pub no beco horizontal. Hoje às sete?

— Tanto faz.

— Marcado então, James.

Lisa seguiu, falando algo com Luna que eu não consegui escutar antes de seguir para a saída dos fundos do caldeirão. Eu resmunguei como um velhinho chato e logo percebi que Dimitri me encarava, uma sobrancelha arqueada.

— Eu sempre soube que você está disposto a me trocar por um rabo de saia a qualquer momento, mas isso foi rude, a gente já tinha pedido almoço.

— Quê?

— Você chamando ela pra um encontro bem na minha frente, ignorando meus sentimentos. — Ele brincava, mas eu voltei a resmungar.

— Não chamei ela pra um encontro, ela tem um namorado e ele tem vinte e sete tatuagens. Acredita nisso? Vinte e sete! O Fred me contou isso ontem. Eu acho que faria uma ou duas tatuagens, deve ser legal, mas vinte e sete?? — Aquele não era o motivo pelo qual eu não chamava Lisa para um encontro. — E ela é insuportável. Só uma amiga. Sinceramente? Nem isso. Acho que foi só o choque de tê-la visto, na época da escola eu não via a hora de me livrar dela e agora eu quero botar o papo em dia. Ha. Deve ser o excesso de sono me deixando maluco.

— Bom… se você diz.

Com Dimitri dando de ombros, eu forcei o assunto a voltar para o sucesso na missão de anos dele.

 

Após o almoço com Dimitri o cansaço tinha finalmente levado a melhor e eu voltei para casa, aproveitando a tarde para tirar um merecido cochilo.

Quando a conversa animada — e desnecessariamente alta — de Lily com mamãe sobre a ausência da bancada na cozinha me acordou, o céu do lado de fora já estava todo escuro. Eu cocei os olhos, meio perdido, e me arrastei para a cozinha, as ruivas interromperam a conversa para me encararem.

— Que horas são? — Eu propositalmente ignorei os olhares que indicavam que elas planejavam fazer com o meu rosto o mesmo que eu havia feito com a bancada. Aparentemente nem o feitiço Reparo havia funcionado e minha mãe teria de comprar outra, furiosa por ter que gastar dinheiro assim. Como se ela não fosse rica.

— Quase oito. Você realmente devia procurar um emprego. — Lily respondeu. E eu poderia ter entrado em um embate com minha irmã sobre como eu estava investindo no meu futuro, mas meus olhos voaram para o relógio, confirmando que já tinham passado bons minutos depois das sete e meia, e eu despertei de repente.

— Merda!

— Bom, ninguém é muito fã, mas é neces…

Ignorei as falas de Lily — e o xingamento de minha mãe quanto ao meu palavreado — e disparei escadas acima, a fim de trocar de roupa. Lisa tinha combinado de se encontrar comigo às sete horas e talvez fosse melhor eu nem me dar mais ao trabalho, mas eu ainda tinha honra e precisava pelo menos tentar. Enfiei a primeira camisa que encontrei na cabeça e desci as escadas ainda calçando os sapatos. Quando questionado sobre onde eu estava indo, apenas respondi que logo eu voltava e então desaparatei no beco indicado pela mulher horas antes.

A rua era extensa e eu tinha aparatado logo no comecinho dela. Como não sabia a localização exata, achei melhor procurar por todo o local e tive a má-sorte de o pub em questão estar localizado literalmente na última esquina possível, com alguns balões e luzes que celebravam a inauguração do local. Ao entrar, vi em um relógio pendurado na parede que já eram oito da noite e, ao mesmo tempo, vi uma mulher mediana, com os cabelos cacheados volumosos e uma expressão irritadíssima deixar algumas moedas sobre o balcão e se levantar. Eu corri até ela.

— Eu sinto muito, dormi mais do que a cama, vim correndo assim que percebi a hora. — Minha respiração entrecortada e a voz de quem claramente havia acordado há pouco tempo foram o suficiente para que Lisa ao menos desacelerasse os movimentos.

— Ok. Mas por que eu deveria continuar aqui depois de você gastar uma hora da minha vida? Eu sou uma mulher ocupada, sabia, James?

— Eu sei, me desculpa, E você não deveria. Só não queria correr o risco de você só achar que eu sou um babaca que marca as coisas e não cumpre. — Lisa me analisou por um segundo, que se estendeu quase como uma hora, mas enfim bufou e revirou os olhos, sentando-se novamente.

Eu ocupei o assento ao lado dela e então, pelos minutos seguintes, o silêncio dominou o espaço entre nós.

— Ok, isso é estranho.

— Sim?! O que a gente tava pensando?

— Não tenho ideia.

— Acho que é memória afetiva. A gente não se via há tanto tempo e no fundo da nossa mente a gente sabe que andava junto, às vezes, daí pensamos que talvez isso fosse uma coisa que fizesse sentido. — Ela tentou explicar e eu ri, balançando a cabeça.

— A gente não era amigo mesmo, né? Só colegas que se suportavam pela felicidade de Dominique.

— E uma ótima dupla no quadribol. — Ela concordou rindo, e eu não pude deixar de rir também. — Teve aquela única vez, porém, quando a gente inventou de ver Smallville juntos?

— Eu tenho absoluta certeza que você só se rendeu ao meu charme, mas que a priori você não queria isso. — Ela revirou os olhos.

— Claro, porque você era insuportável. Mas acho que nessa época a gente quase fingiu que éramos amigos. Apesar de nunca termos terminado.

— Nós nunca terminamos? — Perguntei chocado e ela balançou a cabeça.

— Depois você foi emendando uma mulher na outra e combinando com isso de desaparecer no mundo, então não é como se tivéssemos tido tempo.

— Oh… A gente devia terminar qualquer dia desses.

— Você tá falando sério?

— Eu tô… quer dizer… Eu quero saber o que… como vai sua vida, Elisabeth? — Ela riu, era para aquilo que tínhamos ido ali, afinal.

— Para ser sincera, eu não acho que tem muito o que contar. Depois da formatura eu mergulhei de cabeça no mundo trouxa, tinha cismado que queria virar advogada lá então corri atrás das aulas e provas perdidas, me dediquei dois anos inteiros para conseguir entrar numa faculdade e, quanto consegui, percebi que aquilo não era exatamente o que eu queria. — Ela deu de ombros. — Claro que eu não tinha me afastado completamente do mundo bruxo, com Stephen solidificando a carreira no quadribol e tudo o mais, mas eu sentia falta de passar mais tempo aqui, sabe? E para ser bem sincera com você eu ainda não tenho muita certeza do que quero fazer da vida. Já consegui alguns trabalhos em diferentes níveis do ministério, mas nada parece o certo ou ideal e na maior parte do tempo eu só viajo com o Stephen, ele está jogando por um time na Noruega e durante a liga europeia ele não para quieto em um lugar só, mas estamos pensando em nos mudar de vez para lá, já que inevitavelmente ele passa mais tempo em Oslo que em qualquer outro país e talvez isso esteja me impedindo de fixar em uma carreira por aqui. Enfim, como eu disse, nada de surpreendente, você com certeza viveu muitas aventuras mais do que eu.

— Bom, acho que aventuras é de fato uma forma de classificar minhas experiências de quase-morte. — Lisa arregalou os olhos um pouco, eu ri. — Foram anos… intensos… Depois de toda a situação com Saphira eu passei uns bons meses tentando me juntar a ela, indiretamente, e não foi exatamente fácil. Se não fosse por Viola... Acho que você não conheceu ela, né? Mas enfim, ela salvou a minha vida. Certamente você vai odiar ela, deve ter ficado bem decepcionada quando viu que eu não tinha morrido todos esses anos.

— Na verdade... eu sempre soube que você estava vivo.

Lisa disse aquilo com tanta convicção que eu fiquei um pouco surpreso, ela notou, mas ocupou-se pedindo uma dose dupla de bebidas enquanto eu processava toda aquela certeza.

— Como? Nem meus pai… quer dizer, meu pai sabia, mas ele tinha pagado pessoas para me vigiar. Você pagou alguém para me vigiar?

— Seu pai o quê? E não… não exatamente. — Eu arqueei uma sobrancelha.

— Longa história, mas eu tô mais interessado em saber da sua.

Lisa revirou os olhos e riu, e quando a bebida chegou, ela tomou um longo gole, esperando que eu continuasse o assunto. Logo ficou evidente que eu não falaria nada até que ela explicasse o que estava tentando dizer e, por fim, suspirou.

— Você provavelmente não sabe disso, mas eu fui no enterro dela. — Lisa decidiu que precisava de mais um gole antes de continuar e virou todo o copo de uma só vez. — Eu não sabia exatamente o porquê, ela claramente não iria me querer lá, mas… eu sabia que você precisava de algum apoio, sabe? Um rosto amigo. Então eu fui. Mas não consegui encontrar coragem para entrar. Então fiquei do lado de fora.

— Tava chovendo bastante naquele dia… — Lisa assentiu.

— Eu poderia ter ido embora, não faria diferença, afinal. Mas não consegui. Sabia que não estava ajudando em nada, mas continuei ali. Eu tinha um guarda-chuva. E enquanto eu estava ali, bem, você apareceu. Sozinho, destruído. E a chuva de fato estava forte, eu quase não conseguia te ver, mas eu soube que era você.

A lembrança veio de repente. A silhueta feminina por trás das grossas gotas de chuva, encostada em um carro, com um largo guarda-chuva sobre a cabeça, que parecia olhar diretamente pra mim. Na época eu não me dei o trabalho de me importar com aquela presença, mas saber que era Elisabeth ali era… diferente.

— E em segundos você desapareceu. Eu sabia que te deixar sozinho não era uma boa ideia então eu corri até onde você estava e… eu meio que senti o seu… rastro? Eu não sei explicar, mas eu sabia para onde você tinha ido, como se você tivesse deixado uma trilha para trás, como se você quisesse que eu... Fosse atrás de você. — Ela ergueu os ombros e ao tentar tomar mais um gole percebeu que o copo estava vazio, então pegou o meu. — E foi isso que eu fiz. Enfeiticei meu guarda-chuva em uma chave de portal e fui atrás de você até a Austrália. Sinceramente, até hoje eu não sei como você conseguiu aparatar para outro continente sem perder um membro vital, mas enfim. E lá estava você, destruído, lidando com uma perda que você nunca tinha sentido antes e… eu reparei que não era a pessoa certa para estar ali. Eu não sabia o que fazer, e com certeza não era a amiga que você precisava, então eu te deixei lá, para encontrar sua cura, para viver o que precisava para superar aquilo. — Ela ergueu os ombros. — Mas eu também não podia só… te abandonar lá. E aquele rastro? Ele continuou forte. Quando eu voltei na Austrália, algum tempo depois, eu soube no mesmo momento que você estava na Escócia. E quando fui para a Escócia saber onde você estava eu te vi com uma garota de cabelos azuis, aparentemente bem. E depois na Bulgária, Itália, Grécia… aparentemente eu nunca cheguei quando as coisas estavam tão ruins, mas eu sempre sabia onde te encontrar em algum momento e eu sabia que você estava vivo.

Eu estava evidentemente em choque e quando Lisa pediu mais um drink, indicando que não tinha mais o que dizer, pisquei algumas vezes, processando o que ela tinha dito. Eu nunca tinha propositalmente deixado nenhum rastro para trás, pelo contrário, sempre fiz questão de me proteger de todas as formas a fim de garantir que ninguém fosse me encontrar. Então o fato de Lisa saber exatamente por onde eu tinha passado, na ordem de por onde eu tinha ido, quando eu não contei nada disso para ela, era, no mínimo, surpreendente.

— Uau, Lisa, eu não sabia que você era assim tão apaixonada por mim.

Ela riu e me empurrou com o ombro, aproveitando para beber um pouco mais. E daquela vez eu também precisei de alguns goles.

— Sabe o que é mais engraçado? Houve uma época que eu realmente tive um crush em você. — Ela revirou os olhos, parecendo se envergonhar da própria lembrança, mas ainda ria. — Acho que foi pouco depois de eu voltar do Brasil, claro, antes de começar a namorar Stephen. Mas era tão patético e previsível que eu me recusei a assumir isso na época. Agora só é divertido. Ridículo, não é? Pode rir da minha cara se você quiser.

E eu ri, muito. Recebendo mais alguns empurrões de Lisa pelos minutos seguintes. Logo ela conseguia retomar as rédeas do assunto, me fazendo contar mais detalhes sobre meu tempo fora e, assim, as horas passaram, conosco de fato colocando o papo em dia e eu, pela primeira vez em toda minha vida, vendo Lisa verdadeiramente como uma boa amiga. Uma amiga que tinha, afinal, se preocupado com meu bem-estar. E que tinha respeitado meu momento e privacidade o suficiente para me deixar viver minha vida como eu bem quisesse. E eu descobri, ao longo da noite, ser extremamente grato a ela por aquilo.

 

(...)

 

A conversa que eu tive com Lisa permaneceu em minha memória durante todo o dia. Quero dizer, eu me distraía com algo e depois a minha mente dava um estalo e eu lembrava do nosso encontro. Algumas coisas ficaram mais em evidência, como o sorriso e o revirar de olhos dela... mas a maior parte era o que ela havia dito. Mas, não. Impossível. 

Balancei a cabeça, refazendo o laço na cesta semanal de Freya, que a barriga já estava quase no tamanho de uma melancia. E, da última vez que eu a vi, a delicadeza de um espinho daquela grávida quase me fez querer arrancar seus olhos. Sério, algumas pessoas não sabiam amadurecer e ela “fazer parte” da minha família me deixava estressado. Entretanto, eu fazia tudo aquilo pelo meu primo, porque alguém tinha que dar uma educação correta para aquela criança. De alguma maneira.

Passei as mãos nos cabelos, tendo outro estalo de memória e, dessa vez, era Lisa tomando um shot de vodka pura no bar. Eu não sabia que tinha captado o movimento dela bebendo o drink, mas, aparentemente, meu cérebro sim. E, Merlin, foi sexy... James, por favor, deixa de ser um idiota! Balancei a cabeça pela segunda vez em poucos segundos, até que reparei o movimento de alguém vindo em nossa direção. Fred, por incrível que pareça,  estava calado. Eu olhei para cima e vi Dominique parando na entrada da sala.

— Está decidido. Nós vamos tirar férias — ela comunicou e eu ergui uma das sobrancelhas.

— Eu já estou de férias, lembra? — falei, rindo junto com meu primo. Dominique revirou os olhos, enquanto eu desviava o olhar para finalizar a cesta.

— Tá, eu e o Fred vamos tirar férias junto com você — ela reformulou a frase, mas algo na sua pausa me fez olhá-la outra vez.

— Tem mais coisa aí… — disse Fred, se recostando no sofá. 

— Então... Lisa descobriu que eu não a esperei para dar uma festa no meu aniversário. E está puta. — Minha prima deu um sorriso amarelo, enquanto meu pulmão pulava uma inalação. — Por isso, resolvemos tirar uma semana de férias... na casa de campo dos pais dela.

O momento não era tão propício quanto eu queria que fosse. Eu não podia passar sete dias na presença de Elisabeth. Quero dizer, eu queria passar sete dias com Lisa, só não podia, justamente por sequer considerar querer aquilo. Abri a boca para discutir com Dominique, mas ela fez um gesto para eu calar a boca.

— Não está em discussão — ela interrompeu.

— Olha, honestamente, eu não estou nenhum pouco a fim de segurar vela — argumentei, cruzando os braços. O sorrisinho que Mini deu fez-me olhá-la desconfiado.

— Stephen não vem. Parece que o substituto se machucou muito feio e nosso garoto Thomas teve que deixar as férias dele para voltar à Noruega. — Respondeu ela.

Bem, isso mudava um pouquinho as circunstâncias. Mas o que eu faria? Eu a olhei novamente, que tinha uma das sobrancelhas erguidas, como se eu não pudesse ousar contra-argumentar. Suspirei e assenti. Na realidade não fazia sentido eu estar tão relutante em ir. Eu e Lisa tivemos uma conversa muito amigável, uma conversa que não saía da minha cabeça, por mais que eu me distraísse. Nada demais. Seriam férias tranquilas eu tinha certeza.

— Ok, ok — respondi, rendido. — Pelo menos eu sei que terá uma jacuzzi me esperando.

Dominique bateu palmas e eu olhei para o namorado dela que, em nenhum momento, veio ao meu socorro.

Revirei os olhos e me levantei. A Toca estava cheia naquele dia, como em algum tempo não ficava; com todos trabalhando, só sobrava eu sem fazer absolutamente nada. Talvez, com essa uma semana pela frente eu pudesse ter alguma ideia para a minha poção ou pudesse me divertir um pouco.

— Quando iremos? — perguntei, passando as mãos nos cabelos.

— Amanhã de manhã, às oito... Chave de portal, no Caldeirão Furado — respondeu Mini.

— É melhor arrumarmos as nossas malas, nesse caso — Dominique assentiu e sorriu, animada. Não sei da onde ela tirava toda aquela empolgação, mas era melhor eu me preparar para dias de luta.

 

Não dormi direito outra vez. Mas, pelo menos, não madruguei como no dia do casamento de Teddy e Victoire. A ansiedade estava me matando e eu não fazia ideia do motivo. Por alguma razão, eu havia chegado em casa no dia anterior e feito as malas na mesma hora em que pisei no quarto. Minha mãe viu que eu estava fazendo as malas e se desesperou. Levei horas para convencê-la de que eu iria apenas passar uns dias com Fred, Mini e Lisa. Tive que pedir ajuda para o meu pai para tranquilizá-la.

Malas feitas e eu acordado, mais acordado do que eu deveria estar, mais ansioso do que nunca sem razão aparente, eu aparatei para o Caldeirão Furado, sem tomar café. Assim que entrei no restaurante, que estava vazio àquela hora, vi Lisa já a nossa espera. Ela me olhou e sorriu. “Eu realmente tive um crush em você.” As palavras dela ecoaram em minha mente outra vez, pela centésima vez, para ser mais exato. Hoje, ela usava uma calça comprida preta, um tênis branco e uma blusa,  da cor mustarda, de mangas compridas. Ela não usava sutiã com bojo, eu sabia disso porque dava para ver que ela estava com um,  mas os bicos de seus seios estavam aparentes. Meu Deus.

Disfarcei, abrindo um sorriso e engolindo em seco antes de chegar perto dela. Foi um maldito crush mais de uma década atrás James, ela está em um relacionamento feliz e você tá gastando tempo demais pensando nisso. Não importa que ela está bonita, supera.

— Você está adiantado — ela cumprimentou-me, quase me assustando ao puxar-me para a realidade para longe da bronca que eu dava em mim mesmo. — Bom dia, James — Disse suavemente. Sem Potter. Sem rispidez. Se ela ainda fosse a Lisa que eu sempre conheci, talvez a minha reação estivesse sendo outra.

— Menos uma coisa para me criticar, hein — respondi e eu tirei isso da onde, Merlin?! Lisa franziu a testa, mas eu dei uma risada nervosa. — Bom dia, Leãozinho — minha voz saiu um pouco mais... carinhosa?

— Você é esquisito — Lisa observou, mas sorriu.

O que era aquilo? O que eu tinha comido na noite anterior que estava me dando aquela… azia? Decidi esquecer, bem na hora que Fred e Dominique chegaram. Graças a Deus. O Caldeirão estava basicamente vazio, mas uma das irmãs de Luna se encontrava atrás do balcão folheando alguma revista trouxa qualquer. Parecia entediada.

Voltei o meu olhar para os meus primos, que estavam caminhando em nossa direção de mãos dadas. Ao meu lado, ouvi Lisa suspirar, me fazendo desviar o olhar deles para olhá-la.  Ela revirou os olhos e, quando reparou que eu a estava olhando, piscou um olho que me fez sustentar o olhar dela. Lisa apontou com o queixo para os meus primos e eu ri, balançando a cabeça. Merlin, o que estava acontecendo?

— Estão atrasados — leãozinho os cumprimentou, cruzando os braços. Não olha para a blusa dela, James. Não olha.

Imediatamente, o rosto de minha prima assumiu um tom de vermelho, o que me fez não querer saber o que ambos estavam fazendo antes de vir para cá.

— Oi para você também Elisabeth — disse Fred, com um sorrisinho. Lisa revirou os olhos outra vez.

— Vamos logo — Lisa o ignorou e mostrou uma bolsa velha. Ela agitou a varinha e nos olhou. — Segurem!

Nossas mãos alcançaram a bolsa e logo nós fomos sugados por um gancho em nossos umbigos para dentro de uma espiral. Não demorou nem dez segundos. Nós giramos e, então, estávamos sob uma luz brilhante. Aterrissamos sem nenhum problema num jardim muito bem cuidado. Quando me virei para frente, minha boca abriu-se.

Diante de mim encontrava-se uma imensa mansão. Quando Mini disse que era uma casa de campo, eu não imaginava que seria uma grande casa de campo. Ela era rústica, feita de pedras, com várias janelas que iam do chão ao teto, plantas decoravam as paredes em volta da casa. A porta da frente, para qual meus primos e Lisa já se dirigiam, devia ter uns dois metros de altura, toda de vidro com detalhes em madeira. Eu podia ver lá dentro. A mansão tinha dois andares, com um deck no segundo andar. Se a frente era assim, imagina por dentro e nos fundos. 

Lisa já abria a porta para que pudéssemos entrar e foi só quando ela me chamou que eu percebi que eu ainda estava parado, embasbacado, observando os detalhes do lugar. Me apressei e corri com a minha mochila nas costas — havia enfeitiçado para que coubesse tudo dentro dela. A brisa estava um pouco fresca demais enquanto eu ultrapassava a imensa porta. E, se eu tinha ficado admirado com o lado de fora, o que havia dentro era ainda mais impressionante. O hall se abria para nós, que deixamos os nossos sapatos em um espaço destinado a eles, o cheiro de mobília nova invadia as minhas narinas e era tão... clean, que nem parecia que era uma casa de campo. As paredes eram de um cinza claro, com as imensas janelas cobertas por cortinas claras dava um ar chique para o ambiente. E isso era apenas o primeiro cômodo da casa.

Eu segui Lisa e meus primos, que deveriam estar acostumados a irem ao lugar, pois andavam pela casa como se já tivessem passado vários dias ali. Me perguntava se Stephen também sempre se juntava a eles, à imensa lareira que havia na sala. 

Lisa foi a educada da rodada e se dedicou em me apresentar o lugar. Assenti, enquanto ela andava apontando para cada cômodo. Chegamos à cozinha e eu fiquei, mais uma vez, impressionado. Todo o teto era feito de vidro, captando o máximo de luz possível. O vidro descia até formar a janela. As bancadas, a pia, os armários eram todos de madeira clara, mas com aspecto meio rústico. Os pais de Lisa tinham bom gosto. E muito dinheiro.

— No segundo andar, ficam os quartos — ia dizendo Lisa, subindo as imensas escadas. Eu a seguia, reparando em tudo. Ela apontou para o quarto que ficava logo no início. — Suíte dos meus pais, meu quarto — apontou para um quarto que virava o corredor —, o de Fred e Dominique. E... o seu — completou, abrindo uma porta no final do corredor. E o quarto era maior do que o meu!

Tinha uma cama de casal, um armário e uma televisão. Havia uma porta, que Lisa explicou ser um banheiro. Eu coloquei a mochila em cima da cama e afundei no colchão.

— Eu tinha me esquecido que você era muito rica — comentei e Lisa riu, encostada no armário, de frente para mim.

Eu não sou rica. Meus pais são — esclareceu ela, ainda com um sorrisinho. — Mas eu tiro um proveito de vez em quando. — Maneou a cabeça de um lado para o outro. — Bem, acho que já está familiarizado com o ambiente. Vou deixar que se acomode e depois desça, vamos tomar um sol na piscina antes de almoçar.

Ela saiu e eu quase imediatamente fui atrás, querendo mais de sua companhia... o quê? É sério, eu estava ficando louco. Balancei a cabeça e me levantei, arrumando as minhas coisas no armário, depois indo até o banheiro, colocando um calção de banho e descendo em seguida. Passando pelo corredor tinha um hall aonde um imenso sofá branco estava disposto, com almofadas espalhadas por todo ele. No chão, um tapete persa se estendia e, na parede, um telão, em que, abaixo, um hack ficava com aparelhagem de som e outras coisas trouxas que eu não sabia o que eram. Então meus olhos se voltaram para a grande porta de correr feita de vidro, provavelmente uma passagem para o deck ali em cima. 

Impressionado, desci as escadas, um tanto perdido. Ela não me disse onde era a piscina, bacana. Andei ainda mais pela casa, parando em frente a uma porta grande. Eu a abri e vi um mini salão de festas vazio; assenti, fechando a porta e seguindo sem rumo até encontrar a porta certa. Era de correr também, mas o local era todo em conceito aberto e dava para ver o lado de fora. E ouvir as risadas dos meus primos na piscina. E foi aí que eu percebi que eu não tinha aproveitado algumas coisas com eles. Suspirei e saí para o sol ameno que fazia naquele dia.

Assim que eu pisei do lado de fora, vi Lisa em uma das espreguiçadeiras, com óculos de sol e um biquíni que me fez perder o fôlego. Pisquei e balancei a cabeça, engolindo em seco. Eu estava perdendo o juízo! Era a Lisa ali. “Você deixava um... rastro”, a voz dela voltou a preencher a minha mente. Merlin, o que aquilo queria dizer?! E o que eu estava fazendo?! Minhas mãos estavam suadas, eu sentia um frio anormal em meu estômago só de pensar em nossa conversa.

Lisa percebeu que eu estava parado ali e abaixou os óculos, eu rangi os dentes, desviando o olhar sem nem mesmo pensar no porquê daquilo. Eu estava começando a ficar irritado com aquela situação, fosse lá o que fosse. Ouvi Lisa me chamando, mas, felizmente, Fred me chamara ao mesmo tempo, então eu sorri para ele e resolvi fazer o que qualquer homem maduro faria naquela situação: corri e dei um pulo estrondoso na piscina, espalhando água para tudo o que era lado.

— Potter! — ouvi Lisa me repreender, enquanto eu jogava meus cabelos para os lados ao emergir.

— Ora, leãozinho, sei que felinos não gostam muito de água, mas é preciso baixar a juba de vez em quando — impliquei e Lisa deu uma risada descrente, colocando os cabelos soltos e molhados para trás.

— Você é impossível — ela disse, sem rebater nem nada.

Ok... isso era estranho. Elisabeth que eu conhecia jamais ficaria sem rebater algo que eu dissesse. Eu a vi levantar, se virando e deixando à mostra a tatuagem colorida de um dragão, e deixar os óculos em cima de uma mesa na cozinha gourmet que tinha ali. Essa casa não cansava de me deixar de boca aberta. Lisa passou as mãos nos cabelos outra vez e mergulhou na piscina de modo elegante, sem espalhar água como eu.

Fred veio até mim, enquanto eu observava Lisa nadar com graciosidade para o lado de Dominique.

— Precisa disfarçar mais, James — comentou ele, encostando na borda. Eu o olhei, franzindo a testa e meu primo ergueu as sobrancelhas na direção de Lisa.

— Fala sério, Fred — revirei os olhos, fazendo pouco caso do que meu primo havia dito, como se aquilo fosse um absurdo. — Você tá vendo coisa onde não tem.

— Eu tô falando. Eu sei que Lisa é incrível, ela sempre foi, mesmo que você nunca tenha se dado ao trabalho de notar. E eu te conheço, mesmo você tendo passado todos esses anos longe. Ela é comprometida, James, há anos, e ama o namorado. Eu sei que você odeia não conseguir algo que você deseja, mas Lisa não é uma garota que você pode usar e descartar antes de seguir sua vida e você vai ter que lidar com o fato de que não é apenas porque ela está bonita que vocês deveriam ficar.

Eu pisquei atordoado. Sinceramente, nem mesmo quando Fred tinha me pegado de porrada eu fiquei tão desconcertado. Ele tinha dito e implicado muita coisa em poucas palavras e eu tinha muitas respostas a dar, mas as garotas estavam perto e eu precisava conter meu tom de voz.

— Você não sabe de nada, Frederic. Eu posso estar um pouco chocado com como os anos fizeram bem a Lisa? Ok, posso, mas é isto. Eu não desejo ela e eu nunca, nunca, apenas a usaria como um meio para fim. Você sabe disso, já me envolvi em uma briga antes por essa garota pelo mesmo motivo, então me respeite e respeite ela um pouco mais.

Fred respirou fundo, balançando a cabeça. 

— Eu só quero dizer que isso não tem futuro e não vai pra frente, meu velho amigo. Você quer um amor para toda vida e não vai encontrar isso nela, então aproveita que estamos aqui, dá um mergulho e esfria a cabeça, logo, logo você esquece disso.

Dito isso Fred se afastou para aproximar-se das meninas e eu segui o conselho dele. De fato dei um mergulho a fim de esfriar a cabeça, mas eu definitivamente não iria, nem mesmo conseguia, esquecer nada daquilo que Fred tinha falado, principalmente porque agora eu estava um pouco mais ciente de que minha… percepção quanto a beleza de Lisa era de conhecimento geral.

 

Quando o sol começou a subir demais no céu, nós voltamos para dentro da casa a fim de começar a preparar o almoço, apenas para descobrir que não tinha absolutamente nada disponível na geladeira ou armários da casa. Lisa mordeu os lábios, em uma risadinha culpada, e eu me peguei encarando aquela região antes de piscar e voltar o olhar para minha prima.

— Ninguém me avisou que passar fome estava nos planos. — Resmunguei para Domi, mas Lisa foi quem respondeu, forçando-me a olhá-la de novo.

— Foi minha culpa, desculpa, meus pais avisaram que não tinha nada aqui, eles não vinham há um tempinho pra cá, sabe? Mas esqueci de fazer compras.

— Então não tava nos planos, mas agora tá?

— Nós podemos ir comprar, James. — Fred interveio e devo dizer que ele estava incrivelmente calmo considerando toda a situação.

— Ah, mas não podem não. — Dominique finalmente se pronunciou. — Dois homens fazendo mercado juntos é quase um prenúncio de tragédia. — Aquela era uma fala extremamente patriarcal para minha prima, o que me fez franzir a testa para ela que, inabalada, prosseguiu sua linha de pensamento. — Considerando a forma como James falou comigo minutos atrás se eu ficar sozinha com ele é possível que eu o mate, deixar vocês dois pra trás não é uma opção, muito menos ir todo mundo junto — não tem necessidade disso —, além do que, se Lisa sair e deixar gente pra trás não é muito cortês, a casa é dela, então iremos Fred e eu.

Ela tinha construído aquela frase rápido demais para que ela tivesse considerando todos aqueles cenários em poucos segundos. Eu teria olhado desconfiado para ela, mas os olhos ligeiramente arregalados de Elisabeth chamaram minha atenção, e logo eu percebi que Dominique mantinha uma sobrancelha arqueada e que as duas claramente mantinham uma conversa muda da qual eu e Fred estávamos sendo propositalmente deixados de fora

— Ótimo! A gente já volta. — E, sem mais delongas, Mini puxou Fred para fora da casa, largando Lisa e eu para trás.

Lentamente virei-me na direção da anfitriã, que fuzilava com o olhar a porta por onde Dominique tinha passado. Eu não demorei a perceber que Lisa não tinha se livrado do biquíni ainda, tendo apenas acrescentado uma espécie de saída de praia ao conjunto colorido e meus olhos logo caíram para um pouco mais abaixo do pescoço de Lisa. Quando Lisa virou-se completamente para mim, eu dei um pulinho de susto e tenho certeza que minhas bochechas queimavam, como se eu fosse um adolescente que tinha sido pego fazendo algo errado.

— Então… 

— Acho que vou aproveitar para tomar um banho. — Apressei-me em dizer, conseguindo encontrar alguma dignidade para olhá-la, que balançava a cabeça positivamente.

— Claro, tirar o cloro do corpo, uma ótima ideia.

— Eles não devem demorar muito.

— É, e quando eles chegarem já estaremos prontos para comer.

— Ótimo.

— Ótimo.

 

Eles demoraram. Muito. Depois da estranha interação na cozinha, Lisa e eu seguimos por caminhos distintos, ainda que eu tivesse me perdido um pouco na casa e tenha trombado com ela uma outra vez a caminho do meu quarto. Eu demorei bastante no banho. Lisa tinha esquecido de comprar comida, mas o banheiro estava cheio de produtos para cuidados pessoais, então eu me dediquei no autocuidado aquela tarde. Tomei um longo banho gelado, lavei os cabelos e cheguei até mesmo a usar uma máscara gelatinosa no rosto, além de tê-lo esfoliado. Eu dediquei uma quantidade considerável de tempo revirando cada gaveta daquela suíte, tentando matar o tédio, mas quando percebi que Dominique e Fred ainda não tinham dado sinal de vida — e provavelmente não dariam tão cedo — eu  desci de volta para a cozinha, resmungando. 

Tinha aberto o primeiro armário quando a voz de Lisa ecoou pela casa vazia.

— Eu estou morrendo de fome e se eu não encontrar nada para comer agora mesmo eu não sei o que será de mim.

— Bom, somos dois. — Ergui a cabeça e Lisa pareceu surpresa em me ver ali, mas não disse nada.

— Se aqueles dois não estiverem mortos, eu irei matá-los. — Ela contornou a ilha e parou às minhas costas, se erguendo na ponta dos pés para abrir os gabinetes de cima, eu tentei manter minha concentração na minha busca.

— Somos dois. — Voltei a concordar, vasculhando entre as vasilhas e panelas.

Elisabeth não disse mais nada, mas começou a fazer barulhos de esforço e ao olhar para trás eu percebi que ela estava dando pulinhos para tentar enxergar dentro do armário escolhido. Eu sufoquei uma risada.

— Vamos fazer assim… por que eu não olho esse aqui e você vasculha os de baixo? — Apesar de ter me olhado irritada, ela silenciosamente concordou com minha sugestão ao fazer exatamente o que eu tinha dito, então eu apenas sorri e assumi o lugar em que ela estava. Acabei eu próprio ficando um pouco na ponta pé, eu não era a pessoa mais alta do mundo, Lisa que era evidentemente mais baixa que a maioria, e, quase desistindo, eu percebi a ponta de uma caixa mais para o fundo do armário.

Puxei a varinha e atrai o objeto para minhas mãos. Analisei a caixa avermelhada por um longo segundo e, então, dei uma gargalhada.

— O que foi? — Lisa perguntou.

— Eu achei… algo. Não sei se algo que a gente possa comer, mas algo. — Expliquei, colocando o kit mata-aula, um dos produtos mais vendidos das Gemialidades Weasley, sobre o balcão. 

Lisa arregalou os olhos, não perdendo tempo em vasculhar o interior do objeto, que de fato estava recheado com bolinhos, doces ou chicletes.

— Bom… — Ela deveria estar com muita fome mesmo se estava considerando aquilo. — É comida, né?

— Que faz você vomitar! — Como eu era o responsável daquela situação?

— Sim, mas daí o outro lado melhora depois! A gente pode comer só a parte roxa…

— Há quanto tempo essa caixa está neste armário, para você nem mesmo lembrar que ela estava ali? — Eu precisei dar um tapinha na mão de Lisa e puxar a caixa para mais perto de mim, ela estava quase abrindo um fudge febril.

— Hm… eu comprei na minha primeira ida à loja do seu tio, quando conheci a Dominique, mas não usei tanto assim e acabei trazendo pra cá nas férias de verão. Minha mãe tentou furtar um chicletes e, bom, não deu nada certo pra ela, então meu pai confiscou a caixa e eu fui esperta o suficiente pra não levar mais nenhuma dessas para casa, então… hm, uns doze anos?

— DOZE ANOS?! Eu tenho absoluta certeza que o lado roxo não vai mais curar sua náusea.— Lisa murchou, e eu analisei o conteúdo da caixa, talvez, apenas talvez, a gente realmente conseguisse comer algo. — Você usou alguma dessas coisas? — Perguntei ao ver a quantidade de comida que ainda tinha ali. As minhas não duravam nem uma semana direito, mas aquela claramente tinha sobrevivido ao ano.

— Claro que sim. — Ela parecia ofendida e envergonhada ao mesmo tempo. — O chicletes que minha mãe pegou, ok? Eu era uma nascida-trouxa em Hogwarts, James, não me importava o quão tediosa as aulas fossem, eu queria estar lá. — Eu apenas sorri, tecendo a implicância, que se desmanchou assim que Lisa completou: — E teve aquele acne cake também, nome terrível e nojento inclusive, mas eu te dei um deles no primeiro ano, lembra?

Eu a encarei por uns instantes e, então, a memória tomou conta de mim.

 

“Eu encarava a lareira acesa à minha frente, soltando mais fumaça do que o próprio fogo. Faltavam apenas três dias para o baile e nada do que eu havia feito tinha surtido efeito. Ruby ainda ia com aquele panaca do Peter. Por que raios ela não via que eu era o par certo? Que eu poderia oferecer mais do que aquele... eu não tinha nem adjetivos para o sujeito.

O barulho de alguém entrando pelo buraco da Mulher Gorda quase me fez olhar para trás, mas a minha cabeça trabalhava com afinco em algum plano que eu logo descartava em seguida. Eu odiava não ter nenhuma ideia brilhante para que eu pudesse me livrar de Peter. O barulho de risadinha estava em segundo plano para mim, mas eu tinha consciência de que havia alguém chegando mais perto.

E não deu outra.

— Vai acabar colocando fogo na sala comunal, se ficar olhando pra lareira desse jeito — a voz irritante de Lisa chegou aos meus ouvidos. 

Virei o rosto para ela, com cara de poucos amigos.

— A não ser que tenha uma boa ideia para acabar com um encontro, eu não estou nem um pouco afim de ouvir suas picuinhas, leãozinho — rebati, mas Lisa apenas revirou os olhos, segurando alguma coisa nas mãos.

— Você não é um pouco novo demais para ficar com ela? Quero dizer, isso é pedofilia — disse ela com a sua voz arrogante e seus cabelos cacheados soltos em volta do rosto. Eu olhei atentamente, sem dizer nada.

Parecendo entender o que o meu silêncio queria dizer, Lisa bufou e deu a volta no sofá, se sentando ao meu lado. Por dois segundos, eu fiquei curioso em saber o que tinha dentro do que agora eu conseguia ver que era uma caixa.

— Olha, eu só falei a verdade — explicou ela, como uma sabe-tudo.

— Não me importo, só não quero que ela saia com mais ninguém — confessei por fim. No fundo, eu sabia que eu jamais teria chance com Ruby, mas também não conseguia ver meu amor com mais ninguém.

Lisa me olhou como se estivesse prestes a vomitar. Depois, suspirou e bateu com a mão na caixa.

— Tá bem, tá bem, já que insiste em saber — ela falou em tom dramático, me fazendo franzir a testa, confuso. — Consegui, por uns 2 galeões, essa maravilha aqui — Lisa apontou para a caixa em seu colo. — E você pode se sentir privilegiado, porque eu estou me sentindo muito boazinha e porque eu quero saber se a minha compra foi verdadeira.

— Estou ouvindo — falei, agora me virando para encará-la.

— Dentro dessa caixa, tem o kit mata-aula de seu tio — confessou ela baixinho, olhando para os lados, enquanto minha boca se abria em surpresa. Nem meu tio Jorge deixava eu ter um desses, porque tinha medo da minha mãe. Bem, até eu teria.

Lisa abriu a caixa, mostrando variados tipos de doces enfeitiçados por meu tio. Havia desde um pote de balinhas, até uma incrível e apetitosa fatia de bolo. Estavam todos separados por compartimentos e etiquetados com seus respectivos nomes e efeitos. A fatia de bolo continha o nome de “Ackne Cake”, onde quem mordia um pedaço, ficava com o rosto borbulhando de tanta espinha.

Eu olhei novamente para a garota na minha frente, vendo seus olhos brilharem com malícia. Fiquei um tempo a olhando, percebendo que ela tinha olhos bonitos.

— Não fique me olhando, escolha um — ela falou, me fazendo voltar à realidade.

Decidi pegar o bolo e o sorriso diabólico de Lisa apenas aumentou.

— Até que você não é tão ruim assim, leãozinho — comentei e ela tirou os cabelos do rosto.

— Não se acostume — respondeu, me fazendo revirar os olhos. E ela tinha voltado a ser irritante. — Me diga se funcionou mesmo. Boa noite, Potter. E não conte para ninguém — ela piscou um olho, se levantando e se dirigindo para o dormitório feminino.”

 

Minha gargalhada foi ouvida, fazendo Lisa rir também. Nossa, isso estava tão enterrado na minha mente que eu nem lembrava que havia sido ela de fato que tinha me ajudado com aquela maluquice. Balancei a cabeça, pensando no quanto eu era babaca naquela época e que eu nunca tinhs parado para pensar que eu e a Lisa não éramos apenas... aminimigos. Tínhamos nossos momentos.

— Parando para pensar, você nunca foi exatamente certinha, né?

— Certinha? James Sirius! Que imagem você tinha de mim?

— De uma garota muito chata com o cabelo muito grande. — Lisa riu e eu me uni a ela.

Nossos olhares voltaram para os doces dispostos em cima do balcão; ambos indecisos se deveríamos ou não comer aqueles doces mais do que vencidos. Nossos estômagos roncaram ao mesmo tempo, ecoando pela cozinha vazia.

— Quer saber? Vamos nessa — meu olhar procurou o seu rosto. Lisa devolveu o olhar, assentindo. — Qualquer coisa... aqui tem quantos banheiros?

— Cinco — respondeu ela, sem hesitar. Eu ergui uma das sobrancelhas e Lisa se encolheu. — Sem contar com as suítes.

— Ótimo, tem banheiro para todo mundo — respirei fundo e peguei um dos doces que ali estava, enquanto Lisa pegava outro pedaço. Talvez fosse a magia que continha neles, mas, graças a Merlin não estavam mofados ou algo do tipo.

— No três — disse ela. — Um... dois... três!

Ela jogou na boca ao mesmo tempo que eu. A gente ficou se olhando, sem exatamente mastigar. Apenas sentindo o gosto, tentando saber se o nosso paladar iria rejeitar ou não. Quando tivemos certeza de que o gosto não estava ruim, mastigamos como se estivéssemos há muito tempo sem comida. Nós estávamos, mas não era o ponto.

Lisa jogou a cabeça para trás, como se aquele doce fosse o melhor da sua vida. Eu ri e ela me acompanhou, pelo o que eu tinha lido, o que eu havia pegado era para inchar a língua. Talvez, por estar ali por doze anos, eu senti apenas um leve formigamento na boca. E o melhor? Era que o doce realmente estava bom! Tinha gosto de bala de goma sabor uva. Nunca havia comido algo tão bom!

— Ok, isso não está tão ruim assim. E eu era adorável! Eu poderia ter tornado aquele seu grupinho de marotos ou seja lá o que fosse muito mais divertido, lembra daquela vez no segundo ano? Quando fomos parar na sala da Minerva?

 

“— Que isso aí? — Lisa perguntou, apontando para o bolso da minha capa de onde a ponta de um envelope roxo aparecia.

Imediatamente eu senti minhas bochechas esquentarem. Se Lisa descobrisse sobre minha admiradora secreta eu nunca mais teria paz. Nós estávamos os dois na sala da Minerva e eu não tinha como fugir dela. Os motivos para eu estar ali? Inúmeros. Mas a presença de Lisa ao meu lado era um segredo.

— Não é da sua conta. — Respondi apenas, escondendo mais o envelope em minhas vestes.

— Bom, você poderia me contar já que eu posso estar prestes a salvar sua bunda.

— Salvar minha bun…

— Muito bem! — A voz de Minerva tomou conta da sala, fazendo-nos calar imediatamente e aguardar pela aparição da velha, que parou em nossa frente e nos olhou por sobre os óculos. — Me façam entender, porque eu tentei, mas não consegui, como vocês conseguiram alterar todo o estoque de poções do professor Bennet por água do lago negro sem que ninguém, nem um fantasma, os visse?

— Não foi só água do lago negro, eu também coloq… — Senti um chute na minha canela e abafei um grito, virando o rosto para Elisabeth que apenas arregalou um pouco os olhos, tentando dizer algo. — Se ninguém viu, como a senhora pode afirmar que fomos nós? — Tentei novamente e, mais uma vez, ela chutou minha canela.

— Não falaremos nada sem a presença do nosso advogado. — Elisabeth afirmou e, antes que ela me chutasse novamente eu segurei seu pé.

— Senhor Potter. — O Tom ríspido de Minerva me fez soltá-la para encarar a velha. — Como? — Ela perguntou parecendo estar insatisfeita com ambas as respostas.

— Tudo que eu disser pode e será usado contra mim no tribunal. E nós temos o direito de permanecermos calados. Eu assisto CSI, professora McGonagall. — Lisa disse, me fazendo precisar conter uma risada. Minerva por sua vez não parecia estar achando nada daquilo engraçado.

— A senhorita gostaria de ser expulsa, senhorita Carter?

— Ouvi dizer que Beauxbatons é melhor mesmo. — Arregalei os olhos com a afirmação de Lisa. Primeiro porque era uma baita mentira, ninguém nunca tinha falado aquilo, mas também porque ela tivera a audácia de responder a diretora daquele jeito. Nem mesmo eu era capaz de uma coisa daquelas! — PROTESTO! — Elisabeth gritou em seguida, pulando da cadeira. —A senhora persuadiu minha cliente a dizer algo que ela não queria. — Naquele momento eu perdi minha compostura e joguei a cabeça para trás, gargalhando. — Sou Lisa Carter, advogada de defesa de Elisabeth Stella Carter e James Sirius Potter. — Eu ri ainda mais alto, o impulso das risadas me levou ao chão junto à cadeira em que eu estava sentado.

— Senhor Potter. — Lisa veio até mim e colocou minha cadeira de volta no lugar, fazendo certo esforço para me levantar e dando mais um chute em minha canela para parar minha crise de riso. — Levante sua mão direita. Jura dizer a verdade, somente a verdade, nada além da verdade. — Eu estava bravo pelo chute, mas a expressão de Lisa de quem segurava o riso me forçou a fazer o mesmo.

— Eu juro. — Afirmei, enquanto cruzava os dedos da minha mão esquerda e desviava os olhos dos de Lisa para conseguir melhor interpretar aquele papel.

— O senhor e sua parceira, Lisa, realmente realizaram o crime do qual são acusados?

— Não.

— Caso resolvido, vamo…

— CHEGA! — Minerva gritou batendo as mãos ossudas na mesa.”

 

— Você quase nos fez ser expulsos! — Apesar da afirmação, eu estava rindo com a lembrança, e Lisa também. Ela tinha um belo sorriso e o som de sua risada era caloroso.

— Ela nunca faria isso! E eu estava apenas tentando te ajudar. Eu tinha provas de que não tinha nem mesmo chegado perto daquelas poções, mas você já saiu todo se entregando. Sabia que foi esse dia que me fez querer ser advogada? — Ela riu mais, balançando a cabeça.

— Ok, ok, mas responder a diretora e quase nos fazer ser expulsos não bastava para que você fosse aceita no Clube dos Marotos ok? Éramos um grupo de pegadinhas de alto nível.

— Você chama pó de mico alto nível, James?

— Bom, não foi meu melhor momento, mas eu duvido que você conseguisse fazer melhor.

Lisa arqueou uma sobrancelha, pegando um mini pretzel que, supostamente, te dava uma conjuntivite imediata.

— Terceiro ano, quando Clarisse envenenou metade da mesa da grifinória e quase matou Fred e você? Bom, digamos que a queda de cabelo repentina dela que a deixou completamente careca pelos meses seguintes não foi resultado do estresse. Quarto ano, um dia eu peguei Klaus Cauldwell… bem, não vem ao caso. Mas se lembra como ele precisou ficar os próximos dois jogos na reserva? Bom, talvez, apenas talvez, um feitiçozinho aqui e outro ali tenham feito a varinha dele se rebelar e bem, você se lembra como o braço dele ficou, né? Varinha tão fraca quanto o dono. Enfim. No quinto obviamente você não estava no Brasil para testemunhar minha genialidade, mas foi o que eu aprendi com a Caipora que me deu ideia de fazer os monitores passarem o ano seguinte todo correndo na direção contrária de onde eu estava e, claro, depois de toda a questão com Scorpius e o Zabini eu consegui no feriado de Natal deixar toda a comunal da sonserina coberta em glitter, se lembra como na volta às aulas todos eles apareciam cintilando nas aulas e tentavam forçar que era a moda da vez? Bom, não era. E no sétimo ano, e provavelmente minha mais brilhante idéia, quando eu encontrei os ossos do professor Binns e manipulei o esqueleto por oito aulas seguidas até ele entender que aquele era ele o chamando para a vida eterna e finalmente decidir seguir a luz? Você e seu grupinho jamais teriam conseguido isso.

— Como foi que você cobriu toda a comunal da sonserina com glitter? — Eu estava claramente maravilhado e eu certamente tinha coisas mais interessantes para me atentar, mas aquele fato tinha chamado minha atenção. Lisa riu.

— Um mestre nunca conta seus segredos, James.

— Você tá inventando tudo isso!

— Não é porque eu nunca fui pega que eu não tenha provas. — O sorriso de lado dela era puro charme.

— Uau Elisabeth, como foi que eu nunca tinha reparado que você era tão legal?

— Você era apenas cego demais para enxergar aquilo que estava bem ao seu lado.

Lisa tinha dito aquilo de brincadeira, ela ria e já buscava por um outro doce na caixa, mas eu senti como um baque bem no meu estômago enquanto, ao mesmo tempo, a voz do meu pai, anos atrás, me contando sobre como ele tinha demorado muito tempo para perceber que minha mãe era a pessoa certa para ele, tomou conta dos meus pensamentos por um instante.

— Você tá bem? — A voz de Lisa me trouxe de volta para a realidade e eu a olhei.

— Seus olhos… — O ar pareceu faltar em meu pulmão e eu estava ofegante. Os olhos de Lisa estavam ligeiramente arregalados e eles brilhavam, quase de forma literal, mas um brilho único, que exalava felicidade e…

— O que tem eles?

— Eles são lindos. — Aquilo eu tinha dito baixo até mesmo para meus ouvidos, sobre um fôlego perdido, enquanto Lisa começava a piscar, tentando sozinha adivinhar o que estava acontecendo.

— O quê?

— Eles… estão azuis. — Não estavam, mas não tinha nenhum espelho por perto e foi então minha vez de piscar, puxando-me para fora daquele maldito feitiço. O que tava acontecendo comigo?

— Azuis? O que foi que aconteceu com o seu?

— Minha língua pinicou…

— Ah, meu Deus! Os feitiços de fato não estão fazendo efeito! — Lisa riu, pegando um bombom em mãos e o analisando. — Esse aqui é pra dar uma espécie de infecção nojenta no seu corpo, mas some após dez minutos. O que você acha que vai acontecer?

— Eu sei lá… Vai aparecer uma pintinha ou sei lá…

Lisa não me esperou elaborar e enfiou o bombom na minha boca, eu pisquei por um momento, mas o gosto do chocolate logo me fez mastigar e, então aguardamos.

— Hum, será que tem um lugar específico? — Lisa pegou a caixa para ler melhor, mas logo eu começava a sentir uma coceira absurda no meu braço. — Braços ou pesco… Oh.

— Faz parar! — Eu pedi, arranhando minha pele até quase ficar vermelha. Lisa gargalhou, mas não demorou até puxar a varinha para tentar amenizar os efeitos que, de fato, diminuíram um pouco. Foi a minha vez de escolher um doce.

O escolhido foi uma espécie de balinha de goma que prometia febre instantânea, Lisa apostou que ele não faria efeito algum antes de eu jogar o doce na boca dela.

— Viu só? Nada acon… — Lisa pausou no meio da frase. Sua pele começava a brilhar, mas não um brilho natural, aquilo era suor? — Tá calor. — Ela estava quase ofegante e logo usou as mãos para se abanar. — Tá muito calor.

— Impossível. Tamo no meio do outono e tá de noite, não tem como fazer ca… — Lisa não me deixou concluir a fala antes de enfiar o mesmo doce na minha boca.

— Como você não está derretendo de calor? — A temperatura claramente estava afetando o pensamento dela, pois Lisa logo começava a tirar a roupa, me fazendo arregalar um pouco os olhos.

Eu sei, eu sei, eu a tinha visto de biquíni horas antes, mas era diferente de calcinha e sutiã; Não me perguntem o motivo. O calor logo começou a subir pelo meu corpo e eu não saberia dizer se era pela visão da Lisa, pela vergonha que eu deveria sentir em vê-la daquele jeito — mas não sentia — ou pelo doce.

— Eu vou nadar. — Ela jogou mais uma peça de roupa para o ar e saiu correndo na direção da piscina, ao perceber que eu pretendia seguí-la ela gritou: — Traz os doces!

Eu levei. E conforme o calor em mim aumentava eu também corri até onde ela estava. A caixa foi deixada à beira da piscina quando eu me despi e me joguei na água, de onde saiu até mesmo uma fumacinha quando eu mergulhei. Lisa parecia mais relaxada.

— Os primeiros foram mais brandos só pra nos enganar. — Ela reclamou e eu ri, aproximando-me dela e da caixa de guloseimas.

— Talvez a gente tenha se empolgado demais, vamos voltar pros efeitos mais medianos.

— Vômitos não é um efeito mediano, James. — Ela resmungou ao ver o que eu segurava e eu ri.

— Você pode comer só a parte roxa, faço esse sacrifício por você. — Sugeri, entregando uma embalagem para ela.

Lisa pegou o doce e me entregou a parte laranja, ficando apenas com a que era para acabar com o enjoo, que provavelmente tinha gosto de... eu tive um insight naquele momento e quase cuspi o que eu comia. Lisa me olhou como se eu estivesse louco, mas minha mente tinha dado um estalo que eu não podia ignorar.

— Não come a parte roxa! — exclamei, desesperado, pulando para fora da piscina. — Lisa, me arranje um pergaminho e pena, ou qualquer coisa que eu possa usar para escrever. — Pedi,  enquanto corria em direção a casa em busca de exatamente aquilo que eu tinha pedido.

— Tá bem!

Ela foi comigo pela casa, mas nenhuma gaveta daquele maldito lugar parecia oferecer algo para anotações. Nós tínhamos acabado de sair da piscina e estávamos encharcados, o que explicava perfeitamente o motivo de Lisa ter derrapado perto de uma porta. E, então, foi quase como em câmera lenta; eu vi os braços de Lisa irem para o ar e deslizei pelo chão em direção a ela, tentando impedir sua queda, mas aquilo não tinha saído exatamente como planejado.

Envolvi Lisa pela cintura, mas minha brilhante ideia de deslizar não tinha exatamente nos ajudado a ganhar firmeza. As pernas de Lisa se embolaram nas minhas e logo nós dois sentíamos a gravidade nos puxar. Eu segurei Lisa mais perto de mim, protegendo-a do maior impacto da queda, mas não consegui nos virar a tempo, tendo apenas impedido que ela batesse a cabeça no chão molhado. 

E, certo, tudo aquilo teria sido apenas divertidinho e faríamos piada um com o outro. Se eu não tivesse caído por cima de Lisa, com a minha boca a centímetros da dela. Não chegou a encostar, mas estava tão perto! Minhas mãos estavam de cada lado de seu rosto, seus cabelos estavam espalhados pelo chão e ela me olhava. Eu tinha total noção de seu corpo contra o meu e sua respiração um pouco acelerada. Eu sentia meu estômago dar voltas, minha boca um pouco aberta. E eu simplesmente não conseguia olhar para outra coisa além da boca de Lisa. Ela estava tão perto e ela tinha um cheiro único, um aroma de framboesa. Eu tentava aspirar, sentir mais daquele cheiro, mas o ar parecia não encontrar o caminho para meu pulmão e os lábios de Lisa eram apenas tão convidativos…

O barulho do lado de fora da porta sendo aberta me fez levantar e estender a mão para ela, que aceitou e eu a puxei para cima. Passei as mãos nos cabelos, finalmente redescobrindo como respirar, enquanto Lisa se virava para a direção contrária, parecendo estar sendo afetada pela onda de calor novamente.

— Entãaaao… — A voz de Dominique se alongou e eu e Lisa nos viramos de súbito para ela. Fred carregava diversas sacolas e me olhava de um jeito, bom, ele não parecia muito contente. Dominique, por sua vez, parecia divertida.

E foi então que eu processei a cena. Elisabeth e eu estávamos os dois em roupas íntimas, encharcados, e os dois tinham acabado de nos encontrar deitados, um sobre o outro, no chão da cozinha, quase nos beijando. Minha cabeça não conseguia sequer formular uma explicação, então eu foquei em Dominique e Fred, que não pareciam em uma situação muito melhor. Os dois estavam com os rostos um pouco corados, claramente ofegantes e um tanto quanto descabelados.

— Eu não acredito que vocês nos deixaram com fome e foram transar! — Lisa exclamou, claramente muito menos abalada que eu para conseguir confrontar os dois.

— Oh, nós realmente vamos brincar disso? — O tom de Dominique era provocativo, eu não conseguia olhar para Lisa para saber a reação dela.

— Nós saímos sem varinha. — Fred deve ter achado que aquela era uma boa explicação. Lisa continuava inabalada, mesmo de lingerie, enquanto observava o grandalhão colocar as compras na bancada.

— E isso é desculpa para deixar os amigos passando fome para transar por...?

— Ao contrário de certas pessoas… — Dominique claramente queria dizer algo com aquilo. — Nós saímos sem as varinhas e só vimos isso quando passamos do portão, e você sabe o quão longe é o portão dessa propriedade. Então pensamos: “não vale a pena voltar, é longe demais, vamos andando ao mercado, não deve ser longe.” Bom, era muito longe. Mas quanto mais andávamos, menos compensava voltarmos atrás. Eu acho que nós andamos por duas horas antes de conseguir encontrar alguma coisa e depois tivemos que fazer todo o caminho de volta, então nos desculpem por esse grande sacrifício enquanto vocês ficavam… — Ela apenas apontou em nossa direção antes de ir ajudar Fred a desembalar as compras.

— Estávamos com calor. — Foi a única, ÚNICA! Coisa que minha mente débil conseguiu produzir.

— Bom, nós conseguimos ver isso. Lisa, você tem namorado. — O tom de Fred tinha me incomodado, muito,  e eu o fuzilei com o olhar, mas antes olhei para Lisa que aparentava estar um pouco envergonhada.

— Nós estávamos comendo doces do kit mata aula e… eu nunca…

— Escuta aqui, Frederic. — Meu tom não era muito amistoso e aquilo bastou para que os três me olhassem. — A gente tava nadando e nós caímos. Eu não sei qual tá sendo o seu problema, e eu espero que você entenda que eu te amo como um irmão, mas se você ofender a Lisa de novo ou dar a entender qualquer coisa além do fato de ela ser fiel ao namorado dela eu irei te devolver aquela surra que você me deu quando eu voltei, ok?

Talvez fosse o efeito colateral dos doces, mas a fúria que tinha tomado conta de mim ao ver Lisa daquele jeito era…

— Nós trouxemos pizza! — Dominique exclamou, quebrando o silêncio incômodo que se estabeleceu nos segundos seguintes. — Para agilizar nossa refeição porque Fred fica meio estressado sem comida e James aqui aparentemente também. Lisa, meu anjo, você pode pegar os pratos? Fred, vai lavar as mãos. James meu bem, acho que os copos estão no armário de cima, alcança eles pra gente?

Com todo mundo seguindo em busca de diferentes funções o clima logo normalizou e ao tempo que estivéssemos reunidos ao redor da mesa aquela breve tensão já teria se dissipado. Lisa tinha encontrado um roupão para ela e para mim e eu logo me lembrei da ideia que tinha tido, sendo Fred o responsável por me entregar o papel e a caneta para que eu anotasse o possível diferencial para minha poção, guardando aquele pedaço de bolinho roxo junto com o papel.

Ainda que a briga não tivesse ido além e, agora, estivéssemos todos apenas rindo e nos divertindo dos relatos de Dominique sobre a aventura deles sem o auxílio de magia, os lábios de Elisabeth — e a reação que eu tivera como se quisesse protegê-la — continuariam me atormentando ao longo de toda aquela noite.

 

(...)

 

Dominique e Fred compraram comida para quase dois meses, embora nós fôssemos embora no sábado. Acho que ficaram traumatizados por andar muito. Na noite anterior comemos pizza, mas hoje faríamos uma macarronada. Eu cozinharia, receitinha que Allison me ensinara há muito tempo.

O sol brilhava lá fora e, enquanto eu picava a cebola em cubinhos, a lembrança do rosto de Lisa a centímetros do meu me assolava; era como se fosse um susto: eu esquecia, mas, de repente, ela voltava e me pegava desprevenido. Por Deus, eu estava ficando louco! Eu ainda conseguia sentir sua respiração e o seu olhar preso sob o meu. Seus olhos são lindos?! O que eu estava pensando? Talvez Fred tivesse razão, eu não podia ficar dando tão na cara... mas espera, o que eu estava dando na cara? Eu não sentia nada por ela, a não ser, agora, um carinho, o mesmo que eu sentia por Mini. E vocês vão dizer: “Ah, mas você sentiu vontade de beijá-la e não sente vontade de beijar Dominique.” E eu respondo: vocês esqueceram que eu já beijei Dominique? E agora eu não sentia nenhuma vontade de ficar com minha prima, só de pensar me dava náuseas.

Mas eu não sentia isso quando Lisa estava por perto. Na verdade, eu sentia uma euforia, um nervoso, uma sensação no meu baixo ventre que parecia nunca passar. A memória de Lisa apenas de calcinha e sutiã na minha frente simplesmente pulou em minha mente e eu me assustei. Eu queria tocá-la, sentir a sua pele em meus dedos e...

— Parece que já não resta cebola para picar — o comentário veio daquela que ocupava meus pensamentos sombrios. O tom de voz dela era divertido e eu levantei o olhar para ela. — Dominique me fez vir aqui ver se você não estava botando fogo na cozinha.

— Para a informação dela, eu sou um ótimo cozinheiro — expliquei, colocando a cebola junto com o alho para dourar na panela, ficando de costas para Lisa, tentando acalmar os meus pensamentos. O que eu havia feito? Eu a estava a imaginando... balancei a cabeça, tirando aquilo da minha mente.

— É mesmo?

— Sim, tive... tive uma namorada trouxa da Austrália que fazia gastronomia — contei, por algum motivo. — Ela me ensinou como sobreviver, eu não sabia fritar um ovo quando cheguei lá.

Ri, voltando para o balcão, com Lisa acompanhando minha risada. Coloquei os tomates que Dominique havia comprado no liquidificador, já cozidos, colocando os temperos e ervas para dar gosto no molho.

— Teve muitas namoradas quando estava pelo mundo? — me surpreendi com a pergunta. Era uma curiosidade que ninguém teve desde que cheguei.

— Tive bastante desastres — respondi, soltando uma risada. — Eu não me orgulho, sabe, da época em que conheci Allison, na Austrália. Eu também namorei outra, ao mesmo tempo. — Terminei de bater os tomates e levei para a panela, Lisa ficou onde estava, sem interromper. — Por mais que eu gostasse delas tinha… dias desde que Saphira havia partido. Eu estava perturbado, tinha pesadelos constantes e elas ocupavam todos os meus dias, elas me faziam esquecer de me torturar por causa da morte de Saphira e me anestesiaram o suficiente para eu viver. — Eu dizia, enquanto mexia o molho na panela. O engraçado era que eu não estava me sentindo desconfortável; mesmo tendo superado, eu ainda hesitava sobre aquele tipo de assunto com algumas pessoas e não explicava direito para outras. — Eu não pensava direito, estava sendo egoísta e não percebia, porque elas estavam tirando a minha dor enquanto eu estava acordado. Mas me arrependo, muito mesmo, de ter sido tudo o que eu sempre fui contra. — Me virei para vê-la por alguns segundos, notando que Lisa me olhava com atenção. Fui até a geladeira e peguei a carne moída. Não comecei a fazê-la, mas deixei que ficasse em temperatura ambiente, me dirigindo até onde ficavam as panelas e colocando água dentro de uma quando peguei. — Eu consegui me resolver com Allison, mas não voltei a falar com Holly.

Lisa ficou uns segundos em silêncio, talvez para absorver o que eu tinha dito. Entretanto, em seu olhar, não havia julgamentos. 

— Gostaria de conversar com ela um dia? Com essa Holly? — perguntou ela e eu pensei por alguns segundos, balançando a cabeça de um lado para o outro.

— Acho que não, da última vez ela me ameaçou de morte — respondi, deixando a água na panela ferver no fogão.

— Tenho certeza que superou — disse Lisa e eu ri.

— Acho que nenhuma delas é igual a você — falei, me virando para o molho. — Se ela me ver, tenho certeza que ganharei uma azaração tão forte que eu não enxergarei por dias. — Deixei o molho reduzir e voltei para a carne. Ela não estava congelada, então não demoraria para refogar.

— Fofo de você achar que eu não te azararia caso você namorasse a mim e outra pessoa simultaneamente sem me contar disso.

Por dois segundos meus movimentos congelara. Algo na frase de Lisa, a sugestão de uma realidade em que poderíamos namorar, fez meu estômago dar um salto. Cocei a garganta e recuperei meus movimentos, torcendo para que minha pausa não tivesse sido muito perceptiva. Como eu já tinha picado cebola e alho o suficiente para o molho e a carne, eu só despejei o conteúdo da bandeja em uma outra panela. Olhei novamente para Lisa, que permanecia no balcão, me observando. 

— Por que está aqui dentro, Lisa? Pode se divertir com meus primos, não me importo em ficar sozinho, pode se divertir.

Ao ouvir as minhas palavras, Lisa franziu a testa e depois riu. Ela usava um biquíni diferente do outro dia, esse era de um tom azul escuro, que combinava com a sua pele.

— Eu? Eu estou mais segura aqui dentro do que lá fora. — Respondeu ela, ainda rindo. — Sério, eu estava segurando vela na piscina. Certeza que Dominique me despachou para cá para poder ficar se agarrando com o Fred.

— Sinto muito por estar de vela quando não precisa estar. — Falei, me virando para a carne e separando os seus gominhos. Odiava carne moída com bolotas.

— Ah, não se preocupe. Eu sei me divertir sem Stephen. E, além do mais, fico mais aliviada sabendo que você também está segurando vela. — Lisa deu uma risadinha e eu a olhei por cima do ombro, notando que ela fazia a mesma expressão de quando comprou o kit mata-aula.

Estreitei os olhos para ela e me virei outra vez.

— Golpe baixo, leãozinho — falei, cruzando os braços. — Vamos lá, já que está aqui fugida não vai ficar sem fazer nada. Pode soltar a carne moída para mim, por favor? Vou picar a cebolinha.

E foi assim que eu e Lisa ficamos juntos na cozinha, sendo ela a minha ajudante. Eu fiz o macarrão, depois terminei a carne e o molho. Depois de pronto, eu fiquei satisfeito com o resultado, enquanto Lisa terminava de lavar a louça. Eu a olhei, com a sua tatuagem sombreada nas costas, terminar de lavar as panelas que usamos. Nunca pensei que iria rir e me divertir tanto com Elisabeth Carter.

Depois que ela colocou os utensílios para escorrer, não sei o que me deu, eu fui até ela. Fiquei tão perto, que eu podia sentir o seu perfume e a sua roupa roçar em mim. Lisa me olhou assustada, mas não se virou, apenas me observou estender a mão e pegar um garfo e um prato dentro do armário.

— Você me ajudou, nada mais justo que experimentar primeiro do que todo mundo. — Expliquei, ouvindo a sua risada ecoar em minhas entranhas.

Me afastei e servi um pouco da carne com molho e macarrão no prato e lhe estendi para que comesse. Lisa pegou o prato e enrolou o macarrão no garfo. Ansioso, eu esperei que ela experimentasse mordendo o lábio; assim que ela comeu, jogou a cabeça para trás e soltou algo parecido com um gemido. Tentei parecer neutro com aquilo e para muitas pessoas aquilo poderia ser — e era — ela aproveitando a comida. Mas para mim... foi sexy pra caralho.

Lisa voltou a cabeça para mim e eu sorri, disfarçando o que eu estava sentindo. Os olhos dela brilhavam e ela sorriu sem mostrar os dentes.

— Por Deus, James! Essa menina te ensinou muito bem — Lisa disse depois de engolir tudo. E quando eu digo engolir tudo, era que ela havia raspado o prato. — Isso daqui está incrível! Quando mais nova meu sonho era ter um namorado que soubesse cozinhar para mim... uma pena que Stephen não saiba nem fazer gelo. — Ela deu uma risada e eu ergui uma das sobrancelhas. Então queria dizer que o cara que tinha vinte e sete tatuagens não era tão perfeito assim? O meu sorriso se espalhou pelo rosto.

— Bom, agora você tem um amigo que sabe. Diga o que quer comer e eu o farei — comentei, pegando o prato de suas mãos e o lavando. — Vamos colocar a mesa.

Lisa me acompanhou até a sala de estar, carregando os pratos e a toalha para forrar a mesa.

— Esse cheiro está uma delícia! — Dominique irrompeu pela porta lateral com Fred à tira-colo, não perdendo tempo em escolher um lugar na mesa. — E como Lisa é apenas sustentável na cozinha eu preciso assumir que foi James quem fez isso e… como?

Eu ri, balançando a cabeça, e dizendo brevemente que tinha conhecido uma amiga no intercâmbio que tinha me ensinado a sobreviver. Lisa, sabendo a verdade por trás daquelas palavras, arqueou a sobrancelha, mas não disse nada mais.

— Está tão saboroso quanto cheiroso. — Foi o único comentário feito por ela enquanto terminava de distribuir os garfos pela mesa. — Sabe o que eu estive pensando? Nós precisamos comemorar o aniversário de Dominique!

— Mas o aniversário dela foi meses atrás e ela já comemorou… — O comentário de Fred fez Lisa olhá-lo como se quisesse matá-lo enquanto, ao mesmo tempo, parecia extremamente ofendida que a amiga teve a audácia de organizar uma comemoração sem ela.

— Sim, mas eu não estava presente Frederic. Então é a mesma coisa de não ter tido comemoração alguma. — O tom de voz dela não dava abertura para discussão e Fred, muito sabiamente, se dedicou na tarefa de servir a si e a namorada. — Então, tem uma cidadezinha aqui perto…

— Perto é uma escolha ousada de palavra.

— Bem perto, vocês devem ter ido na direção contrária. Enfim, é uma cidade universitária, o que significa que ela está repleta de pubs e boates cheios de música divertida e pessoas com muita energia. Eu já estou mexendo alguns pauzinhos, mas fiquem informados que sairemos amanhã a noite, espero que tenham trazido roupa para tal.

Ninguém a contestou mais e nem ousamos.

— Hum… James! — Dominique, com a boca cheia, quebrou o silêncio ao falar. — Isso está uma delícia!

— Ok, mas só pra deixar claro, eu não vou ficar cozinhando todo dia!

Só para registro, eu cozinhei no restante dos dias em que ficamos por lá.

 

(...)

 

Eu e Fred já estávamos prontos. Esperávamos as garotas já tinha mais de vinte minutos, sentados naquele sofá que ficava no hall. Homem era tão mais fácil de ficar arrumado! Mas, devo confessar que, como minha filha Paisley deixou bem claro para todos que ela viu, eu era metrossexual, o que também prolongava minhas arrumações. Mas justamente por isso eu fui tomar banho mais cedo para não atrasar.

Já as garotas… humpf. Elas se arrumavam no quarto de Lisa há várias horas. Coloquei os braços atrás da cabeça, me recostando no imenso sofá, enquanto meu primo balançava as pernas, já impaciente. Decidi fechar um pouco os olhos, já com sono. Após o que tinha parecido horas, o barulho de saltos batendo contra os degraus me fez despertar. Dominique foi a primeira a aparecer no corredor, usando um vestido prata colado no corpo e sapatos de salto da mesma cor, não muito alto. Os cabelos estavam soltos em ondas largas e a maquiagem combinava com a roupa. Estava bonita. Estonteante, na realidade, e o cabelo era o diferencial.

Olhei para Fred e o cara estava de boca aberta. Revirei os olhos.

— Está linda, Mini — elogiei a minha prima. — Acho que o idiota do meu pri...

Mas então eu parei de falar.

Merlin testava meu autocontrole toda vez que aquela mulher aparecia na minha frente nos últimos dias. Não era possível que Lisa ficasse ainda mais bonita. Deus, ela vestia uma calça preta de cintura baixa, que abria-se abaixo dos joelhos, larga. Sua blusa era de mangas compridas, mas ela ia até um pouco abaixo dos seios, deixando sua barriga lisa à mostra. Seus enormes cabelos estavam presos em um rabo de cavalo firme no alto da cabeça. Não usava muita maquiagem, mas tinha um delineado bem marcado nos olhos. Precisei piscar para poder entender que Lisa estava falando comigo.

— Qual foi a pergunta? — falei, voltando a ouvir os sons à minha volta. 

— Vai ficar me encarando com essa cara de panaca? — Lisa repetiu o que eu não tinha escutado.

— Me desculpa, é que... Merlin não me preparou para eu te ver como um ser humano e não um leão indomado. — Expliquei e nessa hora eu queria bater na minha testa. Lisa ergueu uma das sobrancelhas e eu me apressei. — Está linda também, leãozinho.

Lisa revirou os olhos, mas eu pude ver um sorrisinho no canto de seus lábios e aquilo fez meu ego inflar um pouquinho. Ela se virou para meus primos, batendo palmas. 

— Vamos de carro. — Disse e ergueu as mãos para que não pudéssemos protestar. — Meus pais sempre deixam um aqui. Os caseiros cuidam, mas como nós somos bruxos com grandes habilidades, meus pais os dispensaram essa semana. Enfim, eu sei dirigir, graças a Deus. E vai ser bom! Vamos aproveitar o passeio! 

— Eu vou na frente! — declarei e Lisa riu. — Vamos, gente. 

Resmungando que seria melhor aparatar, Fred se levantou estendendo a mão para a namorada. Eu revirei os olhos, me segurando para não dar um tapa nele, seguindo Lisa para onde ficava a garagem — meu Deus, tinha uma garagem! — e entrando em um carro muito chique. Eu não sabia qual era a marca, não era muito ligado à carros, nunca pesquisei sobre.

Lisa havia pegado as chaves e nós já estávamos seguros dentro do veículo. Eu não andava de carro, visto que aparatar, mesmo que me deixasse enjoado, era mil vezes mais rápido para ir aos lugares. Entretanto, o passeio foi realmente bom. A noite estava sem nuvens, mas fazia um pouco de frio. Lisa disse que não seria problema, pois dentro da boate que iríamos seria quente graças ao movimento intenso. A janela estava aberta e eu sentia o vento gelado em meu rosto, mas a vista... a vista era realmente bonita. Não apenas do lado de dentro.

Meus primos falavam no banco de trás, mas Lisa dirigia com tranquilidade e confiança, como se sempre fizesse aquilo. Sua postura era reta, um braço ficava no volante e o outro pronto para passar a marcha. Ela sorria de vez em quando para o que meus primos falavam, mas em geral estava muito concentrada. Aquilo era sexy. E, quando eu percebi que a estava olhando demais, balancei a cabeça, voltando a olhar para o céu estrelado acima de nós.

Quando chegamos no local, eu percebi que não era uma simples boate. A cidade era agitada e, como Lisa havia dito, havia vários barzinhos e boates espalhados por ali. Parecia ser o centro da cidade e, apesar de pequena, era muito badalada. Lisa parou o carro em um estacionamento e saiu. Nós três a imitamos, seguindo-a depois que ela tinha trancado o veículo. 

Não precisamos andar muito. A boate ficava na mesma direção em que estacionamos o carro, havia um enorme fila para entrar, mas antes que pudéssemos reclamar de qualquer coisa Lisa seguiu direto para o segurança, que liberou nosso nome após conferir algo em uma possível lista VIP. Assim que entramos, a música, que antes estava abafada, agora reverberava pelas paredes e em meu corpo. O lugar era escuro demais, com luzes coloridas iluminando de vez em quando todos na pista. A música era um pop trouxa, que eu nem sabia que existia. Como eu era um cara muito aberto ao desconhecido, eu gostei. Eu era bem eclético.

Havia mesas espalhadas no fundo e um imenso bar com banquetas. Acima tinha um mezanino, para onde fomos. Subimos e ali era muito mais tranquilo, mesmo com o barulho de pessoas falando e a música ecoando por todo o local.

Fred e Mini estavam admirando o lugar, se agitando com a música. Era calmo ali, tinha bastante gente, mas acho que o melhor era ficar lá embaixo e voltar quando quiséssemos, tinha certeza que Lisa tinha passe livre. Um garçom passou por nós, com bebidas em uma bandeja e eu peguei uma, enquanto meus amigos faziam o mesmo, aproveitando o momento que estávamos tendo juntos, brindando sobre o que a nossa amizade significava, os anos de vida de Domi e, surpreendentemente, meu retorno.

Após alguns momentos desfrutando dos benefícios que a ala vip nos dava, decidimos descer para onde a festa ficava de verdade. Não importava o quanto estivéssemos no bem e bom, lá embaixo era onde realmente ficava a diversão. E eu precisava daquilo, aproveitar o máximo que eu podia até chegar a hora em que eu teria que ir para França e ficar longe do pessoal mais uma vez — mesmo que, agora, todos saberiam onde me encontrar. E, lógico, eu poderia visitá-los a qualquer hora que eu conseguisse. Não pensava muito sobre isso, mas de vez em quando, surgia em minha mente e apertava o meu coração um pouquinho. Como nesse momento. Entretanto, quando eu vi meus amigos sorrirem, eu sorri de volta e tudo o que eu queria era estar com eles. Não havia outro lugar em que eu devesse estar.

Já no meio da multidão, na pista de dança, com as luzes coloridas em nossos rostos e a música ainda mais alta, eu, Fred, Mini e Lisa começamos a dançar. Às vezes ficávamos colados uns nos outros por causa da muvuca, mas logo depois nos dispersamos; Lisa havia nos trazido no dia das músicas pop trouxa. E eu suspeitava que era porque ela gostava desse gênero. 

A coisa sobre sair com um casal que ficou separado por um tempo e reatou recentemente é que toda aquela chama do começo de um namoro que foi diminuindo com o tempo devido ao costume e a rotina volta com toda a força e intensidade quando eles retomam o relacionamento, o que indicava que bastou uma música para que Fred e Dominique já estivessem se movendo de uma forma não exatamente discreta para um canto. Provavelmente porque, em todas as outras oportunidades que tivemos em baladas e coisas do tipo, eles não se sentiam exatamente confortáveis para aquele tipo de comportamento, mas, como ambos confiavam em mim e Lisa, podiam agir com mais naturalidade um com o outro.

Lisa deu uma gargalhada ao ver que eles se afastaram e, apesar da música alta, foi como se eu conseguisse ouvir aquela risada ecoando na minha mente, como se já tivesse decorado aquele doce som, e isso me fez dar um sorriso sem graça para ela e desaparecer atrás de um drink.

Talvez Fred estivesse certo e eu realmente estivesse fissurado demais em um objetivo que não me era alcançável. Eu não era o tipo de homem que simplesmente usava mulheres, minha mãe tinha me dado educação, mas, sejamos sinceros, eu nunca fui exatamente santo, e acho que Mia Corner era a maior prova de que, talvez, só talvez, eu realmente não soubesse lidar muito bem com rejeição, ou simplesmente com o fato de não ser querido por alguém.

Certo, ok, junto com minha metrossexualidade talvez existisse um pouco de egocentrismo, mas não era pelo mal. Lisa nunca em nossa vida tinha dado nenhum indício de interesse por mim, mesmo ela tendo assumido já ter tido um crush em minha pessoa na época eu não tinha notado e, caso tivesse, era possível que eu sequer me importasse, mas agora era diferente. Esse crush claramente não existia mais, ela estava feliz em um relacionamento longo e saudável, com o namoradinho de escola dela e ela nunca, nunca, teria interesse algum em mim para além de uma amizade um pouco mais aprofundada. E isso machucava meu ego o suficiente para me deixar um pouco obcecado com ela.

É, ok, essa é uma explicação perfeitamente racional e lógica. Não que eu estivesse exatamente obcecado com ela, só com os lábios carnudos, cabelos sedosos, olhos profundos, curvas suaves, seios avantajados, silhueta divina e… ok, você entendeu. Eu não queria ela porque eu realmente estava atraído por Lisa ou qualquer coisa baranga assim, mas porque ela nunca, em nenhum cenário possível, iria querer qualquer coisa comigo.

Eu sei. Eu também esperava mais de mim.

Mas, como eu tinha aprendido meus erros com Mia, e como eu não tinha intenção alguma de estragar uma relação de anos apenas para agradar meu ego e provar algum ponto para mim mesmo, eu decidi que manter uma distância segura de Lisa era a melhor decisão. Era apenas o convívio diário e a escolha de biquínis, roupas ou camisolas de Lisa que vinham provocando meus… instintos masculinos. Assim que essas férias chegassem ao fim, eu poderia me enrolar em alguma francesa igualmente bonita ou gostosa — não que Lisa fosse fácil de superar, mas eu me dedicaria — e seguiria feliz e solitário na busca falida por um amor inexistente, deixando para trás a lembrança ou qualquer possível desejo ou ego ferido que Lisa possa ter causado em mim com sua indiferença.

Soava como um ótimo plano para mim.

Como eu tinha passado um bom tempo na companhia de Dulce, descobrir qual bebida trouxa era a melhor escolha para a noite não foi difícil, mas o movimento absurdo do bar fez que eu demorasse por lá por tempo o suficiente. No caminho de volta para a pista de dança eu vi Dominique e Fred encostados em uma parede e, ah, se eu não corresse risco de ser preso por uso indevido da magia talvez eu tivesse me cegado ali mesmo com qualquer feitiço que me viesse à mente, mas eu escolhi no lugar apenas virar os dois copos de drink de uma só vez — eu tinha pedido dois para não precisar voltar lá tão cedo — e ir em busca de Lisa.

Achá-la no meio da multidão foi mais fácil do que você pode imaginar. Era quase como se tivesse algo me puxando em direção a ela. Em meio à fumaça, perfumes variados e bebidas derramadas eu quase conseguia sentir o cheiro de Lisa me guiando em sua direção como um… rastro.

Ao alcançá-la, porém, eu precisei parar alguns passos antes. Lisa estava praticamente imóvel no meio da pista de dança, com uma cara de poucos amigos, enquanto um cara se aproximava de seu ouvido e falava algo, encarando-a em seguida para receber um balançar negativo de cabeça em resposta. Aquilo, porém, não pareceu bastar, e eu notei as mãos do cara envolvendo a cintura de Lisa enquanto ele novamente voltava a sussurrar algo no ouvido dela.

Assistindo a cena, de longe, eu rangi os dentes e tentei me virar em outra direção. Uma garota se aproximou de mim, sorridente, mas talvez minha expressão não fosse a mais receptiva do momento e a menina logo desistiu de se aproximar, o que foi ótimo, já que um segundo foi o máximo de tempo que eu consegui manter meus olhos em outro ponto antes de volta à Lisa e o cara, que tinha conseguido se aproximar consideravelmente naquele meio tempo, enquanto Lisa novamente negava o que quer que ele estivesse falando em seu ouvido.

Colocando os copos vazios na bandeja de um garçom que passava por ali, aproximei-me de Lisa e do rapaz sem muita delicadeza ao abrir caminho entre a multidão.

— Posso ajudar com alguma coisa, mate? — Foi a minha vez de falar no ouvido do cara, que imediatamente deu um pulo pra trás. O espaço criado me permitiu chegar perto de Lisa e passar meu braço pela cintura dela, aplicando até, involuntariamente, um pouco de pressão no toque que repousou onde a mão do cara estivera, vocês sabem, pra ele notar, não porque eu tivesse qualquer objetivo em arrancar o toque dele dali com minhas próprias unhas.

— Oh, ela tá com você. Mil desculpas mate! Boa noite para vocês.

E, com um largo sorriso, ele se afastou em direção a outra pessoa. Eu ainda o olhava com uma cara de poucos amigos, meu maxilar travado. Lisa bufou, e, de repente, eu fiquei extremamente ciente de cada centímetro do corpo dela que estava colado ao meu. Ela não fez nenhum movimento para soltar-se, então eu engoli em seco e lentamente dei um passo para o lado, soltando-a, relutantemente.

— Eu disse para aquele idiota dezenas de vezes “Não” e ele continuou insistindo, mas você surge do nada, me abraça e ele imediatamente pede desculpas e sai? Argh! Eu odeio homens.

Eu poderia fazer piadinhas para suavizar o humor de Elisabeth, distraí-la daquele idiota ou qualquer coisa do tipo, mas com aquela afirmação tudo que eu consegui fazer foi olhar de volta na direção para onde o babaca tinha ido e considerar com seriedade ensiná-lo um pouco sobre respeito às mulheres com meus punhos. Foi a voz irritadiça de Lisa que conseguiu atrair de volta minha atenção para ela.

— É incrível! É sempre assim. Quando eu estou com Stephen isso nunca acontece, mas basta eu pisar em uma pista de dança sozinha que esses abutres vem de todos os lados estragar a minha noite.

Eu precisei respirar fundo, ela claramente tinha muito mais motivos que eu para estar irritada e violência não resolveria nada, apenas ia estragar o restante da noite para todos nós, e aquele não era o objetivo.

— Eu posso ser seu namorado esta noite. — As palavras saíram antes que eu sequer conseguisse pensar no que estava dizendo, qualquer complemento como “para você aproveitar em paz” ou “para manter os manés longe” foram perdidos quando Lisa olhou no fundo dos meus olhos e arqueou uma sobrancelha.

E, então, sorriu.

— Vamos dançar, James Sirius Potter — disse ela com uma risada contagiante, muito mais calma que instantes antes. E, juro por Deus, aquele sorriso que ela nunca havia dirigido a minha pessoa iria me fazer perder as estribeiras.

O ritmo da música era uma mistura de pop com mais algum outro. Lisa olhou para mim e moveu o dedo indicador para que eu pudesse chegar mais perto. Dei um sorriso de lado e fiquei de frente para ela, passando minhas mãos pela sua cintura exposta. Trocamos olhares, enquanto a música tocava no fundo e Lisa movia os quadris junto comigo.

 

Puedo alejarme yo siempre caigo en la tentación

Posso fugir, eu sempre caio em tentação

Baby perderme en tus ojos no fue mi decisión

Querida, perder-me em teus olhos não foi minha decisão

Una mirada que solo había visto en televisión

Um olhar que eu só tinha visto na televisão

No pelemos con ‪la ley de la atraction

Não vamos brigar com a lei da atração

 

O pouco que eu conhecia de espanhol me fez ficar um tanto quanto alerta sobre a letra da música. Eu não sabia se Lisa entendia a música, mas nunca havia escutado algo com tanto sentido em minha vida. Ela me olhava enquanto chegava o corpo mais para perto do meu, nosso olhar sempre um no outro. Girei Lisa no mesmo lugar, fazendo com que ela voltasse e se chocasse contra mim, neste momento, eu não conseguia ver mais ninguém; apenas sentia o calor de seu corpo no meu e o seu olhar sobre mim. Lisa apoiou os braços em meu pescoço e nós nos movemos junto com a balada que vibrava. E a música continuava a tocar no fundo.

Minhas mãos guiavam sua cintura para frente e para trás e Lisa me acompanhava. Eu sabia que ela sabia dançar. Há muito tempo Lisa havia comentado que fazia balé por conta de sua mãe. Nós sentíamos a música percorrer nossos corpos, presos no olhar um do outro. Quando Lisa virou-se, ficando de costas para mim, foi a primeira vez que ela deixou meus olhos. Mas eu não sabia o que era pior. Seus quadris se moviam com os meus, enquanto a sua cabeça se encaixava em meu pescoço e minhas mãos subiam por sua barriga e chegavam até o seu pescoço. Eu sentia o cheiro de framboesa e pêssego de seu perfume e o shampoo de seus cabelos, tudo nela me inebriava e, naquele momento, eu não queria pensar no que eu estava fazendo ao dançar com ela. O que poderia me acarretar depois.

Eu a girei novamente, fazendo-a dar um passo para frente e outro para trás. A música refletia tudo o que eu estava sentindo naquele momento e o fato de Lisa parecer presa em nossa dança me fazia iludir que ela também estava sentindo a mesma coisa. Sorri e a puxei de volta para perto de mim, colando seu corpo novamente no meu, mas logo a música baixava o ritmo. Eu sentia os olhares das pessoas sobre nós, mas apenas sentia. Era quase como se estivéssemos sozinhos na boate e eu não ligava. Queria permanecer em minha ilusão, deslizando com Lisa pela pista de dança. Eu nunca havia sentido o que estava sentindo naquela noite, naquele momento.

Lisa e eu sorrimos um para o outro, enquanto ela dava passos de quem iria girar, mas sem sair do lugar. Seu corpo voltou a colar no meu, indo e voltando. Passei as mãos pela lateral de seu corpo assim que a música disse que o corpo dela era incrível, Lisa riu, dando a entender que ela compreendia as partes em espanhol. Voltamos aos passos onde apenas deslizamos pelo local, com Lisa sempre no ritmo cadenciado da música. O suor escorria pela minha nuca, a boate havia ficado mais quente. Ela passou os braços em volta do meu pescoço, se apoiando e girando a cabeça para trás, eu permanecia segurando a sua cintura, voltando a apertar apenas um pouquinho onde o cara tinha encostado minutos antes.

O refrão voltou a tocar e nós permanecemos no ritmo, até que chegou a parte em que a música se transformava em um rap e eu deixei que ela dançasse sozinha. Era um pedaço pequeno em espanhol, que dizia que eles eram como um fogo e, aqui, Lisa se abanou, me fazendo rir. Logo a parte final chegou e ela voltou para mim; eu não sabia que tinha me sentido tão vazio até que ela estava em meus braços novamente. A música parecia estar prestes a acabar e eu só sabia movê-la pela pista, com o seu corpo colado ao meu outra vez, um pouco mais lento, mas sem deixar de ser extremamente sexy... para mim, é claro.

Então a música voltou a acelerar e a gente dominava a pista. Lisa tinha a testa cheia de suor, mas a expressão era de quem estava se divertindo, aproveitando a sensação de estar dançando. E eu gostava ainda mais de vê-la.

A música cessou e finalizamos com nossos corpos tão juntos um do outro que eu podia sentir sua respiração acelerada e seu peito subir e descer contra o meu peito. Creio que ela podia sentir a mesma coisa, pois eu não estava diferente. Outra música tornou a tocar, as pessoas, que tinham se afastado um pouco, voltavam a ocupar toda pista, as luzes piscavam coloridas ao nosso redor, mas nós ficamos ali, nos encarando. Meus olhos se recusaram a deixar os de Lisa. Parecia que havia muita coisa a ser dita, mas nós não sabíamos se deveríamos fazê-lo. Era como se estivéssemos em uma bolha em que só eu e ela existíamos. E qualquer coisa que fosse pronunciada estragaria aquele momento.

Até que alguém esbarrou nela, fazendo-a vir para frente. Como o cavalheiro que eu era, eu a peguei pela cintura e foi aí que acordamos.

— Eu falei que eu sabia o que estava fazendo — brinquei e Lisa balançou a cabeça.

— Nada mal, Potter — ela deu um sorriso de lado, ficando em silêncio.

Novamente, nos encaramos. Meu coração estava acelerado agora, mas por outro motivo. Engoli em seco, abrindo a boca para falar. 

— Acho melhor...

— A gente procurar Fred e Dominique — ela completou a frase, agora parecendo nervosa. — Eu... eu vou ali no banheiro. — E apontou para trás dela e eu assenti.

— Vou estar no bar, caso eu não os encontre — comuniquei e foi a vez da Lisa assentir.

Eu de fato fui para o bar e pedi algumas garrafinhas de água, que precisei jogar na minha cara antes de encontrar Fred e Dominique e jogar o restante neles, decidido pelo resto da noite a não desgrudar dos meus primos — e garantir que eles estivessem desgrudados o suficiente para eu suportar ficar na companhia deles.



A boate fechou por volta das 2 da manhã, mas meu grupo e todos os universitários locais não pretendiam acabar com a festa tão cedo, o que significava que o Sol já dava os primeiros indícios no céu noturno quando retornamos para o chalé.

Como eu, Fred e Dominique não entendíamos muito bem as leis trouxas, foi um choque descobrir que Lisa não tinha bebido nada de álcool para poder voltar dirigindo, mas aquilo não tinha a impedido de se divertir ao longo da noite. De forma comportada. Junto com Dominique. Comigo e Fred fazendo papel puramente de guarda-costas. Como deveria ser.

Após um banho rápido eu estava jogado na cama e desligar a minha mente não estava sendo exatamente uma tarefa fácil. Eu me remexia nos lençóis, colocava os braços nos olhos, depois me virava para a janela, para então voltar a ficar de barriga para cima. Abri os olhos, encarando o teto, não entendendo absolutamente nada do que estava acontecendo. Então a imagem do corpo de Lisa dançando colado ao meu me assaltou. Grunhi e fechei os olhos. Péssima ideia. Porque era pior. Era mais vívido, fazendo o meu corpo esquentar e eu sentir a excitação percorrer pelo meu corpo, fazendo com que a minha mão...

O barulho de alguém batendo na porta me fez dar um pulo e eu me xinguei por dentro. Meu Deus, eu era um idiota! Levantei da cama e me ajeitei, já que não sabia quem era na porta, abrindo-a em seguida, imaginando ser qualquer pessoa, menos a que se encontrava na minha frente, apenas com uma blusa de manga que ia até a um pouco menos que a metade de suas belas pernas. Meus olhos a percorreram de baixo a cima, em câmera lenta e então eu percebi que a camisa que ela usava era minha. Eu engoli em seco, subindo o olhar para cima, seus cabelos estavam soltos em ondas largas e ela tinha aroma de framboesa com sabonete.

— Desculpa. — Lisa respirou fundo e mordeu o lábio, parecendo reconsiderar o que tinha ido fazer ali. Eu permaneci exatamente onde estava, não confiava nos meus movimentos. — É que… tá meio quente e… — Eu não precisei confirmar para saber que, àquela hora da manhã, no meio do outono, fazia menos de 10ºC, mas eu conseguia entender como ela se sentia. — Eu não consegui dormir e meu quarto… eu… posso entrar?

Eu pisquei algumas vezes e depois assenti, dando espaço para que ela entrasse. Fechei a porta em seguida, enquanto ela girava para me encarar.

— Eu sinto muito, eu na verdade já estava indo embora quando você abriu. Eu acordei você? — Existia uma preocupação suave em sua pergunta, que era mascarada por uma ansiedade que eu não conseguia desvendar muito bem. Em resposta eu apenas balancei a cabeça. Lisa sorriu tão rápido que eu achei que tivesse imaginado aquele movimento. — Você também não conseguiu dormir? — perguntou leãozinho. Eu novamente neguei com a cabeça e ela riu. — O gato comeu a sua língua, James Sirius Potter?

Estava, de fato, quente. Era quase como se alguém tivesse ligado o aquecedor em uma temperatura de verão tropical e o quebrado. Eu sentia minha garganta seca e estava muito ciente do fato de que Lisa estava a apenas uns dois passos de distância. Com a minha camiseta no corpo. Então, quando questionado sobre minhas habilidades de fala, tudo que eu consegui dizer foi:

— Essa blusa é minha?

Lisa olhou para baixo e passou a mão pela peça, logo voltando a me encarar com um sorriso discreto, quase inocente, mas bem longe disso.

— Ah, sim! Eu encontrei ela na sala e ia te devolver, mas acabei derrubando sorvete na minha camisola e daí peguei emprestado, não tem problema, né? — Devido ao fato de que minha mente foi imediatamente inundada com a imagem de Lisa limpando a sujeira da camisola de um jeito um tanto quanto sensual, eu voltei a negar com a cabeça; Merlin, eu precisava de ajuda.

Lisa riu baixinho, sentando na cama e cruzando as pernas, fazendo a camisa subir, revelando um pouco mais de suas belas coxas torneadas e… eu precisava de água.

— Mas então… o que foi que tirou seu sono? — Ela. Mas enquanto eu ainda pensava numa resposta aceitável, Elisabeth se adiantou. — Por que no meu caso foi o fato de que eu não conseguia parar de pensar em você e na forma como você me agarrou naquela pista de dança e… Você sabe, outras coisinhas.

Eu estava parado, mas eu tropecei. Minha garganta parecia ficar ainda mais seca e eu já não era mais capaz de buscar os olhos de Lisa. Minha camisa ficava linda nela, parecia que tinha sido confeccionada apenas para aquele momento, para que ela a usasse, gravando meu cheiro na própria pele.

— O q.. Quê? — Eu consegui enviar sangue o suficiente para o meu cérebro para produzir aquele gaguejo.

— Oh, eu entendi errado? Pensei que você quisesse... bem, depois de dançarmos, achei que quisesse. Eu... eu me senti tão... viva — Lisa continuou e meu coração acelerou. — Deixa pra lá, eu devo ter…

— Não! — Eu não estava conseguindo raciocinar muito bem, mas eu sabia que queria ela ali. — Você não entendeu nada errado, eu… — Eu suspirei, passando as mãos pelos cabelos, exasperado. — Eu não estava conseguindo dormir pelo mesmo motivo. Na verdade, segundos antes de você bater na porta eu tava quase… — Me impedi de continuar, tudo tinha limite. Mas Lisa parecia saber exatamente como aquela sentença iria terminar, e se ajeitou mais confortável na cama, apoiando-se nos cotovelos e inclinando-se para trás de uma forma… — Pelo amor de todos os deuses. — Ofeguei e o sorriso dela se alargou.

— Você sabe, a gente não precisa ficar só na vontade, James.

Àquele ponto eu estava feliz de não ter água por perto, era provável que eu acabasse me engasgando e morrendo ali mesmo.

— Você tem namorado, Lisa. — Aquele era um lembrete para mim, não para ela. Mas Lisa revirou os olhos e se levantou, o que foi um pouco decepcionante.

— Qual é, James. Eu namoro um jogador de Quadribol internacional que está sempre viajando e eu nem sempre posso acompanhá-lo. Você ficaria surpreso com a quantidade de malucas que está sempre rodeando os estádios como abutres atrás dos jogadores e, bem, Stephen e eu evitamos problemas na nossa relação de uma maneira extremamente divertida para ambos. — Eu arqueei as sobrancelhas, se eu tivesse entendendo certo aquilo era uma surpresa. Mas Lisa não me deu muita margem para pensar, logo cruzando a distância entre nós dois e parando a centímetros de mim. Eu consegui sentir o perfume dela tomar conta de todos os meus sentidos ao respirar fundo. — Você poderia se divertir também, você sabe… se quiser.

Eu queria. Deus sabe o quanto eu queria. Mas o que aquilo iria significar? Eu não tinha mais tanta certeza de que só seguir em frente com minha vida me livraria daquela obsessão, especialmente se eu tivesse a oportunidade de prová-la. Eu iria conseguir deixá-la ir depois disso? Não conseguia responder que sim. Mas Lisa chegou ainda mais perto, e seus lábios roçaram meu pescoço antes de alcançar meus ouvidos.

— Nós não precisamos fazer nada que você não queira.

Por dois segundos, eu fiquei estático. Mas então eu me vi a puxando pela cintura com uma mão e a outra em sua nuca, trazendo-a para mim, sentindo o doce gosto de sua boca que quase me fez perder tudo ali mesmo. Lisa também não perdeu mais tempo, ela passou os braços em volta do meu pescoço, enquanto a sua língua tocava na minha, enviando uma onda de prazer até lá embaixo. Lisa sorriu ao sentir que eu já estava totalmente duro por ela, o que era maldade, por isso minha mão desceu até a sua bunda e a apertou com força, fazendo com que ela gemesse contra meus lábios. Sorri entre o beijo e a afastei para tirar sua blusa, minha blusa. E algo dentro de mim rugiu com aquilo. Minha. E então eu parei, afastando-a, ofegante.

Os lábios de Lisa estavam úmidos agora e ela me olhava com um desejo profundo e latente, eu mantive o braço estendido para mantê-la a uma distância segura.

— Eu não sei se eu posso… eu não consigo… — Eu era incapaz de dizer o quê porque a verdade é que eu não sabia muito bem o que eu estava sentindo, então colocar em palavras não seria fácil.

— Não precisa ficar com medo, James. — Ela se desvencilhou do meu braço e me tocou, eu tremi por inteiro. — Eu estou aqui, toda sua.

Minha.

— Você pode. Deixa eu te ajudar a conseguir. — A voz de Lisa ribombava dentro de mim quando ela segurou minhas mãos e as levou à barra da camisa, me guiando na tarefa de despí-la e me deixando sem fôlego com a imagem divina de seu corpo.

 E eu não sabia como, mas ao olhar para o corpo perfeito de Lisa, eu fiquei ainda mais excitado. Aqueles seios durinhos, com os quais eu, desde que eu a vi com aquela blusa os marcando, sempre quis chupar e apertar. E foi isso o que eu fiz. 

Lisa gemeu baixinho assim que eu toquei os seus seios, encostando-a na mesa que tinha ali, e murmurou em aprovação que eu tivesse retomado o controle. E agora eu não tinha mais certeza se conseguiria abrir mão dele, mas ela não parecia se importar. Seu corpo ficou um pouco projetado para frente e eu tive aquela visão privilegiada de seu corpo todinho. Minha mão apertou levemente o bico do seu seio direito, levando-a a gemer outra vez, meu membro apontando dentro da minha cueca. Merda, eu a queria! Meus dedos passearam pelo seu corpo, chegando até a sua calcinha branca e de renda, a qual eu a retirei com um puxão só. Desci meus dedos até seu clítoris e, imediatamente, a senti molhada. Tão molhada que meu dedo indicador escorregava enquanto fazia movimentos circulares.

— Se eu soubesse que você ficava tão molhadinha assim por mim, Elisabeth, eu teria te comido há muito tempo — falei, com a voz rouca, ouvindo seus gemidos ficarem um pouco mais altos. Inclinei-me para frente, a calando com um beijo. — Shh, eles irão ouvi-la. — Sussurrei contra sua boca.

O sorrisinho malicioso que Lisa me deu, eu jamais a vi tão... safada daquele jeito e eu não podia acreditar que ela realmente queria aquilo. E, honestamente, naquele momento eu não estava pensando e nem queria pensar que Lisa namorava. Na verdade, isso nem me passava pela cabeça. Eu só queria aproveitar aquele pequeno milagre em que Elisabeth me queria. Ela fazia com que eu me perdesse em seus olhos, em sua boca, em seu corpo que parecia ser perfeito para mim. Apesar de o desejo estar nos consumindo eu não queria apenas transar com Lisa, eu queria dar prazer a ela, eu queria venerar seu corpo, eu queria fazê-la minha. Sim, eu sei que era uma coisa um tanto idiota e que essa coisas não existiam. Mas era assim que eu me sentia.

Voltei a beijá-la, a sentir seu gosto, enquanto os meus dedos acariciavam onde mais lhe dava prazer. Eu abafava seus gemidos com meus lábios, minha língua dançando com a dela, o calor que tomava o quarto, tudo me deixava mais ainda louco para estar dentro dela. Sentir tudo. Separei meus lábios dos dela e a guiei pela cintura até a cama, a deitando um pouco mais para baixo da mesma. Abri suas pernas, ouvindo-a arfar e, dessa vez, quem deu um sorrisinho foi eu. Me abaixei e admirei aquela parte que eu jamais pensei em ver tão de perto. Minha língua percorreu sua intimidade e Lisa se curvou na cama, gemendo alto. Sorri, minha mão subindo e subindo, apertando o seu seio, enquanto ela tapava a própria boca. Lambi seu clítoris com delicadeza, sentindo sua outra mão deslizando para os meus cabelos, me guiando onde e como ela gostava mais. Sentir seus dedos em meus cabelos causou uma série de arrepios pelo meu corpo, aumentando mais o meu tesão por aquela mulher. 

Conforme eu sentia seu gosto em minha boca, com Lisa se contorcendo na cama, senti que ela iria em breve chegar ao seu ápice. Ela disse, entre gemidos, que era ali, bem ali onde eu estava com a língua, que a faria gozar. Por Merlin, eu queria que ela gozasse em minha boca, portanto, permaneci ali. Ela tremia, puxando os meus cabelos, enquanto eu só pensava: “Isso, goza pra mim, leãozinho. Quero que goze na minha boca.”  E, com uma mão tampando a boca, Lisa chegou em seu ponto mais alto, gemendo e levantando os quadris com a intensidade do seu orgasmo. Eu sentia seu líquido doce em minha boca, me sentindo ainda mais excitado. Eu deslizei as mãos pelo corpo de Lisa e retornei à sua cintura, pressionando-a ali, apertando-a contra mim.

— Eu não gostei nadinha do jeito que aquele cara segurou você. — Era uma confissão que eu não precisava fazer, mas queria, e Lisa se remexeu na cama. 

Eu suavizei o toque, observando-a. Ela tinha um sorriso selvagem no rosto, mas eu temi que ela se fosse. Eu a queria ali, comigo, agora que tínhamos começado eu conseguia pensar em tantas formas de tê-la, de lhe dar prazer, de marcá-la como minha. E eu a queria, mais do que eu conseguiria explicar, eu a desejava por completo, nem que fosse para ficarmos deitados lado a lado olhando para o teto, nem que ela nunca encostasse um dedo em mim ou me permitisse tocá-la novamente. Eu a queria, eu precisava dela, e não apenas para conquistar prazer.

Felizmente, Lisa parecia ter outros planos.

Ela levantou o meu rosto e eu pude ver sua expressão e seu rosto corado. O sorriso que ela deu chegou até meu membro. Por mais que eu estivesse satisfeito por ela ter chegado a um orgasmo, eu ainda queria saber como era estar dentro dela.

— Levante-se, eu quero ver se o que dizem de James Sirius Potter é verdade — ordenou ela e eu obedeci como um cachorrinho, meu membro apontando, ainda totalmente duro, em minhas calças. — Tire. — Lisa apontou com o queixo para minha cueca  e, assim, eu o fiz.

Imediatamente meu pau pulou para fora, ereto. Os olhos de Lisa percorreram meu corpo, me comendo com aqueles olhos felinos que ela tinha, dando um sorriso impressionado logo em seguida. Eu a observei se levantar e vir em minha direção, admirando aquele belo corpo esbelto. Lisa ajoelhou-se em minha frente e olhou para mim; engoli em seco, em expectativa. Meu Deus, como eu queria saber a sensação de sua boca em mim! 

Lisa, então, passou a língua por toda a extensão de meu pau, fazendo com que meu corpo reagisse de maneira intensa, sentindo uma sensação de puro êxtase. Lisa deu uma risadinha, passando a língua na cabecinha, enquanto eu abafei meu próprio gemido com a minha mão. Ela estava me provocando, estava querendo me deixar louco e eu estava caindo. Lisa voltou a dar atenção novamente para o meu pau, mas, dessa vez, o engolindo todo. E foi aí que eu vi estrelas. A umidade de sua boca era perfeita, eu podia sentir tudo e Lisa o chupava como nenhuma outra mulher havia feito.

Minhas mãos foram até seus cabelos, os enrolando em minhas mãos, fazendo Lisa gemer contra meu membro, e aquela era a visão mais excitante que eu já tinha visto. Ela fazia movimentos de vai e vem, ora devagar, ora rápido, ditando qual ritmo que ela queria, fazendo com que eu demorasse a chegar ao ápice. Cada vez que ela engolia, eu sentia sua língua em minha pele, minhas mãos ainda entrelaçadas em seus cabelos, sentindo o vai-e-vem, enquanto eu observava Lisa me chupar, gostando de fazer aquilo. Eu gemia baixinho para que Fred e Dominique não ouvissem o que a gente estava fazendo.

— Lisa, eu vou... vou gozar — comuniquei baixinho. Ela tirou meu membro dos lábios e, batendo uma para mim, sorriu. Sentir sua mão me masturbando era sensacional. Pequena e macia, quase não cabia nela.

— Goza na minha boca, Potter. — Lisa mandou e eu senti aquela ordem ecoar em mim. 

Lisa voltou, então, a me chupar e, com o auxílio de sua mão, aumentou o ritmo do vai e vem. Eu gemia baixinho, falando coisas desconexas, guiando levemente sua cabeça nos movimentos que ela fazia. Olhei novamente para baixo e vi que ela também se tocava e, por Merlin, aquilo foi o estopim para que o meu próprio orgasmo viesse. Eu avisei novamente, fazendo com que Lisa aumentasse ainda mais a velocidade; meu coração acelerou, minha respiração ficou irregular e meu corpo se retesou. Lisa sentiu a mudança e abriu a boca, enquanto eu ejaculava com força, de uma maneira que eu jamais, em nenhuma das vezes que eu havia dormido com uma mulher, havia feito. 

Olhei para baixo e vi Lisa com um sorriso satisfeito, ela havia engolido tudo. Abri a boca e...

Meus olhos abriram e eu sentei na cama ofegante. Eu sentia meu peito subir e descer; olhei para os lados e o sol já estava descendo no horizonte, mas o que me chocou de fato foram os lençóis revirados e a mancha molhada que se alargava pela minha coberta. Aos poucos a realização veio tomando conta de mim. Eu tinha gozado enquanto sonhava com Lisa. E eu sequer precisei me tocar para aquilo!

Eu não saberia dizer em quantos graus de constrangedor aquilo se encaixava. Eu tinha acabado de ter um sonho muito sexual e extremamente realista com Elisabeth e eu sequer tinha precisado me tocar para atingir o ápice de prazer, ao que tudo indicava a mera ideia de ter o rosto entre as pernas de Lisa — ou vice-versa — era mais do que o suficiente para meu corpo se satisfazer sozinho; eu preferia ter me tocado enquanto pensava nela? Não saberia dizer. Eu nem lembrava a última vez que eu bati uma. Não precisava, pois sempre estava com alguém. Mas dessa vez tinha sido diferente, tinha sido algo...

Eu engoli em seco. O calor, a vontade, ainda estavam ali. Levantei da cama com cuidado para não sujar nada e segui para o banheiro a fim de me limpar e tomar um banho gelado com o objetivo de colocar a cabeça no lugar.

Mas quando a água já tinha ficado fria e o dia dera lugar para a noite eu cheguei a conclusão de  três coisas: A primeira, eu realmente tinha imaginado e sonhado com Elisabeth fazendo sexo comigo, o que significava que aquele desejo já estava enraizado nas profundezas do meu inconsciente. A segunda era que, graças a isso, eu tinha plena certeza de que meu desejo por Lisa ia muito além de apenas um desejo. Possuí-la, dar-lhe prazer ou receber prazer dela não iria bastar porque, aparentemente, eu realmente estava gostando da leãozinho.

E a terceira? Bem, essa era fácil: a terceira era que eu estava completamente fodido.


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Notas finais do capítulo

Não nos mate! Tem mais coisa pelo caminho eu prometo! Vamos segurar o ouro um pouquinho, mas se você não conseguir conter muito a ansiedade conta pra gente o que achou dessa primeira parte e a gente considera adiantar a próxima postagem (já tá pronta!)
No mais, vemos vocês em breve e espero que tenham gostado! / Lia



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