A noite estava escura e gélida; nem mesmo a lua cheia conseguia abrir espaço entre as espessas nuvens de chuva, mas isso não parecia incomodar nenhum dos moradores da pacata Karakura.

A noite chuvosa não era empecilho para o povo animado em meio as incontáveis luzes natalinas e isso fazia a pequena shinigami pensar como um certo alguém estaria no momento.

Tudo estava feliz e colorido de mais, mas aquela felicidade não chegava o coração de Rukia.

Fazia mais de um ano que não o via e era por sua própria escolha.

Poderia pegar qualquer Gigai de Urahara e ir visita-lo, mas sabia que isso não seria bom para ele e muito menos para ela, que sentia seu peito doer cada vez que pensava em Ichigo.

Agora ele tinha a vida normal que tanto queria, sem lutas ou sofrimento e ela não queria atrapalhar com sua presença, que trazia tantas memorias desnecessária para a nova vida do ruivo.

Sabia que estar mais uma vez ali naquela cidade não era algo bom, mas não poderia negar sua primeira missão como tenente.

Ukitake havia insistido e tudo o que ela poderia fazer era acatar a ordem de seu capitão.

Sua tarefa era simples e rápida. Nada que um quinto ou sexto em comando não poderia realizar, mas sabia que o Taichou tramava algo mandando-a ali.

Ele a conhecia com um pai conhecia sua filha e não poderia negar que respirar o ar de Karakura mais uma vez a deixava nostálgica.

Sentia uma vontade avassaladora crescer dentro de si.

Ansiava por ver o amigo mais uma vez, mesmo sabendo que ele não a veria essa vontade não diminuía.

Precisava ver se ele estava bem e feliz.

Precisava confirmar que seus esforços em se manter distantes eram validos.

Precisava ver aqueles lindos olhos castanhos uma ultima vez, nem que fosse de longe.

Então após completar sua simples missão, a shinigami decidida, pôs-se a caminhar por entre as ruas iluminadas da cidade.

Poderia usar o shunpo, mas precisava de um tempo para pensar em tudo o que descobrirá sentir.

Não enxergava nada ao seu redor, nem mesmo a alegria gritante das pessoas que caminhavam por ali.

As luzes coloridas a faziam lembrar de sua ultima noite ali.

Noite essa em que pela primeira vez pegou-se olhando Ichigo com outros olhos.

A noite em que discretamente sorriu ao observar as pequenas luzes coloridas dos fogos de artifícios refletidas naqueles belos olhos castanhos.

Ah aquele sim foi um espetáculo!

Nunca diria a ninguém, mas amava aqueles olhos de um tom castanho que beirava o dourado.

Perdida em pensamentos a pequena nem via mais para onde caminhava, somente percebeu ao sentir a leve brisa do lago bater em seu rosto.

E lá estava ela mais uma vez a observar aquele pequeno lago onde varias vezes esteve junto de Ichigo para simplesmente apreciando sua presença.

Sorriu com a ironia do destino em leva-la a um lugar que para ela, era somente deles.

E como se o destino brincasse, lá estava Ichigo a observar o horizonte atentamente, ele estava bem arrumado e bonito como sempre. Talvez aquela fosse a oportunidade que Rukia tanto almejava.

Agora sim poderia falar tudo o que não falara a quase um ano atrás, mesmo que ele não ouvisse, para ela já seria uma chave de escape para liberar todos os sentimentos oprimidos dentro de si. Os sentimentos que desde aquele tempo eram um segredo somente dela.

— Yo Baka! — Saudou ao chegar ao lado dele, sem receber resposta algum. — Sentiu minha falta? — Indagou desdenhosa e melancólica ao mesmo tempo. — Espero que não... — Sussurrou voltando seus olhos na mesma direção em que ele olhava tão atentamente.

Não havia nada lá a não ser um denso nevoeiro que cobria quase toda a superfície do lago azul.

Desejava saber no que tanto ele pensava, mas ela mesma já não pensava com clareza. Tudo o que insistia em gravar-se em seu cérebro era o quanto ele ficava bonito de perfil.

— Inútil... — Ouviu ele resmungar colocando as mãos no bolso. — É inútil pensar que ela viria. — Continuou triste.

O coração de Rukia martelava dolorosamente contra seu peito.

— Parece que você não sentiu mesmo minha falta... — Sussurrou ela imaginando com quem ele teria marcado um encontro de natal no lugar que era somente deles.

Talvez Orihime finalmente tivesse se declarado e agora eles finalmente começassem a namorar.

Seu coração doía com essa possibilidade, mas sabia que ele teria que seguir em frente assim como ela também teria.

— Talvez eu devesse esperar mais um pouco... — sussurrou ele incerto sentando-se nos degraus de pedra, onde muitas vezes sentaram juntos.

— Sim Ichigo, não desista. — Respondeu ela ao seu lado. — Ela vai chegar. — Completou ela tentado passar a confiança e alegria que ela não tinha, pois mesmo que ele não a vi-se, queria agir normalmente, quem sabe assim não doeria menos?

— Me pergunto o que ela esta fazendo agora... — Declarou ele. — Será que eles comemoram o natal na Soul Society? — Indagou curioso. — Eu não devia estar aqui, na verdade, eu devia estar com minha família me preparando para ver os fogos. Afinal, foi para isso que eu sai de casa e não para ficar aqui remoendo o passado. Não entendo como vim parar nesse lugar... — Completou suspirando cansado.

— Ichigo?! — Indagou a pequena arregalando os olhos ao entender que o ruivo falava dela. — Ichigo... — Disse com os olhos marejados.

— Rukia... — Falou com um misto de dor e saudades em seus olhos. — Eu queria meus poderes. — Sussurrou melancólico. — Eu queria vê-la novamente. Sinto-me tão inútil, não posso proteger ninguém. — Falou desabafando. — Minha vida não tem mais sentido algum. — Completou abaixando a cabeça.

Aquelas palavras ditas com tanta dor fizeram as lagrimas escorrerem pelo rosto da pequena. Queria poder abraça-lo, mas tudo o que pode fazer foi colocar-se de pé diante dele.

— Tolo! — Exclamou mesmo sabendo que ele não a ouvia. — Vai ficar choramingando por ai?! Levante-se e siga em frente, seja um homem feliz. — Continuou com força. — Você é forte. Seu coração é forte. — Falou. — Eu acredito em você, Ichigo. — Completou ela vendo o sorrir.

— Por que será que tenho a sensação de que se aquela maldita me visse nesse momento ela estaria gritando comigo? — Questionou bem humorado. — Queria ouvir os gritos dela agora. Ah! Essas noites mal dormidas não estão me fazendo bem. — Falou ainda com um leve sorriso em sua face. — Mas o que posso fazer se até em sonhos aquela nanica me persegue... — Completou desdenhoso.

— Ichigo.... — Sussurrou ela. — Ichigo, mesmo que não posso me ouvir eu vou estar aqui por você, então apenas ilumine todos a sua volta, porque eu vou estar te observando. — Declarou ela.

Os fogos de artifícios emfim foram soltos e ela mais uma vez pode ver aquelas luzes refletidas nos castanhos olhos do ruivo.

— Apensa ilumine, Ichigo. — Repetiu ela sorrindo, sem desviar os olhos dos olhos dele. — Apenas ilumine, seja o sol radiante que você sempre foi... — Falou ela. — Viva sem pressa e seja a luz de sua família e de seus amigos, livre-os da escuridão, assim como você fez comigo, ao mandar para longe minha solidão. — Completou lembrando de todas as alegrias e conquistas que conseguirá somente por tê-lo ao seu lado.

Não compreendia muito sobre aquela festividade humana, mas naquele momento ver as luzes coloridas de natal pintar o céu, junto de Ichigo a deixaram tão em paz que mesmo sabendo não ser possível, desejava passar mais natais como aquele.

O natal revelava os bons sentimentos da pessoas e os sentimentos dela estavam entregues ao ruivo, mesmo que ele não soubesse.