Refugiados escrita por Lara Campos


Capítulo 6
Capítulo 6 - Promessas


Notas iniciais do capítulo

Olha, bem como prometido, um capítulo rapidinho e seguido do outro. Pra compensar minha ausência. Espero que gostem e que comentem suas impressões. Esse capítulo é leve, pra tirar a tensão dos três últimos, mas ao mesmo tempo muito importante pra o quase encerramento da fic que vai até... o oitavo capítulo.
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Aproveitem. Beijos, crianças :*



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Meus olhos lacrimejaram quando tentei abri-los. Eu tinha certeza de que a metade de minha existência até aquele dia havia sido gasta em camas de hospitais. E pela forma como tudo andava - Peeta Mellark cada vez mais descontrolado - eu chegaria talvez a dois terços de uma vida numa cama até o dia em que finalmente morresse. Algo gelado percorria minhas veias, o que gerava uma sensação de alívio reconfortante em meu estômago meio revirado.

_É só soro - respondeu-me uma voz conhecida, que eu supunha ser de Katniss, mesmo sem conseguir distinguir muito bem suas feições -.

Remexi meu corpo que parecia estar deslocado sobre os lençois e ajeitei-me devagar, meio tonto, sentando-me na cama. Respirei fundo o que parecia ser uma essência de eucalipto colocada em meus aposentos propositalemente e um sorriso ingênuo escapou de meus lábios ainda fechados.

_Eu sei que você gosta - disse-me Katniss -.

_Sabe? - respondi surpreso -.

_A maioria de suas receitas tem um toque de eucalipto. No ínicio achei ser algum tipo de tempero especial, mas daí fui percebendo aos poucos que o mágico mesmo era aquele aroma…

Katniss deixou a frase meio solta no ar e sorriu, mostrando-me os dentes. Poucas vezes eu via Katniss sorrir. Lembrava-me de uma dessas vezes em especial, um riso meio sem graça, quando propus a ela que nos conhecêssemos melhor. Saber sua cor preferida parecia bobo demais ou talvez íntimo demais naquela época. Mas era o mínimo que eu podia saber sobre a garota que eu amava. E hoje, irônicamente, perceber que ela havia prestado atenção num detalhe tão pequeno das minha manias culinárias fazia com que uma calma se instalasse em meu corpo todo. Um dia Katniss me amaria como eu a amava.

_Posso te fazer uma pergunta?

Ela acenou positivamente com a cabeça mantendo uma distância saudável de mim.

_Katniss é uma planta comestível?

Por um instante ela sorriu sem jeito, não esperando algo tão aleatório depois de um período em que eu havia estado quase a beira da loucura mais uma vez.

_É sim. Mas na única vez que a colhi ela tinha gosto de nada. Plantas aquáticas geralmente perdem o gosto, se comermos elas cruas.

Plantas aquáticas.

Aquilo era suficiente para colocar meu delírio na casa de um sonho. Eu muito menos havia recebido um recado de Snow - refletido na água ao invés de o meu rosto - nem sequer havia encontrado katniss por um campo aberto em meio a margaridas.

_Porque a pergunta? - ela havia ficado inquieta -.

_Nada de mais. Posso fazer algo pra você um dia com elas, se quiser.

_Quero sim - Katniss respondeu-me e sorriu timidamente -.

A distância que ela mantinha entre eu e seu corpo era um pouco maior do que eu desejava que fosse. Eu nunca a julgaria, porém. Um dos poucos flashes que ainda rondavam minha cabeça era o de empurrá-la para longe e ver seus olhos cheios de lágrimas, enquanto minha mente era tomada por Thomas, deliberadamente. O curativo em seu braço era visível, prova de que eu havia machucado Katniss mais uma vez e talvez isso fosse tão recorrente que chegava a me dar náuseas.

_Eu sei que você nunca vai estar segura perto de mim.

_Dr. Aurelius me disse que…

_Não interessa o que ele disse… - interrompi-a com um pesar na voz - Eu sou um eterno perturbado, Katniss.

Reparei que seus olhos percorreram toda a sala, em especial um canto ao lado da porta em que havia uma pequena caixa coberta com vidro, no que parecia estar instalada uma câmera. Katniss, então, pegou um pano sobre a bandeja com frutas que ficava do lado da minha cama e cobriu a caixa, isolando-nos do mundo do lado de fora. Pensei em reclamar, mas logo ela se direcionou à porta e também trancou-a por dentro.

_Katniss, não… você está ficando maluca? Isso é insano, por favor…

_Você não é um monstro, Peeta. Aceite isso!

Ela praticamente cuspiu as palavras sobre mim com ódio nos olhos.

_Eu sou uma aberração. Um eterno perturbado - tudo o que minha boca conseguia reproduzir eram aquelas palavras de Thomas e que também saíram da boca de Haymitch, no que claramente fora um delírio de minha mente -.

Ela veio com os dentes cerrados em minha direção e firmou suas duas mãos no encosto de mãos de alumínio que ficava acoplado ao leito. Seus olhos há poucos centímetros dos meus, ardendo de um sentimento que eu não conseguia muito bem explicar e seu lábio inferior escondido pelos dentes que mordiam-no com uma força palpável.

_O que é? Você quer me provar o que? Que eu posso te matar agora mesmo?

_Eu vou te provar outra coisa, seu idiota!

Katniss juntou seus lábios aos meus e logo sua língua já procurava a minha sem o mínimo de pudor. Suas mãos abriam a camisa do pijama branco que eu usava e tremiam ao mesmo tempo, numa rapidez que ela sequer tinha, normalmente. Fechei meus olhos com força ainda com medo de tocar nela e ela retirou minha camisa, jogando-a para longe. Suas mãos, então, passaram a acariciar meu peito espalmadas, subindo até meu pescoço e se juntando em minha nuca enquanto ela puxava mais meu rosto contra o seu para encaixar nosso beijo ainda mais profundo.

A avidez com que ela movimentava sua boca sobre a minha provocava arrepios em meu corpo todo, que pareciam crescer a cada segundo que nosso beijo se alongava. Katniss soltou minha boca lentamente, então, deixando ainda dois beijos de leve antes de se afastar.

_Olha bem pra isso - Katniss fixou seus olhos nos meus bastante ofegante e tirou sua camiseta e o cachecol que cobria seu pescoço - Olha de verdade, Peeta! - a fúria em seus olhos me assustava -.

Ao obedecê-la olhei fixamente seus seios, sua barriga, seu umbigo, a curva de sua cintura de cada um dos lados. Seu pescoço com uma cicatriz de um arranhão, seu braço direito com uma fita branca e uma gaze cobrindo o corte que o baque contra o chão lhe provocara.

_O que você sente, Peeta?

Eu quis responder culpa. Eu quis verdadeiramente olhar para seus hematomas e dizer o quão doloroso era ver as marcas que seu corpo carregava por minha causa. Mas algo na postura de Katniss não me permitia tal resposta. Seus olhos não se desviaram dos meus por sequer um instante; sua boca entreaberta puxava o ar pesado do quarto e fazia com que seus seios subissem e descessem guardados em seu sutiã azul-marinho; seus cabelos soltos e caídos sobre os ombros contrastavam nitidamente com o alvo de sua pele. Seu corpo pedia para ser tocado. Não só com as mãos, porém. Só o que minha mente conseguia criar era a imagem de Katniss ali, parada a minha frente, completamente nua e minha boca percorrendo cada pedacinho dela, sem pressa, sem hora para acabar de senti-la.

_Eu quero uma resposta. Agora!

Ela se aproximou ainda mais, tocando o quadril na lateral da cama. Meus olhos não conseguiam fugir de seu colo. Ela praticamente guiava minha visão até ele, pelo modo como se portava à minha frente. Minhas mãos suavam presas ao lençol abaixo de mim, mas sem querer ceder à vontade de apalpar seus seios por baixo daquele sutiã;

_Tesão - respondi seco -.

Katniss ainda manteve seu olhar pesado me perfurando.

_E qual o tamanho da sua vontade de me machucar, agora, então? - suas mãos começaram a deslizar sobre minhas coxas, da altura de meus joelhos até a braguila de minha calça e sem mudar seus olhos de direção ela foi abrindo o zíper devagar -.

_Depende como - fui bastante sincero na resposta -.

Katniss sorriu maliciosamente e se aproximou devagar fechando seus olhos e esperando que eu tomasse seus lábios com os meus. Seria impossível não fazê-lo, vendo tão de perto a vermelhidão e a umidade com que eles se insinuavam para mim. Beijei-a, pois, agarrando sua cintura com as duas mãos e trazendo seu corpo num puxão para cima do meu bem encaixada em meu quadril. Eu queria que ela provasse um pouco do veneno de estar me provocando daquele jeito.

Katniss arfou alto e curvou seu rosto para cima ao se sentar em meu colo e sentir que eu eu não mentia ao dizer que o que sentia por ela naquele instante era um desejo latente. Ela abriu os olhos, então, agarrando-me com as mãos em volta de meu pescoço e mordeu meu lábio inferior arrancando dele um filete minúsculo de sangue e deixando o gosto do ferro em minha boca. Senti aquele gosto e fechei meus olhos, voltando à imagem a Snow, por um instante. Katniss roubou-me um beijo, então, sem deixar que meus pensamentos fugissem de sua presença ali, tão incrivelmente mulher e de uma maneira que eu nunca havia notado antes: uma visão menos romantizada da garota que amava.

Ouvimos um estrondo, logo depois que ela me beijara, e ambos abrimos os olhos ainda abraçados um ao outro e interrompendo o beijo para nos virarmos para o local de onde provinha o som. Gale e Haymitch haviam arrombado a porta com a ajuda de um dos enfermeiros, ficando parados ali, então, cambaleando e percebendo o que estávamos fazendo.

_Mas que merda, hein… - Gale foi o primeiro a olhar em nossa direção com um misto do que parecia ser desprezo, ódio e ciúmes ao mesmo tempo e então saiu da sala bufando e maldizendo metade de Panem -.

_Hey, crianças… - dissse Haymitch apertando os olhos para negar o fato de que eu e Katniss estávamos seminus e a sua frente - Acho que crianças mais não, não é? - e ele ainda teve tempo de sorrir antes de virar as costas para nós dois -.

O enfermeiro que os ajudou ficou por último, um pouco menos constrangido e sorriu para mim desconsertado.

_Você deixou esses caras furiosos se isolando aqui, Katniss - começou o rapaz - Eles quase chamaram a presidente - e sorriu, também -.

Katniss não pode deixar de escapar uma risada, mas ao mesmo tempo pediu desculpas ao rapaz. Eu não sabia muito bem o que dizer, mas eu tinha vontade de sorrir junto com todos eles. Era estranho sentir que meu corpo tinha apagado suas chamas, que o clima havia sido totalmente arruinado, mas mesmo assim estávamos num momento divertido. Diversão após tanto caos.

Beijei Katniss ainda em meu colo e abracei-a sorrindo por um longo tempo.

~

Ela ficou ali, deitada ao meu lado numa cama que obviamente só abrigava uma pessoa, por mais de duas horas. Seu corpo de lado, seu braço esquerdo ao redor da minha barriga, seu rosto apoiado em meu peito. A cada vislumbre de seus olhos fitando os meus, meu sorriso se abria involuntariamente. Katniss era a melhor médica que eu poderia ter. Ela, sem nenhum analgésico ou sedativo para acompanhar, curava quase todas as minhas dores. Seus olhos, porém, mesmo felizes se mostravam preocupados. Nossos diálogos foram curtos durante suas horas ali e sempre que eu tentava voltar minha lembrança aos últimos dias ela simplesmente me beijava e mudava de assunto.

_Katniss…

_Diga, amor.

Amor. Ela nunca tinha me chamado assim… Foco, Peeta!

_Er… - comecei meio sem jeito - preciso que me prometa duas coisas.

Katniss veio em minha direção ameaçando me dar um novo beijo, mas interrompi seu caminho.

_Por favor, meu anjo… não vamos fugir disso. Eu preciso.

Ela assentiu, murchando, e desceu seus olhos a fitar o movimento circular que fazia ao redor do meu umbigo.

_Você vai falar com Gale - senti seu peito se encher como se ela desaprovasse aquilo - E quero que você me conte tudo o que aconteceu.

_Tudo? - ela se virou para olhar em meus olhos -.

_Desde quando eu desmaiei em minha casa até o dia de hoje.

Katniss fechou os olhos e respirou fundo.

_Eu vou precisar que você seja forte - disse-me ela -.

_Eu prometo que vou ser - fechei os olhos e tentei prometer a mim mesmo o que acabara de dizer -.


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram do capítulo? Eu particularmente amo deixar o Gale irritado haha Beijos!



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