11 de Janeiro de 2011.

Assim que Victoria chegou ao restaurante, um garçom foi imediatamente avisar Tom que sua namorada havia chegado.

Assim como Tom lhe havia surpreendido um ano atrás com o jantar no barco, Victoria também se surpreendeu com o lugar que ele havia escolhido. Era o restaurante mais luxuoso de Berlim. Com ótimos chefes e perfeitos garçons, alem de maîtres muito educados. A melhor mesa era a que ficava no terraço. Com uma vista linda para um lindo jardim com uma enorme fonte luminosa, que jogava litros de água para cima e que caiam como uma enorme cascata de luz. Ao ser guiada pelo maître ao terraço, ela reparou que o restaurante não estava em seu movimento comum. Aquele era um restaurante bem freqüentado, e era raro que ficasse vazio, mais hoje era assim que ele estava.

Antes mesmo de chegar ao terraço ela pode perceber que Tom não estava tão à vontade assim. O problema, ela sabia, com certeza não era no lindo terno azul-marinho que ele usava, pois apesar de não gostar de roupas apertadas, desde que ele passara a levar Vic a lugares como aquele, ele tinha adquirido o costume de andar sempre muito alinhado.

O que pode ser então... Tom, você esta me matando com todo esse silêncio...

Ele a viu se aproximando graciosamente acompanhada de Phill, o maître deles naquela noite. Ela observava todo o restaurante, que ele tinha tido o cuidado de pedir ao gerente que o deixasse o mais vazio possível. Ele ainda não tinha certeza suficiente do que iria acontecer durante o jantar, mas com certeza não queria platéia.

Em quanto Vic vinha em sua direção ele não pode deixar de notar que ela estava mais linda do que nunca. Ela usava um vestido preto, tomara-que-caia, franzido no busto, liso na cintura e franzido novamente na saia levemente rodada, que estava na altura do joelho e uma bota preta de cano curto, toda detalhada em prata. Tudo isso mais o jogo de jóias que ela havia ganhado de Gustav e Bill. Mais o seu anel de namoro. Ela estava perfeita, como um anjo.

Como pode alguém, assim tão perfeita amar alguém como eu, tão imperfeito.

Assim que Vic e o maître chegaram à porta, Tom se levantou e fez questão de abrir a porta para Vic, que tinha um sorriso tímido nos lábios. Ele fez sinal pro maître de que viesse alguém um pouco mais tarde. Assim que ele viu Phill se afastar, virou-se pra Victoria e lhe deu um beijo profundo e lento. Ambos sentiam falta daquele simples gesto. Mas faltava algo. Eles não sabiam dizer o que era. Talvez a distancia tivesse tirado algo, como a proximidade. Eles não sabiam dizer quem dos dois tinha mudado.

Sentaram-se, a espera do garçom.

- Como você tem passado Vic, nesta última semana? – perguntou Tom, tentando quebrar o silencio.

- Bem, apesar de tudo. – ela não conseguiu deixar de responder assim. Sorriu timidamente e perguntou. – E você, como esta depois dessa semana agitada?

- Acho que bem, de certa forma. – a resposta dela o machucou, mas ele sabia que merecia ouvir, - Tudo tem estado tão fora de controle.

- Eu sei... – ela murmurou, mas disse rapidamente. – Eu os acompanhei pelo tempo que pude o que não foi muito, mas pude notar que vocês tem tido muito trabalho. Mas tenho certeza que vai dar tudo certo.

- É. Mas e você, como vai o estúdio? – ele queria desesperadamente sair do assunto que o tocava, e sorriu ao perceber que tinha acertado.

- Ah, esta ótimo. Acho que ganhamos mais prestígio ao trabalhar com uma das mais famosas bandas da Alemanha! – disse ela sorrindo pra ele.

- Hummm... Pensei que fossemos os melhores... – ele fez bico.

Não demorou muito e um garçom veio-lhes servir. Os vinhos e as entradas, Tom já havia adiantado. A entrada era camarões grelhados, os preferidos de Vic acompanhado de vinho rosê.  Como prato principal ela escolheu salmão grelhado com molho de limão e conhaque e ele escolheu o mesmo, só que sem o conhaque. Apesar da insegurança dos dois, eles tiveram um ótimo jantar, eles gostavam da companhia um do outro, eles sabiam como esquecer todos os problemas quando estavam juntos, e queriam desfrutar desse momento. Victoria riu muito com as atrapalhadas de Georg, com os escândalos de Bill e Tom e com a falta de paciência que Gustav demonstrava diante atrasos. Mais apesar disso eles não conseguiam esconder as lacunas de duvidas que haviam aparecido nesta ultima semana.

- Acho que Georg nunca mais vai se esquecer de não balançar a garrafa de coca-cola antes de beber. – disse Tom entre risos quando terminou de contar a Vic que o amigo havia distraidamente balançado tanto a garrafa de coca-cola que ela havia simplesmente explodido.

- Eu sei. Ele me contou isso da ultima vez que me ligou. – ela disse rindo também, mais sem deixa de demonstrar tristeza.

Deixe de ser tola Victoria. Se Tom já não estava tão interessado em você, por que você acha que vai poder atraí-lo agora, sendo tão deprimente. Por que você tem que ser tão transparente.

Tom não pode deixar de se culpar pela tristeza de Vic, afinal, ele se distanciara sem ao menos dizer nada.

Poderia ter pedido um tempo. Ela não iria me negar, e seria melhor do que tê-la deixado sofrendo por todo esse tempo. Tom seu idiota, é culpa sua se ela se machucar mais com o que você vai fazer.

Eles terminaram de comer a sobremesa, torta de chocolate pra Victoria e torta de morango pra Tom, quando ele a chamou para caminhar. Apesar de não fazer frio, Victoria andava abraçada ao próprio corpo ao lado de Tom. Estavam a centímetros um do outro, mais para ela parecia um verdadeiro abismo. Eles caminharam ate chegar à fonte, quando ele parou de repente e ficou a observar a água que caia novamente aos pés da fonte. Ela também apenas observava a água caindo, sentindo como se estivesse debaixo da força daquela água toda.

Como eu posso fazer isso. Bill me deu duas opções, mais qual escolher. Eu preciso tanto dela ao meu lado, mais eu não posso fazer isso com Victoria, eu preciso dar a ela a chance de encontrar alguém que realmente a mereça.

Se ele não falar nada eu acho que não vou conseguir suportar essa dor que cresce. Como eu queria que ele me abraçasse, e dissesse que esta tudo bem. Deus, como eu perdoaria que ele tivesse me traído só dele dizer que não significou nada pra ele. Eu sempre soube que nunca fui a garota certa pra ele. Ele é excepcional, e eu, apenas uma garota comum.

- Victoria... – Tom disse chamando a atenção de Victoria pra si.

- Sim? – ela disse prontamente.

- Eu... Eu preciso te contar uma coisa... – Ele começou dizendo.

- Pode dizer o que quiser... – disse ela baixinho.

- Vic, eu... Você sabe que eu nunca fui o cara mais fiel do mundo, e que namorar firme com alguém foi algo que nunca passou pela minha cabeça... – as palavras dele entravam em seus ouvidos como um vento forte e gelado, que a obrigava a abraçar um pouco mais forte o próprio corpo, mais ela permanecia quieta enquanto ele continuava... – Ficar com você foi totalmente novo pra mim. Um ano, um ano apenas com você. Eu sinceramente nunca imaginei isso...

Ele parou um pouco apenas para observá-la. Ele estava se odiando por deixá-la naquele estado, de fragilidade. Apesar de Bill tê-lo alertado de que aquela não seria a solução mais fácil, ele pelo menos julgava que era a melhor.

- O que você quer dizer com isso tudo Tom... – perguntou Victoria diante o silencio dele.

Mais um minuto de silencio. Ele olhou fundo nos olhos dela, que brilhavam com a luz que jorrava junto com a fonte. Ele precisava dizer agora.

- Vic, eu não estou me sentindo muito bem com nosso namoro, algo está me deixando incomodado, eu não consegui mudar o suficiente pra ficar com você. – ele disse finalmente.

- Tom, só tem um ano que estamos juntos e sinceramente eu acho que você mudou muito... – mas ela não continuou, pois ele pôs levemente os dedos sobre sua boca, pra que ele mesmo continuasse.

- Victoria... Nesse tempo que ficamos juntos e pensei em outras comigo, na cama, mesmo que depois me sentisse culpado ao olhar pra você... – ela ia dizer algo, mas ele não deixou, precisava terminar, - E eu fiquei uma semana sem dar noticias por que... Porque fui pra um motel com uma fã, e depois disso me senti muito culpado pra falar com você.

“Eu me lembro bem da primeira vez que senti uma dor tão forte assim. Eu tinha treze anos, e estava de férias com meus avôs em Moscou, e eu e minha irmã resolvemos dar uma volta perto do lago, que estava totalmente congelado por causa do inverno. Eles haviam nos alertado para não chegar muito perto do lago, pois apesar de ele estar congelado, o gelo poderia se quebrar facilmente. Porém, apesar dos avisos, eu estava tão fascinada com a beleza daquela imensidão gelada que tive que testar por mim mesma. Apesar dos protestos de Meredith, eu comecei a caminhar lentamente sobre o gelo, ficando a cada passo mais longe da margem. Ao meu quinto passo o gelo pareceu fazer um barulho. Eu não queria cair naquela água tão gelada, então comecei a voltar, porém quando estava a um passo da margem o gelo abriu-se sob meus pés, então eu cai. Pareciam que mil agulhinhas entravam em minha pele. Meu coração tentava bater descontroladamente, porém eu não sabia se queria que ele continuasse a bater, por que a cada esforço dele minha dor aumentava velozmente. Fiquei submersa por cinco minutos, pelo que soube, ate que um senhor que passava ouviu os gritos de Meredith e veio ajudar. Foi um milagre eu ter saído viva”.

 Agora, a dor que as palavras de Tom causavam mais fortes do que a dor que senti aquele dia. Eu queria desesperadamente que meu coração parasse, pois talvez assim a dor também parasse. Eu sabia que o fim poderia chegar algum dia, afinal nunca me iludi a ponto de achar que minha historia com Tom fosse como nos contos de finais felizes para sempre, e passei aquela ultima semana me preparando para isso, mas agora estava obvio que eu não estava preparada para o fim.

- O que significou pra você? – Victoria sussurrou, apertando ainda mais o próprio corpo, como se assim a dor recuasse.

- Nada, Victoria, não significou nada! – ele disse. Tom estava decidido a não contar para Vic que não havia chegado a ficar mesmo com a fã, queria que Victoria o odiasse a ponto de deixá-lo.

- Eu... Eu posso perdoar... Eu te entendo... – ela disse depois de um tempo.

- Mas do que adiantaria? Eu não posso prometer que não vou fazer de novo. – ele rebateu, sentando-se na beirada da fonte.

- Você não precisa me prometer nada Tom, eu nunca te exigi nada. – agora ela não conseguia mais conter as lagrimas que insistiam em cair.

- Eu sei Victoria, e por isso que eu quero terminar nosso namoro por aqui. Não quero mais que perca seu tempo comigo. – ele disse com a cabeça apoiada nas mãos.

- Mas e seu eu quiser perder meu tempo com você Tom? – perguntou ela sentando-se ao lado dele na fonte e pondo uma de suas mãos no rosto dele.

Por que, por que ela continua tentando? Por que continua tentando me entender? Eu não quero ter que dizer mais nada. Por que ela não grita comigo? Por que não diz que nunca mais quer me ver? Seria tão mais fácil.

- Infelizmente você vai viver uma historia sozinha se continuar comigo. Eu não sinto mais o que sentia por você, Victoria. – ele respondeu olhando nos olhos dela e tirando a mão dela de seu rosto.

Ela não podia acreditar nas palavras dele, ela não queria acreditar. O amor que eles tinham não podia ter acabado assim, de uma hora pra outra. O amor dele por ela não podia ter acabado. Por que ele fazia aquilo com ela? Ela ficou um tempo olhando para sua mão que ele havia afastado e lembrou-se de um poema que Tom havia recebido no seu blog por uma fã, e que eles gostavam de declamar um para o outro quando estavam sozinhos. Ele tinha que responder sinceramente, mesmo que aquilo significasse o fim.

- Você me acha bonita? – ela perguntou.

- Não! – ele respondeu.

- Quer ficar comigo para sempre? – a primeira resposta havia machucado mais ela iria continuar, nem que fosse uma ultima vez.

- Não! – disse ele novamente.

- Vai chorar quando eu for embora? – ela perguntou, deixando mais lágrimas banharem seu rosto.

- Não! – ele respondeu por fim, olhando as próprias mãos.

Ela não tinha mais o que dizer. Victoria podia ver que não estava sendo fácil pra Tom terminar com ela, e que se seria melhor para ele que tudo terminasse, ela faria aquilo por ele. Limpou o rosto com as costas da mão e sorriu. Pegou o rosto dele e o levantou para si, deu lhe um beijo em sua testa dizendo:

- Fora a última semana, todos os momentos que eu passei ao seu lado pra mim foram maravilhosamente mágicos Tom. – ela olhou nos olhos dele e limpou uma lagrima solitária que caia pelo belo rosto de Tom e terminou de dizer. – E independente do que passamos nesta última semana Tom, você sempre vai poder contar comigo, e que eu também nunca vou deixar de te amar.

Ela levantou-se e virou-se para ir embora, deixando-o onde estava mais arrasado do que nunca. Aquelas palavras definitivamente doeram mais do que qualquer tapa ou palavra de ódio que Victoria podia ter lhe dito.