O Jogo da Forca escrita por saoren


Capítulo 1
Travessura


Notas iniciais do capítulo

Hello! Aqui estou eu trazendo mais uma estória (que provavelmente ficará em hiatus, de acordo com as estatísticas). Espero que curtam e sintam a tensão. Boa leitura!



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– N-não por favor! – chorava a jovem ruiva. As mãos amarradas nas costas a impediam de tentar adquirir mais alguns segundos de sobrevida. Estava sobre a ponta dos dedos apoiada em um banquinho. Qualquer esforço a faria se desequilibrar. Sentia sua garganta inchada.

Mais um erro e sua alma estaria nos braços da morte.

– Então? Qual sua próxima escolha? – A voz grossa a deixava atônita. Com certeza era um homem por conta do porte físico e a altura. Ele usava luvas e mantinha o rosto coberto por uma máscara toda branca.

Tudo estava tão escuro e silencioso, não ser pela voz dele e os sons sôfregos dela por não conseguir respirar bem. As janelas estavam fechadas, mas do lado de fora havia neve e pequenos cristais de gelo se formavam no vidro e podia-se sentir a frieza da estação.

Depois de muito considerar sua escolha para não errar, Giovanna pensou. Nunca prestara atenção nas aulas de gramática quando era pequena e pensava que aquilo era o carma invadindo sua vida. Observou os rabiscos do homem na parede, sua letra garranchada lhe desconcentrava com facilidade. Havia isso escrito:

__ E R __ I V E R S __ R

Uma lágrima fria escorria por sua face. Já havia errado cinco chances. Com pouca oxigenação em seu cérebro, a jovem mal conseguia pensar. Qualquer letra que vinha a mente ela pensava em falar, mas ao abrir a boca notava aquela máscara imóvel, encarando-a como se dissesse “Tenho todo tempo do mundo. Estou esperando seu erro.”

– P-pare, por fa-favor. O q-que eu fi-iz de er-rado? – mais uma lágrima, que só não congelava em sua bochecha por conta do ínfimo calor que sua pele emanava.

– Todos nós vamos morrer um dia. Apenas estou adiantando o trabalho de meu amigo Thanos. Poupando gastos, tempo e energia – a voz declarou sem um pingo sequer de compaixão – Sabe, se você não começar a falar vou entender que está brincando comigo, jovem Giovanna.

Ele se moveu poucos e lentos passos em direção a ela e Giovanna quase se desequilibrou do banquinho de madeira velha. Ele se apressou e a segurou pela cintura. A camisola cheia de pano dela pairava sobre as mãos dele em montes.

Quando a deixou sobre o suporte novamente, sentiu a luxúria bater à porta. Sentia a curva da cintura dela e imediatamente se perguntou como seria a pele dela sem toda aquela vestimenta. Lentamente desabotoou a camisola. Apreciou a vista como se estivesse descobrindo aquela imagem naquela instante. Desenhou uma linha que iniciou na base da garganta até seu ventre e o beijou.

Giovanna se sentia tão humilhada, não conseguindo mais controlar seu medo, começou a soluçar e se engasgar com a própria saliva.

– Shhh, nada mais vai acontecer se você apenas disser a letra, Giovanna. Eu só quero mais uma letra.

– T-t-t...

– Muito bem, T. – ele sabia que ela não iria falar aquela letra, iria pronunciar alguma palavra que se iniciava por t, mas resolveu dar um ponto de vantagem.

E a palavra ficava assim:

T E R __ I V E R S __ R

Um arrepio de alívio percorreu seu corpo, deixando o corpo dela eriçado. Uma expressão feroz passou pelo olhar do homem. “Mais duas letras. Apenas mais duas”, ela pensava esperançosa. Fechou os olhos e sentiu seus seios serem apalpados. Não estava gostando. Nunca pensou que a primeira vez em que a tocariam seria à beira sua trágica morte.

– Mais uma letra, Giovanna. – ele pediu sussurrando.

– Qual s-seu no – tossiu um pouco – nome? – perguntou com os olhos ainda fechados.

– Essa não é a resposta que eu pedi. – respondeu de maneira rude – Você não precisa saber meu nome.

Respirou fundo três vezes e pronunciou de forma curta:

– Efe.

Apenas para efeito dramático, Mascarado decidiu rir e se voltar para a parede. Demorou alguns milésimos de segundos e moveu sua mão para a forca, desenhando a cabeça com dois “x” no lugar dos olhos. Geralmente, se fosse criança ainda e estivesse brincando, desenharia a cabeça primeiro, mas como aquilo era um crime, ele decidiu momento antes de iniciar aquele jogo daquela maneira.

O efeito em Giovanna foi devastador. Ele começou a se tremer toda, quase parecia uma convulsão. Tentava, sem grande êxito, soltar as mãos de alguma maneira. Rezava silenciosamente para que o Senhor a salvasse por intermédio de seu Santo Anjo Protetor, a salvasse das garras do Diabo, se ela fosse designada ao inferno por alguma razão estúpida. Sempre fora uma moça correta e agora aquilo lhe acontecia, quem garantiria que o Encardido não tramaria alguma contra ela no além?

Um flash passou em sua mente: Deus no altar, o Diabo de joelhos falando com a voz mansa “Mas, Todo-Poderoso, ela cavou a própria cova por não fazer o que o rapaz pedia. Ela só tinha que acertar o nome e, no entanto, decidiu brincar com seu fio da vida por pura rebeldia. Analise minha premissa, Senhor.”

Pouca fé. Sua fé se esvaía, assim como sua vida.

O homem a olhava nos olhos e afastava o banquinho de madeira dos pés dela para trás.

– Não! Não! Não! – ela implorou enquanto se equilibrava na borda do pequeno suporte, seguindo seu instinto por sobrevivência, até que ele saiu do campo de apoio dela.

Com um puxão, Giovanna sentiu seu corpo balançar. Seus pés pareciam ter vida própria ao se moverem em diversas direções na esperança de encontrar base. Tudo em vão. Em poucos segundos, o corpo se acalmava. Sentiu um estalo na altura da nuca de osso quebrado. Deslocara a vértebra. Imediatamente sentiu a dor. E abriu a boca, mas nenhum som saía. E também arregalou os olhos como reação ao dano físico.

– Giovanna Aidensen - Mascarado observou por um tempo aquele corpo inerte e relaxado. Nunca se sentira tão bem. Era seu primeiro crime e a sensação da adrenalina correndo por cada centímetro de seu corpo era fascinante demais para não fazer tudo outra vez, talvez até algo um pouco mais elaborado.

Os garranchos pretos feitos na parede foram substituídos por vermelho. Nos traços que deveriam ser preenchidos corretamente, Mascarado respondeu:

Guardou suas canetas no bolso para queimar ao chegar a casa. Olhou rapidamente para o relógio que marcava 01h32min. Ainda era um período calmo e sem problemas chegaria ao lar. Com um sorriso escondido pela máscara branca e sem emoção, o homem deixou a cena do crime.


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Notas finais do capítulo

Essa é a máscara que o Mascarado usa:http://www.lenipoesias.com.br/mascara5.jpg
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Para quem não sabe, tergiversar significa utilizar vários pretextos, subterfúgios, evitar afirmações claras.