Vagalumes Cegos escrita por Puck


Capítulo 1
Teu sagrado e tua besteira


Notas iniciais do capítulo

Duas músicas que eu ouvi escrevendo essa oneshot-que-talvez-não-seja-só-uma-oneshot foram Vagalumes Cegos, do Cícero, duh, e Sina Nossa, do Teatro Mágico. O nome do capítulo é uma frase de Sina Nossa ♥

Boa leitura!



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Não é como se Reo nunca tivesse pensado nisso, mas, agora, depois de terem sido derrotados pela Seirin, ele começou a se perguntar: cara, porque as pessoas têm tanto medo desse baixinho?

Certo, ele não é muito sutil. Certo, também, que ele não esbanja alegria ou aquele sentimento caloroso que gruda em você quando se chega perto de alguém simpático e risonho.

Mas... era só que...

— Eikichi, não pãocrastine aqui em cima enquanto os outros estão estudando.

... como alguém podia tremer diante desse cara, mesmo?

— Eu mereço — Reo pôde ouvir Mayuzumi dizer, abafado, enquanto olhava para o lado oposto de onde eles estavam (Reo realmente queria entender o porquê desse... dessa coisa ainda andar com eles; depois de tanto drama, Mayuzumi continuava arrastando-se junto a eles como se viver fosse um sacrifício com ou sem o Akashi). Hayama, por sua vez, começou a rir de um jeito que fazia Reo se lembrar de hienas. Talvez fosse porque o pobre loiro estivesse tentando conter as risadas. Era uma coisa bem esquisita.

— Pera aê Akashi — Nebuya enfiou o canudinho do suco de laranja no canto da boca enquanto ainda mastigava o pão de curry. — Eu juro que vou me puxar nos estudos, só deixa eu comer esse último sanduíche aqui—

— Nebuya, que nojo. Come isso aí depois — Reo disse àquele ogro. Era incrível como esse cara não aprendia nunca.

— Tudo bem, Reo. Deixe-o se empãoturrar com esses sanduíches — Akashi, a princípio, não demonstrou nenhuma emoção ao proferir o trocadilho. Mas, se você prestasse bastante atenção, como Reo (despretensiosamente, claro) fazia, dava para ver o esboço de um sorriso satisfeito na boca de Akashi, um brilhinho de diversão nos olhos dele, que aumentava conforme Hayama se curvava todo e começava a se sacudir como uma máquina de lavar roupas.

— Reo-nee, o Akashi-san é tão hilário! — Hayama lhes disse, com um sorriso enorme, de orelha a orelha, que mostrava todos os seus dentes. Reo não conseguiu achar graça, mas sorriu, culpado, e olhou para Akashi quando este continuou:

— Se o Eikichi for mal nos exames, teremos de jogar sem ele, só isso.

O desespero imediato nos olhos de Nebuya foi algo de dar dó. Reo quase podia ouvir os pensamentos dele: e agora? Eu estudo, ou como? Comida, ou notas? Comida, ou treino? Meus sanduíches, ou o basquete?

— Sei-chan... — Para falar a verdade, nem Reo sabia o que ele queria dizer, e quase se travou sozinho, mas Akashi não pareceu ouvir e acrescentou um “isso vale para todos vocês”, que basicamente fez Hayama congelar com o seu sorriso e Mayuzumi revirar os olhos.

Akashi, então, deu as costas, deixando a história por resolver-se sozinha. Reo o seguiu. Claro que seguiu. Normalmente, era tudo o que fazia nos últimos dias. Chegava a ser meio estrangeiro, porque desde que perderam, Akashi parecia mais a vontade com eles. Como se não fosse só “o capitão”, “o líder”. Era quase como se ele fosse “um de nós”. Os treinos continuavam exigentes, Akashi continuava sendo aquela presença sem igual na quadra, o capitão da Geração dos Milagres, o Imperador, mas... Reo estava impressionado. Sério. Ele ria. Ele sentava no chão com eles para almoçar e ouvia com gosto e com interesse as bobagens do Hayama, e até mesmo empurrava o ombro de Mayuzumi de vez em quando, nas vezes em que o terceiranista ficava intragável durante as conversas. E agora... isso. Os trocadilhos. Reo não sabia se ficava mais perplexo ou admirado com esse hobby do ruivo. Será que ter aquela sombra da Teikō quebrando seu tabu de “eu sempre venço” realmente tinha quebrado a casca que com o tempo envolvera o jovem Sei-chan?

Reo, sinceramente, não sabia. Nem sabia se queria saber.

Mas ele gostava de como as coisas estavam indo.

— Eles estão vindo atrás de nós? — Akashi indagou.

— Não, ainda — Um impulso inconveniente tomou conta das células de Reo, e ele cautelosamente continuou: — Mas você sabe, Sei-chan, que eles não te pãoderão de vista.

Os olhos de Akashi se arregalaram. Quer dizer, só um pouquinho. Bem pouquinho. Mas Reo, que não deixava de observa-lo por nenhuma fração de segundo, percebeu. Akashi o olhou de soslaio, parecendo estar, no circo que são as emoções das pessoas, andando de monociclo em uma corda bamba bem fininha entre estar pasmo e estar deslumbrado.

Reo sorriu um sorriso que falhou ao ser contido, e cantarolou sozinho.

Quando Akashi voltou a olhar para frente, para o corredor diante deles, um sorriso também surgiu nos lábios dele.

Nenhum deles disse nada.

Eu posso me acostumar com isso, Reo pensou, se der pra ver o Sei-chan sorrindo, ele pode fazer quantos trocadilhos pãodres ele quiser.


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Notas finais do capítulo

Esses trocadilhos com pães foram péssimos, né?