Aqueles Seus Olhos Azuis escrita por march dammes


Capítulo 26
Obrigado pelas memórias


Notas iniciais do capítulo

esqueci que a fic tinha entrado em hiato? esqueci. homestuck acabou? acabou. mas pelo menos eu tô aqui, né?
e olha, poderia passar os próximos três meses me desculpando pela negligência, mas eu tenho vida social, e mais do que tudo, tenho vida acadêmica. certo, a fic não é atualizada desde novembro do ano passado, mas isso é porque nesse meio tempo eu terminei relacionamentos, passei pro ensino médio, conheci gente nova, viajei, estudei, e principalmente, não abri o word em todos esses meses. não tive tempo, ou motivação. homestuck acabou e ainda assim demorei quatro dias pra dizer pra mim mesmo "hey. sai dessa. seus leitores precisam de uma conclusão, você chegou até aqui, não foi? senta e escreve". and so i did.
esse é o capítulo final de asoa, e eu só tenho a agradecer por quem continua comigo desde o primeiro capítulo. nossa, eu amo vocês, caras, no homo (mentira, all the homo).
em suma, ignorem essas notas, sei que vão anyway - e espero que gostem.



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Aqueles Seus Olhos Azuis

Capítulo XXIV - Obrigado pelas memórias

O final do ano se aproximava agressivamente, e com ele vinham as provas. Quanto mais Dave estudava, mais sentia-se esquecer todo o conteúdo – era desesperador. Marcava páginas e fazia resumos e lia e relia todas as apostilas, mas queria mesmo star morta. Frustrado, afastou a cadeira da mesinha ao chutar a parede, deixando-se deslizar sobre as rodinhas e jogar a cabeça para trás, apertando a ponte do nariz e grunhindo. Não aguentava mais ouvir falar em química. Esticou-se para alcançar o celular sobre a cama – concluiu consigo que merecia uma pausa. Tanto estudo estava fritando seus miolos.

Chamou John no Pesterchum e sorriu de canto com a resposta chegando rápido.

—-turntechGodhead [TG] began pestering ectoBiologist [EB] at 15:50—

TG: egderp

TG: ta fazendo o que?

EB: dave!

EB: nada demais. terminei de almoçar e tô jogando.

EB: o que foi?

TG: to estudando do cu pra fora e queria sair contigo

TG: pra me distrair

EB: noiado com as provas, dave?

.

Dave suspirou, parando os dedos sobre o teclado. John o conhecia. Sabia como ficava ansioso a medida que a semana de provas chegava.

.

TG: mais ou menos

TG: enfim

TG: quer andar por aí?

EB: hummm não sei. vou ter que checar minha agenda.

TG: ah blz

.

Dave sorriu. Ele não tinha uma agenda.

.

EB: hum hum hum. desculpe dave, está lotada!

TG: caralho que má sorte a minha

TG: quantos meses vou ter que ficar na espera?

EB: não sei...como é você, talvez eu consiga te encaixar. :P

TG: nossa me sinto importante

EB: você é importante.

.

Olhou para o teto e sorriu, bobo. Nossa como era gay.

.

TG: ok ok acabou o roleplay

TG: eu vou te buscar aí?

EB: não, não. sempre é você.

EB: dessa vez eu vou te buscar! fique preparado e me espere na porta. :P

TG: lá vem meu príncipe no cavalo branco

TG: vou estar esperando

EB: okay. ♥

.

Não viu necessidade em responder. Simplesmente pousou o celular sobre a mesa e girou na cadeira, sentindo-se enjoado ao levantar. Mas um enjoo bom. Um enjoo de borboletas no estômago.

Fechou os livros e foi se vestir.

John chegou uns quinze minutos depois, e Dave se limitou a bater na porta do quarto do irmão e dizer que estava saindo. Um ronco em resposta. Bro sempre trabalhava a noite toda e passava o dia dormindo. O loiro revirou os olhos e pulou os degraus da escada de dois em dois até a portaria.

Na calçada, voou em John o envolvendo em um abraço. Um fato engraçado sobre Dave Strider: quando se afeiçoava, se tornava muito grudento; John nunca o vira tão carente quanto quando começaram a namorar. Dave era constantemente inseguro e estava sempre ansioso. Era a pessoa que mais precisava de abraços em seu grupo social.

E John os dava, sempre. Dave afundou o rosto na curva de seu pescoço e aspirou. Colônia masculina. Sorriu, escondendo-se em uma das muitas camadas de casaco do namorado, já que estavam em novembro. John riu.

—Dave, isso faz cócegas! -reclamou. O garoto se afastou e sorriu sem mostrar os dentes.

—Senti sua falta.

—Você me viu semana passada.

—Correção, semana retrasada -o abraçou de novo, fazendo o moreno rir mais uma vez- Você não tem noção nenhuma de tempo, Egbert.

John bagunçou seus cabelos e Dave finalmente se afastou. Deram as mãos enluvadas, aproveitando o calor um do outro naquela tarde fria, e seguiram pelas ruas discutindo futilidades.

—Não, mas a Joelma vendeu muito mais discos que o Wesley Safadão—

—Hey, Dave! -John apontou para uma lojinha obsoleta, espremida entre um prédio e uma enorme academia- Que tal um café?

O loiro acabou preferindo chocolate quente. Soltaram as mãos para beber enquanto caminhavam, John conseguindo a proeza de queimar a língua com seu Mocha. “É o que acontece com quem fala merda sobre a Joelma”, trucou Dave.

Enquanto seguiam, fez-se um momento de silêncio confortável. Um silêncio que gelava o nariz e tinha cheiro de grãos de café. Dave estalou a língua.

—Ah, não me surpreende o céu estar cinzento hoje... –ele olhou para cima, erguendo as sobrancelhas diante das nuvens pesadas prometendo neve, fazendo pouco-caso. John o olhou curioso. O sardento se virou para ele, tombando de leve a cabeça- Todo o azul está nos seus olhos.

John arregalou os olhos e parou. Pensou. De rompante, fez um ronco com o nariz e empurrou o braço de Dave, rindo.

—Ai meu Deus, nerd.

—Mas sou o seu nerd. -Dave ergueu uma das sobrancelhas, arrancando um riso de John.

—Um nerd estúpido e adorável—murmurou, sacudindo a cabeça- Seriamente, Dave, quando você vai deixar essa vida de perdedor e aprender a ser uma criança legal como eu?

—Você? Legal? Só nos seus sonhos, garoto das pegadinhas!

E era sempre assim. Discutiam, riam, se empurravam e trocavam uns beijos. Vários.

*~*

Alcançaram o 2° Ano do Ensino Médio, e Dave começou a chorar copiosamente quando recebeu os resultados de suas provas. Passara todas com louvor. John fizera questão de dar uma festa, que se emendou com aquela de Ano Novo, em que todos comemoravam sua vitória na difícil passagem do fundamental para o médio. Alguns melhores que outros – mas todos juntos.

Embora a presença de bebida e algumas drogas ilícitas – que não haviam sido mesmo planejadas pela mãe de Rose, a hospedeira da festa –, tudo correra bem. E acabaram jogados na sala, no chão e no sofá, babando no tapete, apagados enquanto o sol despontava lá fora.

Um grupo enorme e bobo, dopados de adrenalina e com o açúcar de refrigerantes se esvaindo das veias. Adolescentes, simplesmente.

Foram assistir à estreia de O Despertar Da Força, alguns mais animados chegando ao absurdo de passar vergonha com cospobres do filme – leia-se, Dave e Jade. E alguns outros perdedores. Houve de guerra de pipoca a discussões acaloradas sobre a real ascendência da heroína, da qual John quase saiu com hematomas por não entender nada da saga. E no fim foram extravasar a adrenalina no fliperama, de onde Sollux saiu com todos os prêmios e Karkat foi oficialmente expulso. Eridan estava tão frustrado com o mísero chaveiro que conseguira comprar com seus insignificantes tickets que o namorado – essa palavra ainda era tão estranha para descrever os dois – teve a decência de lhe dar de presente uma abelha de pelúcia que conquistara com sangue, suor e lágrimas no jogo de kart. Levou uns cascudos.

*~*

Era agora a reta final do 3° Ano, e, portanto, o definitivo fim da vida escolar dos meninos. Rose graduava para já entrar direto na faculdade de letras, pois visava se tornar uma escritora profissional e finalmente publicar seus sonhados livros – servia-lhe bem. Dave sabia o quanto a quase-irmã não almejava tornar realidade a saga fictícia que vinha planejando e modificando desde os treze anos.

Jade iria seguir para biologia marinha na Austrália, e deixaria saudades. Tudo bem que já passava as férias longe, mas três anos eram muito tempo – muita coisa poderia acontecer em três anos. A garota prometeu lhes escrever e visitar quando pudesse, e que estavam convidados para sua cerimônia de formatura. Foi um dia de choros e abraços quando o grupo de amigos a deixou no aeroporto.

Dave também estava de viagem, e essa era a parte mais dura, pois John decidira ficar. Não havia chegado a uma conclusão sobre o que faria, mas começara a escrever um livro. John escrevendo era algo inédito – mas era real, e o loiro tinha que admitir que tivera acesso a alguns rascunhos e o namorado nem era tão ruim assim. Enfim, John enrolaria por tipo um ano, enquanto o Strider havia sido aceito para seguir um curso de arqueologia. Seu sonho de infância se tornaria realidade: estava a quatro anos de começar oficialmente a pesquisar sociedades antigas. E quem sabe escavar uns dinossauros.

A parte complicada era que, para isso, deveria seguir viagem para o exterior, onde as faculdades eram melhores, e não estava feliz em esvaziar o quarto e empacotar suas coisas. John estava lá para ajudá-lo. E para dizer adeus.

Dave estufava uma caixa com bobagens da infância – era provavelmente o único no mundo cujo álbum de bebê tinha fotos dele com armas brancas – quando um pedaço de tecido lhe chamou a atenção. Erguendo as sobrancelhas, tirou uns brinquedos de cima e puxou, do fundo da caixa, uma fantasia com cheiro de naftalina e memória. Soltou um “Oh”, sentindo os olhos lacrimejarem – e não era pela poeira.

—John -chamou- Olha isso.

O moreno deixou sua cadeira e se ajoelhou ao lado do namorado.

Dave erguia à frente dos olhos uma roupa completa de herói, que parecia um pijama – completamente vermelha, com uma capa que misturava o Super-Homem com algum cavaleiro da idade média, e um símbolo de engrenagem em vermelho gritante bem no peito da camisa. Egbert percebeu o soluço que o sardento soltou, e pousou uma mão sobre seu ombro.

—Eu brincava com isso quando era criança -a voz de Dave tinha um tom nostálgico- Não tirava do corpo. Eu era o Cavaleiro do Tempo. Era meu personagem favorito...faz tanto tempo...

—Oh, acho que lembro -John teve um estalo- Não era de uma saga? Com heróis de um jogo? Nossa, cara, eu tinha uma dessas...eu era, o quê? O Herdeiro do Ar. -riu anasalado, e quando Dave tentou repetir o ato, escorreram lágrimas. John se alarmou- Dave? Eu disse algo de errado?

—Ah, não -ele secou as lágrimas com a manga da camisa, por debaixo dos óculos escuros- É só que...estamos tão velhos. Vamos pra faculdade, e eu tô aqui chorando por causa de uma fantasia que usei aos cinco anos. É bobo.

John sorriu.

—É mesmo -concordou, rindo- Você é um pateta nostálgico, David Strider.

—Achei que a gente tinha combinado que não era pra usar meu nome real! -ele protestou, voltando a seu “eu” de sempre ao acotovelar John no estômago. O garoto riu, sem ar.

Contudo, Dave tinha razão. Foram crianças, e passaram por muita coisa até chegar lá. Quando usava seus pijamas azuis e seu capuz bobo, John sequer sonhava em como seria o Ensino Médio – muito menos que o graduaria e agora estaria ali, ajudando o namorado a fazer suas malas, e com um livro para escrever o esperando em casa. Era surreal. E tudo parecia ter passado tão rápido.

Mas era real. Estavam ali, vivendo.

O quão incrível era existir?

*~*

Tinham vinte e dois anos completos agora.

Rose publicara seu primeiro livro, um sucesso logo de cara, e já começara a escrever o segundo. Jade terminava a faculdade e convidara os amigos para sua graduação – com toda pompa e circunstância. Dave era oficialmente um pesquisador com diploma da universidade. John abrira seu próprio negócio.

Eu poderia passar os próximos dois mil caracteres discorrendo sobre como a história termina para as outras crianças do colégio Alternia até estourar o limite, mas perderíamos o foco. Que são John e Dave.

Que estavam noivos.

Dave retornaria à sua cidade querida em que passara a adolescência e os melhores três anos de sua vida. E quando voltasse, estaria morando com seu namorado do Ensino Médio e com quem mantivera um relacionamento de longa distância durante aqueles intermináveis anos de faculdade, o próprio John Egbert. Quem disse que segundos amores não duram?

Haviam conseguido um confortável apartamento no centro, enquanto rachavam o aluguel pago com trabalhos de meio-período e uns trocados do bolso de Bro. E, certo, 70% do bolso do Pai Egbert.

Dave não podia acreditar em sua sorte. E não conseguia tirar o sorriso do rosto – sua relação com todos os amigos estava ótima, as ofertas de emprego começariam a aparecer e, melhor de tudo, passaria o resto de sua vida com o garoto – agora, homem – que amava desde seus treze anos.

Imaginou o quanto Karkat não choraria quando recebesse a notícia de sua união.

Imaginou o quanto seus amigos não ficariam felizes pelos dois.

Imaginou o quanto Rose e Jade não o abraçariam.

E imaginou o quanto John não ficaria lindo em um terno, o esperando no altar com um sorriso no rosto e os céus no olhar.

Mesmo que não fosse ser um casamento como nos contos de fada, com flores e tapete vermelho – apenas uma união no papel, na verdade – Dave se sentia como uma verdadeira princesa. Ou príncipe. O que fosse. Em resumo, estava feliz: pelas alegrias, tristezas, desavenças, intrigas, e por tudo mais que passara ao longo da vida e dessa história. E de outras mais.

E, no entanto, esse não seria seu fim, não seria o ponto final. Seria apenas um parágrafo, ou uma vírgula, ou um final vago para dar lugar ao novo capítulo de sua vida e sua história. E que continue a narrativa.

Feliz 413! Obrigado pelas memórias!


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Notas finais do capítulo

THE END. esse foi o final, junto com homestuck e junto com a minha vida praticamente, mas hey, o hussie prometeu um epílogo, não foi? quem sabe eu também não faça um? por enquanto, a fic permanece em wip.
ah, aliás--eu queria agradecer a todo mundo que seguiu esse caminho comigo. sério, quando eu comecei essa fic, toda relutante, baseada num diálogo do pesterchum em inglês que eu escrevi numa noite de insônia, nunca imaginei que fosse chegar nesse ponto. obrigada, de verdade, a todos vocês!
beijos, e
nunca abandonem o fandom.
march dammy, signing off.



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