A Recolha escrita por VitóriaRo


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem... ^-^
Boa leitura!



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Logo cedo Cassi já gritava conosco. Tudo bem, ela era nossa irmã mais velha e já que nossos pais ainda estavam viajando ela estava no comando, mas ela não tinha o direito de gritar com a gente daquele jeito, me obrigando a lavar os pratos, obrigando a Larousse à lavar as janelasou o Maser a fazer todos os deveres antes do jantar, mesmo ele estando com muita fome – todas as noites desde que o papai e a mamãe saíram, eu ia levar comida escondida pra ele. Sempre pouco, claro, já que não tínhamos muita condição, nem para comprar alimentos.

–Talia, termine logo, há tempos que você está aí – reclamoum enquanto assistia televisão – é tão estressante cuidar de vocês.

-Se você ajudasse seria bem mais rápido- retruquei – mas, ao invés disso só fica aí em frente à televisão.

-Você é tão mal educada, menina – ela me insultou – ainda bem que vou embora.

Sinceramente eu não sei o que passa na cabeça da minha irmã. Ela geralmente tem tudo o que quer e fez nossos pais juntarem dinheiro por cinco anos, mesmo às vezes tendo que passar necessidades, eles juntaram o dinheiro necessário para que quando Cassi fizesse dezoito anos, pudesse sair da nossa província. Daqui à dois dias ela deixaria de ser da província 11 e passaria a ser da 8, e ainda por cima, da cidade 2, em vez de ser da 3.

Não sabia porque Cassi queria tanto sair da província 11, apesar de sermos considerados “pobres”, eu nunca me importei muito com minhas roupas, e nossos pais nunca nos deixaram faltar nada. Nunca passamos fome, apesar de ser um milagre termos sobremesa. Mas, sempre tivemos roupas, brinquedos, quase tudo o que pedíamos. Nossa situação não era das piores, pelo menos não éramos um 15 da cidade 5.

-Não quero nem um risco nessa louça, ouviu? – Sério, como ela estava tão estressada? Ainda bem que nossos pais voltam hoje. – é bom que a casa fique bem limpa.

Larousse estava se esforçando para limpar as janelas enquanto Maser estava limpando o balcão, aos sete anos ele já era bem esforçado.

- Você bem que podia ajudar – implorou minha irmã, Larousse fez grandes olhos tristes e um biquinho que sempre convencia todo mundo a tudo – Por favor – ela estava implorando. Cassi acabou cedendo. Até a pessoa com o maior coração de pedra desse mundo cederia àqueles olhos.

Eu não era nem um pouco parecida com a Cassi. Ela era muito metida e se importava muito com a sua aparência. Já eu não estava nem aí para como saia de casa, mesmo que fosse uma roupa que eu já tinha usado cem vezes. No físico também não parecia com eles, todos pareciam com a minha mãe, seus longos cabelos pretos, olhos pretos, e uma pele branca. Já eu era loira, com olhos verdes quase castanhos e minha pele parecia que tinha passado o dia inteiro ao sol. Apesar de nossa cidade ser quente, eu não tinha motivos para ser bronzeada daquele jeito. Passava a maior parte do tempo com um teto acima de mim.

Depois de quase três horas se esforçando para deixar tudo o mais limpo possível poderia dizer que nossa casa nuca esteve mais limpa. Depois de tanto esforço, nós quatro nos limpamos e colocamos o jantar na mesa. Esperamos um pedaço sentados sem falar nada, enquanto eu pensava em contar aos nossos pais tudo que a Cassi nos fez passar, resolvi que seria melhor não contar nada, afinal, amanhã era seu aniversário. Não queria estragar tudo e acabar perdendo a sua partida.

Meus pais enfim chegaram. Tínhamos sorte. Éramos uma das famílias mais bem-sucedidas da nossa província. Nossos pais tinham a sorte de conseguir viajar assim. E quando conseguiam essas viagens, vendiam muitos remédios e ganhavam muito dinheiro. O nosso melhor cliente era o governador da província catorze, e a mulher dele adorava os quadros da mamãe (sempre pagava um absurdo por eles). Minha mãe adorava pintar e ela às vezes ficava triste porque apenas um de seus filhos quis seguir seu caminho pintando, que foi o Maser. Ele adorava pintar, e era o que ele fazia de melhor.

- Eles chegaram – Larousse gritou e correu em direção à porta – Que bom que vocês chegaram. Ela se jogou nos braços da mamãe.

Corri para abraçar meus pais. Eles estavam fora à apenas alguns dias, mas pareceram-me mais anos. De repente estávamos todos abraçados.

– Trouxemos presentes – Gritou minha mãe, por cima do barulho que fazíamos. Poucas vezes eles traziam presentes então ficamos bem agitados.

– Tricia?! Eu queria dizer dessa vez – reclamou meu pai de brincadeira – agora vocês, sentem.

Foi o que fizemos. Maser sentou no chão, naquele carpete gasto. Eu entre minhas irmãs no sofá minúsculo, da nossa sala minúscula.

– O primeiro presente é o seu Maser, venha pegar. – disse minha mãe, esticando o braço para Maser pegar o presente.

– Tintas novas?! – gritou Maser, aparentemente muito feliz com o seu presente.

Minha mãe foi falar com ele. Todos sabíamos o quanto os dois gostavam de pintar. Também sabíamos o quanto ela estava feliz que um de seus filhos gostasse de pintar assim como ela, já que eu sempre preferi a música, apesar de gostar muito de escrever, Larousse sempre quis criar uma coleção de roupas para marcas grandes e Cassi nunca escolheu nada de especial.

– Larousse, venha pegar o seu presente – meu pai sorriu quando ela se levantou para pegar o embrulho rosa com corações vermelhos – Acho que você vai gostar, a sua irmã gostou.

Larousse abriu o embrulho com cuidado, deu pulos e soltou gritos ao ver que era uma caixinha de música, essa era quase idêntica à que eu ganhara quando tinha a idade dela. Foi por causa dessa caixinha de música que eu me interessei tanto em tocar e cantar. Quando estou triste, tocar piano me faz sentir melhor, a música é uma das coisas mais importantes pra mim, mas acho que minha irmã interessou-se mais na roupa da bailarina, do que na caixinha em si pois logo depois disse que queria de aniversário uma roupa igual.

– Talia, sua vez – meu pai me estendeu um envelope – seu presente.

– Pegamos antecipado com o governador da província 14 e acabamos pagando menos pela taxa de inscrição – minha mãe abriu um sorriso e eu peguei o envelope, a essa altura já sabia do que se tratava. Era da recolha. – espero que goste.

Abri o envelope e eu estava certa. Era a carta de inscrição para a recolha. Fingi um sorriso e disse que sim, quando meu pai me perguntou se eu tinha gostado do presente. Não vi qual foi o presente de Cassi, deve ter sido algo relacionado à sua mudança. Não havia gostado nem um pouco do meu presente. Me fizeram preencher aquele relatório, que fazia várias perguntas idiotas, sabia o quanto era importante pra eles, se eu fosse recolhida, teria estudos de qualidade, coisa que eles não podem me dar, por isso preenchi. Mas o problema está aí, se eu fosse recolhida? Não queria deixar minha família pra trás para estudar em uma escola de ricos e esnobes, são 35 pessoas de cada província entre a 1 e a 8 enquanto da 9 a 15 seriam 35 no total. Tudo isso ainda era parte de uma campanha de governo por parte do presidente. Em Anigrud, nosso país era uma mistura de monarquia com democracia. Só haveria uma nova votação quando o presidente atual morresse, então talvez ele nunca pudesse mais se candidatar, seis anos atrás o presidente fez uma campanha enorme e acabou ganhando, pelo menos ele deu uma chance à população mais carente, sua ideia para nos ajudar foi justamente, a recolha. Não queria entrar na Platition High, pelo menos sabia que haveria milhares de inscrições, é quase impossível que eu seja recolhida.

Cassi iria embora no outro dia então de noite houve uma festa de despedida pra ela. Cassi insistiu em chamar a cidade 3 toda, mas meu pai disse que seria apenas algo mais simples, então ela chamou apenas alguns amigos, que acabaram enchendo a casa toda. Pelo menos ela chamou a Dicy, a nossa vizinha e irmã do meu melhor e único amigo Tedder. Dicy e Cassi sempre ficavam dizendo que havia algo a mais entre nós quando pedíamos para conversar em particular, então inventamos o nosso sinal secreto (passar a mão pela sobrancelha).

Assim que Dicy chegou sabia que Tedder estaria atrás dela e quando ele entrou nossos olhares se cruzaram e passamos a mão na sobrancelha ao mesmo tempo o que nos fez rir. Fui para um canto da sala, só conseguia pensar em seus olhos azuis e seu cabelo preto e volumoso me seguindo. Sentamos ao pé da escada.

– Oi- ele falou com um sorriso bobo no rosto - juntando minha irmã com a sua elas não deixam ninguém dormir.

– É – eu disse e sorri - parece inevitável.

– Estou tão ansioso com A recolha.

Passamos a noite rindo e jogando conversa fora como as noites que já passamos juntos.


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Notas finais do capítulo

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