Morfeu escrita por Ferbs


Capítulo 6
Enry não é meu


Notas iniciais do capítulo

Isso aí, mais um capítulo. Obrigado meeeeesmo a todos esses comentário, eu amo todos vocês, sério!



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Mais dez minutos e eu já estaria na escola. Eu estava muito preocupado para conversar com alguém, então não passei na casa da Nana hoje. Ela vai ficar nervosa, mas que seja.

O sonho que tive sábado me fez perceber duas coisas. Primeiro: quando algo entra na minha cabeça, não sai tão fácil, mesmo eu tendo achado que sim. E segundo: Enry não era meu. Nós saímos uma vez, nos beijamos, parecemos nos gostar, mas ele não pertence a mim. Ele pode ficar com outros caras e eu também. Na verdade pode até ser isso que ele estava fazendo ontem, eu não sei. Mas não queria pensar nessa possibilidade.

Cheguei meia hora mais cedo do que o normal, o sinal ainda não havia tocado, então me sentei em um banco na praça que ficava em frente a escola; eu queria ver Enry chegar. Cinco minutos se passaram, e então dez, quinze, e nada dele. O tempo parecia estar sendo arrastado por uma tartaruga.

Já eram 6:50 e o sinal dos dez minutos tocou, os alunos começavam a entrar. Foi então que vi um carro prata muito luxuoso parar em frente ao portão, era o carro de Vivian, mãe do Enry. Mas a porta não se abria. Corri até lá, cheguei no vidro da porta de trás e coloquei as mãos ao redor dos olhos para enxergar melhor. Senti meu corpo amolecer e um alívio tomar conta de todo o meu organismo. Lá estava ele, arrumando alguns cadernos na mochila e pegando seus óculos. Enry estava bem.

Ao terminar de arrumar suas coisas, ele se virou pra sair do carro e deu de cara comigo com os olhos cerrados no vidro. Vivian já havia percebido e sorria olhando para o filho. Ele olhou pra ela com cara de bobo, olhou pra mim e logo após abriu um sorriso de orelha a orelha. Mas ele não saiu, ao invés disso, fez sinal pra eu entrar.

Abri a porta e me sentei do seu lado. Olhei nos seus olhos, ele olhou nos meus, e então passou o braço ao redor do meu pescoço, me puxou pra perto e me beijou. Eu retribuí aquele beijo com todas as forças que tinha. Toda a minha apreensão do dia anterior simplesmente foi embora com aquele momento, eu passava minha mão direita sobre seus cabelos, eu os bagunçava, mas eu não ligava. Ao perdermos o fôlego ele me solta e continua olhando direto pra mim.

— Bom dia. - ele disse.

— Bom dia. - eu sorri.

— Eu não entendi o que tinha acontecido aquele dia quando você me deu um beijo no rosto, até que minha mãe me explicou o que ela acha que houve. - ele então levantou um dedo na altura do nariz - Você nunca, nunca, precisa ter vergonha da minha mãe, entendeu? Nunca.

Olhei pelo retrovisor, Vivian estava olhando pra mim e sorrindo, confirmei que sim com a cabeça, mais pra ela do que pra ele.

— Vamos, se não a gente vai se atrasar.

Saí do carro e o ajudei Enry a descer segurando sua mão. Olhei pros lados, ninguém a vista, o puxei pra fora e usando a força do braço que o segurava eu o empurrei e o pressionei contra o carro. Queria beijá-lo ali novamente, mas pensei melhor, alguém poderia aparecer. Eu não podia me esquecer deste detalhe, apesar de estarmos íntimos, Enry não era meu.

Entramos na escola e só então me lembrei do que aconteceu no dia anterior.

— Ei, Enry! O que aconteceu contigo ontem??

— Ontem? - ele parecia confuso.

— É, você sumiu, não entrou no WhatsApp, te liguei umas setenta e três vezes e só dava caixa de mensagem.

— Ah sim, eu acho que esqueci meu telefone no Circo.

— Você perdeu ele lá?

— Acho que sim.

Sério? Era isso? Eu passei o dia inteiro preocupado, tive que tomar remédio pra dormir, por isso? Enry me olhou desconfiado.

— Você ficou preocupado?

— Que? - fiquei sem graça e com certeza já estava vermelho. - Claro que não. Só, sei lá, achei estranho.

— Ahan, sei... Você ficou preocupado.

— Não.

— Admite.

— Não.

— Thomas...

— Talvez um pouco.

— Um pouco? Tudo bem, senhor "te liguei umas setenta e três vezes".

— Ah, cala a boca.

Enry sorriu, eu sorri de volta. Ficamos nos olhando e sorrindo um pro outro.

— Senhores...? - ouvimos uma voz vinda do topo da escada atrás de nós, olhamos juntos e era a diretora da escola, com sua cara de laranja chupada. - Hora de ir pra sala, os dois, o último sinal já vai tocar.

— Ah sim, claro, já estamos indo.

— Verificarei os corredores daqui a pouco pra ver quem ficou de fora por atraso, não estejam nessa lista.

Ela se virou virou e atravessou o corredor, mas não antes de nos dar uma olhada indiscreta, ela já devia ter sacado o que estava acontecendo entre nós e creio que não gostou nada disso.

Bem, - esfreguei as mãos nas costas - te vejo no intervalo?

— No intervalo.

Acenei com a cabeça e Enry foi para o bloco do primeiro ano e eu fui para o do terceiro. Era o mês de novembro e as aulas logo terminariam, pra mim, terminariam de vez, adeus ensino médio. Fiquei olhando ele atravessar os corredores e algo tomou meu peito por dentro, Enry não era meu.

Chatices escolares: blá blá blá, blá blá blá. Eu já havia sido aprovado na escola no segundo trimestre, então não tava nem aí mais e queria que tudo fosse é pro inferno. O que eu queria mesmo era o intervalo, pra ver Enry novamente. Me sentei no meu lugar e então senti um tapa na cabeça.

— Ai!! Caralho!!

Olhei pra trás e lá estava Nana, super nervosa, batendo o pé no chão.

— Por que raios o senhor não me esperou hoje??

— Foi mal, eu tava meio mal, queria andar sozinho.

— Mal é? Parece estar muito feliz agora!

— Garota, foi um dia só, você não vai morrer.

— Vou sim! Você não estava comigo então adivinha quem veio me acompanhando?

— Menor ideia.

— O Daniel, desgraça!

— Daniel??

Daniel era um garoto que estudou conosco desde a sétima série. Era até bonito, mas um completo babaca. E pra completar, dava em cima da Nana o tempo inteiro, era até meio descarado. Sorte a nossa que esse ano ele se mudou de sala, indo pra sala B, enquanto Nana e eu permanecemos na A.

— Sim, Thominho, o Daniel! E lógico que ele veio com aquele papinho dele.

Agora ela já estava sentada do meu lado, não parecia mais brava e sim fofocando sobre a vida alheia.

— E Thominho, ele tá um gato.

— Pensei que achasse ele um babaca.

— E acho!! Mas não deixa de ter um corpinho dos céus, loiro dos olhos claros, ah, meu sonho.

— Ele é louco por você, pega ele ué.

— Não, ele é um babaca!! Credo!!

— Garota, você é muito bipolar.

Duas horas depois ouvi aquele som que tanto esperava: o sinal para o intervalo. Me levantei depressa e saí apressado apenas ouvindo um grito de protesto de Nana, dito cujo não dei muita atenção, atravessei pelos corredores indo rumo ao bloco dos primeiros anos e então senti um braço me puxar pro lado. Era Enry.

— Vem comigo.

Eu o segui enquanto os corredores eram preenchidos com alunos esfomeados e cansados, louco por uma pausa. Mas eu somente queria mais um momento com Enry, que continuava me puxando pelo braço. Passamos por uma área restrita e subimos as escadas até o terraço, havíamos chegado a um jardim que ficava no topo do prédio.

— A gente não pode vir aqui. - falei pra ele.

— Podemos, porque seu amiguinho aqui é do clube de botânica. - sério isso? - E eu tenho passe livre pra cá na hora que quiser. E por ser o presidente desse clube - masoq??? - sou o único que tem a chave.

Enry trancou a porta atrás de nós e então se virou pra me dar um beijo que lhe retribuí com prazer. Andamos de mãos dadas até um banco que ficava debaixo de umas trepadeiras que se trançavam em uma estrutura que passava por cima de nós, fazendo dessas plantas um teto, nos protegendo do sol.

Eu não precisava de mais nada. Eu tinha paz, silencio, quietude, uma vista maravilhosa, devido a altura da escola, e o amor da minha vida - pretensioso, mas percebi que era verdade - ali do meu lado. Estávamos sentados lado a lado, sua mão direita traçada na minha mão esquerda, sua cabeça encostada no meu ombro e minha cabeça escorada na cabeça dele. Não falávamos uma palavra, não era necessário.

Mas uma coisa não saía da minha cabeça: Enry não era meu.

Ele levantou a cabeça e a escorou frente a frente a minha, nos beijamos, mas não afastamos nossos rostos, ficamos ali, nariz com nariz, ainda de olhos fechados. Mas Enry não era meu.

— Thomas?

— Sim?

Ele não era meu.

— Eu te amo.

Sim, Enry era meu.


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Notas finais do capítulo

Isso aí! Espero que tenham gostado, vou tentar continuar postando de dois em dois dias agora, já que avancei bastantinho na história. Continuem comentando, eu preciso disso em galera!
That's all Folks



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