Morfeu escrita por Ferbs


Capítulo 3
Circus


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo acabou ficando um pouco maior que os outros pq acabei me dando asas à imaginação haha.
Mas espero que gostem :D



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Olhei pra trás rapidamente, mas Enry não estava lá. Senti meu telefone vibrar na minha mão.

"Bobo, estou descendo do carro na sua frente."

E quando me virei, ele realmente estava lá. Parece que uma mulher dirigia o carro, não pude ver direito seu rosto, mas percebi que ela abriu um grande sorriso ao me ver. Enry desceu pelo banco traseiro e veio em minha direção, e após isso a mulher deu a a partida e saiu.

— Sua mãe? - perguntei, odiava começar conversas com "oi", apesar de ter feito isso com ele.

— Sim.

— Ela não se importa que você saia com garotos mais velhos?

— Você não é tão mais velho assim. Tenho dezesseis e você dezessete.

— Sim, mas você acabou de completar dezesseis e eu estou quase completando dezoito, dá quase dois anos nisso daí.

Enry sorriu e balançou os ombros em uma expressão de "tanto faz" e então ficou me olhando da mesma maneira que fez durante o sonho que tive mais cedo.

— Você está lindo. - ele disse, por fim.

Corei, eu realmente havia me preparado bem pra aquele encontro, escolhi uma roupa que me caía bem e fiquei muito tempo arrumando meu cabelo, que já era bem complexo por si só.

— Obrigado, você também.

Enry sorriu, mas ele realmente estava ainda mais bonito do que da última vez que nos vimos. Seus cabelos curtos estavam ainda mais negros, talvez pela luminosidade ou pelo contraste com sua pele extremamente branca que entrava em realce com seus óculos pretos. Sua boca desenhada escondia seus dentes serrados e pequenos, assim como ele. Enry não era só bonito, ele era fofo. Tinha um semblante de menino e é daquele tipo de pessoa que quando você topa na rua, sua vontade é de apertar suas bochechas e não soltar mais, assim como as avós fazem com seus netos. E eu estava começando a perceber como isso tudo era apaixonante nele.

— Thomas? - ele me despertava do meu transe.

— Er.. sim?

— Não, é que... você pareceu meio perdido por um momento.

E eu estava vermelho de novo, era impressionante a habilidade desse garoto de me fazer ficar sem graça. Tropecei nas palavras, tentei desconversar.

— Mas assim, você ainda não disse aonde vamos.

— Sim, claro. Vem comigo.

Ele passou a mão por mim e por um segundo pensei que ele iria segurar a minha, mas ele não o fez. Andamos um pouco, conversando sobre coisas aleatórias, ele me contou sobre o dia dele e eu contei que dormi o meu inteiro, claro que não comentei sobre o sonho com ele, isso seria no mínimo estranho ou constrangedor. Mas onde ele estaria me levando? Ah, claro, como eu não havia pensado nisso antes? Havia um circo nas redondezas, pra lá que estávamos indo. É o encontro perfeito, a maneira perfeita de se conhecer uma pessoa. Ver a pessoa em um momento de descontração, um olhar sincero, uma risada sincera, é assim que verdadeiramente se conhece alguém.

— Você já veio nesse circo? - ele perguntou.

— Não, ainda não. Eu ia combinar de ver com a Nana um dia desses, mas acabei desistindo.

— Que bom. Quer dizer... é uma pena que você não tenha vindo com sua amiga... mas que... é bom que você vê pela primeira vez comigo.

Enry ficava ainda mais fofo desconcertado. Chegamos na entrada, passamos pela bilheteria e antes de entrar compramos um monte de gordices. Ambos tínhamos o corpo meio em forma, mas parece que nenhum dos dois via problema em ganhar umas calorias, pelo menos eu sei que não ganharia já que não engordo nem com reza. Ficamos algum tempo lá dentro e depois de alguns minutos as luzes se apagaram.

"Respeitááááááável publicooooooo!! Crianças e adultos de todas a idadees!! Sejam bem vindos ao nosso circo! Aqui, você não sei sem um sorriso..."

O locutor continuava fazendo sua apresentação e aos poucos fui me lembrando o quanto eu adorava um circo. Não esses circos modernos de hoje, mas o velho e tradicional circo de lona, como aquele ali. Eu costumava muito ir com a minha mãe quando eu era menor e eu me sentia muito bem fazendo isso. Estar ali com Enry me despertou um turbilhão de memórias. Voltei minha mente para o presente e vi que Enry me observava novamente.

— O que foi? - eu disse, com certeza vermelho, pelo menos dessa vez ele não deve ter visto.

— Nada. - ele sorria - É que... gosto de te observar.

Eu sorri sem graça, mas minha atenção foi atraída para o picadeiro, onde um palhaço aparecia e meu Deus, eu adorava os palhaços. Mais ou menos uma hora de espetáculo se passou, se apresentaram malabaristas, contorcionistas, trapezistas e várias outras atrações, cada uma mais encantadora do que a outra. Aquele era sem dúvida o melhor circo que eu já havia ido em anos, e ter Enry do meu lado apenas fazia tudo mais mágico. E era a vez dele, do mágico.

— Para o meu próximo truque eu preciso de um assistente da plateia. - dizia ele do picadeiro.

— Pena que essas coisas são marmelada. Eles já tem alguém preparado pro número infiltrado aí - falava Enry ao meu ouvido.

— É, seria muito legal ser escolhido nessas coisas. - respondi.

O mágico observava toda sua audiência, fingindo escolher alguém.

— Que tal... você?!

E pra minha surpresa, o homem apontava pra mim e imediatamente um grande holofote se acendeu na minha cara. Apontei o dedo pra mim, perguntando se era comigo mesmo, não podia ser.

— Sim, você do lado do garoto de óculos, venha!

Minha barriga gelou, olhei para Enry que tinha a mesma expressão de surpresa estampada na face.

— Vai! - ele disse - Vai ser incrível! Mas se ele te matar por engano eu juro que mato ele.

Que fofo, pensei. Pera, matar? Morrer? QUE?!

Me levantei e desci as escadas da arquibancada. O mágico segurou o meu braço e me ajudou a subir no palco.

— Qual o seu nome, meu jovem?

— Thomas - respondi.

— Thomas!! - gritava o mágico levantando os braços e uma grande salva de palmas veio junto com meu nome, eu não sabia em que buraco me enfiar.

Ele me levou até uma caixa preta com dois buracos nas extremidades, um para meus pés e um para minha cabeça. O maldito iria me cortar ao meio!

— Hoje não! - disse o mágico e muitas risadas vieram do público. Será que Enry estava rindo também?

Ele desviou e subimos uma grande escada e no seu fim havia um portal, mas sem porta, eu não estava entendendo era mais nada. Estávamos a uns dez metros do chão e o homem se posicionou atrás de mim e disse algumas coisas no meu ouvido.

— Então Thomas, você tem medo de altura?

— Não... Err... eu acho.

— Não se preocupe, você não vai morrer, tudo bem?

— Muito reconfortante.

Olhei pra baixo, eles haviam instalado um grande ventilador no chão, gigante mesmo, quase do tamanho do picadeiro inteiro, e entre eu e ele, um arco.

— Ah, mais uma coisa, Thomas. Aquele garoto que estava ao seu lado, ele parece estar gostando bastante de você. Deveria beijá-lo.

Não tive tempo nem de olhar pra trás, o homem me empurrou e me vi em queda livre. Mentiroso. Eu iria morrer! Aquele mágico de araque na verdade sempre foi um assassino que mata o maior número de adolescentes que pode e depois foge com o circo. Claro que isso não era verdade. Passei dentro do arco, e algo me segurou. O ventilador foi ligado e eu estava suspenso em algo. Não podia acreditar em meus olhos, eu estava em uma bolha.

A multidão ia à loucura, palmas e gritos pra todo lado, o ventilador aumentava e diminuía a velocidade me fazendo subir e descer e então percebi que eu estava gritando feito uma garota na frente de trezentas pessoas.

— Ouse Thomas!!

Olhei para baixo, era o mágico.

— Ouse!!

Foi o que eu fiz, o trauma passou, eu estava eufórico, aquilo era incrível! Me impulsionei pra frente e a bolha acompanhou meu movimento. Antes que pude perceber eu já estava viajando por todo o picadeiro, subindo e descendo naquela bolha super resistente que não estourava por nada. A música na minha cabeça, as palmas, os assobios, a alegria tomava conta da minha mente. Olhei para Enry, e lá estava ele, de pé. Sorri, e ele já estava sorrindo e batendo palmas, e gritando, e assobiando. Ele parecia estar curtindo aquilo tanto quanto eu.

O ventilador foi diminuindo a velocidade aos poucos e eu fui me aproximando do chão, e soltei um grande grito - esse bem mais másculo que o da queda - quando o mágico me apareceu com uma agulha de uns dois metros por detrás das cortinas. Eles colocaram um grande colchão embaixo de mim para eu poder aterrissar e sem pensar duas vezes, enfiaram aquela agulha na bolha, que estourou instantaneamente me fazendo levar um tombo naquele colchão, o que desencadeou várias risadas.

O mágico veio até mim e levantou meus braços.

— Palmas para o Thomas!!

A tenda logo foi recheada com os som dos aplausos e eu estava me sentindo no céu. Olhei para Enry, mas ele estava olhando para o mágico. Daquela distancia pude ver seus lábios se mexendo e percebi uma palavra saindo de lá, "obrigado". Não entendi direito aquilo, ele o mágico se conheciam? Aquilo foi combinado? Não sei e honestamente eu não me importava no momento. Desci do palco e subi as escadas até o meu lugar na arquibancada me encontrado com Enry novamente.

— Mas o que foi isso?! - ele perguntava mais eufórico do que eu.

— Eu não sei, - respondi entre risos - Sei que foi incrível! Obrigado por me trazer aqui hoje.

Olhei para Enry e o abracei e ele retribuiu o abraço. O apertei forte e depois o soltei. Olhei fundo nos seus olhos, ele olhou fundo nos meus, eu sorria e ele também. Pude perceber que ele mordeu levemente o lábio, aquele era o momento. fui me aproximando devagar dele, ele se aproximou devagar de mim, fechei os olhos, ele também, e nossas bocas se encontraram.

Nosso primeiro beijo.

Estávamos em público. E daí? Tinham umas trezentas pessoas ali. E daí? eu tinha acabado de sair do palco e com certeza várias pessoas ainda estavam me olhando, mas e daí? Não nos importávamos com o resto, aquele era nosso momento. Ficamos nos beijando até não termos mais fôlego, uma pena, pois claramente ambos queríamos mais.

Assim que o espetáculo acabou eu tentei ligar pra minha mãe vir me buscar, mas só caía na caixa de mensagem. Ela deve ter perdido o carregador de novo, coisa que sempre fazia. Enry ofereceu que sua mãe me levasse, fiquei sem graça e queria recusar, mas não tinha escolha.

Fomos o caminho todo no banco traseiro de mãos dadas e vez ou outra ele se deitava sobre meu ombro, e eu sobre sua cabeça. A mãe de Enry observava pelo retrovisor, mas não era como se estivesse nos vigiando, era como se ela estivesse com orgulho do filho. A viagem foi bem silenciosa e só então percebi que Enry estava dormindo no meu ombro.

— Ele faz isso, não se preocupe.

Olhei pra frente assustado, era a mãe de Enry.

— Me chamo Vivian.

— Prazer, Thomas. - me apresentei.

— É, eu sei, - ela disse sorrindo - Enry não parava de falar de você o dia inteiro, e como essa noite seria especial.

Corei de novo, não sabia o que dizer.

— Eu amo o meu filho, Thomas e ele me ama. Mas parece que a partir de agora terei que compartilhar o amor dele com outro alguém. Você parece um bom rapaz, mas estou de olho em você, viu mocinho?

Eu soltei uma risada leve e beijei os cabelos de Enry. Amor... aquela era uma palavra forte, mas eu a aceitei muito bem. Talvez o Enry do meu sonhos tivesse razão, talvez eu também já estava apaixonado por aquele garoto.

Talvez.


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Notas finais do capítulo

Rátatararararatá Circus rátatararararatá Afro Circus Afro Circus Afro, pocotó pocotó pocotó, Afro! (desculpa, não resisti).
Bem, é isso, deixei minha imaginação me levar um pouco, desculpe ahaha
Mas espero que tenham gostado, comentem. That's all Folks



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