O outro lado do clichê escrita por Apiolho


Capítulo 15
15 - A bondade disfarçada em gesto


Notas iniciais do capítulo

Olá queridos! *-*

Quanto tempo, não? É que estava terminando a fic infame, resolvi isso antes de terminar as outras, até para ser melhor.

Quero agradecer a Sabaku no Hime, Lih Rizzo, Haidy, Funala, Lady Rosário e Cupcorn por comentarem no anterior. Realmente me deixou muito contente e animada por saber que tantos leitores deram sua opinião, significa demais para mim e me motivou mesmo.

Obrigada a Lih Rizzo, Banana Elefante, Funala, TSLopes, Luana Bankersen e Miih Ayuzawa por favoritarem e Blue, Sabaku no Hime, Synyster Girl, Haidy, SouEu, Abby Font, Funala, Raven, Aléxia e ScarletWitch por acompanharem. Deu uma cor a mais a minha fic e com certeza me deixou bem honrada por saber que tantas pessoas resolveram dar crédito a fic.

Espero que gostem, pois faço para vocês.



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Capítulo quinze

A bondade disfarçada em gesto

“E quem me ofende, humilhando, pisando,

Pensando que eu vou aturar...

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar”

(Chico Buarque)

 

Se soubesse que aquela garota que apenas me zoava no primeiro dia de aula, questionando-se a verdade por trás da minha franja e vivia aconselhando a Catherine, ia partir para a agressão, jamais teria me enfiado no meio delas.

Tremia de frio, os olhos marejados por conta do constrangimento, raiva e medo que sentia. Havia prometido a mim mesma que jamais deixaria que algo assim ocorresse novamente, porém nem sequer isso pude cumprir. Encontrei finalmente um orelhão após andar alguns metros, tudo por conta da nova tecnologia chamada celular.

Observava todos os lados por precaução.

— Só que falta um estuprador estar me seguindo. — disse para mim mesma ao captar um veículo na esquina ao fitar para trás, torcendo para ser uma pessoa da qual sabia que demorava a chegar. — Ou pior, James. — Continuei, vendo a fumaça sair de minha boca.

Isso que dá escolherem um dia com a temperatura mais baixa que o comum para me humilharem. Minha mão servia apenas para esfregar a barriga, tentando inutilmente limpar os dizeres “vadia” do lugar, já que tinha a certeza de que o batom usado era permanente.

— Não, apenas eu. — Escutei uma buzina atrás de mim, assustando-me mais do que já estava. Virei-me com rapidez, encontrando uma mãe desnaturada por estar rindo da desgraça alheia.

Posicionei-me no banco do passageiro, respirando fundo ao perceber que estava segura quando fechei os vidros. Mesmo que isso significasse continuar ao lado de alguém que é mais imatura que eu.

— Foi uma festa e tanto. — Sua animação me enojava. Por acaso essa seria a reação ao ver sua filha seminua no meio da rua?

— Não. — Tratei logo de cortar os seus próximos pensamentos.

O seu sorriso desmanchou, ligando o rádio em seguida para que ouvíssemos uma música qualquer. Não era tão bom o sinal, fazia uns chiados, todavia nunca conseguiríamos guardar dinheiro para arrumar, muito menos o ar condicionado, que nem sequer pegava mais.

— Que pena, pensei que estava virando uma adolescente normal. — Revidou, tratando de beber algo alcoólico com uma das mãos. Ainda assim prestava atenção na estrada.

As lágrimas já estavam secas, demonstrando que a vontade de me afogar nelas tinha acabado sem nem notar. Jamais lograria responde-la sem explodir se não ficasse um tempo em silêncio, apenas vendo as inúmeras casas, postes, árvores e pessoas aparecendo e sumindo num piscar de olhos.

— Você disse que ia mudar! — Esbravejei, lembrando-a do dia em que ficou em coma no hospital. Balançou a cabeça em repreensão, colocando a garrafa no assento vazio.

— Quem mandou me deixar nervosa no telefone? Eu precisava comprar para me acalmar. — E ainda conseguiu chegar rápido?

Não tem explicação.

— Então apenas dirija. — Aconselhei.

A certeza de que não seria mais aquela pessoa protetora, que me acalentava e vivia me perturbando para que contasse o acontecido. Sua proteção agora se transformou em noites regadas de prostituição e drogas.

— Audrey, desculpe pelo que disse. — Começou ao pararmos na frente de casa, completando de uma maneira que parecia estar lendo minha mente. — Mas não é mais criança para eu ficar te obrigando a me confidenciar tudo, até porque quando tinha sua idade vivia com segredos. — Não, quero que seja como antes.

Nem tratei de gastar as cordas vocais a rebatendo, caminhando com desespero ao abrir a porta. Olhar para o espelho era um privilégio que nunca poderia ter neste momento, tratando de seguir direto para baixo do chuveiro. Quem sabe a água apagaria o que passei nas mãos das três, todavia havia a certeza de que as consequências daquele ato não seriam eliminadas tão fácil quanto foi apagar as palavras imundas que gravaram em mim ao esfregar a esponja.

Mangas compridas e calça em um dia abafado, para esconder os hematomas que se formavam depois daquela noite de terror. Passei pelo corredor sem nem ser notada pelos outros alunos, o que me surpreendeu. Conseguir dormir foi impossível ao imaginar o vídeo sendo espalhado para todos desse colégio, ainda mais por conta da dor sentida cada vez que mexia, porém nada me prepararia para o silêncio como reação ao entrar pelos portões.

Escutei a risada de Alexia, que acompanhava a Catherine até a sala de aula, tremendo apenas de vê-la atravessar próxima a mim. O espanto novamente me afligiu por perceber que fingiu não me notar. Roberta e Brigdet continuaram despercebidas, talvez faltariam. Resolvi sentar no canto de costume, colocando os fones de ouvido para me distrair. Se a popular do colégio, alvo da aposta de Evan, não tivesse caminhado até a minha carteira o meu plano de ficar invisível estaria funcionando.

— Que bom ter resolvido cortar a franja. Seus olhos são lindos mesmo, como me lembrava. — Comentou, sorrindo de uma forma a qual me deu certeza o quão diferente era por radiar brilho com simples gestos.

Senti uns olhos me fulminando, tanto que por ela teria explodido na hora. Percebi sem nem precisar falar que a sua ameaça do dia anterior ainda estava mantida, sobre me afastar da outra.

— Obrigada. — De forma seca.

— Sempre fiquei curiosa para saber o que escondia embaixo dela, porém nunca imaginei que seria algo tão nojento! Sinto até vontade de vomitar apenas por estar perto. — Declarou a que no outro dia estava me batendo sem se importar, apontando para a minha testa como se eu fosse o monstro da história.

Eu ainda não tinha me analisado no espelho, nunca tive coragem depois que o cabelo a tampou entre a primeira e segunda série. Era como se ignorasse o fato de que aquilo tinha acontecido comigo, estragando toda a minha inocência e confiança nas pessoas.

— Pare de exagerar. Tenha certeza que não é tão ruim como ela está falando, Audrey. — A maneira gentil me fez perceber que nunca a mereceria.

— A alexia tem razão, mas na verdade sou eu que não quero andar ou estar com vocês. — Emendei, apressando-me na colocação para que jamais deixasse dúvida sobre a minha vontade. O tom sério confirmava isso, mesmo que fosse algo falso.

Vi-a com o queixo caído, para depois fitar-me de uma forma que passou a dor que experimentava por ser rejeitada. Talvez essa fosse uma sensação jamais sentida antes pela popular, ainda assim não deixou de me impactar. A melhor amiga dela tinha um sorriso de vitória no rosto, aprovando o ocorrido. Abaixei a cabeça e continuei a ouvir a música, esperando que saíssem sem ter de observa-la novamente.

Encontrava-me estática, respirando com dificuldade e com a ânsia de chorar. Imaginei que a indiferença de meus atos não poderiam me machucar, já que sempre me acostumei a ficar sozinha. Não poderia estar mais enganada ao notar o quão mal ficou com o meu comentário.

— Aposto que hoje vão se brigar. — Gritou a algoz do parque de diversão, fazendo-me abaixar o volume para escutá-los.

— E eu que vão se beijar. — Seguiu o garoto que é tolo o bastante para ficar indo atrás dela.

— Nunca, ele nem é meu tipo! — Revidou um dos sujeitos do assunto.

Espero que seja verdade e que o Evan pene muito para te conquistar.

— Igualmente. — Concordou a Alexia.

Falou a que há menos de uma semana estava transando loucamente com ele.

— O importante é que posso ganhar dez reais hoje. — Detonou, contando qual seria a aposta.

Professor de sociologia chegando e passando sobre moral, justo quando um tal de Miller passou por entre a porta de uma maneira tão ágil que pude presenciar seu cabelo se mexendo enquanto andava. O sorriso de lado, a regata realçando seus músculos, era dirigido ao seu alvo do desafio.

— Está aí um belo exemplo de alguém que precisa assistir essa aula, quem sabe assim aprende que não se pode chegar atrasado! — Exclamou a autoridade após o dito cujo sentar-se no fundo, perto de mim.

— Na verdade não entendo o porquê de não estar na sala da diretora ganhando uma suspensão. — Complementou a Catherine.

— Até fui, mas ela entendeu que seria crueldade demais separar um amor tão lindo quanto o nosso. — Sua jogada arrancou algumas risadas da turma, até de mim, pois a sua expressão era o que mais se destacava. Isso pareceu chamar sua atenção, tanto que me observou e deu uma piscadela, sorrindo de um jeito que suas covinhas aparecessem.

— Eu só não te bato, porque não quero ter de limpar a piscina de novo. — Mentiu.

Evan continuou a me analisar, possivelmente querendo algum sinal positivo da minha parte para dedurar a sua colega de classe. Fiz um xis com os dedos em meus lábios, respondendo com negativa, apesar de que isso me fizesse lembrar o que tinha feito naquele lugar. A sua demora foi o suficiente para que o educador tivesse tempo para interromper.

— Jurei que ia falar que era por causa da minha belíssima aula. — Seguindo a passar a matéria.

No intervalo segui até o mural, vendo que a inscrições para a bolsa em uma universidade de outro país estavam abertas. E, o melhor, dependendo a colocação ajudavam com o aluguel, mesmo que fosse para duas pessoas. O sonho de poder ir para fora com a minha mãe me acertou, ao ponto de seguir para a biblioteca sem aviso.

Consegui a vaga para usar um computador, verificando quais matérias cobravam. Percebendo que deveria começar com as partes que me saia pior, como física e química. Portanto necessitava pegar os livros mais completos que tinham na estante vendo pelo sumário.

“Ligações químicas

Existe a iônica e a covalente, sendo que a primeira...”

— Há mais química entre nós do que por esse assunto. Então por que não larga tudo e vem conversar comigo? — Fez a sua brincadeira o pegador da escola.

Levantei-me sem nem pensar, parando perto dele, observando que estava com um caderno em mãos. Fingia que era um aluno estudioso, nerd e que tinha interesse em que nota vai tirar, mas a maioria das garotas sabiam que a única coisa que aprendiam com ele, entre os livros e as prateleiras, era a prática da anatomia humana.

Seu jeito sexy as faziam abaixar as calcinhas para serem fodidas, sem nem pensar duas vezes, e pelos boatos saíam bem satisfeitas.

— Tenho desgosto em discutir biologia contigo. — Meu tom de voz ressonava a favor das minhas palavras. Apesar de raras vezes ter vontade, jamais ia realizar o desejo de minha mãe nesse lugar.

— Pare de dar uma de culta, é urgente. — Praticamente implorou pelo meu “sim”.

Puxei-o pelo braço, tratando de liderar a ida, todavia logo tratou de apressar seus passos para me ultrapassar. Nem sequer entendi quando passei a ser levada por ele, tremendo por notar o local para aonde estava se dirigindo. Quando paramos e houve a certeza dos maus pressentimentos, cruzei os braços em sinal de defesa.

— Por acaso não consegue se aguentar quando vê um rabo de saia? — Esbravejei, apesar de que o modelo usado por mim batia no joelho.

Cada momento que se aproximava dava uma passada para trás, martirizando-me por não compreender que encostaria na estante cheia de conteúdos eróticos. Sua mão pairou do meu lado enquanto lançava seu típico sorriso torto, tendo como reação da minha parte trancar a respiração por imaginar o que ocorreria depois, vendo-o pegar um dos livros que nem quis saber o nome. Mentiria que meu corpo não se arrepiou com sua presença, que a boca não secou e encontrava-me calma por sua provocação.

— O que eles fazem aqui, e eu com algumas colegas, é impossível de acontecer conosco. Para ter uma possibilidade é preciso alguns centímetros a menos no uniforme e o mínimo de sex appeal. — Sussurrou no ouvido, semelhante aos cafajestes dos filmes. Abriu a obra e fez cara de desdém. — E isso, Audrey, infelizmente não tem. Igual essa sinopse, me desagradou no começo ao ponto de nem me sentir excitado. — Finalizou, colocando de volta na prateleira.

— Então por que já me beijou e tocou? — Quis bater a cabeça na parede só por abrir a boca sem pensar, anestesiada por conta dos seus gestos.

— Você está se achando e perguntando demais, não? O único motivo de estar na parte dos eróticos contigo é apenas por conta da privacidade. — Alegou.

Afastei-me e suspirei por novamente ter trocado de assunto. Em todas as vezes que questionava-o reagia assim ou ficava dizendo que eu queria repetir o acontecido. Resolvi ir pelo lado do drama, apesar de constantemente pensar isso.

— Sente tanta vergonha de mim para nem sequer querer repassar o dia da limpeza? — Perguntei, abaixando a cabeça e notando-o parar do meu lado e pegar no ombro, para depois pegar no meu queixo para que nos encarássemos.

— Não. — Sua resposta seca foi o suficiente para me desmontar.

— Somos de mundos diferentes, essa é a verdade. Nem sei porque ainda conversamos. — Confessei, tirando suas mãos de mim para que conseguisse dar meia volta e fugir dele. Mesmo que para isso não tivesse ninguém, mas quem sabe desta forma a Alexia e as outras parassem de me atazanar.

A realidade de ser como antes me atingia, se não fosse sentir o calor de seu toque, virando-me para esbarrar com seu peitoral, vendo-o com a cara fechada, nem seu sorriso de lado existia mais. Levantou minha franja com delicadeza, sentindo-o tremer de uma maneira como nunca antes, para depois um selo demorado ser depositado bem onde a minha cicatriz se encontrava. A surpresa desse ato me afetou tanto que meus olhos ficaram marejados.

— Nunca diga que é inferior a mim, nem se sinta assim. Um beijo seria o bastante para entender que somos bem próximos um do outro? — A dureza de suas palavras não interrompeu as lágrimas de transbordarem.

— É. — Sussurrei em esforço.

O caderno em seus braços estava aberto na parte dos adesivos. Observei-o pegar qualquer um deles, porém não percebi qual era, posicionando em minha testa. A alegria presente em seu semblante me contagiou, todavia o encantamento maior fora perceber que seu olhar encontrava-se brilhante por estarem úmidos.

— Não sou sua mãe e nem tenho um curativo, mas sou seu amigo. Então deixa eu te dizer que espero que confie mais em mim daqui em diante, assim como que falei sério quanto a te proteger. — Informou, caminhando até a parte das mesas. — Essas crianças não sabiam mesmo desenhar uma estrela. — Declarou a respeito da marca que obtive no jardim de infância, a razão pela qual comecei a esconder esse local com meu cabelo.

Apesar de sua brincadeira sem graça, compreender que me analisava no primário foi o suficiente para sair da biblioteca com um sorriso no rosto. Suas costas foram a última coisa que vi antes de seguir em direção contrária, nem dando tempo de me despedir ou agradecer. Meus pais realmente colocavam band-aid quando o ferimento estava secando, como forma de me deixar mais aliviada também.

Não conhecia quem tinha feito essa cicatriz, com o símbolo de cabeça para baixo, estando a ponta no meio das sobrancelhas até a metade da testa, algumas partes fundas e outras tinham um pequeno calombo, pois me acertaram na cabeça de uma forma que desmaiei. Lembrava de poucas coisas, como quando me zoavam por usar vestido rosa, laços na cabeça e vivia sempre arrumada, não querendo ir na caixa de areia ou me sujar por conta disso. Só que os instantes em que berrava para faltar as aulas, ocorrendo até o final do pré, acompanhando um tempo da primeira série, preocupavam minha família.

Talvez tenha sido a curiosidade, a maldade ou por não querer me divertir com eles que fizeram isso, mas a consequência em meu psicológico, autoestima e mente, seguindo até hoje, foram ferrados a partir de quando acordei naquela cama de hospital.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Muito pesado? O que acharam da parte da mãe? Da conversa com a Catherine? Da discussão com o Evan e tudo o que ocorreu? Da história por trás da franja? Pensei em tantas coisas para por, porém pensei que isso seria uma boa justificativa.

A imagem não é minha, mas é quem imagino como o Evan Miller. Uma garota dando comida para ele é o que há. Se tiver erros de português podem me avisar.

Quem quer comentar? Realmente vai me deixar bem contente, de coração, até porque saber a opinião de vocês sobre a fic me faz compreender mais o que desejam e estão achando. Além de que adoro criar intimidade com meus leitores, se quiserem mandar MP, podem ficar a vontade. E se por acaso sentirem que essa história merece uma recomendação, como a diva da Miih Lima fez, pode ter certeza que essa autora vai amar demais!

Beijos e até a próxima.



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