Era dia 17 de Dezembro de 2012. Estavam todos reunidos na casa de Ethan e Norah, que estavam juntos há quarenta anos e festejavam por esse motivo.

O casal se lembrava alegremente do momento em que se viram pela primeira vez, da festa de casamento, chegada dos filhos e todas essas coisas mais que fazem parte da vida em dois. Na foto que Norah tinha em mãos, ambos eram jovens e de boa saúde. Ela tinha longos e encaracolados cabelos escuros que contrastavam com a pele alva e boca rosada e carnuda. Seu parceiro era mais alto que ela e desde aquele tempo amava camisas de gola pólo, usava óculos que não combinavam bem com a moldura de seu rosto de queixo quadrado. Ambos riram quando o filho mais velho fez o comentário sobre o relógio de pulso do seu pai, que ainda existia.

Kailee, a filha caçula de 25 anos, perguntou onde é o bonito lugar verde onde eles tiraram a foto e quantos anos tinham cada um.

─ Esse é o parque municipal minha querida. Irreconhecível, não é mesmo? ─ Ethan responde enquanto limpa a lente de seus óculos numa flanela. ─ Bem, eu acho que deveria ter uns vinte e seis ou trinta anos na foto... sua mãe devia ter vinte e três ou vinte e cinco. Não sei.

─ Você tinha trinta e dois e eu vinte e nove, meu bem. Homens... nunca se lembram dessas coisas...

Nesse momento, vizinhos e amigos da família começaram a chegar na casa. As crianças devoravam os brigadeiros e demais docinhos. Os homens parabenizaram Ethan e foram preparar as carnes e salsichas para o churrasco. Mulheres ficaram emocionadas com a história e logo falaram sobre algum outro assunto do complexo universo feminino.

Norah teve uma crise de tosse e falta de ar novamente. Ela sentiu-se envergonhada por isso e foi para seu quarto. No fundo, ela sentia saudade de seus tempos de jovem, quando ela ainda tinha pele macia, carne quente e saúde de ferro. Da janela, ela observou seu companheiro com outros homens, ele estava abatido de uns tempos pra cá. Estava pálido e mal conseguia dar alguns passos sem tropeçar nos próprios pés.

Ela, que ainda receava até minutos atrás, passou a ter certeza. Eles haviam feito a escolha certa. Decidiu então dar atenção aos convidados.

─ Por onde esteve, mãe? ─ Jonah, o filho mais velho estava amargamente entristecido. Mesmo com todas suas famosas piadinhas, ele não conseguia distrair-se por um minuto. E ainda preocupava-se com Elise, sua irmã do meio que ainda não havia chegado.

Tudo bem que Elise revoltou a família inteira quando deixou seu noivo que tinha juízo e vida estabelecida por um moleque treze anos mais novo que ela e que usava drogas... mesmo assim ela tinha como dever visitar seus pais ou ao menos ligar ou mandar cartas. Eles a amavam e amariam independente da merda que ela quisesse fazer com sua vida.

─ Estava procurando por algum vestido bonito para vestir, mas como engordei uns quilos, todos os que eu poderia vestir me apertavam... tive que ficar com esse mesmo. ─ Ela sorriu, o mesmo sorriso que Jonah via quando tinha seus 4, 10, 12, 15 anos... um sorriso tranqüilizante. Sorriso de mãe. Seus olhos marejaram, mas ele secou-os de maneira desjeitosa.

Depois do almoço e sobremesa, todos tiraram fotos, brincaram e cantaram alguma música alegre. Veio o entardecer e com ele as pessoas foram embora. Ficaram Jonah, Ethan, Norah e Kailee em casa. Tentaram mais uma vez ligar para Elise, mas não obtiveram êxito.

A família mesmo que incompleta, reuniu-se num abraço. A esposa de Jonah carregava o bebê em seu colo e pensava em fugir dali. Estava desesperada. Mas a angústia paralisou-a. Pam podia apenas observar a tudo e chorar enquanto seu filho dormia tranquilamente em seus braços.

Norah e Ethan após abraçarem e beijarem seus filhos inúmeras vezes, beijaram a criança de Pam e Jonah e fizeram o mesmo com Pam.

Ethan começou a subir os degraus que separavam a sala dos quartos, e Norah, antes olhou calmamente para seus familiares e soprou-lhes um beijo.

Jonah levou sua irmã, esposa e filho para seu carro. Voltou e fechou a porta da casa de seus pais.

E dirigiu em silêncio até a cidade vizinha.

....

No quarto, Ethan e Norah sentaram-se na cama e deram as mãos. Ele disse que a amava muito. Ela disse que sentia o mesmo por ele. Serviram-se da bebida que havia sob o criado mudo e deitaram-se para nunca mais levantar.