Mas antes de o Banguela ser construído, antes de o Soluço e a Astrid visitarem Stoico, havia um telefonema certo? A Anna havia ligado para a sua irmã. Havia encontrado Elsa em Sortland (foi algo demorado, já que ela ligou para todos os hotéis de Sortland com a ajuda do Kristoff).

E a Elsa atendeu e finalmente se viu livre...

Elsa recuperou-se do choque de ouvir a voz de sua irmã. Como Anna havia achado ela ainda era um mistério para Elsa. Mas não pode reprimir certo alívio, depois do choque, de ouvir a voz doce de Anna.

–A...Anna? Como você conseguiu encontrar-me? Quer saber, não importa. Você está bem minha irmã?

–Depende do que você considera como estar bem. Eu estou muito preocupada com você Elsa. O Kristoff diz para eu me acalmar e parar de andar de um lado para o outro da loja, mas eu não conseguia – Anna disparou a falar e Elsa tentava acompanhar e acalma-la.

–Anna...

–E aí eu liguei para a nossa prima Rapunzel que estava no Havaí. Sabia que eu pesquisei e lá tem as melhores ondas do mundo? E aí ela tentou acalmar-me e...

–Anna...

–E aí ela vem para Oslo. E então eu liguei para todos os hotéis de Sortland com a ajuda o Kristoff e...

–Anna acalma-se, por favor! – Elsa gritou.

–Ah, desculpe minha irmã estava nervosa.

–Muito bem, o que você quer saber Anna? Eu estou bem aqui em Sortland não precisa ficar preocupada, se é para isso que ligou. E espero que esteja tudo bem aí – e que a casa e a Floricultura esteja inteira, Elsa pensou.

–Aqui está tudo ótimo e fico feliz que aí também. É só que... Eu não entendo por que você foi embora. Por que deixou apenas aquele bilhete. E... Por que nunca fala do nosso passado, por que nunca fala dos nossos pais. Eu sei que você sempre tentou cuidar de mim e sempre fez o seu melhor. Mas eu sempre quis as respostas para as minhas perguntas que você nunca responde.

Elsa ficou em silêncio e olhou para a janela do seu quarto no hotel. Observou os detalhes da neve caindo e desejando não arrepender-se do que iria fazer.

Concentração.

Ela enviava comandos para si mesma. Estava na hora. Não podia esconder da sua irmã a vida inteira. Não podia esconder de si mesma que a sua irmã estava crescendo.

–Elsa? Você está aí? Elsa! – Anna a chamava no telefone e ela pareceu acordar.

–O quê? Oi, oi Anna, estou aqui sim. Minha irmã eu te amo mais do que tudo nesse mundo. Tudo que eu fiz foi para sua proteção. Eu tinha que cuidar de você. Foi o que prometi aos nossos pais. E essa é a nossa história...

Durante uma hora, apenas Elsa falou. Contou desde o início da história das duas irmãs. Aquelas que tiveram pais com o azar de conhecer Drago. Pais que a amavam tanto a ponto de entregar-se para protegê-las.

Contou da carta deles, do seu isolamento e de quando finalmente percebeu que tinha que lutar, tinha que cumprir sua promessa e cuidar da sua pequena irmã. Ser corajosa.

Elsa foi ainda mais corajosa quando essas palavras saíram de sua boca. Quando contou a sua irmã toda a verdade.

–E essa é a história Anna. Espero que um dia você perdoe-me por ter escondido tantos anos a verdade. Mas é por que eu te amo e tentei proteger você – Elsa falava e as lágrimas rolavam.

Do outro lado da linha, Anna estava paralisada com a história. Não sabia o que pensar, nem o que falar. Nem chorar conseguia.

–Eu... Eu... Não sei. Eu... Preciso desligar Elsa, tchau – ela disse e jogou o telefone no chão.

Anna sentou-se atrás da bancada da Floricultura e abraçou os joelhos. Ficou olhando para o “além” pelo que pareceu ser durante a noite inteira.

Elsa olhou para o telefone mudo e colocou em seu lugar. As lágrimas rolavam com maior intensidade em seu rosto. Ela jogou-se na cama e enroscou-se com sua dor. E apenas chorou. Apenas deixou drenar toda a tristeza do seu coração...

*****

Deixando as irmãs um pouco de lado e na realidade deixando o mundo dos mortais um pouco de lado, havia duas pessoas (na verdade dois deuses) que já interferiram nessa história. E que iniciavam uma discursão (na verdade, comum demais para esses dois).

–Loki. –Thor cumprimentou o seu irmão enquanto entrava numa sala tão dourada que parecia ser feita toda de ouro.

–Olá querido irmão – Loki usou de todo o seu sarcasmo. - Por que me chamou?

–Poupe-me Loki, Heimdall me contou o que fez.

–Depende... Meus dias vêm sendo meio cheios.

–Você sabe do que estou falando.

–Não... Mas vou chutar, eu fui falar com uma certa Hofferson em Midgard há uns dias atrás e você não gostou muito do que ouviu.

–Sim, é exatamente disso que falo. E agora exijo explicações. Por que você fez aquilo?

–Aproveitei que já estava lá e contei um segredinho a ela.

–E o que você foi fazer lá exatamente?

–Uma coisa relacionada à sua mortal Jane Foster.

–O que fez com ela? – Thor cerrou os punhos.

–Por que não pergunta para Heimdall, não foi ele que te contou sobre a Hofferson? – Loki sorriu.

–Loki!

–Tudo bem, eu apenas... - ele suspirou. – Apenas a observei.

–Para que?

–Ela é mais uma dentre muitas mortais, você não se importaria tanto se não tivesse a encontrado, ou melhor, se ela não tivesse te atropelado naquela noite - ele solta uma risada irônica.

–Eu fiz uma pergunta Loki.

–Por nada, eu só queria passar o meu tempo.

–Mas seus dias não vêm sendo “cheios” ?

–Eu só quis me divertir um pouco Thor.

– Loki, você sabe que nem sempre nós deuses podemos interferir na vida dos humanos e de nenhum mortal. E o que você faz? Exatamente o contrário. O que você fez com a Hofferson, é interferir demais no destino.

– Ora Thor, você sabe que sou muito interessado no mundo terreno. E eu gostei dessa Hofferson e desse Strondus.

–Loki!

– Thor, vamos deixar o destino correr - Loki virou-se de costas e sorriu. - Mas eu posso ajeitar umas coisinhas no futuro...