Capítulo 1 – O Trio

-Não gosto de Shakespeare – declarou Athena. – Não há maneira de o estudar sem ter que ler Romeu e Julieta dez vezes? Não há, sei lá eu, um guia de estudo, uma cábula…

-Não – Danielle riu, recostando-se no sofá com a sua chávena de chá. – E nem é tão mau! Há tantos remakes, um deles é com o Leo DiCaprio…

-Ai, tu e o teu amor platónico por aquele velho! – Athena tentou ser rude, mas não conseguiu.

-Ele não é velho. Velho é o George Clooney, que não para de fazer filmes, mesmo de bengala!

-Ele não usa bengala – afirmou Athena, arregalando os seus olhos azuis.

-E quem te disse isso? O teu pai?

Athena revirou os olhos e bebeu o seu chá. Alguém deu dois toques na porta, abrindo-a logo de seguida.

-Consegui! – exclamou Henry, corado, como se tivesse estado a correr. Sentou-se entre as duas meninas, colocando a sua mala no colo. – Onde está o meu tio? – indagou para Athena.

-Provavelmente num caso. Tio John não está com ele?

-Não. Teve uma emergência e foi logo a correr para o consultório – informou ele, sorrindo para Danielle. – Como está a minha menina linda?

-Argh – Danielle revirou os olhos. – Não me lances charme porque não vale a pena.

A porta voltou a abrir-se e Mrs. Hudson entrou, com um tabuleiro de chá e bolos. Athena saltou do sofá para a ajudar com o tabuleiro.

-Olá, Henry. Como está o John?

-Está bem, obrigado. Mandou-lhe um abraço.

Mrs. Hudson sorriu e afirmou:

-Queridos, eu vou descansar um pouco. Se precisarem de alguma coisa, chamem-me.

-Fique descansada Mrs. Hudson – disse Athena, acompanhando a mulher até há porta. – Eu aviso-a.

-Awn, é tão bonito ver-te crescer, minha linda.

Athena retribuiu o sorriso gentil de Mrs. Hudson, vendo-a descer as escadas. Mrs. Hudson já era muito idosa e Athena tinha sempre muito cuidado com ela, como se ela fosse partir-se a qualquer momento.

-Então… como vai o Shakespeare e o seu Romeu? – Henry brincou, desfocando Athena de Mrs. Hudson.

-Nem me fales – Athena voltou a sentar-se no sofá. Esticou o braço para a mesa de apoio, sacando um biscoito de manteiga do tabuleiro que Mrs. Hudson tinha trazido. – Romeu é… mel.

-E tu não gostas de mel? – Danielle arqueou uma sobrancelha.

-Não sei – Athena encolheu os ombros. – Acho que não me apaixonaria por alguém tão… obcecado por mim.

-Fica descansada. Ninguém chegará perto de ti enquanto o teu pai não morrer. Matematicamente falando ainda tens mais uns… quarenta anos, talvez?

Athena e Danielle riram. Henry acompanhou-as. O trio estava absolutamente perfeito.

Henry era filho de John e Mary. Único filho, por decisão dos dois. Athena era filha de Sherlock. Era apenas isso que ela sabia. O tio Mycroft e o tio John recusavam-se a dar-lhe mais detalhes. Ao fim de um tempo, as perguntas cessaram e Athena desligou do assunto. Não importava quem era a mãe, ela tinha uma família que amava muito. Danielle era a melhor amiga de todos. Os seus pais tinham sido pacientes do tio John e aos poucos, Danielle, Henry e Athena foram-se aproximando. Mais tarde descobriram que estavam na mesma escola. Depois descobriram que iriam partilhar algumas aulas.

O telemóvel de Henry começou a tocar e ele foi para o patamar do andar atender. Ultimamente era sempre assim. Danielle e Athena já tinham especulado e continuaram a especular:

-Será que é aquela Jennifer? – Athena enrugou a testa.

-Pode ser só a mãe dele – disse Danielle. – Se bem que se fosse a Mary, ele atenderia aqui.

-E ele tem o telemóvel bloqueado com password. Com password! Ele nunca usava password antes – afirmou Athena.

-É tão bom ter uma Holmes no círculo de amigos – Danielle sorriu e logo de seguida ficou séria. – Espera, isso significa que andaste a investigar o telemóvel dele.

-Foi… acidental. Eu queria ir ver uma coisa na internet.

Henry voltou para o apartamento e as meninas focaram-se noutras coisas. Athena pegou no seu Romeu e Julieta e Danielle pegou no seu telemóvel, procurando algo na internet.

©AnaTheresaC