A última dança escrita por Teddie


Capítulo 2
CanYou Feel It


Notas iniciais do capítulo

Gente, mil desculpas por não postar antes, to me sentindo extremamente envergonhada por isso, e eu espero que vocês não tenham desistido de acompanhar.
Queria agradecer os comentários no último capítulo, que me incentivaram a continuar.
AUD é uma fanfic complicada para eu escrever, e eu acabei demorando a entrar no clima dela e ter inspiração. Mas agora que ela chegou, juro que vou postar rápido. Vou tentar, já que a faculdade ocupa muito tempo.
Vou tentar mesmo, juro!
Desculpem-me novamente, e aproveitem o capítulo



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AUSTIN

Revista Mega Babado

UM BOM FILHO A CASA TORNA

Isso mesmo, Miami, vocês não estão lendo errado. Austin Moon está voltando para nossa cidade.

O garoto prodígio de dezoito anos, que ficou famoso ainda criança na série dramática Vivendo com os Gulliver, onde interpretava os gêmeos Vincent e Darien Gulliver, desembarca na próxima semana no principal aeroporto de Miami, voltando de sua turnê mundial, a Full Moon.

Mas nem tudo é um mar de rosas com a volta do nosso principal galã, Miami: Austin Moon tem dado o que falar em babados mundo a fora. No Brasil, por exemplo, fora detido por vandalismo, depois de pichar muros e edifícios sem autorização. Na Itália, fora detido por direção perigosa.

A lista é imensa, mas de todos os problemas dele, como esquecer as festas badaladas terminadas com polícia batendo na porta, e claro, a famosa prisão por porte de drogas.

De qualquer jeito, nós da Mega estamos ansiosissímos para a vinda do nosso Garoto de Ouro.

Enterro mais minha cabeça dentro da revista enquanto um grupo de adolescentes passa pelas minhas costas, uma delas, inclusive, usando uma camisa com meu rosto. Acho que praticamente todas as garotas de Miami tinham uma camiseta com meu rosto, e não sendo presunçoso, a culpa não é delas se eu realmente sou talentoso.

“Ei, pivete, vai levar essa merda ou não?” o jornaleiro gordo, careca e com uma verruga vocifera em minha direção e eu tenho vontade de gritar para ele que eu não era um pivete, que se eu quisesse, eu poderia comprar essa banca de jornal nojenta com o dinheiro trocado na minha carteira, porque é verdade.

Mas então lembro de Lauren, a psiquiatra do meu curso de controle de raiva, ela diz que sempre que eu sentir vontade de começar a brigar, eu tenho que fazer uma contagem regressiva, e a cada número, lembrar de uma coisa boa em minha vida.

Dessa vez eu me lembro dos Grammys que ganhei, e do Emmy de melhor ator coadjuvante, depois da última temporada de Vivendo com os Gulliver. Quer dizer, Darien matou o próprio irmão por causa do jogo de interesses da poderosa família Gulliver, enquanto Vincent dizia que o perdoava por todas as atrocidades que o irmão cometeu. Foi considerado o episódio que fez os Estados Unidos chorarem. Se eu não ganhasse um Emmy depois disso, eu me mataria.

Outra coisa que fez minha raiva diminuir, é que de fato eu estava parecendo um pivete. Usava óculos de sol maior que o rosto, um gorro cinza, e por cima disso tudo o capuz do casaco preto que usava. Qualquer um que me visse na rua sairia correndo, principalmente porque fazia um calor absurdo em Miami. Por baixo do meu disfarce, eu conseguia sentir o suor pingando. Eu odiava suar sem necessidade.

“Não, senhor” respondo em voz baixa, e saio dali antes que ele resolva chamar a polícia. E isso não seria nada legal.

Principalmente quando ninguém sabia que eu estava de volta a Miami tinha duas semanas.

Minha empresária poderia ser horrível em muitos aspectos, mas fora muito esperta quando liberou a informação falsa de que o Garoto de Ouro só chegaria na semana seguinte.

Pelo menos por um tempo eu teria paz. Claro que também não poderia me meter em encrenca nenhuma, porque ai tchau tchau calmaria. Quer dizer, há quanto tempo que eu não poderia andar na rua sem ninguém me perseguindo? Acho que nunca! desde meus onze anos trabalhava na série, e isso foi até os dezesseis anos, com a última temporada. Depois eu resolvi seguir carreira musical e deslanchei de vez com minha carreira.

O que me levava a Miami de novo.

Eu estava mais que desesperado para um hit novo, desde Can You Feel It

eu andava parado demais, e as fãs cobravam. Fora que com músicas novas, esqueciam meus pequenos deslizes. Sem as músicas, eles voltavam a repetir todas aquelas baboseiras sobre mim.

Deslizes que por sinal, eram sempre engrandecidos pela droga da mídia. Eu tive autorização para desenhar no Brasil, e ultrapassei um sinal só na Itália. E as drogas não eram minhas, eu nunca nem fiquei alcoolizado! Rihanna estava na minha casa naquele dia, e não podia dizer que ela não era bem vinda, era a perspectiva de uma parceria gigantesca.

Meus pais, por mais que sempre fossem mais voltados para a minha carreira do que para mim, sempre me ensinaram bons valores, e me deram bons exemplos. Eu queria ser um bom exemplo para as pessoas que gostavam do meu trabalho, mesmo falhando miseravelmente nos últimos tempos. Eu gostaria que as pessoas me vissem como eu sou, eu não fumo, não bebo, sou jovem e bonito. Escândalos desnecessários demais.

As únicas verdades eram as festas, elas sempre eram um agito mesmo. Fui privado de ter uma vida para entreter as outras pessoas, nunca fui à escola. Eu merecia festas agitadas.

Suspiro, sentindo minha cabeça latejar. Era a falta de café. Quando se é famoso, isso acontece. Você dorme pouco, e cria o hábito de tomar café. Eu ainda não tinha tomado minha xícara hoje, e estava desesperado.

Passo pelas ruas de Miami, chegando nos centros comerciais. Famílias passeavam, garotos flertavam com garotas, as pessoas passavam indo para a praia. Por isso eu voltei para Miami, eu podia sentir a inspiração junto com a brisa suave que tocava meu rosto.

It's automatic, gotta have it, 'cause you got that

Bufo, me encolhendo enquanto andava. Na loja de eletrônicos, do outro lado da rua, minha música soava nos alto-falantes, e um grupinho de meninas cantava junto, enquanto uma delas falava com um vendedor. Deviam ter no máximo quinze anos.

When the lights come up, it's hard to hold back

So come on, let it blow

Vejo a porta da cafeteria, e quase respiro aliviado. As mesas do lado de fora estavam todas ocupadas, e aposto que dentro o calor está pior do que faz embaixo do meu moletom. Rio, me lembrando de algo engraçado, algumas meninas escreviam histórias sobre como eu as conhecia em cafeterias como essa, e após uma relação de ódio, ficávamos juntos e felizes. Hilário.

Avisto uma mesa que tem apenas uma garota, aparentemente da minha idade, sentada sem café, nem nenhuma guloseima.

“Com licença” digo baixo, tentando disfarçar ao máximo minha voz.

“Pois não?” ela fala. A voz era ligeiramente embolada, como se tivesse dificuldade de pronunciar as palavras, mas fora isso, a garota era a representação da perfeição.

Sua pele era branca e lisa como uma pérola, seu rosto tinha feições delicadas e um belo par de olhos castanho chocolate. Seu cabelo castanho era ondulado até o busto, terminando com as pontas aloiradas. Seus dedos, que estavam segurando tremulamente um caderno, eram finos e pequenos, e terminavam em unhas perfeitamente pintadas de verde.

“Você está esperando o seu pedido?” ela meneia, negando em seguida. O movimento era lento, quase como a fala. Ela estava bem?

“Não, já consumi. Mas não posso sair daqui, sinto muito”.

Sinto o sangue começar a ferver. Qual era o problema dessa garota? Qual era a dificuldade de deixar a mesa? Era retardada?

Sim, eu tenho muito problema para me controlar. Mas respiro fundo e tento novamente:

“Olha, menina, eu realmente preciso me sentar”.

Lentamente, ela tirou uma das mãos do caderno, e eu pude ver que era uma espécie de diário, marrom, e decorado com umas estrelas, notas musicais e flores. Tinha um grande A com glitter para completar. Ela apontou para a cadeira do lado dela e eu pude ver umas manchas arroxeadas em seu braço. Ela não pareceu se importar.

“Pode sentar-se aqui. Eu estou esperando umas pessoas” a respiração dela é pesada também, descompassada.

Bufo estressado. Ela não podia esperar em outro lugar? Fora que eu parecia um bandido, ela não tinha noção nenhuma?

“Qual seu problema?” elevo minha voz, e o pessoal da mesa do lado olha torto para mim, a menina se encolhe levemente no lugar. “Por que não espera em outro lugar. Quero privacidade, entendeu, ou ‘tá difícil?”

“Não seja um estúpido, senhor” a voz está firme, revoltada, mas ainda embolada. Será que estava meio alcoolizada? “Eu adoraria sair daqui e te deixar com toda a mesa para você fazer o que bem entender, mas não consigo”

Foi a gota d’água. Posiciono-me atrás dela, puxando a cadeira. Ela se desestabiliza, mas não usa os pés como apoio, como imaginei que faria, e sem equilíbrio, ela cai no chão com um baque surdo, mas só piora a situação quando tenta se levantar.

“Qual o seu maldito problema?” vocifera para mim, seu rosto está vermelho de fúria, e seus olhos cheios de lágrimas. “Eu não ando, seu imbecil!”

Se antes eu estava furioso com ela, agora estou comigo mesmo. Sentia-me estúpido por fazer a garota cair no chão. Tento me mover para ajudá-la, mas só que antes de conseguir fazer qualquer coisa, um grito afetado chamou ainda mais atenção para a cena que se passava.

“ALLY” olho em direção a quem gritou e vejo um ruivo alto com uma calça listrada verde e laranja, suspensórios de bolinhas e uma blusa amarela com a estampa de um cachorro fazendo ‘joinha’. Atrás dele vinha uma garota baixinha e gordinha com uma cadeira de rodas, o rosto contorcido de preocupação.

“O que você fez com ela?” a baixinha de cabelos encaracolados pergunta, enquanto o ruivo coloca a garota na cadeira. Devagar, limpa as pernas, que estão com as pedrinhas da rua grudadas.

Olho em volta, e todos parecem ter perdido o interesse na cena. Poucos olham para nós, mas a revolta pelo que eu fiz está estampada em seus rostos. Sinto-me mais idiota ainda.

“Foi um acidente... Quer dizer, ela não me falou que era cadeirante... Quer dizer, eu não a empurrei de propósito...” embolo-me para formar uma resposta concreta. A menina da cadeira de rodas, Ally pelo visto, bufa e revira os olhos, e mesmo com uma pedrinha da calçada grudada em sua bochecha, acho o ato adorável.

“Vamos embora, Dez” ela falou para o ruivo. “Não vamos perder tempo com esse idiota”.

Ele assentiu, e os três deram meia volta e se distanciavam quando ouvi a baixinha reclamar:

Señora, ele conseguiu ser mais estúpido que você, Dez”.

“Cala a boca, Trish” ele rebate, então não pude mais ouvir nada. Jogo-me na cadeira antes ocupada por Ally, e bufo irritado.

Alguns ainda olham para mim, e isso me estressa ainda mais.

“O que estão olhando?” grito para eles, que viram os olhos para seus próprios pedidos.

Hey, hey
Put your hands up and get it rockin'
Hey, hey
Show the whole world we're never stopping
Hey, hey
Put your hands up, we're lighting up the sky tonight tonight

Meu Deus, alguém troque o disco dessa loja, pelo amor de Deus. Enquanto espero meu pedido, e minha música continua a tocar na loja, reparo em minha mesa.

A menina esquecera o caderno.

Curioso, abro na primeira página, aposto que tem pensamentos bobos de uma garota aleijada e deprimida por não andar.

Este diário pertence a Allicia Dawson.

Ah, eu sabia que Ally não poderia ser o nome dela. Allicia combina mais que o apelido, é delicado como ela, frágil como ela. Ally era insuficiente.

Assim como ela, que não andava.

Can you feel it, coming down, down, down

Começo a folhear, e a cada página meu queixo cai mais. Não era o diário de uma cadeirante deprimida.

Era minha mina de ouro.

ALLY

Trish termina de secar meu cabelo, enquanto Dez coloca um par de chinelo em meus pés. Antes, podia fazer isso facilmente, agora, preciso de ajuda até para ir ao banheiro. Era uma situação degradante.

“Seus joelhos estão roxos, Ally” Dez passa o creme especial para a circulação sanguínea em minhas pernas. “Acho que vai demorar para sair”.

Eu estava furiosa com aquele cara esquisito do café, e toda a sua grosseria. Estava, não estou mais. A doença me fez perder todos os sentimentos negativos em mim, porque nunca sabia quanto tempo tinha, e guardar rancor não me levaria a nada. Mas tinha pena dele, a raiva um dia o consumiria, e ele estaria perdendo tudo de bom que a vida oferecia para ele.

Tudo o que eu não poderia mais ter.

Sem contar que ele parecia familiar demais, mesmo com toda aquela ornamentação. Eu sentia que o conhecia, apesar de achar que todas essas coisas eram baboseira.

“Tudo bem” dou um sorriso cansado “Não é como se meu corpo não estivesse cheio de manchas roxas”.

Elas existiam porque eu insisto em fazer as coisas sozinhas. Ser incapaz de andar é a pior coisa do mundo, mas aos poucos, com a minha doença, tudo vai ficando difícil. Meus braços não aguentavam o peso do meu corpo, e eu sabia que daqui a pouco seriam os movimentos deles que eu perderia. Eu fazia esforço até para falar, e minha voz saía péssima.

Antes eu cantava e tocava vários instrumentos, agora, mal consigo segurar o lápis para compor em meu diário.

Meu diário...

“Trish, você viu meu diário?” ela me olha alarmada, eu nunca me separava dele.

“Não, Ally, não se lembra onde deixou?” fico irritada com a pergunta dela, porque tem muita coisa implícita.

Uma das consequências da minha doença era a degeneração do cérebro, e começava com a memória. Mas eu ainda sou muito lúcida, e por mais que eu esteja morrendo, sei que minha mente está no lugar.

Dez, percebendo que eu fiquei nervosa, se levanta correndo, derrubando uma parte do meu creme no chão. Suspiro, enquanto ele passa a mão no chão para pegar o que caiu.

“Dez, Dez, por favor, deixe ai” ele sorri sem graça, e passa a mão suja de creme na calça listrada dele. O estilo de Dez foi a primeira coisa que me fez gostar dele. Ele não tinha medo de ser ele mesmo, de se expressar do jeito que achava melhor.

“Vou procurar seu diário, Allyzinha” ouço Dez descer as escadas e algumas coisas se quebrarem no andar de baixo da minha casa. Provavelmente quando meu pai voltar da Sonic Boom vai ter um enfarto, pelo menos ele sabia que quem tinha provocado tudo era o Dez. em todos os anos que eu mantenho minha amizade com ele, a mobília da casa já foi trocada umas três vezes, porque ele quebrou. Fora os instrumentos na loja do papai.

“Desculpe, Ally, não foi minha intenção te chatear” Trish fala, e eu a perdôo logo. Ela me abraça e eu tento demonstrar minha gratidão por ela estar na minha vida em um momento como esse.

Eu tenho os melhores amigos do mundo.

“Ally, não encontrei, sinto muito”. Dez volta, ofegante e se senta na minha cama. Assim que faz isso, meu celular começa a tocar. Eu confesso que tenho um pouco de vergonha do toque.

Can you feel it, turn it up, up, up

Não que eu fosse fã de Austin Moon, sinceramente o achava arrogante demais para o sucesso que tem. Existem vários artistas mais experientes e famosos que ele não são iludidos pela fama.

Mas Can You Feel It, o último hit dele era contagiante, e eu nunca enjoava.

Levo a cadeira de rodas para perto da cama, e atendo, fazendo o toque cessar.

“Alô?” pergunto, ao não reconhecer o número.

É Allicia Dawson?” retrucou, a voz era familiar.

“Quem deseja?” replico. Ouço a voz masculina bufar do outro lado.

Será que dá para parar de não responder minhas perguntas?” então reconheço, e sinto a raiva subir.

“Olha só, me ligou para que, seu mal educado? Melhor, como conseguiu meu número?”

E a ficha cai. Na primeira página do meu diário tem meu telefone e o do meu pai, para caso alguma coisa aconteça comigo.

Acredito que queira seu diário de volta, Allicia.” Suspiro, ninguém me chamava de Allicia. Sempre foi Ally.

“Tudo bem, como eu faço para encontrá-lo? Afinal, qual o seu nome?” Trish e Dez olham indagadores para mim, mas só faço sinal com a mão, pedindo para que eles esperem.

Austin Moon” o silêncio cai sobre nós e a incredulidade me atinge. “Allicia, ainda está ai?

“Ok, por favor, pare de piadas e me fale logo quem você é”.

Mas eu sabia que era verdade. Era por isso que eu o achava familiar. A cada hora passava algo sobre ele na televisão, fora as milhares reprises de Vivendo com os Gulliver que passavam diariamente.

Se não acredita em mim, tudo bem, mas ficará sem seu caderno”

“Tudo bem” digo, resignada “Como faço para te encontrar, Austin?” carrego a voz de ironia e meus amigos franzem o cenho em dúvida.

Eu tenho uma proposta para te fazer, Allicia. Andei lendo o seu diário, e vi muita coisa interessante” quase posso ver o olhar superior e desdenhoso dele, ao mesmo tempo que meu coração se fecha. Meus pensamentos mais íntimos estavam lá, a única forma que eu conseguia me expressar.

Sentia-me invadida.

“O que quer?” pergunto derrotada.

Quero que seja minha compositora”.


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Notas finais do capítulo

Gente, desculpa os possíveis erros, não tive muito tempo para revisar.
CÊS TÃO SABENDO DOS PRÊMIOS DO KCA? TO MORTA.