Depois de uma noite de pura exclusão social no jantar "em família" e de uma noite inteira ouvindo o senhor e a senhora Stone gritando no quarto deles, meu primeiro dia de aula chegou. O uniforme era uma camisa polo com um blazer vermelho e uma saia quadriculada. Havia até mesmo um sapato com o símbolo do colégio, e meias também. Ou seja, era o uniforme mais feio de todos os tempos. No Rio eu não era obrigada a usar uniforme, e eu adorava poder escolher o que eu queria usar.

"Só três meses, Liz, só três meses", repeti baixo para mim.

Ernest, em um gesto extremamente inesperado, se ofereceu para me levar. Colocamos minha bicicleta na estrutura própria atrás do carro e Ernest deu partida.

– Sabe, Lizzie...

– Liz.

– Liz, isso... Bom, a família Stone tem uma imagem nessa cidade. Não nos envolvemos com pessoas... Bom... Médias. Temos uma "panela", vamos dizer assim, das pessoas que moram no nosso condomínio. É só com ela que você deve se relacionar. Nada mais que isso. Tudo bem?

– Ah, não sei. Vou tentar.

– Você vai conseguir. Quando chegar, procure por Henry Dantas.

– Ok. - Respondi. Se eu não fizer isso ele vai saber? Parece que eu estou mesmo em uma prisão. Assim que chegamos, eu desci do carro e peguei minha bicicleta.

Toda e qualquer esperança de ter um bom dia sumiu de mim quando eu olhei ao redor, e vi que não havia ninguém de uniforme. E eu era a única com uma bicicleta. Todos estavam bem vestidos e de carro.
Entrei no colégio querendo mais que tudo que um meteoro caísse naquele lugar e acabasse com a minha humilhação de primeiro dia, mas tudo o que eu ganhei foi um som mais alto que a buzina de um trem tocando bem no meu ouvido direito. Era uma mulher gorda e velha, com uma daquelas buzinas que você aperta e faz um barulho horrível, sabe?!

– Já pra sala de aula. - Ela falou, seca, e foi buzinar na orelha de um menino gordinho que estava um pouco à minha frente. Entrei na diretoria rapidamente para pegar meus horários e já estava indo embora quando me lembrei...

– Oi, moça... - Comecei, olhando para a secretária, que não tirava os olhos do celular. - Oi? Preciso de uma informação. - Falei, sem sucesso em conseguir sua atenção. - Atchim. - Fingi um espirro, sem colocar as mãos na frente da boca e fazendo questão de babar naquela velha.

– Mal educada! - Ela falou, se limpando enquanto me encarava com cara de ódio.

– Onde posso encontrar Henry Dantas? - Perguntei, cruzando os braços.

– Aula de ciências. Sala 407. - Ela declarou, e eu saí andando.

Quem diabos é Henry Dantas?