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Beatriz Collins

Beatriz acordou com uma disposição para ficar na cama o dia inteiro. Que problema teria? Seu cérebro estava enviando a informação para todo o seu corpo de que ela deveria sentir preguiça o resto do dia. Ela virou-se de lado na cama e olhou para a cortina do seu quarto, ela estava balançando por causa da brisa que insistia em entrar pela janela aberta. Beatriz ficou encarando aquele pedaço branco e médio de tecido por um tempo, até que sua mente resolveu faze-la lembrar-se de uns anos atrás quando Haden entrou no seu quarto, no internato onde estudavam, e deitou-se ao seu lado. Quando ele a envolveu em seus braços, Beatriz estava feliz por ele estar ali com ela, e agora ela estava, infelizmente, chorando por ele ter ido embora.

Na verdade, ela não estava chorando por saudades. Bem, tinha saudades também, mas ela estava chorando por tudo o que Haden havia deixado para trás. Beatriz, o acampamento, amigos que ele poderia ter, sua vida. Ela não conseguia entender o que o havia levado a isso. Será que ele estava indo atrás de poder? Se não, o que seria então? Tédio? Raiva? Mas raiva de que? De quem? Por quê? Essas palavras estavam assombrando Beatriz desde o dia em que Haden havia ido embora. Beatriz queria encontrá-lo pelo menos por um minuto, só para que ele esclarecer tudo o que estava se passando por sua cabeça. Mas onde ele estaria? Talvez, isso não fosse um empecilho. Beatriz podia encontrá-lo. Ela tinha que encontrá-lo.

Beatriz levantou rapidamente da cama, fechou a janela do quarto e respirou fundo. Pelo o que tinha percebido ainda eram seis horas da manhã. Ótimo. Poucos semideuses estariam acordados. Beatriz tomou um banho, vestiu uma calça jeans, uma blusa, uma jaqueta, calçou um tênis e prendeu seu cabelo em um coque. Ela arrumou uma mochila com roupas e outras coisas que iria precisar. Beatriz não sabia quanto tempo passaria fora, então era melhor prevenir do que remediar. Colocou a mochila nos ombros e saiu do chalé. Como previu poucos semideuses estavam acordados e os que estavam, nem reparam em Beatriz. Talvez já estejam acostumados com semideuses fugindo do acampamento, Beatriz pensou. Ela caminhou até a entrada do acampamento e quando chegou perto do pinheiro de Thalia, olhou para todos os lados e viu que estava tudo tranquilo por ali, nenhum monstro desgarrado estava perambulando ali. Porém, antes que ela conseguisse passar completamente pela barreira mágica de proteção do acampamento, sentiu alguém puxando-a pela cintura tão bruscamente que a fez cair sentada no chão.

Beatriz demorou um pouco a recobrar os sentidos, olhou para cima na tentativa de descobrir quem a havia puxado. Na sua frente havia um Percy completamente sério, com as mãos cruzadas sobre o peito e olhando-a com muita, muita raiva. Beatriz levantou em um pulo e ficou de frente para Percy.

–Você ficou louco? – Beatriz perguntou, com raiva.

–Que porra você estava fazendo? – Percy perguntou. Ele parecia ainda mais estressado que Beatriz.

–Não é da sua conta o que eu deixo ou não de fazer – Beatriz respondeu.

–Você estava indo atrás dele, não é? Por que, Beatriz?

Beatriz e Percy não estavam se importando em chamar a atenção dos semideuses que estavam ali. Beatriz nunca havia visto Percy tão alterado e nervoso.

Beatriz fechou os olhos e respirou fundo, tentou lutar contra as lágrimas, mas foi impossível. Por que ela não conseguia controlar-se? Beatriz estava tão cansada de chorar. Quando deu por si suas lágrimas já estavam molhando todo seu rosto.

–Eu não estava indo atrás dele – mentiu Beatriz.

–Para de mentir, Beatriz! Você poderia morrer se saísse do acampamento, porra. Qual é o seu problema?

Beatriz olhou para os seus pés, mordendo o lábio inferior tentando parar de chorar, mas não conseguiu, então voltou a encarar Percy. A garota estava se sentindo derrotada.

–O problema é que ele ainda mexe comigo, ainda me afeta muito e isso está me destruindo. Juro que eu não queria estar sentindo nada disso, só queria voltar a ser aquela menina fofa e sorridente de antes que não sentia dor nenhuma além da dor do joelho ralado.

–E por que você não volta a ser aquela garota? – ele perguntou.

–Porque não sou mais criança, porque cresci, Percy. Porque todas as garotas boas estão em casa agora com a porra do coração partido.

–Você não precisa ter o coração partido, Beatriz – disse Percy. – Só precisa achar a pessoa certa.

–Percy, não quero a pessoa certa! Eu quero achar Haden, fazer algumas perguntas, e depois voltar e poder viver em paz! Eu vou encontrá-lo e não é você quem vai me impedir!

Antes que Beatriz pudesse dar um passo, Percy virou-se e socou o primeiro tronco que encontrou, ou seja, o tronco do Pinheiro de Thalia. Percy estava de costas para Beatriz, ele estava respirando tão rapidamente que, por um instante, Beatriz pensou que ele fosse ter uma parada respiratória. Percy virou-se para a garota e segurou seus braços, fazendo sua mochila cair no chão. Ele estava segurando os pulsos de Beatriz, deixando os cotovelos dela encostados em seu peito. Beatriz ainda estava chorando, mas seus olhos estavam arregalados de surpresa. Os olhos incrivelmente verdes de Percy estavam vermelhos como se ele estivesse prestes a chorar, seu coração estava tão acelerado que Beatriz conseguia senti-lo, os músculos do abdômen e dos bíceps de Percy estava contraídos, ele estava suando, a expressão no rosto dele suplicava por algo que Beatriz não conseguia entender, mas, mesmo assim, Percy continuava bonito... Os pensamentos de Beatriz foram interrompidos quando Percy voltou a falar.

–Você não entende? Você realmente não entende, Beatriz?

–Percy, você está me assustando... – a garota foi interrompida.

–Não, Beatriz! Não! Você pode morrer se atravessar essa proteção mágica!

–A morte já não me assusta, Percy – Beatriz disse, calmamente.

Percy a soltou e ficou de costas para ela. A filha de Zeus queria entender o motivo que estava levando Percy a ficar tão nervoso, mas ela não podia dar-se o luxo de continuar a conversar. Beatriz passou suas mãos por seus pulsos, pegou sua mochila, respirou fundo e encarou Percy.

–Até mais, Percy – disse ela.

Beatriz deu as costas para Percy, mas não chegou muito longe, pois as palavras do garoto a fizeram parar.

–A morte pode não assustá-la, mas perder você me assusta.

Beatriz sentiu a boca ficar seca. Ela tinha escutado direito? Por um momento Beatriz não conseguiu acreditar nos próprios ouvidos. A garota olhou para as próprias mãos, elas haviam começado a tremer. Que diabo estava acontecendo com ela? A garota virou-se para encarar Percy.

–Você não parou para pensar que ele pode estar feliz sem você? Que ele não quer ser encontrado? E que ele pode estar rindo da sua cara agora enquanto você está aí, tentando encontrá-lo?

Percy a encarou. Os olhos do garoto suplicavam para que Beatriz mudasse de ideia e ficasse no acampamento. Beatriz jogou a mochila no chão. Enquanto encarava Percy, toda a sua força, toda a sua coragem esvaíram-se. Ela se sentia culpada. Sentia-se completamente cansada.

Beatriz já nem conseguia mais ficar de pé, estava sentindo todo o peso da dor caindo sobre seus ombros. E agora, olhar para Percy, enquanto ele tentava faze-la mudar de ideia, fez Beatriz se odiar. Por que ela tinha que ser tão burra? Por que não conseguia enxergar o que estava bem debaixo do seu nariz? Antes que os joelhos de Beatriz cedessem, Percy a surpreendeu quando puxou-a para um abraço. Logo depois ele tomou o rosto dela em suas mãos e enxugou suas lágrimas, dizendo:

–Eu estou aqui. E eu prometo que não vou te deixar sozinha.

–Não acredito mais em promessas – Beatriz disse, encarando-o. – Elas nunca são verdadeiras.

–Então, por favor, diga que acredita em sentimento.

Quando Percy terminou de falar, ele encostou seus lábios gentilmente sobre os de Beatriz. Eu ficou parada por alguns instantes, as mãos de Percy ainda estavam no rosto da garota e as mãos dela estavam segurando os pulsos dele. Beatriz ficou mais surpresa ainda quando Percy sussurrou entre seus lábios.

–Eu só não quero que nada aconteça com você. Eu não suportaria isso, Beatriz.

Percy afastou-se um pouco dela, tirou as mãos do rosto de Beatriz e seus olhares se encontraram. Os olhos de Percy brilhavam tanto que fez Beatriz pensar que uma estrela instalara-se ali. E brilhavam de um jeito diferente, diferente de qualquer outro. Percy encostou seu nariz ao de Beatriz, suas testas estavam coladas e os dois estavam de olhos fechados. Beatriz não esperava que Percy fosse beija-la, mas ela não queria que aquilo acabasse. Beatriz respirou longa e profundamente e disse:

–Talvez, eu só precise esquecer, e seguir em frente.

Percy colocou suas mãos na cintura de Beatriz e a apertou contra seu corpo. Ela colocou suas mãos na nuca de Percy, suas bocas estavam abertas como se fossem falar algo, porém ambos estavam olhando para a boca um do outro e não saia nem uma palavra dali. Beatriz estava com o coração palpitando, era como se ela estivesse esperando a muito tempo para que Percy, finalmente, a beijasse. Beatriz não conseguia entender direito o que estava sentindo, porém ela queria mais.

Beatriz puxou Percy para mais perto de si e ele levantou a cabeça, suas bocas roçavam uma na outra, mas nenhum dos dois se atreveu a começar o beijo. Beatriz queria tê-lo ali, o resto do dia, o resto da vida, se fosse o caso. Percy era uma pessoa especial, diferente e que a fascinava. Beatriz finalmente encostou seus lábios nos de Percy e o garoto intensificou o beijo. Beatriz percebeu que suas lágrimas estavam misturando-se ao beijo e Percy com certeza também já havia percebido, mas nenhum dos dois estava ligando muito pra isso. Beatriz poderia dizer que seu estômago estava cheio de borboletas, mas seria infantil demais. Percy finalizou o beijo alguns minutos depois, ele estava sorrindo. As bochechas dele estavam levemente coradas e as de Beatriz também estavam. Percy a abraçou e Beatriz retribuiu o abraço. Era bom abraça-lo. Beatriz sentia-se protegida, ela sentia-se, de algum forma, em casa. Ficaram um bom tempo assim, eles não estavam se importando se os campistas veriam e pensariam besteira, principalmente Beatriz. Ela, definitivamente, não iria atrás de Haden. Talvez Percy estivesse certo, talvez ele estivesse rindo dela agora enquanto ela estava sofrendo por não ter algumas míseras respostas.

–Me acompanha até o meu chalé? Beatriz pediu. – Percy a encarou, beijou-a e assentiu.

Beatriz pegou sua mochila que estava jogada no chão, e eles foram abraçados até o chalé um. Percy pegou a mochila da garota enquanto ela abria a porta do quarto, eles entraram, o garoto deixou a mochila em cima da mesa em que ficava os livros de Beatriz e ela deitou-se na sua cama. Percy sentou-se ao seu lado e acariciou o rosto dela.

–Eu não quero que me machuquem, Percy.

–Eu não vou machucar você, Beatriz. E isso não é uma promessa, é um compromisso.

Percy deu um selinho demorado em Beatriz, encostando sua testa na dela em seguida. Percy roçou seu nariz no nariz de Beatriz, o que fez a garota sorrir. Beijou a testa dela e levantou do quarto. Eles encararam-se, não precisavam dizer nada, o silêncio já dizia tudo: era bom ficar perto um do outro. Percy piscou para ela, disse que se veriam mais tarde e saiu do quarto com um sorriso bobo nos lábios.

Beatriz estava feliz por Percy ter aparecido antes que ela fosse atrás de Haden. Que garantia ela tinha de que Haden ainda queria vê-la? E no acampamento além de estar segura, Beatriz tinha pessoas que se preocupavam com ela. E Percy. Sempre Percy.

Beatriz colocou as mãos na cabeça e olhou para o teto. A garota não lembrava de um dia que havia se sentido tão feliz. Até mesmo todas as lembranças que ela tinha de Haden pareciam distantes. Por que? Porque ela simplesmente estava olhando para o futuro e não para o passado. Porque ela só conseguia pensar em Percy. Porque ela queria beijar o filho de Poseidon de novo. Porque ela queria ser feliz, e, dessa vez, sem Haden. Porque ela estava se sentindo novamente completa. E ela tinha que agradecer a Percy Jackson por isso.