Uma chance. escrita por Ursula Gomes


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Se quiserem saber mais dessa galerinha comentem, minha imaginação é movia a comentários .



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/570204/chapter/1

De tudo que passei dês de o inicio do fim esse momento é o que melhor me lembro, talvez todas as outras lembranças tenham sido traumáticas, ou talvez eu só goste mesmo dela.

Nosso grupo, ou creche como a chamei já estava junto a 3 anos, eu estava com 18 anos, e continuava na liderança, mesmo depois de tanto tempo não sei o por que me colocaram como líder. Talvez por conseguir manter a cabeça fria em momentos de pânico, ou não me deixar levar por coisas como sentimentalismo, mas o que eles não sabem é que já lutava com monstros antes do despertar dos mortos, então eles foram fáceis de lidar.

Por sorte, perdemos pouca gente nesses 3 anos, de 35 crianças apenas 10 morreram, e isso comparando com as centenas de milhares do surto é muito bom.

Como a líder eu tinha que mostrar exemplo, controle e calma. Ou seja, coisas como romance não estavam destinadas a mim. Mas tinha aquele garoto, Seth que sempre vinha me aporrinhando.

“hei Joei, fique comigo, me de uma chance. Vamos eu sei que você quer, pare de se fazer de durona.”

E eu realmente estava a ponto de jogá-lo aos zumbis. Se você esta vendo isso, bom, tome muito cuidado ao salvar adolescentes cheios de hormônios, eles podem nunca mais largar do seu pé.

Seth era ruivo, com muitas sardas e cabelos nos ombros. Tinha olhos castanhos bem claros, que pareciam mel que sempre pareciam estar com as pupilas dilatadas, como se tivesse tomado muito energético ou sei lá.

Ele não era feio, na verdade era meu tipo de garoto no passado, mas era chato, e isso tirava todo o brilho de seu cabelo espetado e carinha de garotinho brincalhão. Era fácil imaginá-lo colocando um bicho na bolsa da professora, ou armando aquelas almofadas de pum.

Eu tinha salvado Seth há seis meses, estava em uma missão de busca por remédios, uma das crianças mais novas estava com febre.

Ele tentou me acertar com uma barra de metal, mas não era muito silencioso, Seth era oficialmente um ano mais velho que eu, mas não parecia ter terminado a puberdade ainda.

Ele fez tanto barulho que chamou a atenção de uma manada de mortos, eram ao menos 15, mas eu já havia passado por coisas muito piores e foi fácil derrotar todos. Ele deve ter ficado um tanto impressionado, mas a rotina de treinos que Jack fez para o grupo realmente se mostrou eficaz naquele dia, e por tal motivo Seth nunca mais me deixou em paz.

Primeiro foi a historia de “divida de vida”. Depois o “amor” dele por mim.

Eu primeiramente só ignorava, mas depois de um tempo eu não agüentava mais, e claro, como toda líder eu precisava de um segundo no comando, um companheiro para dividir o fardo e conselheiro, e esse cargo obviamente era de meu “irmão” Jack.

- Por que infernos ele continua me seguindo? Parece um maldito cachorro que eu joguei um pedaço de pão e agora ele quer morar comigo.

- Calma Joei, não é o fim do mundo, ele não é o único admirador que a “rainha” tem.

- Mas é o mais chato.

- Jô, pense comigo. Você é a líder de todos, a heroína que antes eles só viam em desenho. Você é uma espécie de deusa pra essa galerinha, mesmo no hospital, você já era. Agora, depois de te verem tantas vezes em ação é que isso ficou gravado em suas mentes. Deus, eu que vivi metade da vida com você te admiro.

- Mas... arg, ele é tão....

Eu fiz movimentos de estrangulamento para colocar meu ponto de vista... Ou tentar ao menos...

- Por que não o desafia, tipo, se ele ganhar você dá uma chance, se não ele te deixa em paz.

- Hei... isso... Não é má idéia, ate que pode funcionar.

E foi assim que no dia seguinte, reuni todos no pátio da escola que transformamos em forte e casa.

- Eu reuni todos aqui para que sejam testemunhas de uma batalha. Set, eu te desafio a uma batalha, se ganhar, eu faço o que quiser, se eu perder, você me deixa em paz. Feito?

Set estava mais branco que o normal, parecia quase cadavérico, com o desafio, mas não demorou muito para que ele se recompor.

- Você... vai fazer o que eu pedir?

- Sim, vou.

- Mesmo se eu pedir para que você durma comigo?

Se disser nesse pequeno relato que não hesitei será a maior mentira de minha vida. O mundo acabou eu tinha apenas 15 anos, e não era o tipo de garota considerada bonita ou qualquer outra coisa na época, acho que meus admiradores só existem por que o instinto deles diz " fêmea dominante, acasalem com ela". Com o fim do mundo, a ultima coisa que pensava era em dormir com alguém, sem falar dos riscos altos de gravidez. Afinal, ninguém se preocupava muito em pegar camisinhas em nossas arriscadas saídas do forte.

- Sim... mesmo se pedir isso.

Acho que nunca vi um garoto de 19 anos sorrir tanto assim, principalmente nessa época.

Eu peguei um pedaço de pau almofadado do tamanho de um facão e ele pegou um também. Nossas disputas internas eram resolvidas assim, no estilo Swordplay, era seguro, divertido, um bom treino e acima de tudo, resolvia a questão.

(Swordplay, também chamado de boffer combat, é uma atividade física que mistura elementos de artes marciais e combate com espadas, com algumas regras para que tudo não saia do controle.

Primeiramente, o equipamento. As armas boffer (ou simplesmente boffers) são equipamentos feitos basicamente com tubos de PVC e espuma, que são usados para atingir o oponente em certas áreas do corpo, marcando pontos. Falamos de espadas por serem o tipo mais comum de boffer, mas também existem clavas, machados, lanças, martelos, entre outros. )

Obviamente ele não ganhou de mim da primeira vez, nem da segunda, ele só conseguiu me acertar pela primeira vez depois de cinco batalhas.

Mas ao menos durante cinco semanas, ( que era o tempo que eu demorava para aceitar a revanche ) sendo uma por semana, eu tive sossego, ate a sexta.

Ele ganhou de mim, três vezes seguidas, então não podia fugir. afinal, líder, exemplo etc...

Set treinava dia e noite, quase sem parar, achá-lo dormindo ao lado do bastão de swordplay se tornou costumeiro, e todos passaram a vê-lo com outros olhos alem de o garoto boboca. Até mesmo eu tive que dar meu braço a torcer, eu era a melhor e ele conseguiu me derrotar em cinco semanas.

Set mudou bastante nessas semanas, ganhou alguns músculos pelo treino, extra, e parecia mais concentrado e o desengonçar da adolescência pareceu ter passado.

Mas isso não mudou o fato de que eu ainda o achava idiota.

- Muito bem, tenho que admitir que me impressionou. escolha o que quiser.

- Você sabe o que quero.

- Você esta louco?

Tenho certeza que fiquei totalmente corada naquele instante, ridículo a garota mais forte do grupo ter essa reação apenas com um garoto pedindo para fazer sexo com ela, mas foi a minha. E com certeza absoluta minha voz subiu uma oitava e ficou estridente.

- Você mesma disse, o que eu quisesse.

Ouvi sussurros de concordância a minha volta. Mas pra mim era inadmissível algo assim.

- Mas aquilo era da primeira vez.

- Uma palavra gracinha, revanche. Quer dizer que o acordo é o mesmo.

Ele disse com um sorrisinho prepotente e irritante. Eu estava sem saída, eu sempre valorizei contratos, sempre paguei minhas dividas, não seria agora que mancharia meu nome na frente de todos os que conhecia. Com um suspiro dramático disse.

- Tudo bem, se é o que deseja... te vejo hoje a noite.

Peguei meu material e sai pisando duro para meu quarto, e escutando os cochichos de apostas sobre se eu acabaria matando o idiota ou se realmente dormiria com ele. Jack também não foi nada discreto quando correu para o mais longe possível de mim.

Quando o sol se pôs, tomei um demorado banho, lavei os cabelos, e me atrevi a usar um pouco de perfume, e vestir minha roupa menos manchada e rasgada. Que consistia em uma camiseta justa e uma calça preta. Não me dei ao trabalho de calçar os coturnos que sempre usava.

Não que quisesse mesmo aquilo, mas se ia acontecer, que fosse ao menos aceitável. Não especial ou "perfeito" mas aceitável.

Cheguei a seu quarto, como a escola era uma colégio interno tínhamos quartos, e não éramos muitos então podíamos cada um ter seu quarto e ainda sobrariam três como enfermaria.

Bati a porta e esperei, escutei barulhos como se ele tropeçasse nas coisas, o que eu não duvidava, e o ouvi praguejar um pouco.

Então ele abriu a porta, e fiquei surpresa em velo de camisa, sapato e calça sociais e uma gravata de papel no pescoço. O cabelo rebelde estava penteado e com gel. não que tivesse adiantado muita coisa, mas era notável seu esforço.

Eu olhei pra ele, levantei a sobrancelha na minha cara sarcástica e disse.

- Eu deveria ter usado um vestido?

Ele ficando totalmente vermelho disse.

- não, você esta linda assim... não que não seja sempre, mas não que hoje não esteja mais bonita... quero dizer...

- Chega, eu entendi.

Ele sorriu e abriu a porta pra mim.

- Entre.

Passei por ele e me sentei em sua cama, parecia que não era só a si mesmo que ele arrumou.

os lençóis pareciam recentemente lavados e com todos os produtos que devem ser usados. A cama bem feita, na mesinha tinham velas e um radinho a pilhas tocava uma musica leve.

Realmente ele tinha se esforçado para criar um clima "romântico", pobre garoto.

Ele se sentou ao meu lado, meio sem saber o que fazer, me olhava pelo canto dos olhos e estava tão vermelho que eu comecei a achar que ia ter um infarto.

Então me levantei, parei na frente dele e tirei a blusa. Ele engasgou com o ar e ficou boquiaberto.

retirei a calça também e esperei ate que ele se acalmasse. Quando ele recuperou a voz disse.

- O que esta fazendo?

- O que você pediu.

- Eu disse que queria dormir com você, não... isso...

Eu fiquei olhando para ele em descrença, ele me fez passar por toda a vergonha apenas para dormir dormir comigo?

Eu fiquei com tanta raiva que apenas peguei minhas roupas e disse.

- Eu vou embora.

Mas ele chegou a porta antes de mim e me barrou.

- Espere, não pode sair agora, temos um trato.

- Olha, eu não sei mesmo o que você quer, eu não tenho interesse em você, não tenho vontade de ficar com você, namorar ou qualquer outra coisa ok.

- Eu já notei isso.

- Então por que? Por que me persegue? Eu não fui a única que já te tirou de problemas, não sou a garota mais bonita daqui, ou a mais esperta, ou a mais qualquer coisa. Me colocaram como líder e nem sei o por que ainda por que eu não sou especial. Então me diz por que.

- Eu gosto de você Jô, exatamente por isso. Você não é especial, física ou mentalmente, é apenas forte, decidida, determinada, sempre colocando os outros a frente, se sacrificando pelos seus companheiros como se não se importasse com si mesma. E acho que não se importa, mas precisa de alguém que se importe, e eu quero ser essa pessoa.

- Mas eu não quero que seja essa pessoa.

- E quem você quer que seja?

- Eu... Bom... No momento...

- Viu, não tem ninguém, mas é exatamente assim que funciona, você não escolhe quem se importa com você, a pessoa escolhe se importar ou não. E não existe nada que você possa fazer sobre isso.

Ficamos nos encarando por um tempo que pareceram horas, então ele saiu da frente da porta e se jogou na cama dizendo enquanto olhava para o teto.

- Faça o que quiser ok. Não importa o que seja, não vai mudar quem eu sou, ou minhas escolhas, eu amo você Jô, e nada que fizer vai mudar isso.

Eu ainda não sei direito por que larguei minhas roupas e deitei ao lado dele. Pena sei que não foi, acho que talvez eu precisasse disso, quando você passa muito tempo enganado os outros sobre sua força talvez consiga se enganar também, ate que alguém encaixe a peça que faltava em seu quebra cabeças emocional, então você nota que precisava desesperadamente daquilo

Abracei Seth, acomodando minha cabeça em seu peito, ele me abraçou de volta, e ficamos assim por bastante tempo, ate que eu disse.

- Talvez... eu quisesse que a sua intenção fosse a outra... não sei o por que estou falando isso mas...

Ele me calou levantando meu queixo para que olhasse para ele, e me deu um beijo, calmo, paciente, daqueles de se aproveitar cada instante e que pareciam durar uma vida, mas uma vida ótima.

Enquanto me beijava ele inverteu nossas posições par que eu ficasse embaixo dele e ele acima de mim, a típica mamãe e papai, mas ele tomou cuidado para não deixar seu corpo pesar sobre o meu. Ele me tratava como se fosse de vidro, e eu adorava aquilo, finalmente percebi que adorava.

O ar se tornou necessário para nós, e nos separamos do beijo, ele olhou para mim e disse.

- Tem certeza?

- Como nunca tive antes.

Bom, vou parar por aqui, já que mais detalhes seriam íntimos demais. Dizem que a primeira vez de uma garota é sempre especial e inesquecível. A minha realmente foi inesquecível... Não especial, ou perfeita, ou mesmo aceitável, mas sim certa e inesquecível, a única coisa certa depois de tudo no mundo ter dado errado. E nunca me arrependi, de ter dado ao garoto mais irritante, idiota e chato do mundo uma única chance.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

comentem pliiis