Eu Não Sou Esse Tipo De Garota escrita por Emma Humphrey


Capítulo 2
Exatamente Errado


Notas iniciais do capítulo

Oi vocês que estão acompanhado essa fic. Um capitulo cheios de detalhes então aconselho que leia com cuidado. Até as notas finais.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/569982/chapter/2

Era o começo do terceiro ano do ensino médio, e minha amiga Aria estava se sentindo nostálgica. Ela tirava fotos enquanto pegávamos nossos horários no escritório de orientação pela última vez. Dizia ser intervenção divina o fato de que, embora tivéssemos duas aulas comuns, as demais eram perto o suficiente para que sempre pudéssemos andar juntas.

Ficava falando do primeiro ano como se este tivesse ocorrido há décadas.

Até mesmo a minha aparência depois da aula de natação – cabelos molhados como se fossem compridos blocos de gelo marrom, água da piscina derretendo sobre o meu casaco azul marinho – conseguia deixá-la melancólica.

Você está com cheiro de verão – disse, recostando a cabeça em meu ombro.

Queria que ainda fosse verão. Virei-me e cheirei meu casaco. Apesar de ter mandado lavá-lo a seco um pouco antes do início das aulas, já estava com cheiro de cloro, então eu o tirei e o amarrei na cintura.

A técnica Lauren nunca dava tempo suficiente para o banho após a aula. Preferia nos fazer sofrer em mais uma volta de nado borboleta do que nos dar 30 segundos a mais para lavar a cabeça, e o pior era que se eu faltasse minha mãe saberia, e isso não seria nada bom.

Aria tinha muita sorte por ter machucado o ombro há alguns anos e possuir um atestado médico que a deixava fora da piscina.

Ei – disse. – Você pode me fazer uma trança quando chegarmos à sala? –

Odiava o jeito que meu cabelo secava depois da aula de natação, formando vários nós idiotas, sem mencionar que eu ficava enfadada, como se tivesse levando uma surra, sempre que saia da piscina.

O cabelo de Aria era na altura do ombro e dividido em duas metades castanhas. Perfeitamente simétricas, Dava para fazer a risca sem nem mesmo olhar no espelho, eu o achava impecável.

Vem cá – disse ela, tirando minha faixa de cabelo de casco de tartaruga antes de ficar bem atrás de mim – vou fazer agora.

Foi assim que passamos pelo corredor dos calouros; eu guiando Aria pelo meu cabelo, como se fôssemos elefantes. Mantive a cabeça baixa, fazendo-lhe perguntas sobre as minhas anotações de filosofia oriental enquanto ela continuava o trabalho. Sentia minha cabeça sendo apertada a cada trançada. Nosso primeiro teste seria em 15 minutos. Tínhamos estudado pelo telefone a noite inteira ontem, então era mais uma revisão, mas Aria ainda estava errando algumas.

Não consigo acreditar – disse Aria parando de andar, só que eu não percebi até ela puxar minha cabeça para trás com certeza força. Ela suspirou e perguntou - Nós éramos assim tão jovens?

Aria, isso machucar – Murmurei levando as mãos a cabeça

Dava para perceber que Aria estava tentando absorver toda a alegria e as possibilidades que exalavam dos calouros à nossa volta. Ela estava completamente enfeitiçada pela imbecilidade deles, pela pele ruim e a estranha algazarra. Por fim, abriu um sorriso tão grande que o canto dos olhos ficou enrugado. Eu sinceramente nunca entendi toda essa nostálgica que ela tinha, não depois dos anos horríveis que passamos como calouros. De todos aqueles garotos idiotas, rindo toda vez que a gente passava.

Também sorri. Só que não estava relembrando o passado de tal forma que precisava me apegar a cada minuto do terceiro ano. Se as universidades dos nossos sonhos nos aceitassem, Aria e eu iríamos viver em lados opostos do país em onze meses e isso me doía tanto. A realista dentro de mim tinha de aceitar que as coisas não seriam mais as mesmas... Ou pelo menos não seriam nem de longe tão boas quanto eram agora. Aria faria novos amigos. E eu tinha fé que também faria. Mas não era uma perspectiva que me deixava particularmente animada.

Meu deus! – ela sussurrou. – Em, veja!

Aria apontou em direção a uma garota cujo corpo era cheio de curvas e seus cabelos negros encaracolados. A moça estava ajoelhada no chão, tentando pegar os livros no meio da bagunça de seu armário. A saia de preguinhas preta do uniforme caía para trás como se fosse o sino da igreja tocando. Um pequeno triângulo lilás mal protegia seu traseiro de todo o corredor.

Apesar de não estar escrito em nenhum lugar do manual de regras de Rosewood Day, Para mim parecia que toda garota da escola sabia que era necessário usar algo não tão revelador por baixo da saia do uniforme. Bermudas, shorts, leggins ou no mínimo uma calcinha moderna. Qualquer um sabia disso, menos essa pobre caloura sem noção.

Fiquei pensando se devia ou não dizer alguma coisa, afinal de contas eu não tinha nada com isso. Mas só por um segundo achei que sim, pois, se eu tivesse um pedaço de espinafre nos meus dentes, ou se meu zíper estivesse aberto ou até mesmo minha calcinha amostra, teria preferido que me contassem a ter feito papel de boba. Momentos constrangedores tinham uma vida útil surpreendente na escola. Em um minuto você é uma garota normal, e no outro você será conhecida como ― bunda de fora pelos próximos quatro anos. Intervir era a coisa certa, alias eu tinha o devo de fazer isso.

Dei meu caderno para Aria segurar. – Releia minhas anotações sobre o Método Socrático. Eu já volto. Segui pelo corredor, minha trança se desfazendo a cada passo, mas eu não podia me importa com isso agora, não com aquela garota pagando calcinha para escola inteira.

Dois calouros idiotas já haviam notado o show gratuito e não paravam de olhar para a bunda da garota. Olhei feio para eles querendo matar um de cada vez, e fiquei bem na frente para bloquear a visão.

Olá! – disse suavemente para a garota. – Posso falar com você um segundo?

Ela se virou olhando para mim de cima a baixo parecendo sorrir satisfeita com o que viu seu rosto de perto parecia mais bonito pouco mais suave sua pele parecia banzeada, provavelmente por ter tomados sol o dia todo. – Hum. É claro. – Seu tom era amigável e ao mesmo tempo desconfiado.

Sou Emily Fields disse, achando que era melhor me apresentar primeiro. –Qual é o seu nome?

Espera um pouco, você é Emily Fields?

Oh, sou eu sim – disse e então passei a ter um tom desconfiado.

Seus olhos castanhos eram grandes e cheios de expectativa, brilhando como a sombra que havia passado. Ela esperou, não muito pacientemente, que eu a reconhecesse, mas como isso não aconteceu, ela quebrou o silêncio. – Você não lembra quem sou eu, não é? – Seu jeito não parecia bravo. No máximo, animado.

Minha mente passou pelos rostos do meu curso de verão preparatório, minha viajar a Jamaica. A única garota pequena que eu conhecia era Aria. Era óbvio que a garota era caloura, então não fazia sentido algum. Dei de ombros como que me desculpando. – Tem certeza de que não está me confundindo com alguém?

Tudo bem ela disse fechando os olhos e balançando a cabeça para lá e para cá algumas vezes, com veemência. Não acredito que vou fazer isso e então, depois de respirar bem fundo, ela começou uma dancinha, bem ali, na frente do armário.

Suas pernas bronzeadas chutavam o ar como se fossem tesouras, e os sapatos batiam com tanta força no piso impermeável que todo mundo começou a prestar atenção. Minha própria deficiência em relação à dança fazia com que eu não percebesse se ela era boa ou apenas muito esforçada. De qualquer forma, ela se agitava tão fervorosamente que seus cachos saltavam como se fossem milhares de pequenas molas. Depois de um giro final, que honestamente não poderia ter sido mais rápido, abriu os braços e exclamou: ― Riverdance‖! Só que disse isso com um terrível sotaque irlandês, parecendo mais Rivadaaaans

Foi aí que eu me lembrei de quem se tratava

Maya St. Germain? A garota de quatorze anos que eu tomei conta durante um verão Inteiro quando eu tinha dezessete anos? Que uma vez me confesso que tinha uma paixonite por mim? Depois choro para eu não contar nada a ninguém. Que não usava o banheiro do andar de cima se não tivesse alguém do lado de fora da porta, que só comia macarrão com queijo se esse último fosse alaranjado, que dava o maior show de sapateado bem no meio da sala de estar?

Seu peito pulsava quanto ela tentava recuperar o fôlego

Honestamente, estou aliviada por você não ter me reconhecido. Faz... O que? Quase quatro anos? É melhor que eu esteja bem diferente mesmo, e muito mais bonita

Não se preocupe disse, olhando bem para a maquiagem dela e imaginando seus cachos se transformando no rosto de uma garotinha de cabelos encaracolados despenteados. – Você Está bem mais bonita...

Maya tirou meus cabelos molhado do ombro. – Eu mal te reconheci também. Quer dizer, olhe como você está muito mais gostosa – Era um elogio estranho, do tipo que os garotos do time de futebol fariam, ou até mesmo meu ex-namorado. Não de uma garota três anos mais nova que eu. – Sério. Emily! – ela continuou – Você foi à melhor babá que eu tive. Lembro-me de uma vez que você ameaçou fazer o Mike comer pedra quando ele fez xixi nas flores que havíamos acabado de plantar ao redor da caixa de correio.

Questionei Eu fiz isso mesmo?

Maya riu da mesma forma que costumava rir, soltando sopros silenciosos de ar que saíam do nariz como fogo rápido. Todos os garotos da vizinhança tinham medo de você. Era demais! E ainda é.

Sua família não tinha se mudado para Califórnia?

Mudamos. Quando a minha mãe casou de novo. Mas ela se divorciou do meu padrasto ele era um pervertido, então voltamos esse ano – concordei com a cabeça, apesar de achar estranho estar ali falando sobre divórcios com ela, mas eu sabia que Maya sempre falava demais, então não era novidade aquilo.

Olha, que legal. Mamãe, compro uma casa no mesmo bairro que você mora..bem você ainda mora lá, certo? A casa é muito grande, cheia de espelhos e eu possa praticar minha dança.

Você dança na frente de qualquer coisa, não necessariamente na frente de um espelho! Nas propagandas de televisão e também naquelas campainhas de vento que a sua mãe costumava pendurar na frente da varanda. — De repente, comecei a lembrar de como era irritante, na verdade, do ponto de vista de uma babá. Eu mal conseguia fazer Maya ficar um segundo calma. Isso fracamente me deixava impaciente.

O sorriso iluminado de Maya transformou-se em uma ruga.

Espera. Se você não me reconheceu, por que veio falar comigo então?

Tirei um fiapo de algodão da minha saia branca e de repente lembrei o motivo que me levou até aqui, desejei profundamente que não soubesse a cor da calcinha de Maya. Aproximei-me o suficiente para sentir o cheio de chiclete de banana que exalava da boca dela e sussurrei:

Enquanto você estava agachada, dava para ver tudo, tudo mesmo. E tinha uns garotos apreciando a vista.

Ela abriu uma boca tão enorme que dava para ver todas as obturações. — Você está brincando, certo?

Balancei a cabeça negativamente. Apesar de se sentir constrangida, Maya conseguiu sorrir timidamente. — Sabe de uma coisa? Aqui no shopping mais próximo, tem calcas femininas, mas suas pregas são horríveis e a cor parece de papelão. Na verdade, o melhor a fazer é vestir alguma coisa embaixo da saia — dei a ela uma leve opinião, até levantei minha própria saia um pouco para mostrar meus shorts de lycra azul-marinho que eu sempre usava. Até mesmo por cima da meia-calça no inverno, não iria deixar que qualquer pervertido visse coisa, que eu claramente não queria mostra.

Maya concordou, mas começou a olhar por detrás de mim, tentando entender quais eram os garotos que estavam olhando para ela.

O sinal tocou. Precisei correr para a classe para que pudesse me estabelecer e me concentrar antes da prova. — Com certeza nos veremos por aí, Maya. Se precisar de alguma ajuda sobre a escola, fale comigo.

— Pode acreditar que precisarei, definitivamente planejo explorar o fato de ser amiga de uma Veterana! Todos os outros calouros vão morrer de inveja

Sabia que isso não era realmente verdade, mas ouvir Maya dizer fez com que eu me sentisse muito bem e confiante. Saí apressada pelo corredor para evitar ser atropelada pelo time de futebol inteiro. Ian Thomas, alto e musculoso, com seu cabelo castanho ondulado e olhos azuis. Liderava o grupo de rapazes. O livro de jogadas estava em suas mãos e seus colegas de equipe orbitavam ao seu redor.

Aria fechou meu caderno e o devolveu para mim, assim que cheguei. — Você não tem jeito, não é. Nem sei onde você arruma coragem, Emily. Eu jamais conseguiria falar uma coisa dessas para uma desconhecida.

Ergui a sobrancelha. — Ela não é bem, uma desconhecida.

Contei a história para Aria, e ela olhou para o corredor. — Então, espera aí. Você ficou tão entretida conversando com a Maya que se esqueceu de falar para ela sobre a calcinha?

Virei-me e vi Maya agachada novamente, sua bunda estava à mostra para quem quisesse ver. Os olhos dos jogadores de futebol que por ali passavam viraram para a esquerda, como se Maya tivesse emitido um som agudo, em uma freqüência que só os garotos conseguissem detectar. Um deles, Ben Coogan o idiota do meu ex-namorado, tirou a prancheta das mãos de Ian e a abanou com toda força na direção do traseiro de Maya, tentando fazer um vento forte o suficiente para que a saia dela se levantasse ainda mais. Os demais jogadores se amontoaram uns sobre os outros num ataque de riso.

Uma sensação de amargor e raiva fez com que meu estômago contraísse.

Maya se virou encostou-se ao armário. Um olhar de constrangimento artificial, de falsa modéstia surgiu em seu rosto. O mesmo olhar que tinha me convencido há um minuto.

— Parece que a Maya cresceu e se tornou uma dama. - É claro que era para ser uma piada, acho. Só que nenhuma de nós achou graça

[...]

Eu saí de casa super cedo na manha seguinte e peguei dois sanduíches e dois sucos de laranja na lanchonete da Rua Principal. Era o primeiro dia oficial de campanha para as eleições do conselho estudantil e eu queria pendurar meus cartazes antes que os outros começassem a brigar pelo espaço na parede. Quando cheguei à casa de Aria, buzinei junto com a música que tocava entre uma notícia e outra da rádio. Do outro lado da rua, uma senhora de camisola me olhava por detrás da porta de tela. Balbuciei uma desculpa, constrangida, e abaixei a cabeça para ver mais uma vez as horas.

Aria finalmente apareceu, atravessando descalça o gramado. Suas sandálias pretas estavam por cima dos livros, presas às mãos, um par de meias três quartos, cor de creme estava pendurado em seus ombros. Meus cartazes da campanha estavam presos debaixo do braço dela.

— Cuidado! Não amasse! — adverti me sentindo já estressada com esse dia.

Dava para ver que Aria nem tinha se preocupado com o banho matinal, preferindo dormir vinte minutos a mais em vez disso. Eu sempre fui madrugadora, mas Aria adorava dormir, então sempre procurava deixar um livro debaixo do travesseiro quando ela vinha dormir na minha casa. Ultimamente, leio apenas os manuais de preparação para o SAT4, mas foi assim que devorei a série toda de Supernatual dos irmãos gatos, no ensino fundamental, ao lado da minha amiga que roncava a noite inteira

Aria se agachou para abrir o vidro do passageiro e inclinou os livros, fazendo com que seus sapatos caíssem no banco. Seu rosto se iluminou quando viu o saco de papel branco.

— Oh, você compro café da manhã!

— Sua recomeça por ter acordado cedo, só para me ajudar!

— Não precisa, me recompensa — disse, jogando os livros no banco de trás, colocando meus cartazes por cima com paciência e delicadeza — afinal de contas, sou sua gerente de campanha oficial!

— Queria que você fosse minha vice-presidente oficial — disse distraída

Aria suspirou ao se jogar no banco do passageiro, prendendo o cinto de segurança com mais força do que necessário. — Em, você tem de deixar isso para lá.

A ideia passou pela minha cabeça inúmeras vezes durante o verão e no ultimo fim de semana ficamos acordadas ate às três da manhã pintado os cartazes. Pintei um cartaz escrevendo o nome de nós duas, mas Aria ficou reclamando o tempo todo, dizendo que eu havia desperdiçado um cartaz perfeito. Acho que ela não sabia, o quão difícil era deixar boas idéias para lá.

Ela deu uma enorme mordida no sanduíche e ficou um pouco de Ketchup no rosto. Dei um guardanapo para ela. — Olha — disse, entre uma mordida e outra — significa muito para mim você achar que eu, de fato, conseguiria fazer algo assim? Tenho certeza que não. Também eu não preciso ser vice – presidente para ajudar em todos os seus projetos. Irei á todas as reuniões do conselho do mesmo jeito que tenho ido, nos últimos três anos.

— Não se trata de comparecer a reuniões. Estou falando de viver na potência máxima. Você sempre diz que é o tipo de pessoa que fica por detrás das câmeras. Mas isso não é verdade. É só uma desculpa conveniente para que não seja notada. Os responsáveis por analisar a admissão na faculdade não se importam se você participou de atividades extracurriculares. Eles querem ver habilidades de liderança, se você pode ser responsável por alguma coisa.

Aria abriu o suco e o devorou em cinco goles. Uma pequena parte de mim achou que ela estivesse pensando na idéia. Mas então ela mudou de assunto e perguntou:

— Quais eram mesmo aqueles slogans engraçados que você criou? Estava tentando me lembrar deles hoje de manhã.

Não podia forçar minha melhor amiga a se candidatar ao conselho estudantil. Sei que é algo que ela deveria fazer por si própria. Mesmo assim, sentia–me frustrada.

Durante o restante do caminho para a escola, tentamos nos lembras dos divertidos slogans que nos fizemos morrer de rir durante o fim de semana. Eram mais ou menos assim “Votem na Emily, ela sempre estará por perto!” Contudo, só eram engraçados por causa das ilustrações que os acompanhavam.

O nosso carro foi o primeiro a chegar ao estacionamento dos anos. Rosewood Day estava bonita; o sol nascia brilhantemente, espalhando o orvalho pela grama espessa. Senti-me tão tocada pela beleza da escola que só percebi que todas as janelas tinham sido cobertas com um papel branco na metade do caminho.

— Que estranho — disse.

— Parece que a Spencer Hastings está levando o jogo muito a sério — disse Aria

— Acho que sim. — Spencer Hastings era a garota bonita, inteligente e rica do último ano e, pelo que eu soube minha única concorrente. Estava contando com uma campanha fácil, principalmente por ter sido a vice-presidente ano passado, mas também porque Spencer tinha cometido um erro idiota de usar drogas que quase a levou ser expulsa da escola. Os pais dela tiveram que internar-la em uma clínica psiquiatra.

Abri a porta principal e centenas de pedaços de papel saíram voando com a brisa de outono. Os papéis não estavam apenas nas janelas. A escola inteira estava coberta por eles, as portas do banheiro, os quadros de aviso, todos os armários e isso incluindo o de troféus. Um rolo de fita adesiva vazio ficou preso no meu sapato enquanto andava. Havia vários outros jogados no chão, espalhados pelo corredor.

Sabia que Spencer não tinha coragem de aprontar uma coisa dessas, até por que isso é proibido. Tirei apenas um das folhas de cima do bebedouro.

Era uma folha de papel xerocopiada, havia varias bolsas fendi rosa escuro, desenhadas nela, e uma caricatura de Hanna Marin passando um batom vermelho nos lábios ao lado de dois garotos de boa aparecia.

Infelizmente, o desenho não era uma fantasia doentia. Hanna Marin realmente gostava dessas coisas, sempre tinha garotos ao seu lado. Claro, era líder de torcida e, sim era muito popular. Mas a garota era totalmente desprezível, dando em cima de garotos burros só para se sentir mais esperta. E parecia que essa moda estava começando a pegar.

Embaixo do desenho ela tinha escrito “Marin p/ presidente”. E ela nem se incomodou em arrancar a página adequadamente – o canto inferior esquerdo estava rasgado e ela tinha xerocado com orgulho a margem espiralada que havia sido arrancada.

— Hanna Marin — disse em voz alta.

— Você só pode, está de brincadeira — Aria pegou o papel e fez uma careta. — Eca. Por que Hanna Marin está concorrendo para o conselho estudantil?

Na verdade, tive de parar um minuto para pensar — Talvez para ajudar a entrar na faculdade? Ou ela esta apenas sendo uma idiota? ... Mas isso era razão suficiente para alguém como Hanna querer fazer isso.

— Vou ficar tão satisfeita em ver você destruí-la — disse Aria enquanto examinava uma das paredes. — O que vamos fazer com todos os seus cartazes? Ela não deixou espaço para pendurá-los. Isso é ilegal! Você quer que eu vá procurar a diretora?

— Não se preocupe — disse. E então pendurei o maior cartaz bem em cima de vários dos sorrisos de caricatura de Hanna Marin

Até á hora do almoço, os cartazes de Hanna começaram a desaparecer. Talvez tivesse chegado aos ouvidos da Srta. Bee que a secretária da escola tinha caído na conversa dela, deixando-a usar a copiadora, e ela acabou considerando os cartazes contra as regras da eleição. Não foi isso, porém as garotas estavam arrancando de propósito. Vi uma fila de moças na lanchonete pedindo para que Hanna autografasse os cartazes, pois eles seriam “valiosos” Algum dia, quando ela fosse famosa. O que basicamente me deu uma vontade de vomitar.

Durante o restante da semana, fiz o que pude para ignorar Hanna Marin. Não foi difícil ela não participa de nenhuma das aulas de grupo avançado. E certamente não temos nenhum amigo em comum. Mesmo assim á distância, observar a sua maneira artificial de gesticular sobre a candidatura me deixava louca dos nervos. Também o modo com ela se comportava, fazendo decretos ridículos em linguagem arcaica, começando com doravante e concluindo com assim seja, e exigindo que as pessoas a chamassem de presidente.

Mas eu fiquei calma e controlada, mesmo quando Hanna se dirigia diretamente a mim. Nem me incomodava muito com aquilo. Possivelmente porque eu era uma das raras pessoas em Rosewood Day que viam Hanna como ela realmente era: Uma cabeça de bagre completa que fazia tudo para arrancar risadas do publico. O ensino Médio era o melhor que Hanna ia conseguir na vida. Dava para vislumbras o futuro totalmente deprimente escrito bem ali, na cara dela, Ela entraria em uma faculdade medíocre, se apaixonaria por um segurança de boate, perderia todo o dinheiro em um daqueles esquemas da internet de ganhar dinheiro rápido. Eu até sentiria pena de Hanna Marin, se ela não estivesse agindo com uma completa cretina.

Mas Aria odiava ver a Hanna tirando sarro de mim, e não importava o quando os insultos eram idiotas, eles a deixavam com muita raiva. Como dessa vez na lanchonete, quando Hanna ficou bem embaixo de um dos cartazes que havíamos pintado juntas, fazendo sinal de positivo com as duas mãos e gritando algo como “minha péssima caligrafia”.

As bochechas de Aria ficaram vermelhas de raiva, refletindo o bife mal passado em seu prato. Ela não tirou os olhos do bife, cortando um pedaço de gordura sem parar com um garfo de plástico que estava prestes, a quebras diante de seu torque mortal. E então, sem aviso prévio, levantou-se com tudo, batendo com tanta força na mesa que meu refrigerante caiu por toda folha do laboratório.

— Deixe-a em paz — disse, enfatizando casa palavra em uma voz tão brava quanto alguém tão doce como Aria consegue pronunciar. Olhei para ela esboçando um sorriso, chocada pela sua coragem de dizer alguma coisa. Ela tava tremendo inteira. Meu coração ficou partido ao ver como Aria era uma boa amiga. Se já era difícil para qualquer pessoa fazer algo do tipo, para ela era muito pior.

Hanna reagiu como se Aria tivesse aparecido de súbito, fingindo surpresa e medo. Aproximou-se toda cheia de pompa da nossa mesa, aspirando o ar como se fosse um chão de caça guiado pelo cheio, e parou bem na frente dela.

— Ei, aonde esta seu pai? Não sentir o cheio dele por aqui. Ele ainda ficar com alunas?

Aquelas palavras sugaram o oxigênio de toda a lanchonete. Não consegui me mexer. Não consegui olhar para Aria. Só sentia o silêncio que emanava dela bem ali, ao meu lado, e rezava para que ela se lembrasse de respirar.

Sempre me perguntei quando o restante da escola ia entender que a piada do professor que ficou com uma aluna. Não tinha mais graça. Ou talvez eu apenas tivesse esperança de que isso um dia acontecesse. Mas, naquele momento, finalmente compreendi que jamais aconteceria. Alguém ia dizer aquilo no nosso encontro de vinte anos de formatura, e Aria teria de explicar a situação ao marido dela. A historia arrancaria muitas piadas de alguém, em algum lugar, pelo resto de nossas vidas, era fácil demais. Malvado demais. E era extremamente injusto que alguém como Hanna Marin jamais compreendesse o quanto aquelas palavras haviam destruído a minha bela amiga.

A cólera cresceu dentro de mim como lava. Procurei o objeto mais próximo e o atirei em Hanna. Era o meu pedaço de pizza, e pegou bem no meio do peito dela, deixando uma marca triangular de óleo, molho de tomate e flocos de pimenta em sua camisa favorita antes de cair com tudo nos seus sapatos de salto alto.

— Opa! — disse com minha voz nada ressentida. Alguns respiraram fundos, e teve até quem que achou graça.

Hanna entortou os lábios — Droga! Sabe de uma coisa? Joguei fora aquele manual idiota do conselho estudantil que a Srta. Bee me deu. Mas tenho certeza de que há uma seção inteira sobre as regras da eleição e esse tipo de coisa pode desqualificar um candidato. Vou te dizer uma coisa Emily. Vou ver se ela tem mais um para me dar e conto para você.

Revirei os olhos quando Hanna foi embora. Mas, na verdade, por dentro eu entrei em pânico. Será que tinha arruinado tudo apenas para defender a honra de Aria? Será que tinha dado a eleição inteira de bandeja para Hanna Marin? Algo com que vinha sonhado e trabalhando nos últimos três anos.

Os olhos Aria se encheram de lágrimas.

— Não chore — disse, colocando nossas coisas na minha mochila. Não queria que ela se humilhasse mais ainda — Vamos para a biblioteca.

— Sinto muito, Emily — ela sussurrou — Espero não ter te colocando em encrenca. Vou morrer se você for desclassificada!

Aria andava tão devagar que a segurei pelo braço e a empurrei pelo corredor — Você não tinha que me defender — resmunguei. Se ela tivesse ignorado Hanna como eu, aquilo jamais teria acontecido.

Ela balançou a cabeça e disse resoluta. — É isso o que melhores amigas fazem — Aria enxugou os olhos com uma das mãos e com a outra apertou a minha com força da mesma forma que eu sempre apertava a dela.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu não sei vocês, mas eu que adorei muito esse capítulo, tipo Demas! Por isso, não esqueçam de compartilhar comigo o que acharam, porque é muito importante e etc.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Eu Não Sou Esse Tipo De Garota" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.