Jared se foi.

Essas palavras grudam em minha mente, e nao consigo me livrar delas. Estamos sentados em um beco atrás do hotel, por onde saímos logo depois que vimos os homens subindo. Tenho vontade de gritar e chorar, tudo ao mesmo tempo, mas em vez disso, simplesmente coloco minha cabeça entre os joelhos e começo a rezar. Nem sei se acredito em Deus, mas parece que sim, pois não me canso de pedir para Ele não deixar Jared morrer.

Ethan pagou uma das faxineiras do hotel para subirem e pegarem nossas malas, mas não aguento esperar. Quando a garota chega com as nossas coisas, quase dou um abraço nela.

–Obrigada. - digo, enquanto ela nos olha desconfiada.

Tiro uma nota da minha carteira e a entrego.

–Tinha alguém no quarto? - Ethan pergunta.

–Não. - a menina responde. - Mas deixaram um bilhete.

Eu estendo a mão e o pego, lendo as palavras :

"Venha para casa, 50"

–Droga! -berro, jogando-o no chão.

A funcionário do hotel entra novamente pelas porta dos fundos, nos olhando pelo canto do olho.

–O que é? - Ethan pergunta, se aproximando.

Ainda estou puta por ele não ter me deixado ir atrás de Jared, então o lanço um olhar feroz em vez de responde-lo. Meu braço já está bom, mas meu ódio não.

–Acho que a gente se separa aqui, Ethan. - digo, pegando a alça da minha mala.

"Venha para casa, 50"

A única casa que eu conheci foi o laboratório, e ele fica em outro país. Me lembro vagamente de Jared me explicando onde é.

Preciso de passagens, de um plano e de coragem, penso.

–Lexie! -Ethan grita.

O ignoro, simplesmente porque posso.

Sei que é sacanagem, mas não posso leva-lo comigo. Essa é minha missão. Jared é o meu guardião. Ele sacrificou sua vida por mim, agora é minha vez.

–Lexie! - ele repete.

Ando pelo beco, pensando em tudo que tenho que fazer. Abro minha carteira e a de Jared e conto o dinheiro que ainda temos. É muito.

–50! -Ouço.

–O que você me chamou? -grito, me virando em um movimento só. Estou com muita, muita raiva.

–Do quê você me chamou, Ethan? - pergunto novamente, largando a mala no chão e esquecendo de todas as merdas que estavam na minha cabeça.

Ethan ergue as sobrancelhas. Uma pessoa normal quase não poderia vê-lo no beco escuro, mas eu analiso cada detalhe.

–Essa é quem você é agora, não? - ele pergunta. -Porque a Lexie que eu conheço não faria isso.

Cerro meus pulsos.

–Você não me conhece!

–Sim, conheço. Você é uma pessoa boa, não a 50 que eles dizem. Você é a Lexie, não um animal. -Ethan diz, andando em minha direção.

Eu suspiro.

–Você sabe que pode morrer, não é? -pergunto.

–Sim.

–Sabe que pode nunca mais ver sua família?

–Sei.

Eu pego minha mala de volta e encaro Ethan. Não posso ser delicada ou gentil agora. Tenho um propósito.

–O velório é seu. - dou de ombros.

Talvez eu seja a Lexie.

Talvez eu seja a 50.

E talvez seja um animal.