Conheci ela em um dia chuvoso.

Lágrimas escorriam pela janela, mas não eram de tristeza, eram o tipo de lágrimas que escorrem pelas bochechas quando rimos demais. Milena se tornou minha melhor amiga em menos de uma semana, a primeira vez que nos vimos foi em um grupo do Facebook; passávamos horas e horas em frente ao computador. O papo mais famoso era a morte. Afinal, o que acontece depois?

Em uma de nossas conversas casuais, Milena e eu fizemos um acordo: se uma não entrasse dentro de uma semana, ela estava morta. Se ela tivesse morta, visitaria a outra e faria algo para mostrar o que vem depois da morte. Será que podemos ver as outras pessoas e interagir; ou não podemos ver mas interagimos? Era a nossa maior dúvida.

Mais ou menos um mês atrás recebi um inbox dela dizendo que viajaria para a minha cidade. Fiquei tão feliz, programamos tudo direitinho. Eu estava a esperando no aeroporto, mas logo as notícias correram rápido: seu avião tinha caído. Ainda era cedo para conclusões, mas me disseram que haviam três sobreviventes. Me apeguei a que ela seria um destes, mas no fundo eu entendi o quanto as chances eram pequenas.

Já em casa, joguei minha cartolina e presentes no sofá, junto com meu corpo, e desabei a chorar. Não era como o choro do dia em que a conheci. Aquilo corroía meu peito. Eu poderia ter chegado 5 minutos antes, ela poderia ter perdido o voo, poderíamos ter nascido na mesma rua. Meus pais foram dormir depois de me consolarem no sofá, mas entendiam o quanto eu precisava de espaço. Fui pro meu quarto, com só o abajur ligado, até que olho minha escrivaninha, e lá havia um bilhete:

"Conheci ela em um dia chuvoso."