Canções em um Dia de Melancolia escrita por Colecionadora de Palavras


Capítulo 1
Canções em um Dia de Melancolia


Notas iniciais do capítulo

"Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza;
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante;
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade..."
Oswaldo Montenegro



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/569689/chapter/1

Ela apareceu novamente em minha cama essa noite, vindo a passos leves do quarto ao lado, e se aconchegando ao meu corpo. Afastei seus cabelos loiros de seu rosto, e perguntei se estava tudo bem. Sua resposta soou fraca, sua voz tremula: “Estou bem”. Seus lábios até podiam mentir para mim, meus aqueles olhos verdes não me enganavam. As bochechas e o nariz rosados apenas confirmavam minhas teorias.

A trouxe para mais perto de mim, e a envolvi em um apertado abraço. Gostaria que houvesse alguma maneira de ela ficar assim para sempre, em meus braços, para que eu pudesse protegê-la, a minha garotinha, que agora já aparentava traços de um adulto.

Queria poder dar-lhe as respostas que ela tanto procurava, mas nem eu mesmo conhecia a maioria, e apenas algumas nunca foram o bastante para saciar sua curiosidade. Queria poder lhe dizer que tudo ficaria bem, e que logo as coisas se ajeitariam, mas ela já não era a criança que acreditava nas palavras de seu pai.

Beijei-lhe a testa, e fechei meus olhos, impedindo que minhas lágrimas caíssem junto com as dela. Ser forte nunca foi fácil para mim, como eu fazia a maioria das pessoas crer. Adormeci com um nó na garganta.

Senti ela se livrar de meus braços e se levantar da cama, indo embora, encostando a porta ao sair. Outro dia já começara, e acabaria tão rápido quando o seu antecessor, mas isso já não importava mais.

Abri minha janela. O sol brilhava. O vento tocou meu rosto, frio e refrescador. Olhei meu rosto no espelho: a barba para fazer, os cabelos rebeldes, olhos castanhos cansados, e a saudade estampada em cada traço. Parecia haver muito tempo desde que ela se fora, mas faziam apenas semanas.

Sentei-me na frente de casa, aqueles degraus de madeira, e o banco em que costumavam sentar juntos. Ela veio se sentar ao meu lado, e juntos olhamos para o nada, e nos perdemos, cada um em seus próprios pensamentos. Eu a observei pelo canto dos olhos. Aquela velha calça jeans surrada, a camisa xadrez que lhe era grande demais, os cabelos claros grandes e lisos, a pele branca, e os olhos verdes, iguais aos da mãe.

Ela sorriu, e ela não faz ideia do quanto aquilo me fez feliz. Puxei o violão e toquei um pouco, e conseguimos cantar canções alegres em meio a nossa melancolia, e ser felizes, mesmo que por pouco tempo. E cantamos até que o sol se fosse novamente, nos entregando uma nova noite, que por sua vez nos entregaria um novo dia, e assim sucessivamente, até que decidíssemos nos juntar as estrelas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Canções em um Dia de Melancolia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.