Hurricane escrita por Balthamos


Capítulo 1
Would you kill to save your life?


Notas iniciais do capítulo

Contém spoilers LEVES da 4ª temporada. Pode ler sem a música se quiser, mas acho que a graça da songfic é ler ouvindo a música, não é? Por essas e outras titio Balth já facilitou o trabalho de todos e colocou o player no começo do capítulo.



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Hurricane





A visão do pôr-do-sol é esplêndida, mas a paisagem é a última coisa para a qual Sam Winchester dedica sua atenção neste exato momento. Uma brisa suave sopra em seu rosto, fazendo suas lágrimas parecerem frias como o gelo.

Por quê? – Esta é a única pergunta que ele se permite fazer, porém, não obtém nenhuma resposta que não o soprar suave e constante do vento.

Lembranças do dia anterior passam rapidamente pela sua cabeça. Rápidas demais para que ele tenha tempo de tentar entendê-las.

 

No matter how many times did you told me you wanted to leave

(Não importa quantas vezes você me disse que queria ir) 

No matter how many breaths that you took you still couldn't breath

(Não importa quantas vezes você respirou, você ainda não conseguia respirar) 

 

Sam olha para as mãos sujas de sangue sem conseguir acreditar no que havia feito minutos atrás. Mas, mesmo tendo matado dois homens há poucos instantes, não era o peso das mortes que ocupava seus pensamentos, e sim a forma como Dean o olhara. Não era o olhar de um irmão, tampouco o olhar ardente da noite passada. Não. Aquele olhar havia sido diferente... Um olhar que demonstrava repulsa; um olhar que Dean lançava somente aos demônios e criaturas sobrenaturais violentas e quase sempre irracionais.  Até aquele instante.

 

Where did you go?

(Aonde você foi?)

Where did you go? 

(Aonde você foi?)

Where did you go...?

(Aonde você foi...?)

Heart beat, a heart beat, I need a heart beat, a heart beat...

(Pulsação, uma pulsação, preciso de uma pulsação, uma pulsação...)

Um funcionário do hotel entra enquanto Sam se arruma em frente ao espelho do banheiro, para encontrar-se com o irmão mais velho em uma lanchonete próxima.

Sam percebe a presença do funcionário, mas não dá maior importância e continua a se arrumar. Se olhasse diretamente para o homem de aparência jovem e saudável que se aproximava de onde ele estava, perceberia que seus olhos estavam completamente negros. Mas não foi assim que as coisas aconteceram.

O homem agora está bem próximo do banheiro, e Sam para de se arrumar para perguntar ao funcionário do hotel qual é o problema. Assim que encara o homem, Sam percebe algo errado. O mais novo dos Winchester não tem tempo nem mesmo para se esquivar do golpe desferido pelo homem. Seu rosto é empurrado com força contra o espelho, que se parte e corta-lhe o rosto em diversos pontos, embora superficialmente.

Sam recupera-se rapidamente, e dessa vez é ele quem acerta o homem, batendo sua cabeça contra as pastilhas brancas que revestem as paredes do banheiro, tingindo-as de vermelho. O homem cai no chão e Sam sai do banheiro com a pretensão de chegar até sua mochila e pegar a faca capaz de matar demônios sua única saída naquele momento –, mas mal tem tempo de formular o passo seguinte. O demônio se recupera mais rápido que o previsto e puxa-lhe as pernas com força, fazendo-o cair no chão entre o banheiro e o quarto. Agindo para se defender, Sam chuta freneticamente o rosto do homem, quebrando-lhe o nariz e originando mais uma feia mancha vermelha no piso do banheiro.

Sem perder mais tempo, corre até a mochila e empunha a faca que fora de Ruby. Sam ouve o homem comentar alguma coisa sobre Dean e volta rapidamente ao banheiro, chutando mais uma vez o homem.

— O que você quer com meu irmão? – Ele pergunta.

O demônio ri, engasgando-se com o sangue do homem que possuíra.

— Bancando o valentão, Sam Winchester?  Não foi essa a imagem que me passaram de você. Confesso que achei que seria mais fácil acabar com você longe do seu irmãozinho. Mas não tem importância... Eu não vim sozinho.

— Você está blefando!

— Ah... Será mesmo? Você não estará tão certo disso quando cortarmos a garganta do seu irmãozinho. Se bem que isso seria muito rápido... Estávamos planejando algo bem lento, sabe? Com você assistindo a tudo, é claro.

— Seu bastardo, filho da puta! Vou tirar esse sorriso nojento da sua cara.

Agindo por impulso, Sam leva a faca até a garganta do homem. A lâmina desliza macia, como que cortando manteiga. O sangue jorra do pescoço do homem, e só nesse instante é que Sam se da conta de que havia alguém naquele corpo além do demônio. Mas ele percebe isso tarde demais...

Tell me would you kill to save your life?

(Diga-me, você mataria para salvar a sua vida?)

Tell me would you kill to prove your right?

(Diga-me, você mataria para provar que está certo?)

Sam ouve o barulho da porta e sai do banheiro, com as mãos, camisa e calça sujas de sangue. Pouco importa o estado em que se encontra, a única coisa que importa é ver Dean bem; vê-lo a salvo.

Ao sair do banheiro depara-se com um dos hóspedes do hotel, e logo percebe os odiosos olhos negros. O demônio realmente não mentira: havia mais de um.

— Onde está meu irmão? O que você fez com ele, seu maldito?! – Sam pergunta entre dentes, quase num sussurro.

— Está no lugar que lhe é de direito: apodrecendo em uma vala qualquer... E agora é sua vez.

— Não. É mentira sua! – Apesar dos esforços, sua voz perde a firmeza a cada palavra, começando a ficar embargada.

A lembrança da noite passada toma-lhe a mente em sucessivos flashes.

 

No matter how many deaths that I die, I will never forget

(Não importa quantas mortes eu morra, eu nunca vou esquecer)

No matter how many lies that I live, I will never regret

(Não importa quantas mentiras eu viva, eu nunca vou me arrepender)

 

Os irmãos Winchester encontravam-se deitados em suas camas, ambos completamente acordados e calados, perdidos em pensamentos. Os únicos sons eram a chuva constante e os trovões fora do hotel.

— Como está o machucado? – Perguntou Dean, referindo-se a um corte profundo resultado da última caçada que eles haviam feito.

Sam se sobressalta com a brusca quebra do silêncio e olha para o irmão.

— Ah... Não se preocupe, eu to legal.

— Falando sério, Sam.

— Mas é sério. Ok, ta doendo um pouco, mas não é nada demais. – Responde o mais novo, sentando-se na cama.

— Deixa eu trocar o curativo. Tira a camiseta.

Antes que Sam possa protestar, seu irmão vai até sua cama e senta-se atrás dele. Dean tira-lhe a camiseta lentamente. Seria impressão sua, ou os toques do seu irmão demoram segundos mais do que o necessário?

Depois que termina de tirar a camiseta do irmão e analisar o curativo nas costas, próximo ao pescoço, Dean remove o curativo devagar e em menos de cinco minutos substitui o velho por um novo, recolocando o esparadrapo e a gaze na mesa de cabeceira.

— Pronto? – Pergunta o mais novo, arrepiando-se ao sentir a respiração quente de Dean em sua nuca.

— Sim... Acho que sim, Sammy. – Sussurra o mais velho, descendo a mão que terminava o curativo pelas costas do irmão, causando uma nova onda de arrepios.

 

There is a fire inside of this heart in a riot about to explode into flames

(Há um fogo dentro desse coração em desordem prestes a explodir em chamas) 

 

Sam vira-se para o irmão e percebe o brilho diferente em seus olhos; aquele brilho que não demonstra outra coisa senão desejo.

 

Do you really want? (Heart beat, a heart beat)

(Você realmente quer? [Pulsação, uma pulsação]) 

 

— Obrigado – Sussurra, olhando fixamente nos olhos do mais velho.

Dean responde com um meio sorriso enquanto aproxima ainda mais seus rostos e continua fitando-o.

 

Do you really want me? (I need a heart beat, a heart beat)

(Você realmente me quer? [Preciso de uma pulsação, uma pulsação])

 

Sam desvia o olhar, mas Dean leva a mão até seus cabelos e puxa-os de leve, fazendo o mais novo encará-lo novamente. Volta a aproximar seus rostos, e dessa vez a aproximação só para quando os lábios de ambos estão colados.

Sam abre os olhos e encara o mais velho, sentindo o coração bater com força em seu peito. Num gesto automático leva a mão direita até a nuca de Dean, colando ainda mais seus lábios aos dele.

— Você sabe que isso é errado, não sabe, Dean? – Pergunta sem afastar seus lábios dos lábios macios do irmão.

— Sei disso, Sammy. Mas isso não diminui em nada o que eu sinto.

Sam sorri e afasta um pouco o rosto, encarando o irmão nos olhos.

— Bom saber... Porque mesmo que você quisesse voltar atrás, eu seguiria adiante.

Dean corresponde ao sorriso e se aproxima novamente do irmão, iniciando um beijo calmo, mas quente.

 

Sam só percebe que o sol se pôs quando sente o vento frio da noite causando-lhe arrepios. Quanto tempo ele teria passado ali? Uma hora? Duas? Talvez mais... De qualquer forma esse não era o foco de seus pensamentos. Mais e mais flashes passavam pela sua cabeça a cada segundo, e era impossível tentar controlá-los.

 

O demônio se aproxima, mas para quando ouve passos no corredor, e então abre um largo sorriso.

— Parece que nosso convidado especial chegou, finalmente.

— Eu sabia que você estava blefando!

Os sentimentos de Sam pendem entre o alívio e o medo: alívio por saber que o demônio mentira, e que Dean está bem; medo pelo que poderia acontecer ao seu irmão se ele não agisse rápido.

— Dean! Volte para a lanchonete, fique longe do quarto!

Sam grita, mas o demônio fecha a porta antes, abafando suas palavras.

— Seu bastardo maldito!

O mais novo dos Winchester investe contra ele, mas é atirado ao chão com força, caindo próximo à porta do banheiro.

— O que é isso? Quer estragar a surpresa, Sammy? Que feio...

Dean abre a porta do quarto e, antes que Sam possa impedir, é dominado pelo demônio, caindo no chão. Sam engatinha até o banheiro e segura a faca banhada em sangue, mas percebe que é impossível acertar o demônio sem correr o risco de machucar seu irmão.

Dean levanta-se, mas o demônio o empurra e ele se desequilibra, batendo a cabeça no criado mudo e caindo novamente no chão. O carpete que reveste o chão do quarto tinge-se quase que imediatamente de um tom escuro.

— O que você fez com ele?! O que você fez com meu irmão, seu maldito?! – Sam grita a plenos pulmões, olhando para o irmão desacordado.

— Ora, isso foi só o começo, Sam! Planejei algo bem especial para os Winchester.

Sam é tomado novamente por uma fúria cega, agora ainda mais forte, ante a visão do seu irmão desacordado – ou talvez... Não, é melhor sequer pensar nessa possibilidade.

O demônio investe contra ele, mas Sam age rápido e se desvia, dando-lhe uma rasteira e sentando sobre seu abdômen.

Ele força a faca contra o pescoço do demônio, encarando o par de olhos negros.

O demônio ri, surpreendendo Sam.

— Vá em frente, corte a minha garganta e a garganta desse homem. Aja como um animal selvagem, Sam, vamos! Ele é um pai de família, sabia? Tem uma esposa linda, e um casal de filhos. Crianças ainda, sabe?

Sam acerta um soco no nariz do demônio, fazendo-o calar-se.

— Seu covarde, filho da puta! Como se você ligasse para essas coisas!

O demônio sorri. Um sorriso tingido de vermelho.

— Eu não ligo, Sam. Não realmente. Mas você... Ah, você liga. Afinal de contas, família é tudo, não é? – O demônio ri ao terminar a frase, olhando para Dean, que começa a recobrar a consciência.

— O que você sabe sobre família, seu desgraçado?

O demônio ri novamente.

— Ah sim... Esqueci do pobre Sam... Primeiro a mãe, depois o pai... Isso sem contar o tempo em que o irmãozinho passou as férias de verão no inferno, não é? Pobre Dean... Sabe qual nome ele gritava lá embaixo? O Seu! Ele gritava o seu nome constantemente, enquanto sofria torturas que nem a sua cabecinha criativa seria capaz de imaginar.

Dean já havia recobrado a consciência, mas Sam não percebe. Nada mais importa. Por mais que ele tente, as palavras amargas do demônio ecoam em sua mente repetidas vezes.

— Já chega! Cala essa boca! – Sam grita enquanto afunda a lâmina, sem hesitar, no pescoço do demônio. O sangue morno banha as suas mãos, mas isso não é suficiente. Sam leva a faca até o coração do homem e o perfura, deixando apenas o cabo à mostra.

— Sam! – Dean grita a plenos pulmões, ante a cena.

Aquele não era Sam Winchester. Definitivamente, aquele não era o mesmo Sam da noite anterior; aquele Sam se abrigara em seus braços. O que estava ali era uma aberração, uma fera selvagem.

Tell me would you kill to save your life?

(Diga-me, você mataria para salvar a sua vida?)

Tell me would you kill to prove your right?

(Diga-me, você mataria para provar que está certo?)

Só agora é que Sam percebe que Dean recobrara a consciência. O mais novo levanta-se e caminha até o irmão, que dá um passo para trás.

Dean olha de Sam para o corpo ensanguentado do homem.

— O que foi que você fez?! O que deu em você, Sam?!

— Dean! Por que está gritando? Só agi para me defender, e para salvar você!

— Não, não foi isso! Pra quê tudo isso? Você o atacou como um animal selvagem! Olhe só pra você!

Sam percebe que está coberto de sangue. Das mãos ao antebraço, a camisa, que fora azul, agora está vermelho-escuro, o jeans que era claro, estava também tingido com sangue.

Uma lágrima escorre e ele desvia o olhar, sentindo-se nauseado consigo mesmo.

— Dean... Me desculpe... Você não ouviu as coisas que ele disse? – Embora tentasse se conter, sua voz soava embargada. — Eu só fiz isso por você, será que você não entende?

Sam tenta abraçá-lo, mas Dean dá mais um passo para trás e segura-o pelos braços.

— Você não é o Sam... Não é o meu Sammy... Você está se parecendo com as criaturas que caçamos!

Sam olha para o irmão, com o rosto banhado em lágrimas. Ele jamais esqueceria aquele olhar de desprezo e aquelas palavras frias.

You say you wrong, you wrong, I'm right, I'm right, you're wrong, we fight

(Você diz que está errado, você está errado, eu estou certo, eu estou certo, você está errado, nós brigamos)

O silêncio predomina no quarto, sendo quebrado apenas pela respiração pesada de Dean.

Oh, the quiet silence defines our misery

(Oh, o silêncio quieto define nossa miséria)

Eu amo você, Dean... – Embora as palavras sejam sinceras, ele não tem coragem de encarar o irmão mais velho nos olhos. 

— Eu também amava você, Sam. Mas agora... 

Dean encara novamente o mais novo, e então sai do quarto, batendo a porta com força atrás de si.

Sam enxuga as lágrimas e vai até a escrivaninha. Minutos depois sai do quarto, deixando apenas algumas palavras sobre uma folha de papel manchada de sangue.

This hurricane's chasing us all underground

(Esse furacão esta perseguindo todos nós sobre o chão)

Meia hora depois Dean adentra o quarto novamente, chamando pelo irmão.

— Sam? Sammy! Me desculpe, eu não deveria ter falado nada daquilo... Sam?! Onde você está?

Ele corre até a cama e segura o bilhete deixado por Sam.

Apesar das letras corridas e das manchas de sangue em alguns pontos, Dean consegue ler palavra por palavra.

Me desculpe por tudo, Dean. Depois da noite de ontem, achei que tudo estaria resolvido entre nós, mas infelizmente as coisas não são simples assim. É muito difícil para mim deixar você, mas provavelmente é isso que você deseja, e também o melhor a ser feito. Estou indo embora. Sei que, talvez em um impulso, você me procure, e é exatamente por isso que estou partindo de um jeito que você não poderá me encontrar. Estou fazendo isso para protegê-lo de mim, Dean. Nunca se esqueça que eu o amo.

Sinto muito,

Sam.”

No matter how we try, it's too much history

(Não importa o quanto nós tentemos, é muita história)

Não! Pelo amor de Deus, Sam, o que você fez?! Que não seja o que eu estou pensando, eu nunca me perdoaria por ter sido tão grosseiro com você! – As lágrimas irrompem e banham o rosto de Dean. Ele pega o telefone e liga para o irmão, sentindo uma pontada no coração a cada tom de discagem.

— Atende essa droga de celular, Sam! Não faz isso, por favor!

Too many bad notes playing in our symphony

(muitas notas ruins tocando em nossa sinfonia)

Sam sente o coração disparar quando o celular vibra em seu bolso. Olha para o carro, parado mais adiante no acostamento, e engole em seco.

So let it breathe, let it fly, let it go

(Então deixe respirar, deixe voar, deixe para lá)

Let it fall, let it crash, burn slow

(Deixe cair, deixe bater, queimar lentamente)

Sam levanta-se do acostamento e vai até o carro, ligando-o e olhando para o horizonte, notando a lua já alta no céu. Seu coração bate com força, e ele respira com dificuldade.

Running away from the night, running away from the light

(Fugindo da noite, fugindo da luz)

Sam lembra-se mais uma vez do olhar do irmão e enxuga o rosto. Pisa no acelerador e o carro investe contra a mureta de proteção, já precária, que separa a rodovia do penhasco. O veículo atinge a mureta, mas esta não oferece muita resistência. O carro segue em frente, como que pairando no ar por milésimos de segundo e então cai na escuridão da noite.

Running away to save your life

(Fugindo para salvar a sua vida)

 

 


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Notas finais do capítulo

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Espero que tenham gostado e que não me matem por isso, okay? Estava com saudade de escrever, e nada como uma música para me dar inspiração
Obrigado a todos que leram, gostando ou não da fic.