Querido Papai Noel escrita por Jupiter


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá, pequenas renas. Fic para comemorar nosso querido Natal! Tempo mágico... então lhes trago um pouco da mágica.



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Resumo: Duende responde ás cartas das crianças e lê a carta da irmãzinha.

As cartinhas começaram a chegar. É trabalhoso abri-las, decifrar as letras das crianças menores e anotar os pedidos. De tempos em tempos, tenho que levar as listas para a fábrica e repassar as cartas para os Respondedores. Só hoje já verifiquei algo entre duas e três mil cartas. Como Papai Noel fazia antes de ter Auxiliares de Leitura, como eu? É realmente mágico como tudo funciona aqui, perfeitamente.

Não posso reclamar do meu trabalho, nunca. Pode ser um trabalho cansativo, mas ainda assim é muito gratificante ler os pedidos das crianças. Algumas pedem apenas um cobertor. Outras pedem a mãe de volta. Eu não consigo deixar de me emocionar, é simplesmente impossível conter as lágrimas.

—52008?— Um duende chama meu número. Eu termino de ler uma cartinha, marco o pedido num pergaminho e finalmente levanto o olhar. — 52008, você já está terminando o Lote 322?

— Sim, faltam... — Conto rapidamente as cartas na mesa — Faltam doze cartas. Por que quer saber?

— Eu sei que você já fez sua cota, mas recebemos mais um caminhão de cartinhas. Parece que estamos atrasados. Os Operários trabalham a todo vapor, mas precisamos que você e os outros Auxiliares de Leitura leiam pelo menos mais trezentas cartas hoje pra não nos atrasarmos. Você se importa em receber mais dois Lotes?

Eu assinto. Quer dizer, eu nem tenho escolha. Sei que é uma pergunta retórica. Mas, mesmo se tivesse, é claro que eu diria sim. O que mais tenho a fazer, agora que estou morta? O que enche meus dias é trabalhar aqui no Polo Norte.

O duende 1427, que falou comigo, me entregou os Lotes 327 e 332. Respirei fundo e comecei. Parece que o lote 327 veio de um bairro rico de...São Paulo! Mais especificamente, Jardins. Antes de morrer, eu morava lá, numa casinha creme, junto com meus pais e minha irmãzinha Clara. Se eu morri há um ano, ela deve ter uns seis anos atualmente. Fugindo do protocolo da ordem das cartas, procuro pelo número da minha casa avidamente. Em meio a endereços e endereços, acho a cartinha.

Abro-a quase rasgando-a, e devoro cada palavra. Eu e minha irmã éramos muito próximas. Eu sempre brincava com ela. Fazíamos travessuras e pregávamos peças na Dona Laurinha, a governanta rabugenta da nossa casa. Leio e releio a carta várias vezes:

“Querido Papai Noel!

Eu sei que eu sempre peço um monte de bonecas, mas dessa vez eu só quero uma coisa. Você sabe que eu sempre aprontava com a Dora Laurinha, mas não é de maldade. Mas agora eu não apronto mais. Porque eu não gosto de fazer essas coisas sozinha. Não é tão legal. É por isso que esse ano eu quero a minha irmãzinha, a Bruna de volta. Eu quero muito brincar com ela de novo! Eu prometo que vou me comportar e tirar nota alta pra sempre!

Com amor, Clarinha ”

Uma lágrima pingou, e limpei-a antes que alguém percebesse. Eu queria tanto responde-la, mas eu não podia. Minha função não era essa. Mas, eu não queria deixar que um Respondedor o fizesse. Então, eu peguei minha pena, molhei na tinta e a respondi.

“Oi, Clarinha! Aqui é o Papai Noel. Infelizmente, a sua irmãzinha não pode voltar. Sabe por quê? Ela trabalha aqui comigo! Ela ajuda a fazer os presentes de todas as crianças. E seria egoísmo querê-la só para você, não é? Mas a Bruna sente muitas saudades de você, da mamãe e do papai. Ela queria muito brincar com você, mas como ela é muito ocupada aqui no Polo Norte, não ia dar tempo. Então ela vai mandar um presente muito legal para você, combinado? Saiba que foi ela mesmo quem escolheu. A Bruna sempre estará com você, e sempre conversará pelas cartinhas. Não fique triste, e aproveite o Natal!

Hohoho!”

Eu não consegui evitar que meus olhos se enchessem de água como nuvens em dia de calor. Enxuguei tudo com o meu vestidinho Natalino. Peguei o pergaminho dos Pedidos e anotei “Diário”. Assim ela poderia anotar tudo. Eu fazia um diário quando estava viva. Sempre que eu me sentia triste, ou brava, eu escrevia nele. Acho que pode ajuda-la a superar a dor.

Eu termino esse e o Lote seguinte. Vou para minha habitação e coloco minha camisola vermelhinha. Me olho no espelho. A cada dia minha pele fica mais verde. É isso o que acontece quando você morre, eu acho. Pelo menos isso indica que estou quase no nível dos duendes mais experientes. Quem sabe não sou promovida para Respondedora? Bem, tenho um ano até que a próxima cartinha de Clara chegue.

Meus devaneios se interrompem quando ouço um barulhinho de sino na porta. Olho para meu pequeno quarto, pra ver se não está muito bagunçado. Poderia ser um Supervisor. Mas a cama ao canto, o guarda-roupas e o banheiro estão impecáveis. Finalmente abro a porta. Me deparo com uma figura robusta, rechonchuda e com uma aura amigável.

Avalio a figura. É ninguém menos que Papai Noel. Nunca achei que fosse vê-lo pessoalmente, estando num dos cargos que nem tem contato com ele. Minha boca se abre em um perfeito ‘O’, e nem sei como proceder. Faço uma pequena reverência, e ele solta um confortante “Hohoho”.

— Minha querida, não precisa disso!

De repente, encarando meu reflexo diante das lentes dos pequenos e delicados óculos do bom velhinho, me preocupo se ele descobriu, de alguma forma, o que fiz com a cartinha da Clarinha.

— Se está se perguntando, minha querida, eu sei que escreveu uma resposta à sua irmã, — Ele começou a falar, como se tivesse lido minha mente. — e não a culpo. Sei como é perder um ente querido.

— O senhor não está bravo? — Eu soo mais trêmula do que pretendia. Ele dá mais uma de suas risadas calorosas.

— É claro que não, minha querida! Nada foi prejudicado, e ela continua a acreditar em mim. É o que importa, afinal, não é? Nosso trabalho não existiria sem a fé das crianças. — Ele me abraça, e concordo com a cabeça. Seu robe felpudo me lembra do cobertor de casa. Papai Noel traz essa sensação a nós. De segurança.

No final da noite de Natal, escuto de novo o som de sininhos. Alguém bate na porta, mas quando a abro, não há ninguém. Então, olho para baixo, e vejo um bilhetinho, escrito em letra criança, desajeitada, fugindo flutuando da linha.

“Feliz Natal, irmã”.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Agradeço a leitura, espero que tenham gostado, e continuem acreditando! Me emocionei muito escrevendo essa história, espero que eu tenha transmitido a mensagem.Feliz Natal a todos!:')



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