Quando os olhos foram abertos, a luz começou a queimar quase tanto quanto sua cabeça doía. Seu corpo inteiro parecia em pedaços e ele tinha certeza que, apesar daquela não ser a sua cama ou aquele ser o seu quarto, havia uma pequena familiaridade nele.

Quando seus olhos começaram a se adaptar com a luz, as lembranças começaram a se firmar em sua cabeça, lembranças distantes e embaçadas, coisas que ele não tinha certeza sobre ter acontecido, ou se era um sonho.

"- Thea? – a sua irmã estava atrás do bar, havia acabado de servir uma rodada de Cowboys from hell.

– Diz Ollie. – respondeu sem ao menos virar o olhar, estava um tanto ocupada.

– Qual a bebida mais forte que você tem ai? – a pergunta fez a garota parar tudo, deixar as taças sobre a parte de dentro do balcão e encará-lo assustada.

– Aconteceu alguma coisa? – Thea colocou as mãos sobre a mesa, encarando-o surpresa.

– Algo que eu estou tentando esquecer, então por favor. – pediu.

Thea podia ver o quão perturbado ele estava, então, não fez perguntas, apenas serviu a seu irmão uma dose de sua bebida mais forte, absinto."

– Merda. – murmurou, sentando-se na cama.

Seus olhos passaram pelo quarto.

– Porra! – exclamou e virou o olhar a procura de uma companheira de cama.

Não havia ninguém.

Levantou-se de súbito e seu corpo voltou a cair na cama. Ressaca não era o seu forte, definitivamente. Mais imagens voltaram a sua mente e isso o agradou menos ainda.

" Felicity estava abraçada a Barry, e esse fazia um leve afago em seus cabelos. Pareciam, definitivamente, um casal e Oliver não havia gostado disso, ele sentiu sua raiva crescer em seu peito e ele precisava fazer alguma coisa. A mulher tomava um suco de laranja, enquanto o outro tomava vodka pura, pois estava provando a Felicity que nunca ficava bêbado.

– Ei vocês! – exclamou Oliver, sentado na mesa com um copo de Scotch e o olhar grudado na mão de Barry sobre a mulher, um olhar bem enciumado.

Felicity foi a primeira a notar que Oliver já havia bebido bastante, contudo, Oliver ainda lembrava muito bem daquele momento. Lembrava nos olhos cheios de pesares da mulher sobre si.

– Oliver, você está bem? – a voz dela era cheia de tristeza, ele podia notar isso.

– Estou ótimo! – exclamou. – Como a muito não estive. – e era verdade, toda a raiva, insegurança e medo haviam ficado atrás do quarto copo de absinto, onde Thea o proibiu de continuar tomando.

– Fico feliz. – Barry sussurrou, Oliver lembrava disso soar com ironia. – Acho que Roy agradece por você festejar enquanto ele está no hospital. – Oliver abriu um sorriso esnobe.

– Pode ter certeza que ele faria o mesmo. – a mulher suspirou pesadamente e segurou fortemente o braço de Barry para que ele não se exaltasse.

– Vocês se beijaram, não foi? – as bochechas de Felicity ficaram vermelhas e o corpo de Barry se encheu de tensão. Eles tratavam o beijo como uma coisa normal entre eles, contudo, quando alguém falava, soava esquisito. A mulher assentiu rapidamente, voltando a tomar o suco. – Então, é definitivo? – perguntou com as sobrancelhas levantadas. – O namoro de vocês?

Felicity cuspiu todo o suco sobre a mesa, chocada com o que acabara de ouvir.

– Não estamos juntos. – exclamou, quase ao mesmo tempo que o amigo.

– Sério? – a voz de Oliver era acida. – Não é o que parece. – e dessa vez, apesar de estar em um excelente relacionamento com o homem e está extremamente chateada com o que aconteceu mais cedo, a mulher teve que retrucar.

– Desde quando eu devo satisfação de toda a minha vida pra você mesmo? – as palavras feriram Oliver, mas ele sabia bem como fingir que nada havia acontecido.

– Quer saber... – começou com um sorriso divertido em seus lábios. - Por que, Felicity... – pronunciara o nome com deleito, qualquer um poderia notar, inclusive ela. – nós dois, não vamos dançar?

Felicity queria dizer não, Oliver pode ver, mas havia algo em seu olhar, uma mistura de culpa, pena e irritação que ele não soube diferenciar, que mostrava que ela entendia tudo que ele estava passando por um momento difícil e que precisava de sua companhia.

– Tudo bem. – murmurou baixinho, quase sem vontade.

O homem franziu o cenho.

– Sério isso? – a voz de Barry soou chocada. – Você vai comemorar com Roy no... – o dedo de Felicity o calou.

– Preciso ter certeza que Oliver não vai se meter em encrenca e ele não está nada bem. – sussurrou baixo demais para que o Oliver escutasse.

Barry assentiu.

– Eu passo por aqui depois, acho melhor eu ir para casa. – foi o que ele disse.

– Vejo você depois então... – murmurou, dando um abraço rápido em Barry.

Oliver e Barry apertaram as mãos e ele se foi. Felicity levantou-se rapidamente e Oliver virou o copo de Scotch antes de seguir com a mulher para a pista de dança."

Quando abriu a porta para sair do quarto, sentiu o cheiro forte de café e um sorriso se abriu em seus lábios, não estava feliz, definitivamente não, porém, precisava de café, precisava muito de café.

– Felicity? – chamou alto o bastante para que, independente da parte da casa que ela estivesse, escutasse.

Não houve resposta.

O silêncio o incomodou. Amedrontado que algo tivesse acontecido ou algo estivesse acontecendo, ficou em uma posição atenta e pronta para atacar. Seus passos eram lentos e silenciosos, tomando todo o cuidado para não ser pego desprevenido.

Quando chegou na sala, percebeu que só havia uma almofada no sofá, as outras estavam no chão, e havia um coberto bagunçado sobre o mesmo. Uma pequena pontada afundou em seu coração, apesar de não lembrar do final da noite, a mulher havia deixado que ele dormisse na cama e foi para o sofá. Isso não o agradou.

Continuou o seu caminho até virar de frente para o balcão da cozinha, onde a cafeteira – cheia de café pronto – repousava ao lado de uma cabeleira loira que pertencia a uma moça que ressonava como uma criança.

Um sorriso involuntário surgiu nos lábios de Oliver e outra lembrança o invadiu.

"- Oh Felicity! – exclamou irritado. – Você não está se divertindo! Vamos nos divertir.

– Eu não consigo tirar tudo o que aconteceu hoje da cabeça. – murmurou tristemente.

– Mas deveria, precisamos relaxar, como pretende salvar o mundo cansada? – o modo como ele falava, arrastado e tão involuntário fez com que Felicity abrisse um pequeno sorriso.

– Talvez... – antes que ela pudesse continuar com a frase, o homem interrompeu.

– Você odeia talvez. – sussurrou, seu olhar carregado sobre o dela. – Você mesma me disse que preferia uma coisa mais concreta, então, sem talvez. – a mulher piscou várias vezes, lembrando do dia do beijo.

– Eu não disse que odiava talvez. – murmurou – eu disse que era para você retirar o talvez da frase, isso não significa que eu odeio a palavra tal... – sua voz foi sumindo a medida que notava o olhar tão... admirado que ele a lançava. – Que cara é essa? – perguntou surpresa.

– Você fica uma gracinha quando começa a tagarelar. – o rosto de Felicity ficou imediatamente escarlate. – E quando fica vermelha também. – sussurrou com o rosto próximo de mais. Um arrepio tomou conta do seu corpo.

Eles estavam parados no meio da pista de dança, encarando-se demoradamente.

– Obrigada. – saiu quase como um sussurro.

– Então, o que você ia dizer mesmo? Sem o talvez! – exclamou para deixar claro.

Ela ia dizer que "talvez fosse melhor eles irem para casa", mas não foram essas as palavras que saíram da boca dela, por um motivo óbvio, ela estava começando a gostar da ideia de Oliver estar bêbado e cantando-a descaradamente.

– Ia dizer que é melhor a gente ir para algum outro lugar. O que acha? – a voz era firme, apesar das inseguranças que estavam rondando a sua cabeça.

– Tipo, invadir o aquário de Starling? – brincou o homem.

E para a sua surpresa, a mulher concordou."

O homem ficou imediatamente vermelho pelo esforço de reprimir a gargalhada alta. Teve que respirar fundo para acalmar a si mesmo.

Estava pronto para acordá-la e agradecer pela dormida, logo depois de reclamar por ela não ter dormido no sofá - ele deveria ter dormido no sofá - quando percebeu o quão angelical e menininha a mulher ficava enquanto dormia, incrivelmente inocente.

Um sorriso bobo se abriu nos lábios de Oliver. Ele não teria coragem de acordá-la. Então, decidiu dar uma olhada ao redor da casa. A primeira coisa que chamou a sua atenção foi uma prateleira onde ficavam alguns poucos livros sem nenhuma ordem especifica e de gêneros muito aleatórios.

Precisou se abaixar para poder dar uma boa olhada nos nomes que ali estavam escritos.

Moby Dick. O Clube dos Suicidas. E o Vento Levou. Data Runner. 50 Tons de Cinza.

Oliver riu baixinho ao ler esse nome, por essa, ele não esperava. Laurel havia emprestado a Sara para que ela lesse, e ela leu algumas partes em voz alta, para que ele escutasse. Um sorriso terno se abriu com a memória da falecida amiga e também ex-namorada.

O Caso dos Dez Negrinhos. O iluminado. Neuromancer. O Cão dos Baskerville.

Pelos livros que ali se encontravam, deixava claro que a mulher não era uma leitora assídua. Pelo menos, não de livros de literatura, esses se encontravam em excelente estado, porém, logo acima, se encontravam mais uma diversidade de livros com nomes tão esquisitos que Oliver nem ao menos conseguia imaginar como se pronunciava.

Surrados. Amassados. Usados. Lidos e relidos.

Eram seus livros de programação, banco de dados, arquitetura de computadores, tudo sobre computação. Apesar de não abrir, o marca-texto estava acima deles, o que fez com que Oliver imaginasse que eles estavam todos grifados.

O homem ficou de pé, dando uma boa olhada no lugar. E seus olhos logo se prenderam a uma coisa bem especifica, um grosso livro que estava logo abaixo da televisão. Um nome chamou sua atenção.

Memórias.

Com um grande sorriso, ele caminhou até a estante, e pegou-o com cuidado.

As primeiras fotos eram dela pequena com sua mãe e sozinha. Havia uma imagem totalmente riscada, onde era impossível reconhecer o que havia ali. Oliver suspeitou ser uma foto do pai da garota. Continuou passando e encontrou a Nerd Felicity do ensino fundamental. Ela era uma gracinha, na visão do homem. Mas a frente, ela estava um pouco mais velha e mostrava algumas características góticas, como uma orelha cheia de piercing, um batom escuro aqui e ali, e sempre roupas escuras.

Em uma das fotos, ela estava abraçada com um garoto pouco mais alto que ela, possuía o mesmo estilo de roupas e olhos engraçados. Pela forma como as mãos estavam juntas, Oliver mais uma vez supôs que aquele era Jake.

Encontrou fotos de uma verdadeira Felicity gótica junto com Cooper e outro cara, e isso o deixou surpreso, ele não sabia que ela havia sido tão... diferente.

Algumas páginas mais à frente e encontrou uma foto deles. Felicity, ele e Diggle. Todos sorrindo. Felicity havia feito tanto drama sobre aquela foto. Ela queria uma foto com os dois, e agora ele sabia porquê.

Felicity e Walter. Felicity e Diggle. Felicity e Diggle. Felicity e Oliver. Felicity e Barry. Felicity e Diggle. Felicity, Caitlin e Cisco. Felicity e Caitlin. Felicity e Sara. Felicity, Diggle e Sara. Felicity e Roy. Felicity, Diggle e Roy. Felicity, Lyla e Diggle. Felicity e Roy. Felicity, Roy, Oliver e John. Felicity e Barry. Felicity e Barry. Felicity e Barry. Felicity e Barry. Felicity e Barry. Felicity e Barry. Felicity e Barry. Felicity e Barry. Felicity e Caitlin. Felicity e Cisco. Felicity, Cisco e Barry.

Até mesmo a pequena Sara estava ali. Haviam várias e várias fotos, contudo, algo incomodou Oliver. Haviam pouquíssimas fotos deles dois. Ray aparecia em quatro fotos. E ele aparecia em quatro ou cinco, sendo apenas duas apenas deles dois.

Fechou o álbum com força e colocou de volta no lugar.

"- Eu, definitivamente, não bebi o bastante ainda! – murmurou. – Não sei porque eu concordei com isso e... – a menina suspirou pesadamente. – Isso é uma garrafa de vodka? – perguntou surpresa.

– Quer um pouco? – ela negou com a cabeça puxando a garrafa da mão dele.

– Eu não deveria, estou dirigindo, mas estamos invadindo um aquário as duas da madrugada! – exclamou. – Eu preciso de um ou dois goles. – abriu a garrafa rapidamente e tomou um gole longo.

A bebida desceu queimando e era exatamente o que ela precisava.

– Tudo bem! – entregou de volta a garrafa. – Eu realmente espero que você não tenha roubado a garrafa do bar da sua irmã... – não esperou resposta. – Eu vou destravar o portão e travar as câmeras, então, vamos ter que ficar nos pontos cegos, combinado? – o homem assentiu com um olhar cauteloso.

Quando a mulher apertou no botão, levantou o rosto com os olhos arregalados e mordeu o lábio fortemente. Estava nervosa e morrendo de medo de ser pega.

– Feito. – disse. Oliver começou a empurrar o portão, para que pudessem entrar. Felicity puxou a garrafa de suas mãos. – Preciso de mais! – bebeu novamente e devolveu logo em seguida, já sentindo o medo se tornar excitação. – Acho que preciso de uma foto para registrar esse momento, eu vou invadir um patrimônio público. – a risada de Oliver foi um tanto alta.

– Tudo bem, uma foto de recordação! – murmurou baixinho e ela abriu um largo sorriso.

Mexeu rapidamente do tablete e preparou-se rapidamente para tirar uma selfie. Foi rápido e a foto havia ficado engraçada. A imagem consistia em uma mulher com uma cara assustada e a mão no rosto, um homem que levantava uma garrafa de vodka e fazia uma cara de animação, ao fundo havia a placa com a letras garrafais "Aquária Nacional de Starling City".

Quando Felicity encarou a foto, os olhos dela brilharam e Oliver pode notar isso."

Aquela era a última lembrança que Oliver tinha da noite, talvez não a última, porém, a última que realmente ainda era consistente, todo resto era um grande borrão de cenas avulsas e frases aleatórias. Contudo, muito estava misturado com os seus sonhos. E haviam duas coisas que ele realmente não tinha certeza se tinha acontecido.

Um beijo e uma frase.

Eu te amo.

Ele lembrava disso saindo dos lábios avermelhados dela, contudo, podia muito bem ser um sonho e ele preferia não arriscar, apesar de querer e muito. Apesar da dor de cabeça, um sorriso teimava em aparecer nos lábios dele, um grande e bobo sorriso.

E então, ele teve uma ideia brilhante.