POV Sebastian

Eu estava no refeitório com minha namorada, estávamos um pouco afastados do nosso grupo, queríamos um tempo a sós. Mas logo isso mudou, Clary abriu as portas do refeitório de súbito, e seu olhar percorreu o lugar, ela estava vermelha e eu percebi seus olhos brilhando, brilhando de lágrimas. Seus olhos encontraram os meus e ela veio correndo, se jogou em cima de mim, e me abraçou soluçando.

Ela sussurrava meu nome e o de Jace, minha namorada saiu nos deixando a sós. O estado da minha irmã, era péssimo, meu coração apertou, peguei seu rosto e fiz com que ela me olhasse, avaliei seu rosto por um momento antes de faze-la sentar-se ao meu lado, me virei para ficar de frente para ela.

– Clary? Pequena o que foi?

– Sebastian, o Jace.... – Ela não conseguia falar, as lágrimas rolavam com mais rapidez agora.

– O que ele fez? Clary, você sabe que pode me contar tudo. – O desespero já se tornava evidente em minha voz.

– Ele disse que eu sou adotada e que sou irmã dele. Mas, Sebbys, você é meu irmão. Não tem como. Me diz que não tem. – Disse ela me abraçando novamente.

Mas é claro que não era verdade, nunca. Eu sinto que ela é minha irmã. Mas, eu não me lembro da minha mãe gravida, só lembro de algumas partes da minha infância até os 4 anos. Me lembro perfeitamente a partir do 6. Clary pequena, nossas férias na praia. Nosso companheirismo, nossas brincadeiras. Uma coisa é certa, não nos parecemos com nossos pais. Mas não, Clary é minha irmã, só minha.

– Clary, eu tenho certeza que você é minha irmã, de qualquer forma. Mas não sei se você é adotada ou não. Isso temos que perguntar para nossos pais.

– Sebbys, não. Mas e se...Jace for meu irmão? Irmão de sangue?

– Nós vamos dar um jeito, eu prometo.

Abracei minha irmã ainda mais forte, queria ser capaz de tirar a sensação que ela sentia, de ser enganada. Mas e eu? Se Clary é adotada, eu também sou. Nunca vi nenhuma foto, nada que indicasse que minha mãe tinha estado grávida. Ela sempre disse que nunca quis fotos dela grávida, porque estava gorda, e quando nascemos só tiramos nossas primeiras fotos com quase dois anos. Clary, soluçava em meus braços, olhei em volta e vi que Jace estava caminhando para onde estávamos. Soltei um pouco minha irmã para que ela visse Jace, mas ela se encolheu em meus braços novamente.

– Clary, não fique assim. Não vê que eu também estou sofrendo? Olhe pra mim. – Pediu Jace.

– Você não é meu irmão. Saia daqui. Sebastian eu quero ir embora, me tire daqui. – Clary disse se agarrando ao meu braço.

Eu me lembro da última vez que vi Clary assim, ela tinha acabado de terminar com o Jacob, ele tentou bater nela, mas eu impedi, só não acabei com ele porque ela precisava de mim.

Me levantei e puxei Clary olhei para Jace, com um olhar que indicava que ele deveria ficar longe. Levei ela até o carro e liguei para os nossos pais, pedi que fossem para casa. Ficaram preocupados, mas eu disse que conversaríamos lá. Alguns minutos depois Clary já tinha parado de chorar, seus olhos estavam vermelhos, assim como seu rosto. Fiquei em silêncio, para que ela não começasse a chorar novamente.

Assim que chegamos em casa, nossos pais já nos esperavam na porta, eles nos olhavam confusos e assustados. Minha irmã abraçou nossa mãe, que estava assustada e confusa. Fiz um sinal pra que entrássemos em casa. Quando todos estavam sentados e calmos, comecei a explicar a história, com Clary acrescentando algumas coisas a mais. A expressão dos nossos pais mudaram para algo parecido com culpa, meu subconsciente dizia que era verdade, que nós éramos adotados. Minha mãe começou a chorar assim que pedimos explicações, Clary ficou mais perto de mim, eu podia sentir o medo da resposta ser confirmada, mas não tinha jeito.

– É sim. É verdade, nós adotamos vocês dois, em um orfanato em Nova York. Na sua ficha Clary, não tinha menção de irmão. Mas na sua Sebastian dizia que você tinha uma irmã. Mas não tinha nome. Eu não podia engravidar, então decidimos adotar. Vimos vocês e nos apaixonamos. Adotamos vocês no mesmo dia. E os criamos como filhos legítimos, não queríamos que descobrissem a verdade.

– Vocês tem ideia do que eu e Jace fizemos, é errado. Nojento. Se tivessem me contado, nada disso teria acontecido. – Clary parecia a ponto de explodir.

– Vocês poderiam ter evitado isso. Clary é minha irmã. Mas seu sangue corre nas veias do Jace, o namorado dela. Isso é errado. Vocês não tinham o direito de mentir assim. – Eu falei, peguei a mão de Clary e lhe dei um beijo na palma. – Você é minha irmãzinha, minha pequena.

Ela começou a chorar de novo e me abraçou, um abraço pedindo proteção, afundei meu rosto no ombro dela, ficamos assim. Abraçados e nos permitindo chorar, minha mãe tentava conversar, mas meu pai a impedia.

POV Jacob

A Clary estava arrasada quando saiu da escola agarrada ao irmão. Fui até onde Jace estava, fui falar com meu grande amigo. Ele estava péssimo, sentado em um dos bancos do refeitório, me sentei ao lado dele e esperei uns minutos antes de começar a falar com ele.

– Cara, o que aconteceu com a Clary? Vocês brigaram? – Ele me olhou com um olhar de fúria, que poderia ter me assustado, poderia...

– Não brigamos, apenas descobrimos uma coisa.

– Huum, descobriu que ela te traiu, com outro por ai? – Sabia que Clary nunca faria isso, mas mesmo assim, não consegui conter a provocação.

O que pareceu funcionar, ele se levantou de súbito e me pegou pelo colarinho da camisa, me levantando e me encarando, com os olhos de um fulgor dourado, como ouro derretendo. Sorri de lado e o encarei, esperando a resposta.

– Ela nunca faria isso. E também não importa, somos irmãos. – Ele me soltou de súbito, percebendo o que tinha acabado de dizer.

– Irmãos? Vocês estão bem encrencados. Irmãos, não fazem o que vocês fizeram.

Ele saiu pisando duro enquanto eu sorria, agora meu caminho está livre, sem ele para me atrapalhar, Clary seria minha.

POV Isabelle

Eu estava no refeitório com Simon e Magnus, a poucos dias eu e Simon resolvemos começar um relacionamento, nada sério, mas era bom. A conversa na mesa estava boa. Até Clary chegar, e logo depois Jace, Sebastian saiu levando a irmã, Jace ficou lá sentado. Até que Jacob chegou e Jace saiu pisando duro, isso fora questão de minutos, poucos minutos.

Sabia para onde ele iria, fui atrás do meu irmão. Percorri os corredores até a biblioteca, antes de entrar, vi os cabelos loiros do meu irmão em um canto. Abri a porta e fui até ele, que estava sentado no chão escorado em uma das prateleiras de livros, fui até lá e me sentei ao seu lado. Peguei sua mão e ele me olhou com os olhos marejados. Nunca tinha visto ele assim, de todos nós ele sempre foi o mais forte, o único que nunca chorou.

– Jace, o que aconteceu?

– Clary, ela é a minha irmã, verdadeira.

Meus ouvidos só podiam estar falhando, eu não tinha ouvido aquilo, eu sei o quanto Jace ama essa garota, o quanto ele mudou, e sei que ela também o ama. Não é possível, eles são tão diferentes, mas levando em conta que não sabemos como são os pais deles, tudo é possível. Eu não sabia o que dizer, apenas abracei meu irmão e esperei que ele se acalmasse. Alguns minutos depois ele se afastou de mim, seus olhos estavam marejados, mas nenhuma lágrima caia.

– Vamos. Tenho que falar com nossos pais.

– Sobre?

– Quero uma reunião com ambas as famílias. Quero minha irmã.

Concordei com ele e me levantei, não era obrigatório ficar na escola se você tivesse mais de 18 anos. Então, saímos com facilidade. Pegamos o carro e fomos para casa. Havia carros no estacionamento, carros desconhecidos. Descemos e ao abrir a porta, senti Jace enrijecer ao meu lado, mas também pudera, no centro da sala a família Morgenstern estava.

POV Clary

A notícia de que eu sou adotada me destruiu completamente. Não pensei que podia me arrepender de ter me apaixonado como agora, amo o Jace, não me imagino sem ele, mas somos irmãos. De sangue. E Sebastian, ele não é meu irmão. Mas eu o amo, amo mais que minha vida, e não vou ficar longe dele. Nunca.

Depois de todos se acalmarem, meus pais decidiram ir na casa da família Lightwood, não adiantaria querer fugir, era melhor arrancar o curativo por inteiro, rápido. Meus pais foram em um carro e eu e meu irmão fomos no dele. Logo chegamos, toquei a campainha e um empregado atendeu, pedimos para que chamasse Maryse, a dona da casa. Quando ela chegou meu pai explicou a situação e ela pediu que entrássemos.

– Mas vocês tem certeza disso? Pode ser um engano.

– Jace me mostrou um documento.

– Bom, já liguei para a escola e eles disseram que Jace e Isabelle já saíram, estão vindo para cá. – Disse Robert.

Depois disso fiquei apenas os observando conversar sobre como isso era uma coincidência ruim. Mas a única coisa que me ligava a Terra era a mão de Sebastian sobre a minha. Reconfortante e familiar.

Eles pararam de conversar quando Jace e Izzy entraram em casa. Meu olhar se prendeu ao de Jace e senti meus ossos queimarem de vontade de ir até ele e o beijar. Mas me mantive ali, Sebastian segurou firme minha mão, desviei meu olhar e Jace fez o mesmo. Eles entraram e se sentaram perto dos pais, observei meu suposto irmão, mas entre eu e Jace não tinha a mínima semelhança, em nada. Até com Sebastian que não era meu irmão eu conseguia identificar alguns movimentos iguais, ele tinha olhos verdes como os meus. Mas isso agora só passava de pura coincidência.

– Jace, como você conseguiu aquele papel. – Perguntou Maryse.

– Quando eu e Clary fomos ao orfanato, pedi para que a mulher mandasse um envelope, com o nome da minha irmã. Aquele envelope estava com o selo do orfanato.

– Mas como isso foi para no seu armário? – Perguntou meu pai. Em um tom pouco amistoso.

– Provavelmente o correio entregou na portaria e alguém o colocou no meu armário.

– Isso não faz diferença agora. Sabemos o que somos, mas eu quero distância de você. Não suportaria ficar tão perto de você. – Eu disse e ele me olhou triste.

– Mas você é minha irmã. Eu tenho o direito...

– Você não tem direito nenhum. Clary é minha irmã, pode não ser de sangue, mas sempre foi assim. Eu a conheço, você não passa de um irmão distante.

Jace se calou, sem ter argumentos contra meu irmão. Aquilo era horrível. Tudo o que vivemos, o que sentimos é errado, uma aberração para a sociedade.

– Meu irmão, é o Sebastian, ninguém tira o lugar dele. Você será no máximo um amigo, alguém que não posso tirar da minha vida.

Com isso sai da casa dos Lightwood, com alguns protestos de Jace. Sebastian me conhecia muito bem para saber que eu precisava ficar sozinha, todos ficaram na casa, enquanto eu saia, sem rumo. Só precisava espairecer um pouco. Ficar sozinha.

POV Jacob

Como estavam todos indo embora da escola, resolvi ir também. Mas claro que antes disso, eu tinha que conversar com uma pessoa, que iria ficar mais do que feliz com a notícia que eu tenho.

– Aline?

– Jacob? O que faz aqui?

– Quero te dizer que seu caminho para o Jace está livre. Eles são irmãos. O próprio Jace me disse.

Aline se levantou sorrindo e me abraçou, o cheiro de lavanda e cravo inundou meu nariz, não gostava desse cheiro, não tinha nada como a Clary. Antes de sair do seu abraço ela sussurrou em meu ouvido.

– E ela livre pra você, boa sorte.

Ela saiu rebolando para sei lá onde. Eu agora poderia continuar minha vida ao lado de Clary, estava mais do que tranquilo, o loiro de farmácia, nunca mais estaria no me caminho. Sai da escola na minha moto, um pouco acima da velocidade permitida, mas não importa.

Eu estava a alguns Km da escola, na mesma velocidade, quando vi uma pequena criatura, não sabia identificar quem era. Nem de onde era. Enquanto eu pensava a moto se aproximava e eu via quem era, Clary. Tentei parar a moto, mas não consegui, ela atravessou na minha frente e a moto colidiu com ela, fechei meus olhos enquanto era arremessado para longe da moto. Graças ao capacete não bati a cabeça, abri os olhos e vi a Clary desacordada no chão. Não, não pode ser. Clary!