Histeria - Interativa. escrita por Walker


Capítulo 19
A morte bateu na porta


Notas iniciais do capítulo

Demorei. Mas esse primeiro ano está ACABANDO COMIGO. Minhas notas estão podres e sem falar em quantas milhões de questões eu tenho que fazer quase todo o sábado. No sábado, gente! Isso deveria ser crime!
Enfim, bom capítulo! Drama, drama drama...



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Sávio.

Eu ainda me sentia frustrado quando amanheceu. Não saí do quarto, mesmo sabendo que todos se encontravam no andar debaixo, então fiquei apenas encarando o teto.

As coisas simplesmente não deviam ser assim. Eu me sentia estúpido por ter dito para Sérvia o que eu realmente sentia, porque no meio de toda essa loucura, gente morta, gente viva e doidos que vivem em um depósito de supermercado eu realmente não sentia que confessar seus sentimentos para alguém era a melhor coisa a se fazer. Mesmo assim, eu não me arrependi. Sérvia poderia morrer a qualquer hora, assim como qualquer um, e eu precisava falar aquilo para ela.

Depois de algumas horas encarando o teto eu levantei. Penteei o cabelo e escovei os dentes para só então descer e ver que nem Sérvia, nem Melissa e nem o resto das meninas estavam presentes, tirando Annelise.

– Sávio, bom dia. - Cumprimentou Hugo com um sorriso enquanto desenhava algumas coisas na mesa de jantar. Eu forcei um sorriso e baguncei seu cabelo.

– Bom dia amigão. Hum... Aonde foram as meninas?

– Elas foram pegar alguns cocos pro almoço. - Hugo torceu o nariz. - Eu não gosto de cocos.

– Bem, você deveria rever seus conceitos. - Ri um pouco e peguei um pão bolorento que repousava na mesa.

Vi que Annelise e o menino irmão de Isabel, Ruiz, conversavam. Eles pareciam estar desconfortáveis, como se a conversa não estivesse indo bem. Parece que eu não era o único a estar chateado.

De repente ouvi tiros e um grito. Meus olhos se arregalaram imediatamente.

– As meninas. - Markus, que estava no sofá, balbuciou.

Nós saímos disparados da casa, eu com uma faca grande na mão e ele com uma arma. A primeira coisa que eu vi foi um homem magricelo estirado no chão, sangue ao redor de sua cabeça, e uma mulher com traços indígenas chorando por cima dele. E então ela se levantou, furiosa, e tudo aconteceu como em câmera lenta.

A mulher puxou uma arma e a apontou para Sérvia, que tinha uma pistola na mão e parecia desorientada. E seu dedo foi lentamente puxando o gatilho... Ouvi alguém gritando para parar, e depois percebi que havia sido eu. Corri tão rápido que minhas pernas doeram, mas não foi rápido o suficiente. A bala foi disparada, e alguém foi atingida, mas não foi Sérvia.

– Mel! - Ela berrou. Melissa caiu no chão e Sérvia foi logo depois. Houve mais um tiro, mas não em um dos nossos. A mulher indígena havia sido morta por Markus.

Havia mais alguém, um homem, mas ele foi rápido demais e voltou para a floresta. Por enquanto, tudo parecia estar bem.

Quase tudo.

Isabel consolava Sérvia, que chorava alto por cima da amiga. Um nó se formou na minha garganta. Melissa estava morta.

Sérvia.

Mel morrera por minha causa. Eu que chamei-a para colher os cocos, e ela se jogara na minha frente. Quem deveria estar morta era eu.

Tudo aquilo me fizera entrar num estado quase catatônico. Eu havia atirado naquele homem e minha melhor amiga morrera. No momento que eu vi o sangue de Melissa manchando seus cabelos louros, com todo aquele contraste, eu simplesmente pirei. Eu não estava conseguindo pensar direito.

– Sérvia. - Sávio chamou. Eu não fazia ideia de como ele chegara ali. Eu sentia mãos na minha costa e isso estava começando a me irritar. - Sérvia...

– Chega. - Eu pedi, limpando as lágrimas.

Utilizando toda a força que consegui reunir, me levantei e carreguei Mel.

– Chega... - Balbuciei de novo.

Ninguém veio atrás de mim. Eu saí andando e andei muito, até certa parte da praia cuja eu nunca havia visto. Eu pus Mel no chão com cuidado, analisando com cuidado suas feições. Eu estava preocupada se eu iria conseguir lembrar do seu rosto, afinal todos diziam que depois de um tempo você iria começar a esquecer.

A lavei no rio e peguei um pedaço de pau que achei no caminho para cavar um buraco. Eu realmente não sabia se era saudável enterrar alguém em areia branca, mas pra falar a verdade eu não estava dando a mínima. E cavei durante muito tempo, mais fundo do que eu precisava, mas eu precisava tirar isso da minha cabeça.

Eu coloquei o corpo lá dentro com cuidado e com dificuldade. Ela estava gelada e mais branca do que nunca, o que me fez desviar o olhar e começar a cobrir o corpo com terra. O suor escorria pela minha costa e o meu cabelo oleoso já grudava no meu rosto quando eu acabei. Era quase noite e uma lembrança veio na minha mente, totalmente aleatória.

"– Deve ser horrível morrer e ninguém ir requisitar seu corpo no IML né? - Mel surgira com essa pergunta totalmente do nada.

– Eu acho. - Continuei pintando minha tela para o trabalho de artes. - Nunca pensei nisso.

– Ah, eu vivo pensando. Sabe, eu posso morrer assassinada. Mas pelo menos eu iria ter alguém pra requisitar meu corpo no IML.- Ok, esse papo já estava estranho. - Você requisitaria meu corpo no IML?

– Sim, eu... - Franzi o cenho. - Você é doida. Continua pintando sua flor, por favor?

– Tá, mas se eu não for assassinada e ninguém precisar me requisitar, eu só quero que você fale algo no meu enterro.

– Ok, Mel, como você sabe se você vai morrer primeiro?

– Eu só sei. - Ela deu ombros, dando algumas pinceladas. - É intuição."

Com essa lembrança eu sorri. A intuição de Melissa quase nunca falhava.

Minha garganta estava seca de sede, mas eu achei que eu deveria falar algo. Era simbólico.

– Mel... Eu não sei aonde você foi, onde você está, mas... - Eu me sentia uma idiota. - Eu tenho certeza que é um lugar bom. Eu dei sorte, sabe. Ter você como melhor amiga foi um dos meus maiores presentes, e me desculpa, porque eu sei que nos últimos meses eu não tenho sido muito prestativa ou comunicativa com você e...

Ok, eu não conseguia fazer isso. Eu nunca fui do tipo emocional demais e o fato de que tudo que eu queria agora era chorar até a morte me deixava pior ainda.

– O fato é que eu amo você, Mel, e você sempre vai ser minha irmã de coração. Eu não sei as coisas ruins que você fez e nunca me contou, mas você morreu por mim, e isso é maior do que qualquer erro. Deus tenha você.

E então eu olhei mais uma vez para a terra recém cavada no chão, dei as costas e fui embora.


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