Histeria - Interativa. escrita por Walker


Capítulo 13
Grupo Cadu - São Paulo.


Notas iniciais do capítulo

E aí gente? Feliz ano novo! E eu estou programando o capítulo no dia 18 de novo. Viu como eu tenho um montão de capítulos já escritos?
Como o último ficou um cocôzinho de tão pequeno, aqui vai um maior pra vocês e mais legal. Preparem-se, no outro vamos ter bastante ação!



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POV Cadu.

Antes do apocalipse.

– Soldados, de pé! – Acordei com o grito firme de Mário. – Temos um longo dia pela frente!

Sentei-me no beliche, sonolento e com um gosto ruim na boca, e desci rapidamente para não precisar lutar para ser o primeiro no chuveiro.

A vida naquele quartel já estava começando a me irritar, porém eu estava em fase de treinamento. Os soldados da cidade de São Paulo estavam precisando de reforços e nós do interior do estado iríamos ajudar, então eu finalmente tinha uma chance de me libertar um pouco dessa rotina previsível daqui do quartel.

Tomei um banho rápido e quando estava saindo para o pátio o Coronel Mário me chamou.

– Sim senhor. – Bati continência.

– Relaxar, soldado. – Voltei ao normal. – Tem uma moça esperando na linha um, pode atendê-la na minha sala.

Assenti e bati novamente continência antes de percorrer os corredores do quartel até a pequena sala de Mário na diretoria. Eu geralmente não recebia muitas ligações, considerando-se que eu e meus pais não tínhamos a melhor relação do mundo, então logo previ quem seria.

– Ora ora, Carlos Eduardo Marinho Klein. – A voz conhecida me fez sorrir. – Parece que esqueceu que tem irmã.

– Camilla, sua idiota. – Saudei. – Que saudades suas!

– Imagino, esse quartel deve estar te sufocando. – Sua voz de repente ficou séria. – Cadu, eu estou saindo da cidade.

– O quê? – Perguntei confuso. Camilla simplesmente adorava São Paulo. – Por quê?

– Aquela maldita doença se espalhou para cá. Ninguém no quartel te contou? – Senti um calafrio passando pela minha espinha.

– Não, eu... Na verdade, eles só disseram que os soldados da capital precisavam de mais militares, mas não disseram o motivo. A gente não está podendo nem ver TV.- Entendi o porquê imediatamente. Aqueles carrascos provavelmente tinham medo que nós fugíssemos e não ajudássemos a capital. – Aonde você vai?

– Vou eu e a Letícia para um Centro de Refugiados na saída de SP. Por favor, me encontra lá, Cadu. Eu estou muito preocupada que aconteça algo com você.

– Pode ter certeza que eu... – Ouvi uma batida no vidro da sala e vi que era o coronel me chamando. – Camilla, eu tenho que desligar. Mas eu te encontro lá. Beijos.

Desliguei o telefone e fui para o treino. Eu definitivamente não ficaria mais ali.

A noite chegou e por sorte aquele dia era sexta, o que significava que tínhamos tempo livre.

Bem, eu não tinha muitos amigos por ali. A maioria deles só falava comigo por educação ou por necessidade, e eu também não fazia muita questão de conversar, então quando fomos liberados todos saíram para se divertir enquanto eu fiquei no quarto.

Peguei minha mochila e coloquei algumas coisas essenciais. Escova de dentes, uma troca de roupa, celular, sabonete e uma toalha.

Sair do quartel foi a parte fácil, afinal o Coronel devia estar na sua sala como sempre e nem me percebeu, e como era a noite livre o porteiro e os seguranças não me deram a mínima. Enfiei-me no meu Palio e fui até o petshop para buscar minha melhor amiga.

Ao chegar ao local, o cheiro característico de ração invadiu minhas narinas e me dirigi até o caixa.

– Hey Paula, eu... – Tirei o olhar da carteira e levantei os olhos, planejando encontrar o rosto meio rabugento da dona do petshop, mas foi grande a minha surpresa ao perceber que não era ela que me encarava.

– Paula está no descanso. – A menina falou com voz macia. – Sou Clara. O que deseja?

Não era possível.

– Hã... – Fiquei encarando-a incapaz de falar alguma coisa útil.

– O que foi? – Franziu o cenho.

Aquela menina era a cara de minha prima Luísa, isso é o que aconteceu.

“E daí?”, você se pergunta. E daí que Luísa morreu logo depois de seu décimo sexto aniversário, vítima de um latrocínio. Eu e ela éramos muito chegados, então nem preciso comentar o quão abalado fiquei depois de sua morte.

E agora ela estava parada na minha frente.

– Ah, nada. – Balancei a cabeça minimamente, saindo do transe. – Vim buscar minha cadela Lunna.

– Então você é o dono da Lunna? – Seu rosto se iluminou com um sorriso e senti um carinho imenso por ela. – Ela é maravilhosa! Realmente um amor. Espere que eu vou buscá-la.

E me virou as costas, indo até outra sala atrás do balcão.

Fiquei-a observando pela grande janela de vidro que mostrava vários animais de estimação presos em gaiolinhas, esperando seus donos. Luísa – quer dizer, Clara – foi até uma onde Lunna estava presente e sorri. Os cabelos da menina eram mais longos do que o de minha prima, mas os olhos eram os mesmos. Verdes meio acinzentados, como se uma densa neblina os protegesse das influências externas.

O sininho do pet tocou, mas eu mal o ouvi já que eu estava preso nos meus próprios pensamentos. Isso até sentir duas mãos firmes agarrando meu ombro e um odor podre adentrando minhas narinas.

Por puro reflexo, me virei rapidamente, atingindo o ser com uma forte batida no rosto. Ele caiu, porém não pareceu se abater. Então encarei seu rosto e fiquei estático pela segunda vez no dia, mas dessa vez de horror.

Ele era podre. Podre mesmo, com buracos abertos no rosto como se fossem pequenas crateras. Aquele ser parecia um dia ter sido um idoso, porém agora estava vindo em minha direção com um olhar morto e faminto ao mesmo tempo.

Sem pensar duas vezes, pulei sobre o balcão e adentrei a sala onde Clara estava, trancando a porta com dois giros da chave.

– Hey, o que houve? Ouvi uns barulhos lá fora. – Clara disse, franzindo o cenho enquanto segurava uma Lunna feliz pela coleira. – Aconteceu alguma coisa? Cara, você está parecendo um fantasma.

Antes que eu pudesse responder a pergunta, o tal bicho se jogou contra a janela de vidro e ficou arranhando-a. Clara caiu pra trás com o susto e Lunna investiu contra a janela, latindo ruidosamente.

– Eu acho que isso responde sua pergunta. – Murmurei para mim mesmo.

–-

Eu resolvi sair de lá o mais rápido possível, mas não deixaria Clara sozinha e a chamei para vir comigo. Depois de convencê-la de que eu não era um psicopata, entramos no carro e fomos embora para São Paulo.

Clara não tinha família. Sua mãe morrera durante o parto e seu pai fugira, deixando-a com os avós maternos. Eles morreram num acidente de carro no ano anterior.

Quando a noite caiu, resolvemos parar e nos hospedar num hotel de beira de estrada para descansarmos. O dono do hotel disse que poderíamos ficar por lá o tempo que quiséssemos e ele estava dando o fora para um centro de refugiados.

Escolhemos dois quartos separados e fui tomar um banho enquanto Lunna bebia a água que eu havia posto para ela.

O quarto era bem comum. Sentei na cama de casal e tirei da mochila uma foto de Camilla e eu quando éramos adolescentes.

Ela era minha gêmea. Tinha cabelos castanhos curtos, lisos como o meu, e olhos verdes bem escuros. Tudo o que eu mais queria era protegê-la naquele momento, mas não podia estar com ela agora, e isso me incomodava muito.

– É sua irmã? – Perguntou Clara e me sobressaltei. – Desculpa se te assustei.

– Eu só não ouvi você entrar. – Disse eu. Ela vestia a mesma roupa de antes, mas com os cabelos ruivos presos em um coque bagunçado. – É. Ela se chama Camilla.

– É muito bonita. – Clara sorriu, fazendo-a ficar ainda mais bela. Percebi que sua blusa possuía algumas manchas.

– Não vou deixar você dormir com essa roupa suja. – Concluí e tirei uma blusa minha da mochila. – Pegue, pode usar.

– Nada disso, não vou me aproveitar de você. – Ela negou, recusando.

– Pode pegar, eu insisto. – Empurrei a blusa pra ela e Clara sorriu, pegando-a de minha mão.

Ela agradeceu e foi para seu quarto dormir. Amanhã teríamos um longo dia.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?
Um ano abençoado pra vocês!