Você Tem A Mim escrita por Aquela Fujoshi


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

OLHA QUEM RESOLVEU SE ATREVER A POSTAR MAIS UMA HISTÓRIA PRA LEVAR OUTRO MILÊNIO PRA POSTAR O PRÓXIMO CAPÍTULO? ISSO MESMO, EU!

Pra ninguém já ficar na ansiedade, além desse só vai ter mais um capítulo, E NADA DE EXTRA, não queiram complicar mais a minha vida...

Pois bem, já avisando que escrevi esse capítulo no celular (sou phoda -q), só passei pro word recentemente, então qualquer erro avisem! ♥

Mas deixando isso tudo de lado, aproveitem!



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Fazia três semanas que o deus Yato não era chamado para um serviço qualquer, quando uma dupla de Fantasmas relativamente grandes invadiu a região vizinha à qual eles estavam.

— Hiyori! Cuidado! – gritou o deus para sua colega, que tentava distrair um dos Fantasmas ao longo da rua, enquanto ele atacava outro usando sua regalia, Yukine.

— Ali! – Hiyori apontou para um vão no asfalto na outra extremidade da rua. – Faça-o tropeçar! – E pulou para outro poste atraindo o Fantasma para si.

Yato conseguiu se desviar do ataque da cauda da criatura para a direita, fazendo-o se virar e prender uma das seis patas no desnível do piso gasto da rua.

— Venha, Sekki!

O moreno, com Yukine em mãos, deu um salto particularmente alto, recitando em pleno voo:

— Você que veio profanar essa terra do sol nascente! Com o meu advento, eu, o deus Yato, junto com o Sekki, expulso a tua corrupção!

Dito isso, a regalia fora cravada exatamente onde haviam pousado: logo no meio de onde deveria ser a nuca. Yato correu a lâmina e pulou para trás, para longe da criatura no mesmo instante em que ela se desfez em um vácuo de vozes e lamentos.

— Yato, atrás! – Yukine disse ainda na sua forma de katana.

O deus se virou bem a tempo de ver Hiyori correndo até ele toda esbaforida, seguida pelo segundo Fantasma. Ainda estava meio longe, mas o moreno pôde ver que ela segurava a cauda na frente do corpo, evitando as quelíceras da criatura logo atrás.

— Hiyori!

Sem hesitar, Yato partiu em disparada naquela direção, sua regalia em posição de ataque. Pela segunda vez no mesmo dia, deslizou o dedo pela lâmina enquanto recitava aqueles versos, sem se desfocar de seu enorme alvo.

Hiyori deu um maior impulso e desviou para o lado, abrindo caminho para Yato finalizar o segundo Fantasma. Antes que ela pudesse se virar para olhar a ação, já estava feito. Os sons perturbadores que aquele ser era capaz de produzir haviam cessado, apenas restara o eco lastimável de sua existência. Yato estava parado, de pé, no lugar onde derrotara o monstro, arfando pesadamente, Yukine ainda em suas mãos em sua forma de regalia.

— Yato... – A garota se levantou lentamente, indo até ele. A sensação pós-adrenalina tomando conta de seu corpo espiritual.

De trás e ainda a alguns passos distantes do deus, ela pôde ver a picada pouco acima do lenço em seu pescoço.

Ela ainda se lembrava da última vez quando suas picadas se tornaram fortes até de mais.

Yato estava tão enfraquecido que não podia fazer muita coisa a não ser respirar. E depois de todo aquele procedimento com o coitado do Yukine, todos achavam que não iria se repetir. Mas aí estavam as marcas, as provas físicas do crime da regalia perante seu deus, as evidências do seu pecado. Hiyori não conseguia culpar o garoto, mas não tinha como negar que ele fora o causador daquilo tudo. Pela segunda vez. O problema era que agora eles ainda não sabiam o motivo de tamanha revolta.

A morena chegou por trás do deus e tocou-lhe o ombro no mesmo instante em que Yukine voltou a sua forma humana, Yato segurando seu pulso como se ainda fosse o cabo da espada.

— Yato, tudo bem? – Ela perguntou com cautela, não querendo olhar a ferida que começava a se espalhar pela nuca.

Sem anúncio prévio, o moreno deixou o peso do corpo lhe derrubar, caindo de joelhos no asfalto e levando Yuki consigo. Hiyori se debruçou, tomou o rapaz pelos braços e içou-o. Yuki, pelo visto, entendeu a mensagem e, seguindo o exemplo, colocou o braço direito dele sobre seus ombros, a garota com o esquerdo.

— Pelo menos me diga que você está acordado... – Yukine disse mais para si do que para ele, olhando-o pelo canto do olho.

O deus balbuciou alguma coisa desconexa, o que para os dois fora um alívio.

Hiyori percebeu a preocupação evidente nos orbes alaranjados do loirinho, mas não disse nada. Apenas ficou silenciosamente intrigada com o fato de apesar de tudo o que o garoto era capaz de causar, ele ainda se preocupava com Yato, o que parecia estranho já que a cada dia mais a picada aumentava.

O garoto e ela trocaram uma mensagem silenciosa com veemência:

"Kofuku".

...

— Isso está mais para uma cicatriz.

Hiyori e Yukine haviam levado Yato até a casa da Kofuku. O deus estava agora mais acordado, sentado no chão e de pernas cruzadas, sem camisa e de costas para a rosada, que também estava sentada.

Daikoku concordou com a cabeça, de pé logo ao lado deusa do infortúnio.

— Acho que eu sei o motivo desse acesso. – Ele disse, a mão direita sob o queixo, pensativo. – O fardo duplo de hoje mais cedo deve tê-lo exaustado.

Hiyori suspirou audivelmente, mais aliviada com a informação.

— Mas o Yato sempre aguentou bastante as lutas! – Yukine se levantou intrigado, querendo logo acabar com aquilo. – Não parece que tenha sido só esse o motivo.

Yato, mais calado do que já foi possível imaginar, levou uma mão à nuca e pousou delicadamente o dedo médio sobre a pele endurecida. Ele sabia exatamente o motivo de seu cansaço, mas não queria chocar ninguém. Não de novo. Trocara uma mensagem visual com Kofuku assim que chegara ao recinto, e ela a compreendera perfeitamente. Devia-lhe uma.

— Então, ele bebeu. – Concluiu Daikoku, dando de ombros e voltando para os fundos do casebre.

Hiyori deu uma risada fraca, a contragosto.

— Deve ter sido. Hoje mais cedo, ainda antes da luta, ele simplesmente sumiu. Yuki quem me disse.

Yato não quis olhar nos rostos dos amigos.

— É – o loiro confirmou – , quando ele voltou, não quis dizer nada sobre onde estava.

De fato, Yato saíra de perto do garoto ainda antes do outro acordar, mas não havia sido por motivo de bebedeira. Ele mais queria era descobrir um jeito de parar com as picadas logo, sem que fosse necessário todo aquele exorcismo na sua regalia novamente. Não queria ter que fazê-lo sofrer assim novamente.

A princípio ele pensou que um skate qualquer poderia satisfazer alguma vontade enegrecida do garoto, Mas obviamente não tinha dinheiro para tanto. Assim que voltou ao templo, encontrou o menor ainda dormindo. E ouviu-o murmurar. Ao que parecia, Yukine não se lembrava do que havia sonhado, o que era bom, mas também ruim pois Yato não sabia o que fazer em relação ao seu desejo. Precisava conversar com ele.

— Bem... – Kofuku se levantou às pressas, estendendo uma mão para o deus – Acho que um pouco de água benta pode ajudar com isso aí.

Yato aceitou a mão da rosada e se levantou de frente para ela.

— Volto já – Ele disse para os amigos.

Yato acompanhou a deusa pelos corredores da casa até o quintal aos fundos, onde ali um velho poço jazia. Kofuku o conduziu até um banquinho ao lado do poço e pegou uma toalhinha meio úmida na beira do buraco. Yato se sentou no banco, as costas desnudas curvas, as mãos cruzadas apoiando a cabeça e os cotovelos sobre as coxas. Deixava minimamente estampada a preocupação em seu rosto, ainda que tentasse esconder.

— Yatinho... – Ela chamou, mergulhando um balde de madeira dentro do buraco e logo em seguida trazendo-o de volta. – Você precisa conversar com ele.

Inicialmente, o moreno se espantou com a seriedade nas palavras de Kofuku, coisa realmente rara de se ver. Apenas abaixou mais a cabeça, agora se apoiando pela testa.

— Você não sabe o que eu ouvi. – Ele tentou manter a voz calma. – Não sabe o que eu senti.

A garota tocou o pano umedecido em sua nuca, fazendo-o estremecer com o contato gélido da água benta. Ela teve que conter um sorriso.

— Você não desmaiou de verdade, não é?

— Foi só um pretexto para vir até aqui.

O que não era de todo mentira. Yato precisava de uma conversa, de divindade para divindade. Precisava resolver o assunto o quanto antes.

— Kofuku, ele está carente. – Ele suspirou.

— E você quer que eu o satisfaça?

Yato a olhou por cima do ombro, vendo como ela tratava com veemência a ferida prestes a ser reaberta.

— Não foi o que eu quis dizer.

A rosada tirou o pano do pescoço dele para molhá-lo novamente.

— O que foi que ele disse que te deixou tão abalado? – Ela sussurrou entre um suspiro.

Yato tornou a olhar para frente, lembrando-se de quando voltara para o templo e encontrara Yukine ainda no sono, murmurando coisas desconexas e um breve...

— "Eu gosto muito de você..." – Ele repetiu as palavras arrastadas do menor, sentindo uma pontada de culpa por ter que revelar aqueles sussurros para alguém, mesmo que o garoto nem soubesse ou se lembrasse de ter dito aquilo.

— Ah... – Foi tudo o que Kofuku teve verdadeira intenção de dizer.

Yato deu um suspiro longo, profundamente incomodado.

— Eu me sinto culpado. Sabe, depois de quando a Hiyori começou a demonstrar maior afeto por mim, desde que o Yukine percebeu que não era dele que a Hiyori gostava, as picadas recomeçaram. – Yato sentiu o pano molhado tocar sua pele novamente, dessa vez permanecendo parado.

Yukine era uma criatura imensamente frágil a diferentes emoções. Todo cuidado era pouco para evitar que ele explodisse. E qualquer coisinha era refletida diretamente em um certo deus.

— Ele não iria se desculpar... – Kofuku concluiu, voltando a tirar a toalha da nuca de Yato, dessa vez sem vontade ou motivação para continuar. – Você tem bastante tempo a sós com ele, precisam conversar.

Yato suspirou. Se Kofuku tinha essa ideia na cabeça, não ia tirá-la de lá tão cedo.

— Tudo bem então... Mas antes eu precisava fazer uma coisa.

...

Acabou que Yato conseguiu convencer Kofuku a convencer Hiyori a convencer Yukine e Yato a fazerem um passeio pelo centro da cidade. Fora do usual, claro.

Primeiramente, Hiyori quis levar Yuki à uma loja de skates, o que não foi difícil de convencer Yato a fazer também. O loirinho apreciou vários, escolheu um para comprar, mas no final das contas sequer o usou. Isso foi preocupante até para Hiyori, não porque o dinheiro gasto fora dela, mas porque ela reparou no desinteresse do garoto.

Yukine havia sinceramente gostado do agrado, até porque seu skate antigo havia sumido, ou sido perdido ou roubado, ninguém sabe ao certo. Mas ainda não era algo que poderia o satisfazer. Ele sentia ultimamente uma sensação dolorosa de solidão no peito, e não era em relação a ter amigos. Isso ele já tinha: Yato, Hiyori, Kofuku, até Daikoku também. Mas Yuki queria algo mais, e não via como seus amigos poderiam ajudá-lo com essa necessidade anônima dele.

Yato tentava a todo instante parecer indiferente, demonstrar diversão para tentar quebrar aquele clima tenso que ousava pairar entre os três. Mas não havia sido o suficiente.

Vez ou outra Hiyori corria para uma barraquinha de salgados toda alegre e os dois a seguiam, e já começando o pôr do sol os três agora finalmente riam juntos com algumas piadas bobas do deus.

Hiyori teve que voltar para casa. Despediu-se dos amigos brevemente e sumiu de vista. Yato e Yuki ficaram então sozinhos novamente, poucas e breves palavras trocadas.

Yukine sentia que era sua culpa as coisas terem dado errado com Yato mais cedo, o que não era de todo mentira. Então ele não se sentia confortável em começar uma conversa, apenas respondia monossilabicamente. Um silêncio constrangedor se fez entre eles. Os dois caminharam talvez até sem perceber até o templo, quase nenhuma conversa propriamente dita havia se formado.

Yato, ao contrário do loiro, queria só e tão somente trocar alguma palavra com o mais novo. Logo na entrada do templo segurou seu braço, impedindo-o de entrar naquele local sagrado e se isolar num canto qualquer. Diferentemente dele, o deus podia sentir seus sentimentos, e ele não queria que nenhum dos dois sofresse por mais uma noite.

— O que você... – Yuki se voltou rapidamente, recuando o degrau que havia subido.

— Yukine, nós precisamos conversar. – Yato olhou sério para ele, de um jeito que o fez engolir em seco do jeito que uma criança teme os pais ao fazer uma coisa errada.

— Eu sei disso, agora me solta! – Ele quase gritou, mesmo parecendo cedo de mais para já perder a paciência.

— Você vai ficar aqui. – O deus puxou o braço do Yukine, trazendo-o mais para perto.

O loirinho percebeu a convicção nos orbes safiras dele, resolveu não discutir. Sabia muito bem que, quando Yato estava sério, ele estava sério mesmo. Resistir não adiantaria de nada.

— O que foi? – Disse ele, tentando se sentar no primeiro degrau, puxando o deus consigo. Os dois se sentaram lado a lado, Yuki sem conseguir olhar para Yato, que estava com o cenho franzido de preocupação.

— Yukine, você se lembra do quão lhe foi doloroso passar por aquele processo de purificação, não?

O loiro olhou apreensivo para Yato, já sabendo aonde aquele papo ia chegar. Ele havia sido bem direto...

— Sim... – Yuki respondeu, a voz um pouco trêmula. Yato sabia que ele não gostava de se lembrar, mas agora fazia parte da sua história. Era inevitável.

— O que você estava sentindo para chegarmos àquele ponto? – O deus perguntou, quase como se lamentando.

Yuki suspirou profundamente, inquieto. Era óbvio que ele não queria lembrar-se de todos os fatores que contribuíram para a piora da situação, mas, especialmente nesses últimos dias, estava bem claro que ele praticamente revivia cada instante de agonia que passara anteriormente. Talvez até com mais intensidade.

— Solidão... – Ele sussurrou, depois de vários segundos de silêncio, baixando a cabeça e suspirando profundamente.

Yato queria ter um jeito de consolar o garoto, mostrar que, além de ser um deus ou um espadachim era também um ombro amigo. Mas não via como poderia fazer algo assim se ele mesmo devia ser o motivo das angústias dele. Não via como poderia fazer algo assim sem piorar a situação.

— Yukine, eu quero que você preste atenção. – Ele juntou as pontas dos dedos, se sentindo meio ridículo, parecendo um daqueles pais chatos dando bronca nos filhos rebeldes ou tendo "aquela conversa". – Nós não precisamos fazer todo aquele ritual novamente.

Yukine virou o rosto para Yato, repentinamente sorridente.

— Sério?

Yato viu o brilho nos orbes alaranjados do garoto e imediatamente sentiu-se culpado por colocar as palavras certas na ordem errada.

O deus estava querendo consultar Tenjin nos últimos dias, querendo saber se havia um segundo jeito de curar as picadas. Ainda naquela tarde, ele dera um jeito de escapar da casa da Kofuku e dar um pulinho lá no templo do deus dos estudantes. Ele lhe dissera que sim, havia um segundo jeito de curá-lo, mas que dependia do deus e da regalia. Basicamente, de acordo com a regalia, o quão diferente fosse o seu mais suprimido desejo, cabia ao seu deus realizá-lo dentro do possível para esse deus. Era uma tarefa muitas vezes mais lenta, e por causa disso, esquecida pelos deuses menores, além de ser bem mais manual. Mas era mais eficaz e definitivamente menos dolorosa do que o processo pelo qual Yukine tivera sido obrigado a passar.

Era o que Yato tentaria.

E ele tinha plena certeza de que não seria nada fácil.

— Veja bem... – Ele começou, o que levou um sopro de desânimo para Yuki. – Aquele processo pelo qual você passou é o mais conhecido.

— "O mais"? – Yuki interrompeu, intrigado. – Quer dizer que existem outros? Piores?

— Até onde eu saiba, só há mais um. – Yato explicou calmamente. – Mas só vai ser pior ou melhor dependendo de você.

— C-como assim...?

— Yukine... – Yato suspirou audivelmente, olhando direto nos olhos dele – O que exatamente você sente dessa vez? – Ele perguntou, querendo juntar informações suficientes para saber se a atitude a ser tomada era realmente o que ele pensava que ele tinha que fazer.

Yuki passou longos segundos encarando o deus, em seguida engolindo em seco e desviando o olhar. Tinha que contar a verdade, era para o seu próprio bem.

— Ciúmes. – Ele disse simplesmente.

Pronto. Era o que Yato temia. Podia ser uma coisa fácil para o deus, mas considerando a sua regalia...

— De quem?

— Eu não sei, tá legal? – Yukine bufou, virando o rosto contra o olhar penetrante de Yato. – Eu só... Tenho ciúmes quando você e a Hiyori estão juntos...

Yato suspirou pesadamente, voltando a encarar a paisagem à sua frente. Ele não via como conseguiria um pretexto para dizer e fazer tudo o que devia, então, relutantemente, decidiu ser mais direto.

— Yuki – ele começou, ainda sem encarar o loiro – , sabe do que são frutos as picadas?

— Não sei. – Yukine respondeu, o rosto ainda virado. Yato não pôde ver, mas, pelo som das palavras, o garoto estava fazendo bico.

— Elas são originadas de um sentimento ruim da regalia perante seu deus.

— E...?

— E, que se você tem um sentimento ruim que me causa essa ferida, há uma cura para ela que exija um sentimento bom.

Yukine virou o rosto para frente, encarando-o de soslaio, a mão apoiando o queixo.

— Como assim?

Yato ficou parado por uns bons segundos, analisando a situação, planejando sua investida.

— Yuki, o que você sente me fere. Mas se você for capaz de sentir o oposto, de esquecer essa inimizade, além de não mais me ferir, pode me curar. E você não teria que passar por aquele ritual de novo.

— Tá. E o que você quer que eu faça? – O loiro voltou o olhar para frente, visivelmente incomodado. Parecia entender o rumo que eles estavam tomando.

— Quero que você goste de mim.

Antes que Yato pudesse pensar em mais qualquer coisa, Yukine se levantou de brusco, apressando o passo na subida dos degraus.

— Ei! – O deus se levantou ao encalço do garoto, alcançando-o e segurando seu pulso – Yukine!

O loiro manteve-se parado na mesma posição, sem virar-se, sem encará-lo. Apenas baixou a cabeça, os cabelos cobrindo-lhe o que poderia ser visto do seu rosto. Mesmo assim, Yato pôde ver ao menos sua orelha, que começava a ficar avermelhada.

— Eu já gosto de você! – Ele disse quase como num lamento, a voz saindo trêmula. – Só... Eu... Você é meu amigo, isso serve?

Yato sentiu o outro tentar puxar o pulso para fora do aperto de sua mão relutantemente.

Era complicado de acreditar, mas, agora que suas conclusões precipitadas estavam se reorganizando... Será que a sua percepção estava errada? Teria ele julgado um livro pela capa?

Ele sentiu o ressentimento do garoto fumegar em si próprio, em sua nuca.

— Yukine, por favor, pare com isso... – Ele franziu o cenho, calculando que seu método pudesse surtir melhor efeito agora que ele presumia ser o alvo de outros sentimentos.

Yuki soltou um longo suspiro, baixando os ombros, um pouco mais relaxado.

— Você quer que eu tenha um sentimento bom, né? – O loirinho praticamente sussurrou de tão baixa que sua voz soou. – Eu tenho o que não posso ter e não gosto de ter.

— Yukine, não é assim que funciona...

— Ah, não? – Ele o interrompeu, puxando seu pulso com força e livrando-o – E como funciona, então?

Yuki se virou para ele, agora o encarando. A expressão dele que Yato viu doeu em si. E, dessa vez, não fora na nuca. O loiro fitava-o, o cenho franzido bem como a boca, os olhos arregalados. Parecia prestes a chorar, se não fosse por algumas lágrimas que já se apressavam em rolar por suas bochechas avermelhadas.

— Yuki... – Ele fez menção de levar uma mão ao seu rosto, mas parou na metade do caminho quando sentiu as emoções do garoto fluírem para si. – Eu...

Ficaram ambos se encarando por um tempo, sem palavras trocadas, pois não era necessário.

Yato estava tentado a corresponder. Qualquer que fosse o modo de cura, talvez até para ambos, ele poderia fazer de tudo para torná-lo possível. Mas hesitou. Hesitou em conseguir melhorar as coisas, em tornar seus dias menos conturbados. Mas principalmente hesitou, pois tinha medo das consequências. Tudo que ele havia planejado fora em vão, aquilo que ele usaria como escape agora tinha uma função além de um trunfo.

O deus engoliu em seco. Deixou que seus instintos julgassem necessária a ordem dos acontecimentos.

— Yato...?

À sua vista, Yukine mais parecia ansioso do que pensativo em relação à próxima ação do maior.

Yato levou a mão suspensa até o ombro do garoto, fazendo uma pressão que o impedisse de se afastar.

— Yukine, você sabe que tipo de deus eu sou?

— Hã... Um deus da calamidade? – Ele respondeu com uma pergunta receosa, visivelmente confuso com a súbita mudança de atmosfera.

— Exato. – Yato continuou, sem desviar o olhar dos orbes alaranjados. – E, por ser um deus da calamidade, eu posso fazer coisas profanas.

— V-você quer dizer... tipo, matar? – Yukine devia ter entendido o tipo de coisa profana que Yato se referira e parecia querer acreditar relutantemente na possibilidade.

— Também. – Yato parecia estranha e subitamente tranquilo, até para si mesmo. Mas, considerando o que ele planejava fazer, a calma era necessária. – O que mais de profano você imagina?

— Roubar...? – Yuki perguntou timidamente, recebendo um aceno positivo da cabeça do deus.

Yato sabia que teria que provocar todos esses pecados em Yuki, nem que apenas na a imaginação, que era com certeza fértil. Felizmente, ele não sentiu algo mais forte atrás do pescoço após aquela resposta, o que mostrava que Yuki não via injustiça no fato de seu deus poder roubar e ele não.

— E o que mais? – Yato incentivou.

Yukine ficou alguns breves segundos em silêncio, tempo que o deus pôde sentir uma coceira em sua nuca, o que indicava que havia chegado ao ponto certo. Percebeu o garoto corando um pouco.

— A... Adultério...? – Ele baixou um pouco a cabeça sem deixar de encarar o maior.

Yato fez que sim com a cabeça lentamente.

— Entende aonde eu quero chegar? – Ele perguntou devagar, vendo que o garoto parecia menos tenso.

Yukine mordeu o lábio inferior. Cerrou os olhos com um suspiro contido e, ligeiramente mais corado do que antes, murmurou:

— Faça o que tem que fazer.

Yato sentiu durante aquele meio tempo um alívio refrescante em sua nuca. Se não fosse o barulho da fonte do templo ou dos pássaros por ali voando e cantando, dava para ouvir perfeitamente os batimentos cardíacos acelerados do menor. O deus não pôde evitar um sorriso. Ao menos seu plano estava dando certo.

Intimamente, ele sentiu o poder do sentimento de Yuki, garantindo que o garoto realmente sentia o que ele imaginava por si. Uma ideia passou pela sua mente, uma ideia que podia ser considerada travessa e cruel se suas intenções fossem outras, mas certamente ela fizera seu coração bater um pouco mais forte.

Ele segurou seu pulso novamente e puxou o outro consigo, subindo os degraus restantes da escadaria e apertando o passo até o templo, depois ao jardim dos fundos.

Yukine o seguiu, confuso, correndo ao encalço de seu deus.

— Yato...? – Ele balbuciou assim que pararam logo atrás da construção.

Era bem claro que um deus e sua regalia não podiam ser vistos facilmente sem uma concentração devida dos humanos normais. Mesmo assim, Yato quis ir até um local mais reservado do que ali na entrada do templo à vista de qualquer um que passasse. Sabe-se lá quem poderia os estar observando.

Yato empurrou o garoto até encostá-lo na parede de fora dos fundos do templo, encurralando-o entre seus braços sem desviar a atenção de seus orbes cor de âmbar.

— O que...

Antes que a regalia pudesse terminar a sentença, Yato se aproximou ainda mais, tocando suas testas e narizes até que delicadamente em relação à velocidade usada. Pôs uma mão sobre seu peito, como se tentasse inconsciente e relutantemente afastar-se do menor, cujo semblante ainda demonstrava confusão num misto de ansiedade e medo.

— Isto terá sido necessário. – Ele sussurrou, sério, segundos antes de cobrir seus olhos com a outra mão, aproximando cada vez mais seus lábios dos dele conforme sentia a passada dor atrás do pescoço se aliviando cada vez mais.


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Notas finais do capítulo

Eu - AAARG POR QUE O WORD NÃO ENTENDE QUE EU TAVA TENTANDO COPIAR O BAGULHO TODO?!
Rodrigo - O que aconteceu?
Eu - A PESSOA PASSA QUASE UMA HORA TENTANDO COPIAR ESSE TEXTO FILUDAPULTA E CHEGA NA METADE ELE TRAVAVA, VSF.
Lilica - Devia ser por que tava muito grande...
Eu - Grande nada, que quando eu fiz essa budega no celular tinha dado mais de 4000 palavras aí brota com 3000 e bolinha no pc, pqp.
Rodrigo - Tá bom, vx, calma.
Lilica - Estressou, é?
Eu - ESTRESSEI, CARAMBA, ME DEIXA
Rodrigo - Ok, ok, não fique estressadinha, calma amor não se exponha.
Lilica - Acho que isso só piora as coisas, onii-chan...
Rodrigo - AFFF ATÉ TU?
Eu - Hu3 Não esqueçam de comentar!



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