Mas sou apenas humana/E eu sangro quando caio/Sou apenas humana/E eu me arrebento e me desmonto

Capítulo 1

Segurando a xícara quente de chá firmemente em minhas mãos, ouço passos anunciando a chegada de mais alguém no quarto. Quem olhasse para mim agora não conseguiria ver a pequena de cabelos rebeldes dos tempos de Hogwarts,sei que agora é a hora daquela conversa,meu amigo senta-se ao meu lado apenas esperando o momento certo,acho que nunca conseguiria iniciar aquela história.

–Foi depois dele. -eu inicio,falar seu nome ainda cutuca uma ferida não cicatrizada,purulenta e necrosada- Depois da morte dele eu achei que não aguentaria,não tinha ninguém para me apoiar como a Gina ou uma família como os Wesley’s.Eu precisava tentar respirar,ou tentar viver novamente,mas me afundei Harry eu não tinha mais razão para ficar aqui.Conheci o lado mais obscuro que pode existir,me entreguei a tristeza e em vez de me montar eu estava me estilhaçando mais ainda.Eu não aguentei...fui fraca...

Minha frustração foi impressa em formas de lágrimas que desciam rapidamente por meu rosto, minhas mão torciam nervosamente a ponta do edredom e meus olhos olhavam para todos os lados menos para a imensidão verde que era o menino-que-sobreviveu. Não queria ver a mágoa ali contida que eu deixei ao partir e sumir da sua vida éramos irmãos de alma e eu o abandonei. Suas mãos envolveram meu rosto e fizeram-me olhar para ele,vi apenas compaixão e não raiva ou pena. Seus braços me envolveram me embalando com se faz com uma criança que precisa de colo, sussurrando que tudo estava bem, que ele estava ali. Não estava mais sozinha.

Na manhã seguinte os bolsões em meus olhos eram evidentes, não conseguia dormir bem há tempos. Minhas poções acabaram durante a viajem,precisava repô-las.Um emprego não cairia mal,era evidente que o casal Potter estava tentando construir uma vida,não poderia atrapalhar esse plano.Desci para o café ouvindo as risadas da Gina,senti falta disso,um pequeno levantar de lábios desponta em meu rosto.Chegando a mesa sussurro um bom dia e sento-me a mesa,minha amiga estuda-me silenciosamente como só Molly Wesley fazia,como se estivesse lendo a sua alma e não gostando nada do texto.Na época de escola era só olhar para ela que você era desmontado,achei que nunca seria fácil de ler. Estava enganada.

Depois do café ela olha sugestivamente para mim e a sigo em direção à sala amplamente adornada e organizada da antiga casa dos Black. –Fez um bom trabalho-eu ressalto. Ela vira-se vagarosamente olhando- me firmemente.

–Eu sei que ainda não está pronta pra falar comigo sobre ele, sei que confia em mim e quero que saiba que estou esperando, igual há cinco anos. Quero minha amiga de volta Hermione e vou lutar pra que o espírito dela volte.Vamos recomeçar juntas está bem? – Eu aceno afirmativamente e a puxo para um abraço.

–Sim Ruiva. Juntas.

–O que pretende fazer primeiro?

–Pretendo procurar um emprego na minha área, sou uma mestre de poções agora. Ainda não estou pronta para lecionar em Hogwarts como sempre sonhei,então vou oferecer meus serviços no St.Mungos.Uma boa forma de começar,eu presumo.Sei que você e o Harry estão tentando ter uma família,não quero atrapalhar,tão logo conseguir um emprego vou arrumar um apartamento,no beco diagonal talvez,passei muito tempo longe da magia.Quero me ver cercada de bruxos outra vez.

–Então você pode acabar encontrando o tapado do George, ele mora por lá. Ele está muito melhor agora, a loja é maravilhosa Hermione, ele está mais feliz. Não digo que ele esqueceu o Fred, mas conseguiu superar toda aquela tristeza e culpa. -diz a ruiva num suspiro aliviado. O que me faz pensar que eu não fui a única a sofrer e a perder na guerra.

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O St. Mungos continua do mesma forma,as paredes brancas e quase claustrofóbicas cercavam-me por todos o lados.Crianças com a língua inchada por um artigo da Gemialidades, adultos parecendo um arco-íris por causa de feitiços mal realizados. No meio de toda aquela confusão um par de olhos acinzentados chamou minha atenção. Era impossível. Caminhando a minha frente um homem de pele branca e cabelos platinados, conversava animadamente com uma menininha adoentada, passava as mãos em seus cabelos carinhosamente acalentando o choro da pequena. Como se percebendo que era observado ele vira-se e olha em minha direção, Draco Malfoy. Uma cópia malfeita do pai na fase adulta só que vestido completamente de branco e com um sorriso que eu pensava nunca existir brilhando nos lábios. Um ex-comensal transmutado em medibruxo.

–----------------------------------------/---------------------------------------/-------------------------------------------Depois do choque inicial caminhei a passos largos até a direção do hospital e agora me encontrava sentada no gabinete do diretor,um senhor negro com feições aristocráticas mas que ostentava em seu rosto um brilho jovial e um olhar quase infantil.

–Bem senhorita Granger não é todo dia que um mestre em poções altamente qualificado bate em meu escritório. Estaria sendo leviano em não aceita-lá em minha equipe-diz o Sr.Thompson sorridente-Parabéns senhorita, bem vinda a nossa família.

–Obrigado pela oportunidade senhor, prometo não desponta-lo.

Depois de assinado o contrato no departamento de pessoal caminho a passos rápidos em direção à saída, quando esbarro acidentalmente num medibruxo derrubando toda a papelada que ele carregava. Murmuro um pedido de desculpas apanhando toda a bagunça que fiz, quando olho para cima um par de olhos azuis-acinzentados me olham com curiosidade e reconhecimento. Draco Malfoy está bem a minha frente.

–Granger... -diz ele ainda mais surpreso que eu.Não é para tanto, a cinco anos estávamos tentando nos matar numa maldita guerra.

Saio correndo em disparada para a saída sem olhar para trás sentindo o cheiro de morte e ouvindo gritos de agonia. E o corpo dele estirado no chão sangrando lentamente e a vida esvaindo de seu corpo.Meu amigo.Meu amor. O corpo de Ronald Wesley.