Na sexta-feira meu pai deixou que eu ficasse em casa, na noite anterior ele quis ir ao mercado depois de comermos no restaurante, deixou meu irmão em uma estação de trem para ele ir para casa antes. No carro minha mãe pediu para que eu ficasse enquanto meu pai fazia as compras, e assim eu fiz.

— Escuta Pietro... – ela respirou fundo antes de continuar – Não gosto dessa ideia de você ser gay, mas não tenho como te privar de nada, também já fiz coisas erradas nessa vida.

— Mãe, isso não é errado!

— Para mim é. Mas você não precisa se preocupar com isso, estou indo passar um tempo longe com sua tia.

Ela finalmente se virou para mim e olhou nos meus olhos, o silêncio do carro se tornando mais presente que nós dois.

— Por minha causa? – consegui perguntar em um fio.

— Não, por minha causa. Eu trai seu pai, o psicólogo deve ter te falado, ele me perdoou mas eu não, já conversei com seu pai e concordamos que talvez seja melhor nos mantermos distantes por um tempo, só pra entender o que a gente quer, eu e ele.

— Mas...

— Eu estou indo esse fim de semana, eu ia te contar essa semana mas você se assumiu então...

— Eu não me assumi, fui descoberto.

— Ainda bem, se não você nunca teria contado, te conheço sei quão reservado você é. Eu espero que você encontre felicidade vivendo dessa forma, mas não consigo aceitar, desculpa. Espero que isso não abale nossa relação.

— Mãe... – estava pronto pra dizer um “eu te amo” quando ela me interrompeu.

— Não diga. Acho que não sou capaz de retribuir no momento, tá sendo muito difícil olhar pra você agora, Miguel.

Antes que ela pudesse começar a chorar abriu a porta do carro e saiu em disparada pelo estacionamento. Fiquei um tempo ali refletindo até ser interrompido pelo som do meu celular, olhando na tela tinha uma mensagem do Lucas “Vem a minha casa amanhã às 14h, tenho uma coisa pra você”. Fiquei muito curioso mas não consegui focar muito, eu ainda precisava falar com o Pietro e com a Drica.

Meu pai voltou momentos depois e disse que minha mãe queria ir em casa pegar as coisas dela, ele não parecia triste, na verdade parecia aliviado, disse que iriamos ao cinema para dar tempo dela pegar tudo e foi por isso que pude ficar em casa na sexta, chegamos em casa no meio da madrugada, agora só eu e meu pai, sem minha mãe por tempo indeterminado.

No começo da tarde estava na frente da escola, avistei Drica ao longe e corri até ela pedi para conversamos, ela não parecia muito afim mas me arrastou para dentro da escola e sentou em um dos bancos do pátio comigo, disse que não queria voltar a ser minha amiga, que não conseguia me ver sem ficar triste, e que era melhor aceitarmos que agora era uma nova fase para nos dois e que agora não estaríamos mais presentes um na vida do outro.

Saindo dali depois de chorar bastante sozinho fui para a casa do Lucas, toquei a campainha e ele desceu, me cumprimentou com um abraço e falou para subir até seu quarto que eu já ia e assim fiz, ao abrir a porta do quarto meu coração quase saltou pela boca, era Pietro, com o mesmo olhar da festa, não tive nem tempo de pensar antes dele se jogar em cima de mim e me beijar, finalmente um beijo de verdade.