Vingança Nativa escrita por Lyn


Capítulo 1
Capítulo 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/56885/chapter/1

Pele castanha, face pintada. Dentes como navalhas afiadas, arco e flecha às costas. A pantera em forma de índia, montava uma onça pintada e levava na tez uma expressão furiosa, animalesca. Os longuíssimos cabelos negros chicoteavam a sua volta, regidos pelo galope da onça, que trotava rápida e decidida. Os pés descalços cutucaram os lados do corpo da fera, forçando-a a correr mais rápido, esticando as patas monstruosamente fortes. Um grito de guerra, tribal e ameaçador, escapou pelos lábios da índia, como um silvo sinistro.

A flecha chegou antes da arqueira. Cravou-se no chão banhado em luto naquela noite sem lua. Os caçadores pararam de escalpelar os animais mortos e olharam entre si, fazendo perguntas mudas com os olhos. Um vento forte sacudiu a folhagem das enormes árvores que circundavam a clareira onde ficava aquele acampamento. O som de patas pesadas de encontro ao solo se fazia ouvir, mais e mais perto. O homem que seguravam um lobo guará já sem a pele, levantou-se de cenho franzido e soltou, com descaso, o corpo do animal morto. Puxando sua arma de fogo e mirando na direção daquele barulho, foi caminhando de encontro a coisa que se aproximava do acampamento, vinda das profundezas da mata. Sumiu de vista em meio as folhagens, sem dizer palavra a seus companheiros. Os minutos se passaram e todos esperavam, apurando os ouvidos, o tiro que seu líder daria para acabar com aquele barulho ameaçador de uma fera se aproximando. Contudo, após alguns minutos, tudo o que ouviram foi um grito de dor e um rosnado animalesco. Os caçadores se ergueram de imediato. Deixando seus afazeres de lado, sacaram suas armas.

A figura entrou na clareira com um trotar elegante e felino. Era uma monstruosa onça pintada, grande demais para os padrões naturais. Suas patas pareciam grossas toras de madeira e seu corpo era maior que um carro. Na boca levava o corpo ainda vivo do líder dos caçadores e a suas costas, com uma feição muito digna para alguém que tinha dentes afiados como navalhas e andava nua, uma índia estava seguramente sentada. Ela escorregou pelo lado de sua montaria, arco e flecha a postos. Antes que os homens pudessem pensar em reagir, a estranha figura já tinha atirado quatro flechas certeiras que atingiram suas mãos com uma precisão sobrenatural. As armas foram ao chão enquanto a onça sacudia o homem preso entre seus dentes, como um gatinho brincando com um novelo de lã. Em seguida a fera soltou seu brinquedo, saltando a frente e acuando os homens desesperados, que examinavam suas mãos avidamente, urrando de dor, enquanto tropeçavam em seus próprios pés, tentando se manter longe da fera.

Leve e graciosa como uma corsa, a índia se aproximou a passos lentos do corpo caído do líder. Delicadamente se posicionou a seu lado, com o queixo dura e orgulhosamente erguido:

-Selvagens! - sibilou em sua língua nativa, com feição de asco e desprezo.

Os gritos que se seguiram são indescritíveis. Por cada pedaço de pele que a índia escalpelava do corpo do caçador, era como se o mundo estivesse se desfazendo em urros de profunda dor, até o homem perder a consciência. A mulher, com os cabelos negros lhe descendo pelo corpo como um manto aveludado, sua única vestimenta, continuou seu trabalho calmamente, como se escalpelar humanos fosse a coisa mais corriqueira de sua vida. Como se fosse o mesmo que escalpelar animais(Ironia). Depois que a carne dos cinco homens estava exposta, ela jogou na fogueira, em tributo a Tupã, toda a pele que retirara daqueles corpos asquerosos. Os poucos sobreviventes a tortura tiveram seu fim no estomago da onça pintada.

Só então a índia proferiu seu silvo alto, tipico de uma guerreira, surrealmente alto. Este pode ser ouvido por bons quilômetros a dentro da mata e ao longe, muitas pessoas que ansiosamente aguardavam-no ouviram. Com saltos e dança comemoraram como nunca. Os tambores soavam na aldeia e as crianças corriam felizes. A justiça havia sido feita. Caipora mais uma vez vingara o sangue derramado na Amazônia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Vingança Nativa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.