Capítulo 6: Eu tenho medo de você.

Maki não se lembrava do que tinha acontecido quando Nico entrara no estado de Ura, havia perdido a consciência, mas ao julgar pelo estado que Nozomi e Eli se encontravam, a luta havia sido dura. Olhou para os lados, reconheceu o lugar como a ala médica de seu castelo.

– Maki! – Observou em câmera lenta sua mãe se aproximar correndo. Tinha alguma coisa errada. Levou as mãos as têmporas quando uma pontada atravessou sua cabeça.

Um grito agudo ressoou no recinto. Maki olhou para os lados não vendo a autora dele. Yazawa Nico, sua mãe tinha um olhar triste e preocupada.

– Depois da luta ela trouxe vocês três de volta ao castelo antes de tornar a entrar no estado de Ura. – A mulher ruiva explicou e Maki assentiu. O que estaria acontecendo com Nico agora para ela estar gritando tão desesperadamente assim?

– Eli e Nozomi? – Perguntou olhando para as duas garotas demônios.

– Vão ficar bem. Umi chan disse que quando são feridas gravemente seus corpos tendem a cair em um sono profundo para se regenerar. – Explicou. – Elas chegaram em um estado lastimável aqui. Alguns de seus órgãos estavam para fora, Kotori chan os colocou para dentro e depois costurou seus ferimentos. – Aquela informação fez Maki enjoar. Levou a mão à boca.

– Kotori realmente é incrível... – Maki murmurou antes de mais um grito soar pela sala, dessa vez mais medonho que o outro. – Há quanto tempo estamos aqui? – Perguntou curiosa.

– Dois dias completos. – Maki não podia acreditar que havia dormido durante dois dias completos, parecia irreal.

– Com licença. – Hanayo pediu envergonhada. – Apenas vim checar elas. – Anunciou se aproximando de Eri e Nozomi. – Por favor Hime sam vire, não é uma cena que você iria gostar de ver. – Maki não duvidava da outra, mas mesmo assim não se moveu.

Hanayo ficou nervosa sem saber o que fazer. Foi quando mais um grito ressoou naquele quarto, a garota encolheu seus ombros, era horrível ter que ouvir uma companheira de anos gritar de tal forma.

– O que elas estão fazendo com a Nico? – A pergunta de Maki saiu seca. Hanayo se encolheu mais ainda por conta disso.

– Umi chan está tentando fazer a Nico chan voltar a si, mas parece... – Foi interrompida por outro grito de Nico. – Que não está dando muito certo. – Terminou sua sentença. – Umi chan quer saber o que pode ter deixado a Nico chan tão desesperada assim. – Um estalo ocorreu na cabeça de Maki.

– Eli disse que a Nico matou seu próprio pai. – Disse rapidamente se lembrando do que acontecera momentos antes do ataque de fúria de Nico. Hanayo franziu o cenho e levou uma das mãos ao peito, agarrando o tecido de sua roupa.

– Eu vou avisar a Umi chan! – E sem pedir licença a garota saiu correndo da sala.

Hanayo correu pelos corredores do castelo. A sala onde Nico estava era a quase trezentos metros da sala da enfermaria. Abriu a porta sem nem bater. Umi, Rin e Honoka estavam ali. A arqueira mirando suas fechas em Nico, enquanto Rin estava pronta para jogar suas facas. Honoka estava tentando invadir a mente da outra com sua telepatia.

– Rin! – Umi gritou vendo que a morena atacaria a garota de cabelos curto. Três flechas foram disparadas de uma vez só atravessando a carne de Nico que abriu suas asas. Foi a deixa da garota com manias de gato jogar suas facas e prender aquela parte mais sensível do corpo de Nico na parede enquanto Honoka atacava mentalmente fazendo Nico gritar.

– Umi chan, é terrível. – Umi olhou com o canto dos olhos mesmo que não pudesse ver Hanayo. – Maki Hime disse me o que aconteceu. – Hanayo tentava recuperar seu folego. E por algum motivo ao ouvir o nome de Maki, Nico parou de se debater.

– Rin tome conta para que a Nico não saia do controle. – Umi ordenou e se retirou da sala arrastando Hanayo.

– Maki chan... – Nico murmurou sentindo seus olhos marejarem, não pela dor de cabeça, ou a dor de suas feridas, havia falhado com sua promessa de protegê-la. Havia quase matado Nozomi e Eli. O que era pior havia submetido o corpo de Maki a um stress tão grande que ela havia desmaiado.

Um gritou saiu de sua garganta. Um grito de dor, ódio. Ódio de si mesma por ser fraca. Foi a brecha para Honoka. Sentiu algo lhe golpear no fundo da mente. Em seguida uma dor nauseantes tomar todo seu ser. Nico caiu sobre os joelhos, as facas de Rin rasgando suas asas que sangraram de imediato. Apoiou seu tronco usando os braços.

Honoka e Rin tinha um olhar culpado e preocupado no rosto. Observaram a sala toda, ela estava toda manchada de sangue. A culpa dominava grande parte de suas consciências, mas aquilo se fizera necessário.

Observaram quando as forças de Nico se esgotaram. A garota caiu voltando a forma humana, as flechas que outrora Umi havia disparado atravessando o corpo da morena e os ferimentos das asas surgindo em lugares do corpo de Nico que não haviam nenhuma ferida.

Rin e Honoka ainda ficaram um tempo sem se mover. Observaram a respiração de Nico tornar se cada vez mais lenta. Era o sinal que a morena apenas tinha uma fina linha a separando da morte.

Honoka foi a primeira a se mover e erguer o corpo de Nico. Rin foi rápida. Agarrou o que podia de uma das flechas puxando para fora de Nico. Assim todos os treze projéteis haviam sido retirados. Nico estava completamente inconsciente a ponto de não sentir dor alguma.

Foi com surpresa que Umi e Hanayo viram Honoka e Rin passarem correndo carregando uma Nico quase morta em seus braços. Ambas corriam para a enfermaria, teriam sorte se Kotori estivesse por lá para ajudar.

Maki deu um pulo sentada ao ver Rin e Honoka entrarem com Nico, observou Kotori que estava checando Eli e Nozomi correr em direção da garota morena.

– O que vocês fizeram com ela? – Kotori gritou espantada.

– Ela não parava com o estado de Ura então Umi chan disse que poderíamos usar nossas armas para contê-la. – Honoka foi quem respondeu.

– Umi chan ficou louca? Quanta irresponsabilidade da parte dela. – Kotori começou a correr pela enfermaria atrás de medicamentos. – E se a Nico chan não resistir e morrer... Ela pode ser quase pura, mas mesmo assim é perigoso... – Kotori começou a falar tão rápido quanto corria deixando Rin e Honoka tontas.

Maki assistia a cena sem entender muita coisa, alias não era suposta estar fugindo de um príncipe louco a essa altura do campeonato? Olhou para Nico. Sentiu uma onda de medo percorrer todo o seu corpo, quando era suposto se sentir segura na presença da demônio, aquilo estava errado.

– Maki Hime. – A princesa olhou para o lado vendo Honoka sorrindo para si. – Não se preocupe, a Nico chan vai ficar bem. – Garantiu, mas o medo nos olhos de Maki não era por Nico poder morrer, e Umi que agora estava na porta havia notado isso.

– O que aconteceu com a Nico? – Umi perguntou indo em direção da cama da morena.

– O que aconteceu? Umi chan! – Kotori estava visivelmente irritada.

– Mas quando ela acordar vai estar sob controle? – Rin perguntou preocupada.

– As ondas de energia do estado de Ura já são inexistentes, e devido aos danos duvido que ela possa se levantar assim que recobrar a consciência. – Kotori respondeu olhando seriamente para Nico. – Posso dizer que Nico chan pode ficar mais tempo de cama que a Nozomi chan e a Eli chan. – A garota de olhos âmbar suspirou.

– Você disse que Eli e Nozomi ficariam por pelo menos alguns meses dormindo... – Umi apontou e Kotori abaixou a cabeça franzindo o cenho.

– O tratamento da Nico chan é mais complicado, e eu ainda tenho medo de usar as drogas que fizeram para nós nela... Da ultima vez... – Kotori não precisava terminar de falar, todas sabiam exatamente o que havia acontecido.

– Foram tempo difíceis... – Honoka ditou olhando para baixo.

– O que aconteceu? – Maki perguntou interessada. Queria saber, mesmo que temesse a morena de olhos vermelhos.

– Nico chan é um demônio completo o que faz as drogas feitas para nós do tipo terrestre serem extremamente fortes para ela, o que resultou em alucinações e sangramento interno. – Honoka explicou o que sabia.

– Nico chegou a se jogar no mar, pois viu o reflexo de sua família na agua se afogando, mas acabou se afogando por conta disso, desde então Kotori tem estudado para poder fazer remédio apenas para a Nico. – Umi terminou de explicar.

A mente de Maki agora estava embaralhada. Nico era um demônio por completo, filha de pais demônios que foi introduzida naquela guerra por não saber direito sua origem matando tanto dos seus. Isso não mudava o fato de que Nico podia ser medonha. Olhou para suas mãos, estava realmente com medo.

Observou Kotori correr de um lado para o outro. Hanayo logo se juntava a ela na tarefa de cuidar de Nico, Maki respirou fundo e reunindo toda a força que tinha se levantou da cama. Rin e Honoka observaram a ruiva com atenção e preocupação, Maki não estava em condições de se erguer.

Sem dizer nada e cabeça dura como era Maki, sem aceitar a ajuda de ninguém saiu da sala, ainda sob o olhar preocupado das pessoas ali. O que estava passando na cabeça de Nishikino Maki no final das contas.

A princesa andou pelos corredores de pedra com passos lentos e penosos. Sentia todo seu corpo doer. Usava a parede ao seu lado como apoio para não cair. Respirou fundo e continuou a andar, teria que ficar longe de Nico, pelo menos para se sentir segura e conseguir organizar seus pensamentos.

Ouvia as serviçais comentando pelos cantos, algumas até tentavam lhe ajudar, mas não precisava delas, na verdade não queria depender de ninguém, afinal sabia que nem machucada ela estava, Nico não ferira fisicamente.

Chegou ao seu quarto longos minutos depois. Fechou as portas com cuidado para então se jogar em sua cama. Tinha medo do que estava sentindo, encolheu os joelhos para abraça-los ficando na posição de feto.

No dia seguinte a grande surpresa de Maki. Ali na frente dela no salão do trono estava a princesa do reino do lago vermelho, juntos dela sua cavaleira e mais uma princesa, a outra princesa tinha cabelos ruivos e olhos violetas.

– Maki, você irá se casar com a princesa Yuuki Anju. – Seu pai afirmou sem nem mesmo perguntar.

– O que? Como assim? – A princesa perguntou assustada.

–É simples, nós sabemos que as Muses estão aqui e que vocês tem mantido elas por muitos anos, se não quiser que denunciemos vocês e que seu reino seja destruído você terá que se casar. – A guarda explicou.

– Vocês não fariam isso, elas são demônios, poderiam muito bem acabar com vocês. – A princesa do Vale das Flores de Cerejeira ameaçou.

– Sim, mas não impediriam que seu povo seja destruído, princesa Maki. – A princesa ruiva do outro reino rebateu com um sorrisinho no rosto.

– E por que vocês fariam isso? – Maki perguntou receosa.

– Isso não é uma coisa que você tenha que ficar sabendo, a única coisa que importa para você é que se não aceitar seu reino será dizimado. – a princesa de cabelos curtos disse sorrindo. – E antes de mais nada, me chamo Kira Tsubasa, e essa é minha irmã postiça Yuuki Anju, e nossa cavaleira Toudou Erena. – Apresentou se ainda sorrindo.

– Como já resolvemos as coisas aqui, vamos indo, Tsubasa. – Anju propôs calmamente.

– Como assim já resolvemos? Eu ainda não dei a minha resposta. – Maki esbravejou.

– Achei que você não tivesse outra opção além do “aceito” – Anju respondeu, e de fato Maki se via de mãos atadas. – Viu só? Vamos ter uma boa e feliz vida juntas, Maki chan. – E aquela forma de chamar irritou Maki.

– Não me chame de Maki chan. – A ruiva ralhou para si mesma.

– Eli chan! – Honoka exclamou ao ver a loira se sentar na cama. A garota olhou para os lados, viu Nico e Nozomi, franziu o cenho. O que teria acontecido?

– O que aconteceu? – Eli perguntou confusa.

– Há alguns dias atrás, Nico chan apareceu no castelo carregando a Maki Hime sama, a Nozomi e você. – Umi respondeu.

– Muitas coisas aconteceram, como termos de jogar nosso projeteis sagrados para acalmar a Nico chan que estava no estado de Ura nyan. – Rin continuou a explicação era visível que a garota de cabelos curtos estava desanimada.

– O que aconteceu para a Nico chan sair do controle daquele jeito? – Kotori perguntou.

– Ela ouviu sobre a família dela... – Eli disse se sentindo culpada. – Foi demais para ela segurar e acabou dessa forma. – Explicou.

– Nico chan... – Honoka murmurou olhando para a morena que ainda estava inconsciente.

– Mas mesmo assim, acho que a Nico foi longe demais, ferindo você e a Nozomi dessa forma. – Umi declarou abraçando seu próprio corpo com uma única mão.

– Ela certamente deve ter entrado em estado de choque ao descobrir que todos mentiram para ela e que na verdade ela era um demônio de verdade. – Kotori tentou justificar a garota de olhos vermelhos.

– Mesmo assim Kotori! Atacar e ferir seus próprios amigos... – A arqueira rebateu.

– Mas eu sinto que entendo um pouco a Nico chan. – Hanayo começou. – Eu também ficaria louca se soubesse que todo mundo escondeu algo assim de mim por tanto tempo.

– Eu entendo o que vocês querem chegar, mas mesmo assim. – Umi insistiu.

– Umi, não podemos colocar toda a culpa na Nico. – Eri resolveu defender a morena. – Ela tem passado por coisas difíceis nos últimos tempos, e talvez essa tenha sido a gota d’agua para ela. – Umi suspirou, talvez estivesse sendo rígida demais com Nico.

– De qualquer forma, fico feliz que estejam bem. – Umi sorriu, pelo canto dos olhos viu Nozomi lhe observando.

– Nicocchi vai acordar quando? Nós temos que conversar seriamente com ela. – Nozomi perguntou e Kotori sorriu amarelo.

– Creio que essa conversa vai demorar um tempo, Nico chan não tem reagido aos remédios que tenho feito, então... – Kotori estava visivelmente sem graça

– Vamos esperar que ela acorde. – Eli disse com um fraco sorriso. – Nico... – Murmurou vendo o rosto da morena.