O Metamorfo escrita por Gaia


Capítulo 3
Um Lugar Em Comum


Notas iniciais do capítulo

Oooi, desculpa a minha demora pra postar, mesmoooo. Eu realmente preciso a aprender a administrar melhor o meu tempo, hahah. Enfim, ta ai mais um capitulo, espero que gostem.



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- Espera. – disse Jennifer. – Então você está me dizendo que tem seres de filme de terror vagando por ai?
 
- “Seres de filme de terror?” - Phillipe revirou os olhos. – Sim, é isso que eu estou dizendo.        

Após alguns segundos Jennifer simplesmente jogou a cabeça para trás e riu.
 
- Sabe, isso é engraçado. Eu fico imaginando um fantasma escondido em uma caixa, com medo dos humanos. – falou entre as risadas.
 
Phillipe sabia que ela estava disfarçando seus verdadeiros sentimentos, como sempre faz. Sabia que ela estava angustiada e ansiosa, apenas tentando oprimir o medo.
 
- Jen… Os mais fortes dos Lendários não tem medo dos humanos, poderiam eliminá-los em segundos, mas não querem guerra. E não existem fantasmas, são espectros e são bem diferente do que você acha que é. – explicou o velho tentando acalmá-la.

- Ah, ok. Não são homens com barbatanas, são sereianos. Entendi vô. – riu a garota com o nervosismo evidente em sua face.

Phillipe suspirou e a olhou esperando alguma reação diferente.

Passou-se horas ou minutos, o tempo em que Jennifer ficou fazendo piadinhas para descontrair já era desconhecido. O avô apenas a ouvia pacientemente, esperando que aquele momento passasse.
 
De repente, a garota olhou fixamente para o chão, ficou quieta, e quando finalmente não conseguiu mais disfarçar sua ansiedade em perguntar o que realmente estava ali para saber, respirou fundo e falou:
 
- O que isso tudo tem a ver com aquilo que você me falou hoje de manhã? Sobre os meus pais e…

 
Ouvindo suas próprias palavras, Jennifer finalmente deixou-se levar pelos sentimentos que estava tentando acorrentar e assim, vieram as lágrimas de medo que pesavam dentro dela a tanto tempo.
 
As memórias da morte de seus pais e de todos os anos que passou cuidando do seu avô vieram a tona. Notou que depois que seus pais se foram, ficou sozinha, perdida no mundo. Não tinha mais ninguém que ela tinha a certeza que estaria ali quando precisasse.
 
Pensou na escola, em todas as pessoas que a julgavam por não ter pais e em todas aquelas que a olhavam torto, cochicando maldades. Depois, seu pensamento foi para William. Finalmente, Jen percebeu que não tinha como agradecê-lo por toda a ajuda que ele deu em todos esses anos.
           
- Jenny, não chore. – uma voz vindo de trás interrompeu seus pensamentos

           
A garota virou-se com a face molhada e encontrou o garoto loiro e incrivelmente bonito com um sorriso no rosto que agora se tornara tão presente em sua vida.
           
- Jude… - ela sussurrou se aproximando lentamente dele. Estava engolindo os soluços e piscando várias vezes para disfarçar o choro. – É Jen. E… Quem… O que é você?

           
- Eu sou o Jude e nunca sairei do seu lado. – o garoto abriu um sorriso amplo que encantou Jennifer apesar de tudo. – É só isso que você precisa saber.
           
- E se eu não quiser você ao meu lado? – Jennifer falou provocando-o, tentando esquecer da raiz da questão por um momento.
           
Jude se aproximou e sussurrou em seu ouvido:
           
- Vou ter que arriscar.
           
Jennifer ignorou o fato de ter arrepiado com o aproximar dele. Deu um meio sorriso envergonhando e virou-se para falar com o avô novamente.
           
- Jen, acho que você deveria dar uma saída, já ouviu demais por hoje. – Phillipe concluiu observando os olhos marejados da neta.
           
- Não! Eu quero saber tudo, de verdade, estou bem! – exaltou-se Jen enxugando rapidamente as lágrimas que ainda sobravam em suas bochechas.
           
- Amanhã. – Phillipe disse em um tom no qual Jennifer nunca ousaria desafiar. Era a primeira vez que ele estava se comportando com seu avô de verdade e ela estranhava de tal forma que não queria questionar.
           
Ele levantou-se da poltrona e subiu as escadas lentamente, deixando Jennifer perplexa no andar de baixo, se perguntando porque o avô não quis continuar a conversa tão de repente.
           
- Deixe ele, está muito cansado com tudo isso, você não faz idéia do que nós estamos passando por você, mocinha. – Jude argumentou sorrindo.
           
- Pois não precisa, posso muito bem me cuidar sozinha. – disse Jennifer, colocando fé nas próprias palavras.
           
O garoto riu e fez um gesto com a mão querendo dizer para ela ficar quieta.
           
- O que? É verdade. – ela o olhou séria. - Quer dizer, não que eu precise de proteção, porque não acontece nada comigo. Minha vida é um tédio.
           
Jude ficou sério. Era a primeira vez que Jennifer o via assim. Não sabia se sentia medo ou insatisfação, de repente, todo aquele brilho que exalava dele, que ela necessitava tanto, apagou-se com seu sorriso.
           
- Jennifer. – era a primeira que ele a chamava assim. – Acredite, você não ia querer se meter com as coisas que estão atrás de você, nunca mais repita que consegue defender-se sozinha. E se sua vida é um tédio, a culpa é minha e se eu não tivesse feito um… E se eu quisesse, eu poderia torná-la um inferno. Mas não torno, então o máximo que você pode fazer é me agradecer e não lamentar.
           
A garota o olhou, não sabia se estava com medo do que ele falara ou dele, por estar tão sério e claramente angustiado.
           
- Desculpa… Eu… Bem… Você tem razão, obrigada. Tipo, por não deixar que minha vida seja um inferno e tal. – ela disse corando.
           
Ele olhou para baixo e colocou a mão na nuca, como sempre fazia quando estava nervoso. Levantou o rosto e deu aquele meio sorriso que ela já conhecia bem.
           
- Não, desculpa eu por falar daquele jeito, acho que estou estressado com tudo isso.
           
- Tudo bem, todos estamos. Se o que eu sei já me estressa, imagino você. – Jen disse sorrindo.
           
Depois daquilo, percebeu que talvez não quisesse saber toda a verdade, não por enquanto. Estava bem sem ela, Jude estava ali para protegê-la de qualquer coisa que estava atrás dela e ela confiava nele para isso. Era estranho como ele conseguira adquirir sua confiança em tão pouco tempo.
 
Jennifer se assustava um pouco com isso, sempre tentava se colocar no lugar e questionar se devia mesmo acreditar e confiar tanto nele. Mas, naquele momento, seus sentimentos a impediam de qualquer ação racional, se seu coração dizia que ele era confiável, então era.
           
- Quer ir até a praia? – Jude perguntou, interrompendo seus pensamentos.
           
- Nossa, parece que nesses dois dias tudo que eu fiz foi ir a praia, não obrigada. – Jen disse com cansaço na voz.
           
- Alguma outra sugestão? – ele disse mexendo nos cabelos distraidamente.
           
- Meus sonhos, que tal? – Jennifer disse rindo, fixando involuntariamente seus olhos nos movimentos dele.
           
- Engraçadinha.
           
- Sempre.
           
Os dois estavam se olhando nos olhos agora, ambos paralisados e confusos com o efeito que aquilo tinha nos dois. Ela, olhando os olhos incrivelmente azuis que sonhou quase a vida toda. E ele, olhando para os olhos cor de mel que conhecia tão bem, os quais também passou muito tempo olhando, mesmo sem Jennifer saber.
           
Uma batida na porta os interrompeu da transe. Rapidamente, Jennifer desviou o olhar, se virou e foi abrir a porta sem hesitar olhar para trás. Ao fazer, se deparou com William.
           
- Oi Will. Entra, quero que conheça uma pessoa. – ela disse. Jen achava que já estava mais do que na hora dos dois se conhecerem, ela devia isso a Will. Deveria ter contado a verdade desde o começo.
           
- É alguma amiga bonita? – ele cochichou no ouvido dela, a fazendo rir.
           
- Quase. Will, esse é o Jude. – ela disse apontando para o menino loiro a sua frente.
           
William parou de rir imediatamente e olhou para o outro com insatisfação no rosto. Mesmo assim, Jude estendeu o braço, afim de apertar a mão dele, mas não obteve sucesso.
           
- Olá. – disse o loiro por fim. – Como vai?
           
- Bem. Ei, Jennifer, posso falar com você? – Will disse agora olhando para ela. – A sós. – completou ao ver que o outro não se mexera.
           
Ela olhou para Jude e viu que ele acenou com a cabeça, como se aprovasse que ela fosse falar com o amigo. Então, pediu licença e foi com o Will para cozinha, onde poderiam conversar sozinhos.
           
- Grosso. Não precisava tratar ele daquele jeito. – ela disse ao chegarem. Olhou para ele e ao perceber que aquelas palavras não tiveram efeito algum, suspirou. – Diga.
           
- Não fui com a cara daquele ali, onde conheceu ele? - o amigo falou rapidamente, com medo de que alguém ouvisse.
           
- Quê? Will… Ele é… Quer dizer… É só um cara que eu conheci por ai. Por quê não foi com a cara dele? – Jennifer falou, surpresa com a pergunta tão direta.
           
- Não sei, é que… Ah, esquece. Se você gosta dele então ele deve ser legal.
           
- Ele é, de uma chance. – a garota disse dando um sorriso confiante.
           
O amigo acenou com a cabeça com um sorriso falso e insistiu:
           
- Mas que tem algo estranho nele tem. Quer dizer, de onde ele surgiu? Eu nunca vi ele por aqui, você já?
 
Jen olhou para ele e pela primeira vez pensou nisso. Era verdade, ela só havia o visto poucas vezes e nunca ousou chegar perto ou conversar porque o achava muito estranho. O chamava de “o garoto dos óculos escuros.”. Agora finalmente sabia o motivo.
           
- Na verdade já. Muitas poucas vezes, mas já vi. -  ela concluiu por fim para o amigo.
           
- Pensa, nós conhecemos todo mundo aqui de Counterville, é uma cidade pequena, é muito estranho ele ser um desconhecido para nós todo esse tempo que moramos aqui. – Will falou um pouco perturbado.
           
Jennifer não estava gostando do rumo que os pensamentos de Will estavam tomando, logo ele perceberia que havia algo errado e tiraria a verdade da amiga.
           
- Ele deve ser novo aqui Will, relaxa. – disse tentando encerrar o assunto. – Vamos lá, ele deve estar impaciente com a espera.
           
Ainda intrigado, o garoto concordou em voltar para a sala, convencido de que retornaria no assunto alguma outra hora.
           
Ambos voltaram e se depararam com um Jude sorridente com um celular nas mãos.
           
- Acabei de receber uma ligação dizendo que fui aceito na Counter High School. Isso quer dizer que vou estudar com você Jenny. – ele disse indiferente.
           
- É Jen. Que legal, você vai gostar de lá e…
           
William desligou-se e parou de ouvir a conversa feliz que os dois estavam tendo, percebeu que sua relação com Jennifer não seria mais a mesma com a entrada de Jude em suas vidas. Seu senso de proteção perante a ela o alertou que deveria ficar mais próximo do que nunca.
           
- Will? – a amiga chamou passando a mão no campo de visão dele. – Você vem?
           
- Quê? – ele perguntou.
           
Jennifer riu e puxou a mão dele porta afora, gritando para o avô que estava saindo.
           
Já no jardim de frente, Jude parou de repente e falou angustiado:
           
- Preciso ir, falo com você depois Jenny. 
           
E saiu correndo. Em uma velocidade e ansiedade que Jennifer nunca vira antes. Involuntariamente, acompanhou com o olhar os passos rápidos dele até sumirem no horizonte. Pensou em gritar seu nome, implorar para que voltasse, mas sabia que de nada adiantaria.
           
- Onde ele foi? – perguntou Will notando instantaneamente uma mudança no clima. Sentiu-se aliviado pela saida do outro.
           
- Não faço a menor ideia. – respondeu a outra, tentando demonstrar indiferença com a saída súbita de Jude. – Vamos, é domingo e amanhã tem aula, temos que aproveitar.
           
“E eu quero esquecer de tudo que descobri hoje.” – completou mentalmente,
           
Os dois começaram a andar, como já faziam a muito tempo juntos.
           
- Onde nós estamos indo Jenny? – o amigo perguntou ao notar o caminho diferente que estavam tomando.
 
- É Jen! – ela suspirou. - Você faz perguntas demais. Só me segue, ok?
           
Foi o que fez, Will apenas a seguiu. Notou que a amiga estava ansiosa, olhando para todos os lados, como se estivesse tentando lembrar o caminho. Olhou em volta e surpreendeu-se com a paisagem.
           
- Jen! O que estamos fazendo no meio da floresta da costa? Quer dizer… Tem animais selvagens aqui! – ele disse aumentando sua atenção.
           
Ouviu a garota rir e desistiu de tentar convencer de que era um lugar perigoso, sabia o quanto ela era teimosa. Apenas se aproximou e tentou ficar mais atento ao redor.
           
Jennifer sabia como ir para lá, tinha certeza, estava tudo na sua cabeça. Então porque não estava reconhecendo o caminho? Por que apesar de caminhar, caminhar, não chegava a lugar algum? Várias vezes chegou a reconhecer um trecho ou outro, mas tirou a conclusão de que era porque já estivera ali e estava andando em círculos.
           
Olhou para o Will e fez uma expressão de derrota. Pensou em esconder a verdade dele, mas isso não levaria a nada, teria de contar mais cedo ou mais tarde mesmo.
           
- Ei… Acho que eu meio que… - ele olhou para ela arregalando os olhos. – Me perdi.
           
William olhou para ela com cara de “eu não acredito.” E ficou um tempo assim até que ela começasse a rir e dizer que era mentira. É óbvio que ela havia percebido que ele estava assustado e tentou se aproveitar, não estavam realmente perdidos.
           
- Jen, Jen, você não vai me assustar dessa vez.
           
Ela olhou para ele e manteve o olhar sério até que ele notasse o que estava tentando falar.
           
- Desculpa… - ela disse em um sussurro. – Mas… A gente encontra o caminho de volta, relaxa. Nenhum animal selvagem vai nos comer.
           
Sua fala pareceu ter o efeito contrário do que esperava. Viu o amigo arregalar o olhos e andar em círculos, ansioso.
           
- Jennifer, o único lugar da cidade que nós nunca nos atrevemos a ir é a porcaria da floresta da costa. Por quê raios você nos trouxe aqui?!
  
- Você acabou de dizer “Por quê raios.” – ela riu, mudando de assunto, como sempre fazia quando estava nervosa.
           
- O que? Eu… Jen… Nos leve de volta. – William disse sério com as mãos no ombro da garota trêmula. – Eu confio em você, se concentra, você consegue achar o caminho.
           
- Me assusta essa confiança que você tem em mim. – ela o olhou sorrindo. Estava calma, afinal, sabia que se qualquer coisa de mal acontecesse Jude apareceria. – Ok, o que faremos? Está com o celular ai?

           
- Estou! – ele berrou aliviado. – Ah, que sem graça, nós nem nos perdemos de verdade a ponto de termos que sobreviver na floresta e… - ele voltou o olhar para amiga. Arregalou os olhos ao notar que ela não estava mais a sua frente. Olhou para todos os lados e concluiu que era só mais alguma brincadeira.
           
Continuou parado, tentando encontrar Jennifer no seu campo de visão. Já impaciente, disse:
           
- Jen, muito engraçado, agora aparece para irmos embora. Seu avô deve estar esperando o almoço. – olhou em volta mais uma vez esperando algum indício de movimento. Nada. – JEN! Qual é! Não tem mais graça…
 A floresta estava mais silenciosa do que nunca. De repente, os pássaros, o vento nas árvores e tudo que compunha aquele som ambiente parecia silenciar.  O que William realmente conseguia ouvir, baseava-se em sua respiração, que agora estava rápida demais.
 
- Jenny… Cadê você? – ele forçou-se a perguntar. Não querendo acreditar em suas próprias palavras. Naquele momento, o que ele mais queria era que ela aparecesse de repente e dissesse ‘É Jen!”, como sempre fazia.


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Notas finais do capítulo

Ta aai, espero que tenham gostado. Sintam-se a vontade para comentar, seja críticas ou elogios.

:*