“Sabe o que a gente devia fazer?” Perguntei para Dobby enquanto o ajudava a cozinhar. Já havia um ano e meio que nos conhecíamos. Estava com oito anos, quase nove.

“O que?” O elfo questionou sem tirar os olhos da comida. Tinha que admitir, ele era bem mais concentrado que eu no trabalho. Mas isso é parte da natureza dos elfos domésticos não é?

“Envenenar a comida. Matar todos eles.” Respondi em um tom meio brincalhão, que eu não usaria com qualquer outro ser vivo da casa. Mas me arrependi de dizer aquilo no mesmo momento que Dobby começou a ter um ataque.

“Não, senhorita Alice! Dobby jamais poderia machucar a família de bruxos dele! JAMAIS!” Ele falava me olhando com os olhos arregalados. Odiava quando ele tinha aqueles ataques. Não gostava de ver ele em pânico.

“Eu sei, Dobby...eu sei. É só uma brincadeira.” Falei em um tom suave e acrescentei meio magoada. “Você não acha que eu seria capaz de matar, acha Dobby?”

Com isso a expressão dele se acalmou, ele pulou do banquinho que usava para alcançar a bancada da cozinha. Me senti culpada por fazer aquilo. Assim que eu ficava triste, Dobby esquecia o que que estivesse fazendo. Mas, suponho que vivendo em uma casa cheia de pessoas manipuladoras...você acaba aprendendo algumas táticas.

“Claro que não, senhorita Alice. Claro que não.” Ele falou me abraçando. Dei um pequeno sorriso, retribuindo o abraço antes de afastá-lo com cuidado e carinho.

“E nós já conversamos sobre isso. Eles não são sua família Dobby, ou a minha. Eu sou sua família. E você é a minha.” Afirmei sorrindo o encarando. Essa frase fez com que ele abrisse um sorriso orgulhoso.

“Senhorita Alice é muito boa. Dobby acha a senhorita muito boa.” Ele afirmou me fazendo rir de leve. “Dobby tem que voltar ao trabalho. Ou eles matam Dobby.” Ele subiu no banquinho voltando a atenção para a panela.

“Aí que eu enveneno mesmo eles.” Falei sorrindo de leve. E para minha sorte ele entendeu que era uma brincadeira, e riu também.

{...}

Depois de recolher todos os pratos da mesa os levei com cuidado para não derrubá-los para a cozinha. Dobby já colocava a comida que sobrara em dois pratos. Um para mim e um para ele, claro. Comíamos em um cantinho no chão, havia apenas um banco de madeira velha para servir de mesa.

Depositei a louça na pia. E fui para junto de Dobby comer. Foi nesse momento que alguém entrou na cozinha. Me virei alarmada, com medo de que fosse Draco, seu pai ou Madison. Draco começava a virar uma miniatura do pai, Madison era simplesmente insuportável. Mas era o Alderamin.

Quando eu cheguei na casa, já havia percebido que Alderamin tinha algum poder diferente, Dobby me confirmara isso. Tudo que ele desejava acontecia. No começo isso me fez ter pavor dele, mas hoje não é bem assim. Às vezes, ele me dá um pouco mais de comida. O que nunca era comentado: nem por mim, nem por ele. Ele era, bem, diferente de Draco e Madison.

Bom, era isso o que eu achava...

“Seu elfo inútil.” Ele rosnou para Dobby. “Não sabe fazer comida direito não é?” Ele já estava mais próximo de nós e então ele fez algo que me assustou terrivelmente: ele bateu no Dobby

O elfo guinchou e se encolheu, como se estivesse se preparando para mais. Realmente, ele levantou a mão para acertá-lo de novo. Mas eu não ia deixar ele machucar Dobby de novo, não ia mesmo.

Me coloquei entre eles e empurrei o garoto mais velho com toda força que tinha. Acho que ele se afastou mais por surpresa do que por qualquer outra coisa. Não era comum eu tomar essas iniciativas.

“Resolveu bancar a corajosa agora, é?” Ele zombou me lançando um olhar mortífero. “Bom, tomara que passe mal com essa comida horrível.” Ele afirmou frio e saiu da cozinha. Soltei o ar que prendia, por um momento achei que ele ia me bater também.

“Tudo bem com você, Dobby?” Perguntei em tom dócil me virando para ele, para a sorte dele Alderamin ainda era novo e não tinha tanta força.

O elfo assentiu em silêncio me entregando o prato. Eu tinha certeza que ele estava pensando: ‘A senhorita Alice não deveria interromper o castigo de Dobby. Dobby mereceu, senhorita.’ Mas eu me recuso a acreditar nisso: ninguém merece apanhar muito menos Dobby.

Comecei a sentir um ódio por Alderamin. Se quer uma comida melhor ele que viesse fazer. Odiava sentir ódio, parecia que ele queria me consumir, e eu odiava Alderamin ainda mais por fazer com que eu me sentisse assim.

Já havia comido metade da comida (o que não era muito) quando senti meu estômago revirar, deixei o prato na ‘mesa’ e me levantei. Me sentia meio tonta, o meu estômago revirava sem parar. E então eu vomitei.

Eu tinha pouca coisa no meu corpo, pouco líquido, pouca comida. Quando o vômito acaba me encostei na parede. O cheiro ruim invadiu minhas narinas e isso me deu â nsia novamente. Me inclinei, como que para vomitar mas nada sai. Antes que eu perceba já estou chorando.

Não estava nada bem. Deslizei pela parede até cair no chão, estava a ponto de desmaiar...

“Senhorita Alice...senhorita Alice...” Ouvia a voz de Dobby me chamando. Mas era difícil ficar acordada, minhas pálpebras pesavam, a visão estava embaçada...e finalmente a consciência deixa meu corpo.

{...}

Assim que acordei senti uma pontada de dor no meu estômago. Fome, muita fome. Também sentia sede. Estava no meu ‘quarto’, que era nada mais nada menos que a cela da casa.

Me levantei do fino colchão indo até a porta, tentei abrir as grades mas a porta estava trancada. De repente escuto vozes no andar de cima. Fechei os olhos tentando escutar o que eles diziam.

“...maneira de testar, Narcissa.” Ouvi a voz do senhor Malfoy.

“Não vou deixar a garota morrer de fome!” Escutei o protesto de Narcissa.

Eles continuaram a falar mas eu me afastei da porta, as palavras deles não faziam sentido e minha cabeça doía. Me deito no colchão e sinceramente não sei se desmaiei ou dormi, mas tudo ficou preto.